Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Obrigação ou sensatez?

17 de junho de 2009. O Brasil perde um grande aliado na divulgação de um jornalismo sério: a obrigatoriedade do diploma. Por 8 votos a 1, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram a questão. De acordo com o relator do processo, os prejuízos a terceiros não são inerentes à profissão de jornalista e não poderiam ser evitados com um diploma. Pois bem, os que alegam isso não podem ser jornalista e não têm competência para afirmar tal coisa. Todos os cidadãos têm uma ética própria, mas todos sabemos que cada profissão é regulamentada por um Código de Ética, código esse ministrado e discutido durante o percurso acadêmico. Mas alguém pode se pronunciar e dizer: ‘Mas é só ver na internet!’ Mas será? Será que quem vai pesquisar na internet vai poder fazer toda uma discussão teórica e metodológica sobre o tema? E não só isso.

O fazer jornalístico não está relacionado somente a escrever matérias em standard, num formatinho delimitado pela linha editorial do meio de comunicação. Vai muito além disso. Não é desmerecendo as profissões técnicas, pois todo trabalho é digno, se realizado com dedicação, esforço e técnica. Mas será que um ‘testador de caixão’, se chamado para ser jornalista, poderia exercê-lo. Claro que sim, de acordo com a decisão do STF. Mas será que ele vai ter ciência total do que está realizando? Será que ele vai pensar nos leitores e no papel das suas palavras, na força das mesmas na sociedade? Presumo que não.

Uma jogada de longo prazo?

É claro que nem todos os profissionais da comunicação que saem da academia são excelentes e sabem sobre tudo da profissão, mas isso acontece em todas as áreas. Um médico não sai da Faculdade sabendo de tudo. Para tal, precisa se especializar em algo, assim como o jornalista. Uma decisão equivocada de alguém que não conheça os fundamentos da medicina pode acarretar danos irreversíveis para o ser humano.

Da mesma forma acontece no jornalismo, na medida em que uma notícia omitindo a verdade ou publicada erroneamente por uma pessoa sem formação técnico-científica pode prejudicar toda a sociedade. Neste sentido, fica comigo uma inquietação. Não teria sido essa decisão do STF uma jogada de longo prazo? Se os jornalistas não precisam de diploma e qualquer pessoa pode exercê-lo, então perdemos a credibilidade para fazer denúncias e tecer críticas com poder persuasivo, já que todos temos o direito de ser jornalistas. Quem vai acreditar numa pessoa sem formação que não sabe direito o que está falando?

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Licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho (Portugal) e mestranda em Informação e Jornalismo pela mesma instituição