Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Erros ainda comprometem jornais

Depois do Carnaval, o ano novo realmente começa no Brasil, mas os jornais ainda apresentam os seus freqüentes erros de revisão. Seja uma pequena troca de letras ou problemas de concordância, os descuidos gramaticais causam ruídos na comunicação – muitas vezes tornando a leitura confusa.

Este Monitor de Mídia, ao conferir os periódicos catarinenses no período de 22 de fevereiro a 1º de março, deparou-se com alguns deslizes que chamaram a atenção. Conforme já apontamos nas edições 10 e 77, novamente pouco ou quase nada mudou nos jornais nesse sentido.

Devido às reestruturações que ‘enxugam’ as equipes das redações, os jornalistas estão cada vez mais sobrecarregados e pressionados a terminar tudo até o deadline. Nesse contexto, é de se entender que muitos profissionais não apresentem seu melhor desempenho.

Apertem os cintos, o revisor sumiu!

Em A arte de fazer um jornal diário, Ricardo Noblat abordou as questões que levam os leitores a se desinteressar pela leitura dos jornais diários. Uma delas é a quantidade de erros ortográficos encontrados nos periódicos. Apesar de certos deslizes parecerem insignificantes, a Associação Americana de Jornais – que há 50 anos pesquisa quais os fatores que causam o desinteresse na leitura – comprovou que uma ortografia correta atrai, e muito, a atenção dos leitores.

Não só a falta de revisão dos textos, mas também o cuidado com a informação, tanto em mensagem quando em imagem, passam batidos pelos jornais. Esses descuidos incomodam o leitor, e demonstram a falta de preocupação com a qualidade do produto e o respeito com o seu público. Dentre os principais erros, o Monitor pontua:

** No dia 23 de fevereiro, A Notícia, na editoria Destaque, publicou o box que indicava os times de futsal campeões da Taça Brasil, entre 1968 e 2006. Nele, constava: ‘neste ano foram desputados duas edições’. Desputados? A palavra correta seria ‘disputados’, erro ortográfico que passou despercebido pelo editor.

** No Jornal de Santa Catarina, em 26 de fevereiro, na editoria Geral, o título de uma nota trouxe: ‘Polícia prende oito pessoa por tráfico’ demonstrando derrapagem na concordância nominal.

** Também no Santa, em 27 de fevereiro, na editoria Geral, o texto apresentou o erro: ‘cóorego’, quando seria ‘córrego’.

** O Diário Catarinense, em sua edição de 27 de fevereiro, apresentou o seguinte título, na página 24 da editorial Geral: ‘Pédio histórico de Blumenau vai ser leiloado’. Isso mesmo, ‘pédio’.

Arctic Oasis

A matéria intitulada ‘O novo já é velho’, encontrada na página 3 do caderno Lazer do Jornal de Santa Catarina do dia 26 de fevereiro, fala sobre o download de músicas na internet. A matéria, escrita por Francisco Dalcol, também trata das pessoas que baixam as músicas na grande rede antes de serem lançadas oficialmente e do desafio de emplacar o segundo álbum de uma banda que foi sucesso na estréia, caso do Arctic Monkeys.

O que chamou a atenção do Monitor e dos conhecedores da banda, é que a matéria traz três fotos, sendo que uma deveria ser do Arctic Monkeys. Porém, a foto que foi veiculada não é deles, e sim do Oasis, que nem foi citada ao longo do texto.

Ok! Ambas vieram da Inglaterra e até podem ter bebido da mesma fonte (musicalmente falando), mas existem algumas diferenças entre as bandas Arctic Monkeys e Oasis. Entre tantas diferenças, podemos citar a idade. A diferença entre os senhores do Oasis e dos garotos do Arctic Monkeys é evidente. É mais ou menos como comparar as fotos de um cavalo e de um potrinho. Não tem erro para quem tem uma imagem de ambas ou conhece um pouco delas, mas parece que para o Santa as duas bandas podem ser confundidas.

A revisão foi pelos ares

Quem mandou essa foi a internauta Liana Sampaio Carvalho. É que em um texto sobre as obras de ampliação e modernização de alguns aeroportos, veiculado no site da Infraero – empresa vinculada ao Ministério da Defesa e que administra os aeroportos do país –, são citadas as cidades contempladas e dentre elas ‘Balneário Camburiu’ e ‘Piçarra’.

