Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Fraude comemora terceiro aniversário

Falando a Zero Hora (p. 33), José Ferraz Hennemann, vice-reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), informava em 13/2/2003 que a Câmara de Pós-Graduação do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão estava investigando uma denúncia de plágio na dissertação com que Gilberto Kmohan obteve o título de mestre em Comunicação na Fabico em 2001:

‘Acredito que, em 60 dias, a câmara terá um parecer’ .

Agora, passou-se mais de um ano, estamos em maio de 2004. O pró-reitor, consta, disputará as eleições para a Reitoria. Onde está a solução anunciada? O processo continua sem conclusão, circulando de repartição em repartição. Há mais de três anos ele teve início. Quem quiser saber mais detalhes pode recorrer aos artigos a respeito publicados neste mesmo Observatório [ver remissão abaixo].

Retorno ao assunto apenas para assinalar o deprimente aniversário do processo.

A universidade, até o momento, nenhuma decisão tomou. Quem ganha com sua paralisia moral, inércia burocrática e covardia acadêmica? Quem arcará com os prejuízos decorrentes das manobras e desvios que só beneficiam os implicados na fraude? Serão os integrantes da malsinada ‘Comissão de Estudo Técnico’, que criou a estapafúrdia figura do ‘plágio não intencional’? Serão os pareceristas informalmente contratados, que por poucos reais inclusive não viram indício de plágio em texto que pirateava obras de sua própria lavra? Será o Conselho da Fabico, que acolheu tal despropósito oficialmente?

Honestidade intelectual

À boca pequena, o caso se espalha pela comunidade acadêmica e intelectual, de dentro e de fora da universidade. Choca a todos os alunos honestos e docentes íntegros o fato de que a UFRGS tenha reconhecido, na obra de um plagiário, uma pesquisa de altíssima excelência. Três anos se passaram e, até aqui, a fraude acadêmica não foi, em momento algum, objeto de investigação. O orientador da patuscada já se aposentou. O acusado desfruta das vantagens que lhe advém do título. O denunciante tem sua carreira acadêmica prejudicada, sendo inclusive alvo de ataque público, afixado nos murais do local onde trabalha. O Curso de Pós-Graduação em Comunicação está sob suspeita. Os defensores do ‘plágio sem dolo’, mesmo desafiados técnica e academicamente, não apresentaram as provas em favor de sua exótica tese.

Resumindo, a novidade material no processo é nula, completados três anos de seu aniversário! Enquanto isso, consulentes da pseudodissertação, que continua nas estantes da biblioteca da Fabico, não param de encontrar mais e mais provas do plágio. Agora, consta que as obras surrupiadas no estelionato intelectual já são 15. Inclusive a ‘Introdução’ do trabalho, diplomado com nota máxima, é pirateada.

O orientador continua mudo. A banca examinadora não se pronuncia Pouca gente se importa com o caso, tornado motivo de pilhéria, porque é cada vez menos gente que se engaja na luta pelo bem público que devem ser o ensino e a pesquisa e porque estão fracos e isolados os que podem se comprometer com o cuidado daquilo que é a própria base da atividade universitária: a honestidade intelectual e o espírito independente.

Comemoraremos o 4º aniversário do processo? Como, se for o caso? Aguardemos!

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Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul