Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

“Teoria do Jornalismo, mais clareza para a profissão”

Entrevista realizada em setembro de 2006 com o objetivo de produzir monografia de fim de curso intitulada ‘Teoria do Jornalismo: imprescindível na formação profissional’ com a primeira professora a ministrar a disciplina de Teoria do Jornalismo no Brasil, Rosa Nívea Pedroso, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


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Como primeira professora de Teoria do Jornalismo no Brasil, quais foram as maiores dificuldades encontradas?


Rosa Nívea Pedroso – As dificuldades iniciais se referiam à constituição do programa da disciplina, da compreensão do que era ou seria teoria do jornalismo. Foram, então, dificuldades referentes à concepção da disciplina. O que eu mais me perguntava era: o que é e do trata a Teoria do Jornalismo? Tinha a noção de que deveria se diferir de outras disciplinas já consagradas. Então, de início, procurei formular um programa para a disciplina, o que eu levei mais ou menos dois anos. Era a pesquisa bibliográfica que precisava ser feita. E pouca bibliografia específica era encontrada. Era preciso diferir Teoria do Jornalismo das disciplinas de Introdução ao Jornalismo, História da Imprensa e de Teoria da Comunicação.


Como a disciplina, na implantação do Novo Currículo, de 1983, ainda trazia resquícios da fase polivalente, ela foi colocada no segundo semestre da grade curricular e comum e obrigatória aos três cursos de Comunicação Social. Situação que continua vigente ainda hoje. Isto acabou por dissipar a importância da disciplina dentro currículo do Curso de Jornalismo, pois os alunos só iriam trabalhar com aspectos conceituais do Jornalismo mais no final do curso, mais precisamente, na disciplina de Projeto Experimental Monografia. Tornar a disciplina importante para os alunos do Curso de Jornalismo continua sendo o meu maior desafio.


Mas, qual é o conteúdo da disciplina? Ele pode variar de instituição de ensino?


R. N. P. – O conteúdo da disciplina abrange todos os aspectos epistemológicos do jornalismo. O que difere o jornalismo da sociologia, por exemplo? Da publicidade, da propaganda, do marketing? Para isto, você precisa saber com extrema nitidez o que é e o que não é jornalismo. Começa pelo próprio conceito de jornalismo no mundo contemporâneo. É evidente que o conceito não pode variar de instituição de ensino pois esta é uma disciplina científica. Para isto, a comunidade científica tem a tarefa de refutar conceitos antigos e apresentar conceitos novos, mais adequados à história, à produção, à cultura, à realidade. Creio que no mundo ocidental temos alguns consensos quanto ao que é o jornalismo.


A teoria do jornalismo substitui outras disciplinas?


R. N. P. – Como já disse a Teoria do Jornalismo é uma disciplina científica. Tem o seu arcabouço teórico próprio que difere, por exemplo, da Teoria da Comunicação.


Qual é a importância da disciplina hoje?


R. N. P. – A importância é dada pela comunidade acadêmica, pelos professores, alunos e pesquisadores. Por exemplo, atualmente, temos várias entidades criadas com o fim exclusivo de pensar o jornalismo, como a Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo, o Fórum dos Professores de Jornalismo, o Núcleo de Pesquisa em Jornalismo da Comissão de Pós-Graduação em Comunicação (Compós), o Núcleo de Pesquisa em Jornalismo da Intercom, os cursos de Pós Graduação em Jornalismo como os da Universidade Federal de Santa Catarina e Universidade de Campinas. Estas entidades refletem a importância da disciplina no meio acadêmico.


Podemos dizer que a disciplina é imprescindível para a formação do jornalista?


R. N. P. – Sim. É absolutamente imprescindível! Não adianta, por exemplo, o estudante estudar Ética, se ele confunde jornalismo com marketing, com assessoria de imprensa. Se ele exige da notícia o que ela não é. Se ele confunde reportagem com artigo e etc. A disciplina de Teoria do Jornalismo tem muito a contribuir para a qualificação do jornalismo brasileiro porque pode trazer mais clareza para a profissão. Onde acaba o jornalismo e começa o mais puro entretenimento. Onde acaba o jornalismo e começa a exploração da curiosidade humana e etc. Não vejo futuro para os cursos de Jornalismo, a longo prazo, sem um forte investimento na disciplina de Teoria do Jornalismo. É também uma disciplina que só pode ter um caráter científico. Caso contrário, haverá uma transformação da teoria do jornalismo em teoria do proselitismo.

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Estudante de Jornalismo do Centro Universitário do Norte Paulista, São José do Rio Preto, São Paulo