Sunday, 19 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1288

O debate sobre o diploma pode nos ajudar a entender melhor os novos desafios do jornalismo contemporâneo

A conversa iniciada no post anterior sobre a questão da obrigatoriedade do diploma para exercício da profissão de jornalista merece continuar, não com o intuito de polemizar, mas para buscar esclarecer um tema que ainda está carregado de muitas dúvidas.


 


A grande maioria dos comentários vai direto para a comparação entre o jornalismo e profissões como médico, engenheiro e advogado.  Mas para comparar precisamos saber primeiro o que entendemos por jornalismo, porque senão caímos na expressão ‘comparar alhos com bugalhos’.


 


O jornalismo é uma atividade na qual um profissional desenvolve habilidades e competências.  A habilidade de comunicar por escrito, sons e por imagens, notícias e informações que ajudem os cidadãos a tomar decisões conforme os seus interesses e necessidades. Competência para transformar esta habilidade em conhecimento e em projetos lucrativos ou não. A missão do jornalista é comunicar.


 


Até agora a função de comunicador era restrita a um reduzido número de pessoas porque as ferramentas de comunicação eram limitadas pelo fator econômico. As pessoas comuns não podiam ter a posse de um jornal, ou obter uma concessão de emissora da rádio ou de televisão.


 


Todas essas atividades exigiam e ainda exigem recursos, o que as tornou privativas de empresas e organizações com capital para investir. Os comunicadores se tornaram assalariados destas empresas que passaram a determinar o que, como e para quem comunicar, tendo em vista os seus interesses financeiros necessários para a sobrevivência econômica.


 


Esta é a base sobre a qual se apóia o conceito de profissão de jornalista. E até ai não há diferenças radicais entre um jornalista, um médico e um engenheiro, a não ser as suas habilidades e competências.


 


O problema é que a internet mudou o contexto da comunicação, no momento em que os usuários passaram a poder publicar da rede. Com isto milhões de pessoas assumiram um papel proativo na produção de dados, notícias e informações.


 


As demais profissões também foram afetadas pela internet, mas nenhuma delas com a intensidade e profundidade do jornalismo. Nesta realidade já não é mais possível falar em reserva de mercado para o jornalista porque significaria tentar frear a inovação e o livre acesso aos meios de comunicação para resguardar uma exclusividade no manejo da notícia.


 


A internet também mudou o caráter da notícia. Ela já não é mais um produto acabado, mas um processo em constante evolução e modificação graças ao aporte da novos dados fornecidos por cidadãos de todos as categorias.


 


Gostemos ou não, o jornalista perdeu a exclusividade no feijão com arroz da profissão, ou seja, a busca e publicação da notícia. Mas em compensação, a internet gerou novos desafios para o jornalismo.


 


Desafios que têm a ver com o processo de capacitação dos cidadãos comuns no manejo da informação, com a produção de narrativas jornalísticas multimídia, no desenvolvimento de novos sistemas de recombinação de informações, sem falar na busca de novos mecanismos de certificação de credibilidade.


 


Estes são apenas alguns dos  reais problemas da profissão e não o debate se o diploma é ou não é obrigatório ou se o jornalista é igual ao advogado ou engenheiro. São questões desafiam a nossa capacidade criativa e a nossa posição diante da demanda da sociedade por novas formas de lidar com a informação.