Friday, 26 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Silêncio de Duda vale ouro e algo mais

Para que se entenda a importância do que diz ou deixa de dizer Duda Mendonça em depoimentos no Congresso, abertos ou fechados, convém recordar:


1) Ele falou espontaneamente à CPI dos Correios em 11 de agosto de 2005, data marcada para que fosse ouvida sua sócia, Zilmar Fernandes. O resultado foi arrasador.


2) Reportagem de Kennedy Alencar na Folha de S. Paulo de 13 de agosto explicou por que Lula demorou a fazer um pronunciamento em reunião do ministério na véspera. “O outro motivo (….) foi a demora para se obter a entrevista do ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP) à revista Época que começou a circular ontem. Presidente do PL, ele fez ataques ao governo e também ao PT. Lula só queria falar depois de tomar conhecimento da entrevista, já que o forte depoimento do publicitário Duda Mendonça anteontem à CPI dos Correios tornara inevitável uma manifestação sua a respeito da crise”.


3) A situação do presidente Lula e de seu companheiro de chapa, o vice-presidente José Alencar, foi noticiada assim pela a IstoÉ Dinheiro datada de 17 de agosto:


Duda deixou o País estarrecido ao confessar na CPI dos Correios que havia recebido R$ 10 milhões de Marcos Valério em uma conta bancária no Exterior. Saído do caixa 2 do PT, esse dinheiro foi dado em pagamento por quatro campanhas eleitorais petistas – entre elas a que elegeu o presidente Lula – pelas quais o marqueteiro afirma ter cobrado R$ 25 milhões. Diante da confissão de crime eleitoral, que fere diretamente o presidente, o senador Álvaro Dias, do PSDB, avançou: ´Tornou-se inevitável discutir o impeachment´. Na mesma noite circularam versões de que o PFL discutia não só o impeachment de Lula mas também o do seu vice, José Alencar, por crime eleitoral. Nessa hipótese, os juristas do PFL dizem que deveria assumir o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti. Ele teria 60 dias para chamar uma eleição indireta na qual o Congresso indicaria o sucessor de Lula”.


4) A IstoÉ Dinheiro levou tão a sério a hipótese que em 23 de agosto obteve do então presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti, uma entrevista na qual escalava seu ministério e definia (ver em www.terra.com.br/istoedinheiro/, edição de 31 de agosto de 2005). Curioso é que o plano não era desatinado. E não foram os repórteres que embelezaram a plataforma de Severino.


5) Apareceu um Sebastião Buani, dono de restaurante da Câmara. Ampliou-se a carga de denúncias e reduziu-se o foco. Severino Cavalcanti renunciou ao mandato no dia 21 de setembro. Paulo Maluf estava preso. O estrago feito por Duda foi amortecido.


Quem desejar recapitular a cronologia dos acontecimentos pode fazê-lo na Wikipedia. Não tive como ler o verbete inteiro para avaliar sua qualidade.


Acréscimo em 16/3. Vale a pena destacar aqui comentário do jornalista Procópio Mineiro:


Duda usou um recurso legal a quem tem direito. Seria demais esperar que ele ‘abrisse o livro’, logo agora que os acordos no plenário criaram o centrão da absolvição dos deputados flagrados em caixa 2. Duda atua na área que tem servido à consolidação de costumes anti-republicanos, pois a área de publicidade tem sido usada para movimentação não controlada de recursos, com objetivos políticos variados, incluindo a compra da docilidade parlamentar. De início, falou-se até em impedimento de Lula e Alencar, mas quando começaram a aparecer os nomes do PSDB e PFL, sugerindo que a farra da época de FHC foi infinitamente maior, começaram as absolvições em plenário, os adversários se ajudando fraternalmente. Já há quem diga que o ‘golpe’ fracassou, pois os interessados nele foram também flagrados. Assim, por que e para que Duda falaria? E por que a CPI decidiu tão religiosamente preservar o sigilo dos documentos americanos de Duda, que parecem assinalar datas bem anteriores à posse de Lula? O faro do povo parece ter sentido que a trama não resultaria em moralização dos costumes políticos. Resultado: Lula retomou o caminho da reeleição, pois os adversários escreveram 8 anos de histórias cabeludas. E o discurso moralista já faz parte das pilhérias nacionais: houve a UDN, o Jânio da vassoura, os militares, o Collor antimarajás. O país do carnaval crê na quaresma, desde que para todos.