Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Veja não vê bem

Na edição de 31 de março, a revista Veja traz o que anuncia ser ‘o ranking dos 10 melhores cursos do Brasil em 26 carreiras’, com ‘as notas, nunca antes divulgadas, de cada faculdade’. Teria chegado, assim, aos ‘260 melhores cursos’ do país, como anunciado, de forma bombástica, na capa da edição nº 1.847 da revista, com tiragem de mais de 1,2 milhão de exemplares.

É lamentável constatar que a Veja não informou bem nem informou tudo a seus leitores; que divulgou conclusões de forma apressada e induziu milhões de pessoas a erros grosseiros de apreciação do mérito dos cursos superiores de graduação. Na reportagem especial ‘Abrimos a caixa-preta do Provão’, a Veja não cumpre as promessas da capa. E quantas revistas não são compradas apenas pelo que se anuncia na capa?

Pois bem, somente quando lê a matéria ou a ‘Carta ao leitor’, obviamente com destaque bem menor do que na capa, é que o leitor mais atento descobre que os tais ‘ranking’, nas 26 tabelas que apresentam os supostamente melhores 10 cursos de cada carreira, referem-se apenas ao desempenho dos cursos no Provão 2003.

Vejamos: se o único critério (discutível) adotado para definir quais os melhores cursos for o Provão, que sejam então relacionados os cursos que obtiveram conceito A (máximo) em todas as versões do exame. O que fez a Veja? Considerou apenas os conceitos dos cursos no Provão 2003, as notas correspondentes a esses conceitos e organizou os rankings publicados.

Desse modo, conquanto tenha feito justíssimas e acertadas inclusões, a revista deixa de fora das listas dos ‘melhores’, como anunciado na capa, cursos que foram conceito A por até oito anos consecutivos, enquanto inclui cursos que se submeteram ao Provão pela primeira vez. Uma distorção que acontece em pelo menos oito áreas. Pior: enquanto exclui das listas dos ‘melhores’ vários ‘cursos sempre A’, incorpora outros que obtiveram conceito E (o pior deles) em uma ou duas versões do exame, o que ocorre para pelo menos seis áreas.

Veja demonstra não ter compreendido que a força do Exame Nacional de Cursos (Provão) sempre esteve na verificação da série histórica dos conceitos obtidos pelos cursos. Resultados anuais repetidamente situados em níveis superiores de desempenho (conceitos A e/ou B) revelariam os melhores cursos da área considerada. Tomar uma versão isolada do Exame, em um ano específico (2003), e a partir daí construir e anunciar ranqueamentos equivocados, não condiz com a responsabilidade da revista na formação da opinião pública. Não faz justiça aos cursos que sempre alcançaram conceito máximo em todas as versões do Provão (Letras e Matemática da UFCG, Campina Grande, por exemplo) nem aos que temos direito à informação correta, criteriosa e verdadeira.

******

Professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)