Friday, 03 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Limites à corrida da cana

Em meio à tragédia de Congonhas, a notícia de que o governo decidiu vetar o plantio de cana na floresta amazônica e no Pantanal ficou meio escondida nos jornais e ganhou pouca atenção. Mas proteger o bioma amazônico e o Pantanal da “corrida da cana’’ é uma medida necessária e oportuna. Primeiro por que a cana tem uma extensa área ainda a ocupar no país, sem precisar derrubar florestas ou tirar o sossego dos jacarés e dos tuiuiús.


Há pelo menos 20 milhões de hectares de pastagens degradadas no Brasil e parte desta área pode servir à expansão da cana. Isto, aliás, já vem ocorrendo. Em São Paulo, a cana roubou cerca de 10% do espaço do boi no ano passado. E levou outro tanto da laranja.
A cana cobre hoje 5,4 milhões de hectares no Brasil, 10% da área total plantada do país. A previsão dos analistas é de que a área dos canaviais deva saltar para 14 milhões de hectares em 2030.


Energia limpa e renovável, o etanol brasileiro ganhou a mesma fama do carnaval e do futebol lá fora. O biocombustível é apontado como uma excelente alternativa para se reduzir as emissões de gases poluentes.  A medida do governo de limitar o plantio da cana acaba fortalecendo o marketing do etanol brasileiro, como produto ecológico e correto. Por quê não adotar a mesma restrição para o boi?


No Pantanal, vale lembrar, o boi convive em certa harmonia com a natureza. Mas na Amazônia, a pecuária é responsável por cerca de 60% do desmatamento. Além dos sérios estragos que causa ao ambiente, o avanço do boi na Amazônica compromete a imagem da carne brasileira no exterior. Para quem exporta quase US$ 5 bilhões por ano, o risco é alto.