Na verdade, a grafia correta delas seria, respectivamente, ‘Balneário Camboriú’ (com acento, por ser oxítona terminada em hiato e com um ‘o’ no lugar do primeiro ‘u’) e ‘Balneário Piçarras’. Até o fechamento desta edição, este erro estava neste link.

Imprensa torce para quem ganha

Ser técnico de futebol em Santa Catarina não é um emprego de estabilidade garantida. Ainda mais quando a imprensa pressiona por vitórias ou especula ‘punições’ das derrotas. Exemplo disso foi o espaço Passe Livre, do Jornal de Santa Catarina.

Na coluna assinada por Cláudio Holzer, na edição de 22 de fevereiro, constava: ‘Na berlinda – Se o Metropolitano não vencer o Chapecoense hoje, Cláudio Adão pode perder o cargo. Parte da diretoria continua descontente com o trabalho do treinador’.

Devido à saída de outros quatro técnicos nesta edição do Campeonato Catarinense, uma nota como essa, em um veículo de grande circulação, tem um tom ameaçador. Apesar de ser informativa, para o técnico do Metropolitano não deve ter sido interessante saber de uma possível demissão pelo jornal.

Após o jogo contra o Chapecoense, Cláudio Adão foi demitido, como rogava a coluna. Depois disso, na edição conjunta de 24 e 25 de fevereiro, Cláudio Holzer escreveu: ‘Cláudio Adão já está no Rio de Janeiro. De lá veio Gerson Andriotti, dispensado há uma semana pelo Brusque. Dá impressão de que o problema do Metropolitano é o treinador’. Uma nota ambígua, já que há uma perseguição acirrada por parte da imprensa aos treinadores sem vitórias nos últimos tempos.

Imagem deturpa mensagem

O direito de expressão é extensivo a todos os cidadãos e, claro, aos meios de comunicação. Mas a liberdade de informação ou opinião não pode oprimir ou ferir outros direitos. O vereador Márcio de Souza (PT-Florianópolis) denunciou na última semana a prática de racismo por conta de uma charge publicada no Correio Lageano.

A charge era alusiva à discussão da maioridade penal, e mostrava uma mulher negra, dando a luz a três bebês, também negros, ‘em fuga’ pelo cordão umbilical e com tarjas pretas nos olhos. Enquanto isso, o médico, que acompanhava o parto, gritava: ‘Segurança!!! É uma fuga em massa!!!’

A charge – espaço para a crítica, para a irreverência, para o humor – não pode se converter num espaço onde tudo vale para que não se perca a piada. É preciso responsabilidade também. Em contextos mais explosivos, a publicação de charges neste estilo pode causar seriíssimas conseqüências. Maior exemplo foi o incidente das charges sobre Maomé publicadas no ano passado na Europa.

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Notícias, boatos e as incertezas da mídia local

Pelo menos dois jornalistas influentes em Santa Catarina já manifestaram suas preocupações com o final do suplemento ANCapital, de A Notícia, que circula na Grande Florianópolis. César Valente, colunista do Diário do Litoral, fez coro com Carlos Damião, que já foi editor do ANCapital, em seus respectivos blogs. Segundo Damião, o fim do jornal estaria marcado para o próximo dia 15 de março.

Se realmente isso acontecer, este será mais um efeito colateral da anexação de A Notícia pelo Grupo RBS, movimento que vimos acompanhando nos últimos meses neste Monitor de Mídia. Desde a aquisição do jornal de Joinville pelo conglomerado gaúcho de mídia, temos alertado para as modificações que viriam: possíveis cortes de pessoal, encerramento de certos produtos, pasteurização da informação, e o fim da concorrência no mercado maior de meios impressos no estado.

De agosto para cá, os leitores viram mais da metade do arquivo online de A Notícia em seu Portal AN ir pelos ares. Para migrar o conteúdo para as plataformas da RBS, anos e anos de jornal deixaram de estar disponíveis. De agosto para cá, fala-se de enxugamento de pessoal nas redações. Mas, agora, com o fim da circulação do ANCapital (possivelmente, do ANJaraguá e do ANCidade, que circula em Joinville), os golpes são mais duros. Perdem os leitores dessas cidades, pois deixam de ter o noticiário local em espaço privilegiado. Perde o jornalismo catarinense, pois essas iniciativas sucumbem à reengenharia e à ‘sinergia’ ditada por Porto Alegre. Perdem ainda os jornalistas, pois postos de trabalho devem ser fechados.

