Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Na banca do povo

Mais um jornal agora faz parte do Grupo RBS. No dia 28/08, O Hora de Santa Catarina começou a circular pela região da Grande Florianópolis. A proposta do periódico é ser popular, ao preço de R$ 0,25, com a justificativa de ser “um jornal acessível, voltado para o leitor”. Este Monitor de Mídia analisou a 1ª edição do jornal e, ao folhear suas 40 páginas, percebeu alguns aspectos relevantes quanto ao material apresentado.

O que tem no jornal

Em sua parte editorial, O Hora de Santa Catarina apresentou temas referentes à saúde, prestação de serviços, esportes (com grande destaque para o futebol) e segurança públical (este último com um espaço relativamente pequeno no final do periódico).

As matérias mais extensas foram baseadas em personagens, com o assunto desenvolvido no perfil dos envolvidos. Mesmo assim, as notícias de forma geral eram superficiais, e somente deram uma noção do que acontece.

A maior parte dos textos foram notas sem procedência ou assinatura, dividindo espaço com matérias de jornalistas dos veículos e da Agência RBS. O Hora de Santa Catarina também compartilha material com outros jornais, como visto na matéria de Djalma Corrêa Pacheco, “Estacionar no Kobrasol é arriscado”, publicada também no Diário Catarinense, em 28/08.

Na edição analisada do HSC, o jornal apresentou 12 colunistas, que trataram desde assuntos das ruas, esportes e esoterismo. Percebeu-se o uso desse recurso para uma maior aproximação com o leitor, pois os titulares de cada coluna detalharam as notícias como numa conversa.

Cultura também é popular

O novo jornal do Grupo RBS trouxe contrastes acerca das culturas de massa e popular. O grande destaque foi dado ao futebol, tradição popular, que além de possuir manchete na capa, contou com uma Editoria intitulada “Jogo Total”, que garantiu um espaço exclusivo no jornal, com as tabelas de classificação do campeonato brasileiro. Outro aspecto que retratou os costumes e novidades populares foi a coluna de Mané Gaivota, que enfocou a cultura regional.

O aspecto da cultura de massa ganhou destaque com a foto de capa, sobre a festa de lançamento do periódico. As fofocas e a vida dos famosos foram detalhadas na Editoria “Retratos da Fama”. O interesse popular também foi atendido com resumos de novelas e presságios astrológicos.

Imagem é tudo

O Hora de Santa Catarina foi composto por páginas fartamente coloridas, causando até um desconforto visual. Continha muitas fotos, que geralmente apelavam para a mulher e a sensualidade (principalmente na editoria Retratos da Fama, com fotos de celebridades).

O jornal apresentou uma mistura de muitos elementos espalhados na página, sem haver equilíbrio e diagramação adequados. Há poucos espaços em branco e os textos não são nem justificados, causando um aspecto de desorganização maior ainda. Não é por ser popular que deve haver um desleixo quanto à apresentação do jornal. Ao contrário, tem que auxiliar e localizar o leitor.

Da boca do povo

O novo periódico do Grupo RBS se caracteriza por sua linguagem coloquial, típica de jornais populares, que se aproxima ao modo de falar dos leitores em geral. Apesar de esse tipo de palavreado tender a construção de frases e textos “de impacto”, o Hora de Santa Catarina não apresentou matérias ou citações com caráter esdrúxulo ou ofensivo na edição analisada. “Vitória para dar fim à urucubaca”, “Soares fez uma bucha de fora de área”, “Fedor insuportável”, “Estacionou, voltou a pé” e “Convivendo com ratos e baratas”, são alguns dos exemplos de sentenças publicadas no jornal.

Irmãos gêmeos?

O Grupo RBS vem há tempos padronizando seus veículos, seja do ponto de vista da rotina de produção ou mesmo dos detalhes de suas identidades visuais. O conglomerado também vem forçando a troca e reaproveitamento de conteúdos por meio de sua Agência RBS, o que dá nome de sinergia. Pois isso vem promovendo alguns estragos… A chamada sinergia vem pasteurizando os jornais ao extremo. Isso pode ser percebido com a comparação das capas do Hora de Santa Catarina com o Diário Gaúcho. Este último é um jornal popular, como o Hora, mas com circulação do Rio Grande do Sul. A única diferença mais aparente é o preço. Os gaúchos pagam R$ 0,60…

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