Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Melhorar, melhorar, melhorar…

Não é novidade para ninguém. Nem mesmo para editores e publishers. Mas não custa nada repetir e insistir. Os jornais (pequenos, médios e grandes) estão longe de um alto padrão de qualidade. As queixas são numerosas, vêm de diversas partes, muitas delas são extremamente pertinentes e, claro, são legítimas.


Essas críticas vêm dos leitores, mas também dos próprios jornalistas e – pasmem! – dos anunciantes, aqueles que pagam a parte mais gorda da conta. Na enquete que fizemos nesta semana, perguntamos: ‘Que nota você dá aos jornais do Vale do Itajaí?’. Os resultados foram os seguintes: 16,7% responderam ‘menos de 3’,  66,7% disseram ‘de 4 a 6’ e 16,7% marcaram ‘de 7 a 9’. Ninguém respondeu ‘Nota 10!’


Esta sinalização – tímida, é verdade – precisa encontrar ouvidos abertos e atentos nas cúpulas editoriais. Ouvidos que provoquem outros movimentos e que estes possam efetivar perseguir mais qualidade nos produtos que vemos nas bancas afora. Espera-se que isso aconteça. E que as empresas do setor não se acomodem na boa notícia que tiveram dias atrás quando a Associação Mundial dos Jornais anunciou que o ramo teve crescimento – leve, é verdade – no ano passado, desmentindo as malfadadas quedas de tiragem e fuga de verbas publicitárias para outros meios. Que a ligeira boa notícia dos barões da imprensa planetária não engesse o ânimo dos bons editores e dos profissionais que vêem no jornalismo muito mais que business.


Amém!


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Baixinho com alta audiência em SC


Bem, amigos leitores! Hoje é dia de mais um diagnóstico sobre a mídia catarinense. Em campo os jornais Diário Catarinense, Jornal de Santa Catarina e A Notícia. O time dos periódicos trouxe para o jogo um arsenal de matérias sobre o milésimo gol de Romário, publicadas de 21 a 28/03. Essas matérias são o alvo dos analistas do Monitor dessa semana.


Jornal de Santa Catarina


A busca do milésimo gol de Romário contagiou as páginas esportivas do Jornal de Santa Catarina no período analisado. Em oito dias de análise, foram encontradas onze matérias relacionadas ao jogador. Não bastasse a quantidade, pode-se dizer que foi exagerado o destaque dado ao assunto.


Com exceção das publicações dos dias 23 e 28/3 – que não apresentaram nada sobre o assunto, todas as outras indicaram o tema com atrativas chamadas de capa. Elas faziam menção a matérias que ocupavam uma página inteira ou, até, duas páginas. Na época em que o milésimo gol se aproxima, tudo que é relacionado ao jogador vira notícia: seja o lançamento de uma campanha de apoio às crianças portadoras da Síndrome de Down ou a venda de uma camisa comemorativa pelo site do jogador.


Considerando que a proposta do Santa é cobrir, principalmente, o Vale do Itajaí, é estranho encontrar tanta informação sobre o ‘baixinho’. Deixar os assuntos blumenauenses em segundo plano, também não é muito a cara do jornal.


Contrariando a supervalorização dada pelo diário ao almejado gol número 1000, a edição de final de semana (24 e 25/3) apresentou um interessante texto do editor de esportes Rodrigo Braga. A coluna ‘O beijo nº 100’ questionou de forma bem-humorada e inteligente a contagem de gols de Romário.


Também neste dia, o jornal surpreendeu com a matéria ‘Mais dois, ‘baixinho’ ‘. Novamente, o milésimo gol foi assunto (lembrando: 9 matérias abordaram o mesmo tema) e o jornal fez uma supercobertura da vida do jogador: a trajetória, os melhores lances e até as frases mais polêmicas ditas por ele. Muita atenção para uma pessoa só… Dá-lhe, ‘baixinho’, na pequena área!


Diário Catarinense


Dentre os três periódicos analisados, o Diário Catarinense foi o que apresentou o menor volume de matérias sobre a busca de Romário pelo milésimo gol. O saldo foi de sete matérias no total, mas apenas duas ocuparam lugar significativo dentro do jornal. As demais eram relativamente pequenas e não traziam maiores informações sobre o fato.


Como se pode ver, o DC segue a tendência da mídia nacional em dar destaque a busca do milésimo gol do Romário. Apesar disso, a sua editoria de esportes priorizou os campeonatos e times regionais. Cumpriu sua função, pois vai ao encontro do propósito do jornal que é ser estadual. Nas edições analisadas, o critério de proximidade foi o que prevaleceu na sua hierarquia de notícias.


A Notícia


Na contagem, A Notícia publicou 12 vezes o ‘baixinho’ em suas páginas, entre matérias, notas, menções e fotos. Ele esteve presente em quase todas as edições analisadas desse jornal, exceto pelo dia 23/03, onde Romário não foi escalado. Um número significativo para um assunto que não é estadual, no caso da menina Gabrielli, por exemplo, foram apenas duas matérias.


O ‘peixe’ começou na reserva, apenas observando a movimentação e mostrando a cara em um pequeno texto no dia 21/03. Trata-se de uma matéria, na página A14, situada embaixo do ‘abre’ do caderno de esportes. Intitulado ‘Em Brasília, fotógrafos e cinegrafistas de olho no ‘reserva’ Romário’, o texto relata sobre o jogador, seus 998 gols (até então) e o fato de ele começar no banco de reservas o jogo contra o Gama.


Na edição seguinte (22/03), o ‘baixinho’ também começou na reserva, entrou no segundo tempo e marcou um gol. Ele foi tema de uma das cartas publicadas na seção homônima e marcou presença na nota ‘Pela igualdade’, onde protagonizou um pequeno texto falando de sua relação com os portadores de Síndrome de Down. Vale lembrar que Romário tem uma filha de dois anos com essa condição.


Após uma breve ausência na já citada edição do dia 23, o jogador reapareceu timidamente na publicação do dia 24. Na página A14, os leitores puderam ficar a par dos sentimentos do filho do ‘baixinho’ com relação ao milésimo gol do pai. No total, foram duas notas sobre ele na coluna do Maceió, com direito a uma foto em que usava a camisa da seleção.


O interessante é que em uma das notas não se falou do milésimo gol, mas do papel de Romário na luta por dignidade dos portadores de Síndrome de Down. Mais interessante que isso é o fato de que esse assunto, apesar de ter uma inegável relevância, é oportuno, pois recentemente a Rede Globo encerrou uma novela que abordava esse mesmo tema.


Até então, o AN se ateve a falar de Romário em poucas palavras. Foi aí que surgiu a edição do dia 25, onde o ‘baixinho’ foi titular absoluto protagonizando uma seção de Destaque logo no início do jornal, com direito a chamada de capa indagando os torcedores: ‘Será hoje?’ Sim! Naquele dia, Romário ganhou lugar de destaque na publicação, com direito a duas páginas (A4 e A5). Essa edição trouxe aos leitores a matéria ‘Ele driblou a lógica’, onde foi narrada uma breve história do jogador, um infográfico com os três ‘gols de ouro’ do atacante, e duas tabelas com os gols totalizados do ‘baixinho’ e de Pelé. Para completar, foram publicadas 12 fotos do carioca.


Logo após o jogo contra o Flamengo, onde o jogador fez o gol nº 999, o jornal estampou uma foto de Romário na capa do periódico e uma na capa do caderno de esportes. A matéria intitulada ‘Ficou no 999’ se ateve a tratar do clássico entre Vasco e Flamengo e a atuação do atacante. Houve uma tentativa, em forma de foto-legenda, de trazer o assunto do milésimo gol ao âmbito regional, mas com pouca profundidade e sucesso. Destaque para uma charge na contracapa do caderno.


Nos dois dias seguintes, o AN colocou Romário de volta no banco de reservas com duas menções ao jogador em cada uma das edições. Em suma, A Notícia entrou na roda dos que fazem vigília para o milésimo gol de Romário. O jornal se ateve a falar as mesmas coisas sem ampliar o foco do assunto ou acrescentar algo novo entre uma edição e outra.


Placar final


É importante mencionar que não há problema em falar do milésimo gol do Romário. O problema está na supervalorização, nas poucas novidades e na fuga da ‘proximidade’, critério tão marcante nos três periódicos, especialmente no Santa. Será que nada no esporte catarinense mereceu destaque semelhante?


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Visita de Bush é quase ignorada na mídia norte-americana


Karis Cozer (*), da Califórnia (EUA)


O Brasil não é uma pauta costumeira na mídia norte-americana, tampouco outros países sul-americanos. Por maior relevância ou que algumas matérias brasileiras possam ter, jornais, revistas e noticiários focam-se na Europa e no Oriente Médio nas editorias destinadas a assuntos internacionais. A visita do presidente George W. Bush, entretanto, quebrou essa rotina e o conteúdo das matérias, certamente, chamou a atenção dos leitores.


Uma vez que o Brasil foi a sua primeira parada, e talvez pela iminência de relações econômicas importantes com a perspectiva da valorização do Etanol, foram exploradas reportagens que trouxeram informações além dos passos de Bush. O New York Times, na edição do dia 09 de março, publicou acusações de roubo feitas por promotores nova-iorquinos a Paulo Maluf, classificando este, inclusive, como alguém de poderosa influência na política brasileira. A Petrobras, em uma notícia sobre a produção de óleo e gás no México, também foi citada por este jornal.


The Wall Street Journal, dia 09 de março, saiu com três chamadas de capa sobre o Brasil. Uma delas também foi sobre as investigações contra Maluf. Outra, trouxe os acordos feitos entre Bush e Lula em relação à produção de Etanol, marcando os protestos contra a visita que se estenderam por várias cidades. The Register, jornal de maior circulação em Orange County, sul da Califórnia, com uma chamada de capa, também escreveu sobre todos os protestos recebidos.


