Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O novo papel das audiências


Mais de 55 leitores postaram comentários sobre o texto anterior mostrando que há interesse e ambiente para avançar na discussão sobre o novo papel das audiências no processo da comunicação em ambiente web.


Este debate é essencial pois dele depende o futuro não só da nossa imprensa como principalmente da relação que os leitores estabelecerão com ela, em todos os níveis. E uma coisa começa a ficar clara: não se pode mais discutir imprensa sem levar em conta o público real.


Uso a expressão real porque a maioria dos jornalistas trabalha com uma visão demasiado esquemática baseada em pesquisas e estatísticas que geram uma percepção quase esterelizada da opinião pública.


Quando o público real tem a oportunidade de participar do debate ele surpreende e assusta os jornalistas porque introduz idéias, comportamentos, paixões e informações que não se encaixam na imagem que os profissionais da imprensa tem de seus leitores, ouvintes ou expectadores.


A grande maioria dos comentaristas reagiu ao uso da expressão patrulheiro porque viu nela uma conotação pejorativa ou de menosprezo. Isto mostra o cuidado com que os responsáveis por espaços como o Código Aberto precisam ter com a administração das palavras e o com o risco permanente e inevitável de ser mal interpretado.


Teria sido melhor usar outro adjetivo como vigilante, por exemplo, para evitar um mal entendido capaz de desviar o eixo da troca de idéias para fora da questão central do post que é o desconforto de muitos jornalistas no relacionamento com o público real.


Mas o problema não se limita ao uso de uma palavra e nem às recriminações mútuas entre profissionais e seus leitores. A intensidade com que parcelas do público passam a interessar-se pelo debate sobre tudo o que tem a ver com comunicação e imprensa indica que as categorias de produtor e consumidor de informação começaram a confundir.


Isto torna os jornalistas e o público parceiros do processo de construção de uma nova ecologia informativa tornada irreversível pela internet.


A transição de um ambiente de confronto para o de uma colaboração mútua vai ser complicado por conta de preconceitos e visões equivocadas herdadas do passado. A complexidade aumenta pela inexistência de regras porque tudo ainda é muito novo. A única e perturbadora certeza é a de que trata-se de um processo que não tem mais volta.