Thursday, 30 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1289

O grande segredo da campanha de Obama

O trabalho comunitário foi determinante no êxito eleitoral de Barack Obama e seguramente influenciará todas as campanhas políticas daqui por diante. Esta é a primeira de uma série de lições que os especialistas em comunicação começam a inferir a partir dos resultados da votação do dia 4 de novembro.


 


A segunda grande lição mencionada por estudiosos da mídia como Robert Niles, da Online Journalism Review foi a de que o trabalho junto às bases sociais seria inviável  sem a internet e sem os sites e softwares baseados na interatividade comunitária.


 


A internet pode não ter dado a grande massa dos votos conquistados por Obama, mas ela foi sem sombra de dúvida o grande diferencial que permitiu que a campanha do senador democrata por Illinois conseguisse decolar, no ano passado quando ele ainda era considerado um azarão na corrida eleitoral.


 


A estratégia comunitária de Obama começou a se delinear em outubro de 2007 no momento em que grupos de ativistas jovens começaram a usar sites como Meet Up e  Move On para arrecadar pequenas contribuições em dinheiro contrariando a velha regra de que as possibilidades eleitorais de um candidato são medidas pelo numero de zeros nos cheques de grandes doadores.


 


Em janeiro de 2008, num momento crítico para a definição das possibilidades eleitorais de Obama, os caciques do partido Democrata tiveram que curvar-se diante do fato de que o então pré-candidato conseguiu arrecadar 28 milhões de dólares só em contribuições feitas pela internet, superando em quase 1/3 o total coletado pela senadora Hillary Clinton, sua principal concorrente.


 


Noventa por cento dos 250 mil doadores online de Barack Obama mandaram menos de 100 dólares para a campanha. Cem mil mandaram menos de 10 dólares, indicando como o trabalho de base passou a ser importante como alternativa à política tradicional de cortejar as grandes fortunas e os grandes formadores de opinião.


 


O esforço coletivo, descentralizado e horizontal  para juntar doações gerou a chamada Onda Obama na Web criando um ambiente onde o candidato pode resgatar aquilo que ele aprendeu no trabalho comunitário desenvolvido nos bairros pobres de Chicago, no anos 80 e que lhe valeram a eleição para o senado norte-americano.


 


O modelo de campanha de Obama já está sendo estudado por especialistas como Umair Haque, do projeto Havas Media Lab, e que num artigo publicado pelo site Harvard Business Publishing definiu a equipe do presidente eleito como o grupo mais inovador em matéria de administração surgido nos últimos anos. Para Haque “a estrutura de campanha de Obama está para as campanhas tradicionais como a empresa Google está para uma empresa convencional”.


 


O segredo seria a descentralização e a capacidade de manter um mínimo de controle sem tirar a criatividade e independência dos grupos de base. O artigo As Sete Lições de Obama para os Inovadores, aprofunda a tese da competição assimétrica, desenvolvida pelo mesmo Haque em junho deste ano para mostrar como Obama conseguiu em questão de meses, montar uma estrutura eleitoral que os partidos levaram décadas para criar e que nem sempre funciona a contento.


 


Mais uma vez, a explicação está no trabalho das bases comunitárias articuladas em rede na internet. A tecnologia permitiu expressar eleitoralmente algo que Obama tinha muito e McCain não: a experiência de trabalho comunitário.


 


Agora o candidato eleito vai ser envolvido pela burocracia de Washington, e sua campanha eleitoral passa a ser um grande laboratório para pesquisas sobre mobilização política na era digital.