Alerta vermelho.

Enquete

Em nossa enquete de fevereiro, perguntamos ‘A mídia cobre bem o Carnaval?’.

Os resultados trazem um sinal importante aos editores e publishers da imprensa catarinense (e quem sabe nacional). Mais da metade dos consultados (55,6%) respondeu ‘Não vejo nada nesses dias’. 33,3% dos opinantes disse ‘Não cobre’ e 11,1%, ‘Talvez’. Ninguém respondeu ‘Sim’.

A pergunta que fica: É mesmo necessário produzir e fazer circular jornais nos quatro dias da Folia de Momo?

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Samba de gringo

Karis Cozer, dos Estados Unidos

Na medida que prosseguem os conflitos internacionais, cujas implicações quase sempre recaem sob solo americano, o jornalismo dos Estados Unidos mantém um foco e um padrão constante. Os principais jornais impressos do país, The New York Times (NYT) e Los Angeles Times (LAT) são parecidos tanto na diagramação quanto no conteúdo das matérias, o design gráfico das capas não é o mesmo por pequenos detalhes. As diferenças existentes, entretanto, apesar de sutis, podem ser facilmente observadas. O NYT, simultaneamente liberal e conservador, traz maiores informações sobre as atividades governamentais, enquanto o LAT, com um maior número de cadernos, pauta-se mais acerca do dia-a-dia californiano.

No período de 16 a 21 de fevereiro, o agendamento da mídia compreendeu as apurações decorrentes do interrogatório feito com Rabei Osmar Sayed Ahmed, suspeito de envolvimento nos ataques terroristas na capital espanhola em março de 2004; o julgamento de Lewis Libby Jr, acusado de mentir ao Grande Júri nas investigações da CIA e do FBI a respeito das fraudes americanas cometidas em relação ao Iraque e, finalmente, as novas ações militares do presidente George Bush no Oriente Médio. Os meios de comunicação, principalmente quando se trata da mídia impressa, focalizam-se muito em informações de interesse público, geralmente aqui ambientadas. As notícias sobre os demais países seguem este mesmo raciocínio de cunho social, dado que se intensifica em relação às questões bélicas e dilomáticas com o Oriente Médio. Desde os jornais locais às mais importantes publicações, as tensões entre Estados Unidos, Afeganistão, Irã e Iraque figuram como o maior agendamento americano. As matérias, além de diárias, ocupam um espaço significativo, e as atualizações feitas constantemente na televisão e internet mantêm o público receptor sempre informado, imparcialmente ou não, dos últimos acontecimentos.

Os tablóides sensacionalistas encontrados em qualquer banca de jornal contribuem, também, para que o população tenha uma grande quantidade de notícias ou entretenimento. Além do alto número de revistas e outros periódicos focados nos tapetes vermelhos de Hollywood (que supera, inclusive, o número de jornais), o que impressiona é o ‘modelo jornalístico’, rigorosamente seguido, por todos eles. Se não dizem as mesmas coisas, pedem-se em suas próprias contradições. As personalidades em foco não mudam e, se a fama tem um preço, aqui este preço é realmente cobrado.

‘Bush is not above the law’ (Bush não está acima da lei), por James Banford, ‘My war away from war’ (Minha guerra longe da guerra), autoria de Ayub Nuri e ‘Let`s make a war, one we can win'(Vamos fazer uma guerra, uma nós podemos vencer), por Nicholas Kristof, são exemplos de textos que fecharam o principal caderno do New York Times no período analisado, com sérias críticas ao presidente e à justiça americana. A edição de 19 de fevereiro da revista Newsweek trouxe como manchete ‘A guerra secreta com o Irã’ e na matéria, de oito páginas, acusações foram feitas ao governo americano como uma organização que tem buscado razões para perpetuar os ataques ao Tehran. Aparentemente a liberdade de expressão é um direito inerente ao povo, ou a censura está muito bem disfarçada.

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Monitor de Mídia