Tuesday, 07 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Compra do Instagram reforça temor de bolha

Será que é loucura a oferta de US$ 1 bilhão feita pelo Facebook, empresa iniciante que nem chegou a se tornar pública, para comprar o Instagram, outra empresa iniciante e ainda mais jovem? Para alguns, o altíssimo preço da compra, anunciada na segunda-feira (9/4), foi uma nova evidência da existência de uma bolha na indústria da tecnologia, especialmente porque o Instagram, aplicativo para celulares que permite aos usuários compartilhar com os amigos as fotos tiradas com o smartphone, ainda não obteve nenhum faturamento. Mas a história do Vale do Silício sugere que compras caras de empresas iniciantes feitas por outras startups nem sempre são uma loucura.

Em 2002, a empresa iniciante da vez que se transformou em gigante era o eBay, serviço de leilões online. A startup comprou uma pequena empresa de pagamentos online, chamada PayPal, por US$ 1,5 bilhão. Atualmente, a divisão PayPal do eBay produz quase tanto lucro quanto as próprias mercadorias leiloadas. Em outubro de 2006, um ano depois de se tornar uma empresa pública, o Google pagou US$ 1,65 bilhão pelo YouTube, site de hospedagem de vídeos que não tinha renda nem parecia ser capaz de gerar lucro no futuro. Na época, o preço pago deixou muitos perplexos. Mas o YouTube dominou a concorrência e se tornou uma importante plataforma publicitária online para o Google.

Reid Hoffman, cofundador do PayPal que deixou a empresa para fundar a rede social LinkedIn, disse em entrevista concedida ontem que as aquisições do tipo são feitas em parte com o objetivo de pôr as mãos em algo valioso, mas também para afastar a concorrência. “A história mostra que tais acordos costumam fracassar, mas quando uma compra dá certo os ganhos são realmente muito expressivos”, disse ele. “Sempre existe uma mistura entre oportunidade e ameaça.”

Outro cálculo

As mais novas e quentes empresas de tecnologia são absolutamente conscientes da própria mortalidade. Como muitas delas começaram incomodando alguma gigante mais velha, sabem que podem ser aniquiladas, ou mortalmente feridas, por aquilo que habita os escritórios alugados do Vale do Silício – outra nova empresa de tecnologia, ainda mais quente. Em parte, esta ansiedade alimenta a lógica que orienta tudo por aqui: devore a nova empresa iniciante antes que ela devore a sua empresa, ou antes que um concorrente a compre. E certifique-se de estender sempre o próprio alcance se quiser permanecer relevante.

“Eles farão tudo que estiver ao seu alcance para fazer com que os fregueses voltem – trata-se de algo de grande valor para essas empresas”, disse Len Lodish, professor de marketing da Universidade da Pensilvânia. Sob este aspecto, a compra do Instagram pelo Facebook foi uma tentativa de entrar num novo ramo antes dos rivais. Como fizeram YouTube e PayPal para Google e eBay, o Instagram traz ao Facebook algo de que a empresa necessita desesperadamente. O aplicativo Instagram proporciona uma maneira fácil de compartilhar as fotos tiradas pelos celulares, tarefa que é surpreendentemente difícil de executar com o aplicativo do próprio Facebook.

Deixemos de lado o fato de o Instagram não ter perspectivas imediatas de fazer dinheiro. O Facebook teve de fazer outro cálculo antes da sua oferta pública inicial, previsto para o próximo mês, e enfrentar nova pressão dos acionistas impacientes, disse David Charron, professor empreendedorismo da Universidade da Califórnia em Berkeley. O cálculo tinha como objetivo determinar se valeria a pena pagar US$ 1 bilhão para garantir que o Instagram não roubasse os usuários do Facebook.

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[Somini Sengupta e Nick Bilton, do New York Times]