As matérias não foram longas; pouco foi falado de Lula e nas notícias sobre Paulo Maluf, o destaque foram os valores denunciados. A maior cobertura sobre a importância do Brasil na produção do etanol para os Estados Unidos, com infográficos e mapas, tiveram como principal objetivo salientar aos receptores a atual situação.


George Bush foi acusado, também pelo The Wall Street Journal, de ser o culpado pelas dificuldades encontradas por toda a América Latina em identificar boas oportunidades de acesso ao mercado norte-americano. Com fotos na capa e no caderno Nação e Mundo, The Orange County Register ressaltou exclusivamente as manifestações brasileiras à visita de Bush. Nos outros principais jornais do país, a cobertura sobre os protestos que ocorreram durante a visita foi ignorada, acompanhando sua prática habitual.


(*) Acadêmica de Jornalismo na Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e pesquisadora do Monitor de Mídia


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Segunda vida em primeira mão


Joel Minusculi (*)


Quando um popular jogo eletrônico, The Sims, encontra um comunicador virtual, como o MSN, surge o Second Life. O Second Life é um ambiente existente na grande rede mundial, de cadastro gratuito, mas com serviços especiais aos pagantes, e que possibilita uma segunda vida ao usuário, através de uma personificação chamada avatar. Esta recente mania da grande rede nega ser mais um simples entretenimento on-line e ostenta o título de primeira grande plataforma de interatividade comunitária virtual. A principal diferença desse sistema, comparado a tantos outros módulos do tipo, é sua repercussão além dos bits da internet. Já que isso é um crescente fenômeno global da sociedade, principalmente com a atual tendência de associar as plataformas eletrônicas aos outros meios, a imprensa aos poucos se adapta à virtualidade deste ‘admirável mundo novo’.


Desde o lançamento do Second Life, empresas de renome, como Nike e BMW, já construíram suas versões digitais dentro do programa. Isto movimentou muito o mercado de dólares e de lindens – a moeda virtual corrente da plataforma, com cotação, câmbio e influência relacionados com o dinheiro do mundo real. Esta abertura mercadológica também possibilita a expansão da visibilidade dessas empresas, dado o crescente número de freqüentadores da plataforma. É uma espécie de investimento direcionado, em que há uma grande demanda de usuários pagantes a ser atendida.


Com esse mesmo pretexto de procura, mas agora por informações, as agências de notícias e outros meios aderem gradativamente a esta novidade. Dentre as pioneiras está a Reuters, primeira a criar uma versão eletrônica, com direito a prédio de redação e equipe de avatares jornalistas. No Brasil, com a recente versão nacional do Second Life, o jornalismo da Globo também entrou nessa onda. Dentro do portal G1 foi criado o blog G2, exclusivo para a comunidade virtual brasileira com uma segunda vida.


O Second Life, desde sua versão definitiva em 2006, conta com um ‘jornal’ próprio, o portal de informações Second Life Herald. Ele é um espaço em que os usuários podem sanar dúvidas acerca de detalhes técnicos, com avisos institucionais e notícias com cara de release. Ao perceber isso, o velho ‘feeling’ dos grupos que entraram no serviço encontrou uma boa oportunidade: oferecer uma cobertura dos eventos e do cotidiano virtual, nos moldes do noticiário do mundo fora dos computadores. Ou seja, a imprensa descobriu uma nova fonte de informações com grande potencial de desenvolvimento.


O cotidiano virtual imita a vida real. Por isso estes novos canais da imprensa possuem a mesma responsabilidade em transformar fatos em notícias. Porém há grandes desafios, como, por exemplo, lidar com o gigantesco fluxo de informações e humanizar o relacionamento através de máquinas. Isto acarreta tornar os assuntos interessantes para o maior público possível, inclusive para quem está fora dessa virtualidade. Isso promoverá a verdadeira democratização digital, quando as pessoas começarem a compreender a linguagem dos bytes e seu serviço através do canal da imprensa.


O tratamento das informações provindas desses novos ambientes cibernéticos é tão importante quanto as obtidas no dia-a-dia das ruas. Já o Second Life é um passo importante na convergência da percepção de realidades, só vista antes em obras de ficção ou nos devaneios de teóricos (um lindem para quem ligou isso tudo com algum pensamento de Jean Baudrillard ou de Pierre Lévy). Só a mídia não pode esquecer que existe um mundo com muitas coisas acontecendo além das telas dos computadores. Se a imprensa tiver isso em mente, ou melhor, na memória, só restará transcrever os códigos virtuais em notícias reais. Assim a vida em qualquer versão será muito interessante.


(*) Acadêmico de Jornalismo na Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e bolsista do Monitor de Mídia

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Monitor de Mídia