Saturday, 27 de July de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1298

Universidade sul-africana faz experiência inédita em jornalismo comunitário


A edição online do jornal sul-africano Grocott´s Mail  é duplamente inovadora. Ela está tentando mostrar que é possível fazer um jornalismo local com padrão norte-americano num país pobre e provar que o envolvimento da universidade com projetos comunitários online pode dar resultados supreendentes.


O Gracott´s Mail é editado em Grahamstown, uma cidade de 55 mil habitantes que é famosa na África do Sul por ter sido palco uma das mais bem sucedidas experiências de convivência racial, depois de um passado turbulento de conflitos entre brancos racistas adeptos do apartheid e africanos na étnica xhosa.


O jornal impresso é o mais antigo da África do Sul, pois foi fundado em 1870 quando o país vivia uma época de confrontação entre os boers (colonos de origem holandesa), os descendentes de ingleses e os vários grupos étnicos africanos.


Mas foi a partir de primeiro de março que o Grocott´s Mail ganhou espaço na web mundial quando a Universidade de Rhodes, uma das cinco maiores do país e localizada em Grahams Town, fez uma parceria com o jornal para editar uma versão online, produzida por estudantes e voltada basicamente para o jornalismo comunitário com participação cidadã.


O idealizador do projeto foi o professor Vincent Maher , chefe do departamento de Novas Mídias, na Faculdade de Jornalismo, que nunca disfarçou a forte influência que sofreu do OhmyNews, da Coréia do Sul.


O design do site é moderno e as ferramentas de interatividade com o leitor são de primeira linha mas a participação dos visitantes ainda é muito pequena e predominantemente de brancos da classe média.


O projeto tem uma especificidade pouco comum em iniciativas do gênero pois procura combinar três segmentos sociais que raramente estabelecem algum tipo de sinergia: a imprensa convencional (versão impressa do Grocott s Mail) , a universidade (através dos estudantes e professores de Novas Mídias) e a comunidade de Grahams Town.


Tomara que esta receita de parceria funcione na África do Sul porque ela pode gerar lições extremamente úteis para o resto do mundo, especialmente para nós aqui no Brasil, apesar das diferenças econômicas e culturais entre os dois países.


Estou convencido de que está combinação pode ser a chave para os problemas que afetam hoje tanto os jornais e a mídia convencional (queda de público, credibilidade em baixa e redução de faturamento publicitário) como no jornalismo online via internet (indenfinição sobre pespectivas de rentabilidade, concorrência intensa e carência de profissionais).


A imprensa tradicional resiste ao jornalismo online por questões culturais e corporativas. Tem pouco interesse em investir em experimentação e só pensa em comprar fórmulas já testadas, num ambiente cibernético onde quase tudo ainda está por ser verificado e comprovado.


A universidade é a única instituição que tem condições de apostar na inovação e novas fórmulas de comunicação, mas está dividida entre um segmento tradicionalista e outro inovador. Onde estes últimos são mais fortes, surgem projetos como a edição online do Grocott´s Mail.


A comunidade é insubstituivel como campo de provas para a experimentação, como criadora de novas demandas, que se expressam através da participação irrestrita e da apropriação de ferramentas, como os weblogs, por parte dos cidadãos comuns.


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