Saturday, 14 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Uma conversa com os leitores sobre a tal de crowdsourcing

Jornalismo cidadão, produção colaborativa, inteligência coletiva e sabedoria das multidões são algumas das expressões que povoam o universo dos blogs sobre comunicação. Mas entre as idéias que elas propõem e a realidade ainda existe uma distância considerável. A distância é entre o que dizemos e o que fazemos, entre a retórica e a participação.


 


Há duas semanas publiquei aqui no Código um post sobre comentários publicados pelos leitores, numa tentativa de tornar mais próximo o diálogo. Vou continuar nesta direção porque o jornalismo está deixando de ser um discurso para ser uma conversa. Para que haja um diálogo é preciso que as pessoas troquem a posição de espectadores pela de protagonistas.


 


Cresce cada vez mais o número de jornais que buscam na aproximação com o leitor a fórmula para encontrar sair da crise em que as publicações impressas estão mergulhadas. Mas estas tentativas, por mais bem intencionadas que sejam, enfrentam todas um mesmo dilema: criar ferramentas para chegar perto do leitor não resolve nada se o leitor não participar.


 


Esta participação também não surge da noite para o dia. Ela terá que ser construída conjuntamente por autores e leitores. Inclusive aqui no Código Aberto. O norte-americano Dan Gillmor cunhou a frase “os leitores sabem mais do que os jornalistas” e até hoje, quando ela é mencionada, o debate pega fogo. A cultura da imprensa estabeleceu que os jornalistas sabem o que os leitores precisam conhecer para serem bons cidadãos.


 


Na comparação um a um, é claro que um jornalista sabe mais do que um leitor. Mas se tomarmos em conta que os leitores são milhares ou milhões, fica fácil entender que não há profissional no mundo, por melhor que ele seja, capaz de ter um conhecimento individual superior ao da soma dos conhecimentos dos seus leitores. Até agora, os leitores estavam isolados por falta de ferramentas capazes de transformá-los numa multidão dinâmica e interativa.


 


A internet operou este milagre, e o público passou a poder manifestar-se de forma coletiva e interativa. É o que os especialistas chamam de crowdsourcing (as multidões como fonte de conhecimento). Como várias outras idéias na internet, conseguimos entender melhor o funcionamento da crowdsourcing mais na prática do que na teoria. Um exemplo concreto é a Wikipédia e todas as páginas web que se apóiam em recomendações e críticas de consumidores.


 


Antes de comprar qualquer coisa na internet, a maioria esmagadora dos usuários procura saber primeiro o que pensam outros consumidores. É um hábito consolidado. Mas quando se trata de informações, a situação muda. O público só tem a imprensa como referência e, como falei antes, ela é inevitavelmente limitada na oferta de opiniões diversificadas. Só dá para saber quais as notícias, dados e informações confiáveis se o público participar. É claro que esta participação diminui a função mediadora dos jornalistas e reduz o papel do jornal como formador da agenda pública de debates.


 

Para encurtar a conversa, é necessário que os leitores se dêem conta desta mudança e passem a ocupar o seu papel na crowdsourcing, porque eles serão os principais beneficiados pela diversificação das opiniões e informações. Para que isto aconteça, são necessárias experiências parciais cujos resultados serão cumulativos, sem a menor dúvida. O Código está aberto para uma experiência de interatividade mais profunda entre autor e leitores.