Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ataque a rádio elimina fórum independente

Dijla era uma estação de rádio iraquiana que tentava ser uma voz independente em meio ao conflito sectário que tanto assusta o país. Era, porque foi destruída no início de maio, quando homens armados a invadiram e saquearam. O edifício foi bombardeado e incendiado. O chefe da segurança foi morto e outros dois funcionários ficaram feridos em uma batalha que durou 20 minutos.


A apresentadora Suhad Rabia, 29 anos, sabia dos riscos. A grande maioria das estações de rádio surgidas no Iraque após a queda de Saddam Hussein é ligada a algum partido político ou grupo sectário. Suhad fazia de tudo para que seus ouvintes não soubessem se ela era xiita ou sunita. Quando usavam, em ligações ao programa, linguagem abusiva para falar de grupos religiosos ou étnicos, ela os tirava do ar. Quando expressavam sentimentos extremistas, ela lembrava aos outros ouvintes que a estação não compartilhava de seus pontos de vista. Basicamente, ela tentou, em três anos na Dijla, estabelecer um fórum aberto para todos os iraquianos, xiitas ou sunitas.


‘As pessoas precisavam da nossa rádio. Nós fazíamos o possível para ajudá-las. Eu sentia que era minha obrigação’, diz Suhad, que escapou do ataque ao se esconder em uma sala de edição com outras seis mulheres e duas crianças pequenas. Nenhum grupo assumiu a responsabilidade pelo atentado, mas Kareem Youssef, diretor da estação, afirma que suspeita de militantes da al-Qaida que lutam contra o governo xiita e contra as forças americanas que o apóiam.


Perigos presentes


Ainda que a invasão liderada pelos EUA em 2003 tenha permitido o surgimento de uma imprensa relativamente livre – algo não visto no Iraque há décadas –, o destino da Rádio Dijla serve para lembrar que os perigos ainda existem para os jornalistas. Nos últimos meses, grupos insurgentes têm direcionado seus ataques a veículos independentes de mídia e a funcionários – xiitas ou sunitas – de jornais e emissoras pró-governo.


Na semana passada, três jornalistas iraquianos e seu motorista foram mortos a tiros na cidade de Kirkuk. Os quatro trabalhavam para uma companhia de mídia independente. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas, com sede em Nova York, contabiliza 101 jornalistas e 38 assistentes de mídia mortos desde 2003. Outros 48 teriam sido seqüestrados nos últimos quatro anos. Informações de Hamza Hendawi [AP, 12/5/07].


 


RSF ajuda famílias de jornalistas assassinados


A organização Repórteres Sem Fronteiras anunciou, na semana passada, ajuda financeira a famílias de jornalistas mortos no Iraque. O secretário-geral do grupo, Robert Menard, viajou a Bagdá para entregar a primeira remessa a 20 famílias na região curda ao norte do Iraque e a 54 outras famílias espalhadas pelo país. O valor da ajuda não foi divulgado, mas Menard ressaltou que a organização fará o mesmo por outras famílias no futuro.


O representante da RSF se encontrou com o presidente do Iraque, o curdo Jalal Talabani, e pediu que as autoridades do país busquem os responsáveis pelos assassinatos de jornalistas e que seja adotada uma legislação que assegure a liberdade de imprensa na região.


Ele também falou sobre oito profissionais de imprensa iraquianos que continuam presos por forças de segurança do país e pelo Exército americano. ‘Eles estão detidos por suspeita de terem ligação com terroristas, mas não há provas e nem julgamento’, afirmou Menard. Segundo dados da RSF, pelo menos 123 jornalistas e 51 assistentes de mídia teriam sido mortos desde o início da invasão liderada pelos EUA ao Iraque, em março de 2003. Informações da AP [11/5/07].


 


Fotógrafos barrados em cenas de explosões


O Ministério do Interior iraquiano decidiu barrar fotojornalistas e cinegrafistas de se aproximar de locais atingidos por ataques a bomba. O anúncio, feito pelo general Abdel Karim Khalaf, diretor de operações do Ministério, é apenas mais um entre uma série de tentativas de reprimir a liberdade de imprensa no conflito sectário – e já atraiu críticas de órgãos internacionais em prol dos direitos humanos.


‘Há muitas razões para a proibição’, justificou Khalaf. ‘Não queremos que haja interferência nas evidências antes da chegada dos investigadores. O Ministério não quer expor as vítimas e não quer dar aos terroristas indicações de que eles alcançaram seus objetivos’, explicou, ressaltando que não se trata de um golpe contra a liberdade de imprensa, e sim de uma ‘medida seguida em todo o mundo’.


Hoje, a cobertura do conflito no Iraque gera diariamente dezenas de imagens e reportagens sobre explosões e vítimas fatais, já que os ataques insurgentes não cessam. Informações da AFP [13/5/07].