Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Problemas e perspectivas do jornal impresso

Pode-se dizer que um dos pilares da sociedade moderna é a comunicação. E, sem exageros, pode-se dizer também que a invenção da imprensa, atribuída ao alemão Johann Gutemberg, no século 15, foi o que consolidou a importância da comunicação na construção da sociedade contemporânea. O jornal impresso teve seu auge – nos Estados Unidos, o maior mercado de notícias – logo após a Primeira Grande Guerra e, a partir daí, teve uma queda que se observa hoje como uma derrocada em massa de grupos símbolos do jornalismo. A situação difícil em que se encontra o gigante The New York Times e as notícias de falência de outros e não menos importantes jornais estaduninenses são assustadoras. Os jornais europeus também não estão em situação confortável.


Aqui no Brasil, por enquanto, não se observa uma grande crise nos jornais impressos. Contudo, nosso país sempre priorizou as mídias eletrônicas (lembrando os tempos de ouro do rádio e a TV, preferência nacional) como fonte de notícias. A internet, com seus quase 40 milhões de usuários no país, para muitos é a única e preferida forma de se manter informado e se configura como uma ameaça ao jornalismo de papel. Tudo isso faz com que uma séria discussão sobre o futuro do jornal impresso surja em vários segmentos da sociedade. Será que o tablóide, o berliner e o standard estão fadados ao desaparecimento?


Já sai caduco da gráfica


Desde os romanos, com a sua Acta Diurna afixada em locais públicos, o ato de informar tornou-se algo estritamente ligado à civilização. Com as inovações tecnológicas, o jornal saltou do modo de produção artesanal para uma complexa e alucinante indústria de informação. Durante décadas, o impresso reinou absoluto como mídia de massa (ou melhor, para as massas). A sua evolução acompanhou o desenvolvimento social (alfabetização), a capacitação dos jornalistas e revoluções tecnológicas das impressoras e da fotografia. O advento da eletrônica e seus produtos, como o rádio e a TV, reposicionou a função do jornal impresso, já que a informação para esses meios é processada e repassada de forma mais rápida para a sociedade. Segundo Lúcia Santaella:




‘Quando os meios eletrônicos tiram do jornal impresso o primeiro lugar na fila dos acontecimentos , a necessidade de veicular informações que cheguem além de um mero mostruário de fatos obriga o jornal a penetrar a crosta aparente dos fenômenos – e agora é a sua vez de questionar sua própria ilusão de imparcialidade objetiva, repensando sua funções e seu ser de linguagem’ (SANTAELLA, Lúcia, 2000, p.53).


O jornalismo impresso comete o pecado de não aprofundar o fato (salvo raras exceções), veiculando somente no dia seguinte o mesmo conteúdo que a rádio divulgou pela manhã e a TV reforçou com imagens, à noite. Muitos jornais se limitam, atualmente, a repetir o que o leitor já sabia de antemão. Se o leitor já sabe, é difícil que ele se interesse pelo mesmo conteúdo. O papel que se vende nas bancas atualmente já saiu do parque gráfico caduco. Esse é um dos motivos da crise por que passa o jornalismo impresso.


Trunfos e iniciativas


Não são só as mídias eletrônicas e o erro dos jornais de simplesmente veicularem notícias velhas que são os inimigos do jornalismo impresso. A rede mundial de computadores está eliminando paulatinamente os jornais em todo o mundo. Existe uma suposta democratização da informação em que o chamado ‘jornalismo cidadão’ está crescendo de uma maneira espantosa. Trata-se de informação veiculada em blogs e redes sociais (destaque para o Twitter, a nova coqueluche virtual), produzida por qualquer pessoa alfabetizada e que tenha conexão com a internet. Pode-se imaginar o nível de amadorismo que essas iniciativas carregam. Até mesmo os grandes portais de notícias são uma ameaça para o impresso, pelo mesmo motivo das mídias eletrônicas. Vale lembrar que a crise financeira observada nos últimos meses foi um duro golpe para os publishers. A publicidade, principal fonte de renda dos jornais, foi reduzida drasticamente, piorando ainda mais a saúde financeira das empresas da informação impressa.


Mesmo nesse ambiente cada vez mais inóspito, o jornal impresso possui potencial para sobreviver. Primeiro, por sua própria tradição. As gerações anteriores aos computadores, mesmo com a inclusão digital verificada ostensivamente, não possuem incentivos suficientes para abandonar o papel e ficar na frente do computador ou perder o prazer de leitura na frente de uma televisão. A portabilidade da informação também é um trunfo para o jornal, uma vez que ele pode ser levado para qualquer lugar. Além disso, ainda somente o jornalismo de papel consegue recursos para enviar jornalistas a campo, o que dá uma riqueza incomparável para a qualidade da informação. Algumas iniciativas, como a criação de tablóides populares, estão dando uma sobrevida ao impresso.


Análise e opinião consistentes


Melvin DeFleur e Sandra Ball-Rokeach definem bem os usos e satisfações que o jornalismo impresso oferece ao público.




‘E o que dizer do futuro do jornal? Ele sem dúvida sobreviverá, com algo a mais de redução de mercado na fatia de mercado. (…) Ele fornece certos serviços e informações ímpares. Quando o jornal não chega, sua falta é sentida com tristeza. Evidentemente que desempenha um papel em nosso sistema de comunicação que provavelmente será substituído por outras coisas no presente. Por conseguinte, embora nova mídia, e possivelmente outros veículos a surgirem constituam um desafio ao jornal, ele perdura como complexo cultural institucionalizado e uma de nossas formas de comunicação de massa’ (DeFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p.79).


A sobrevivência do jornalismo impresso tem tudo para se consolidar. Mas, é preciso que os editores inovem a postura diante da notícia. Se para o processo de produção do jornal a única notícia é aquela que já passou, cabe ao impresso apresentar um análise aprofundada do fato e construir uma opinião consistente. Dessa forma, o indivíduo que valoriza a informação ficará cativo dos comentários e opiniões que o jornal pode apresentar e o bom e velho impresso pode continuar fomentando o desenvolvimento da sociedade.

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Estudante de Jornalismo, Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte, MG