Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

O cidadão investigativo ganha espaço na imprensa e informação pública

Com tantos problemas pululando ao nosso redor numa grande cidade, e até mesmo nas pequenas, a imprensa já não tem mais condições de ser o intermediário único entre o cidadão comum e os tomadores de decisões. A lacuna está sendo preenchida por iniciativas que só poderiam ser possíveis num ambiente como a internet, um espaço que cada vez mais se parece a um baú de soluções.


 


Os moradores da cidade inglesa de Birminghan, orientados por um repórter do jornal The Guardian, resolveram investigar por conta própria a atuação dos políticos regionais, agora que a Inglaterra se prepara para eleições gerais do dia 6 de maio. É um caso de parceria entre um jornalista profissional e membros de uma comunidade para  tentar resolver o vácuo informativo causado pela incapacidade da imprensa de estar em todos os lugares.


 


O repórter e professor de jornalismo Paul Bradshaw criou o site Help Me to Investigate e chamou os moradores de Birminghan para que sugerissemHome page do site Help Me to Investigate temas que afetam a população da cidade e que estão sendo menosprezados por políticos e administradores locais. A principal ferramenta do site é a produção colaborativa por meio da qual os moradores reúnem dados e informações sobre temas visando pressionar os legisladores. 


 


É um exemplo do que pode ser feito com poucos recursos para gerar grande impacto social e político. Não é preciso ser nenhum gênio da informática e nem especialista em informação. Basta a vontade de usar ferramentas digitais para forçar os políticos e administradores a trabalharem em sintonia com a comunidade. 


 


A iniciativa atraiu também a atenção da imprensa britânica, especialmente o jornal local de Birminghan, cujos repórteres passaram a postar perguntas aos leitores usando o site Help Me to Investigate.


 


Esta parceria entre público e editores começou por acaso quando o jornal Birminghan Post usou dados fornecidos por leitores para compor uma reportagem sobre as ruas preferidas pelos policiais para multar carros mal estacionados. Com as informações do público, o jornal montou um mapa da incidência de multas, que serviu de base para uma revisão do tráfego de veículos na região. 


 


Nos Estados Unidos, a Escola de Jornalismo da Universidade da Califórnia (Berkeley) promoveu na semana passada um simpósio sobre jornalismo investigativo dedicado quase que exclusivamente ao debate de experiências colaborativas. Para os 23 panelistas que participaram do debate, não há mais dúvidas de que a parceria — mais do que uma mera participação — com o público é um componente obrigatório da produção de reportagens investigativas.


 


O que dividiu os participantes foi a questão das formas de financiamento das organizações que aglutinam leitores, ouvintes, telespectadores e internautas, como é o caso da Help Me to Investigate. Entre os participantes do simpósio se encontravam representantes de cerca de 20 projetos de produção colaborativa de notícias de vários países.


 


A leitura da transcrição dos debates mostrou também que a categoria de reportagem investigativa tende a perder sentido, na medida em que todo o trabalho jornalístico passa a ser investigativo. A diferença surgiu por conta da burocratização da cobertura noticiosa, nos últimos 20 anos.


Agora, uma pergunta ao leitor do Código: você estaria disposto a participar de uma iniciativa similar aqui no Brasil?