Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Buscas põem Facebook em rota de colisão com Google

A nova ferramenta de busca da Facebook Inc. representa um avanço ainda maior da rede social no terreno da concorrente Google Inc.

As duas empresas estão brigando para se tornar a principal porta de entrada da internet. O site de buscas Google há muito vem sendo um lugar para se acharem sites e informações; já o Facebook, um lugar para conversar e compartilhar fotos com amigos. Mas essa diferença está cada vez menos nítida e bilhões de dólares em receita com publicidade estão em jogo.

A rede social divulgou na terça-feira que vai possibilitar a seus membros realizar pesquisas complexas nos perfis dos seus amigos, tais como “as atrações turísticas que meus amigos visitaram na França”.

Ao fazer isso, a Facebook está atacando a área principal da concorrente e seu produto mais lucrativo – as buscas – numa tentativa de convencer as pessoas que elas talvez não precisem usar o Google para achar informações.

A maioria dos US$ 40 bilhões que a Google obtém em receitas anuais no mundo todo vem da venda de anúncios publicitários no seu motor de busca. Nos Estados Unidos, a receita da Google com esses anúncios em 2012 foi projetada em US$ 13 bilhões, ou 75% do mercado inteiro, segundo a firma de pesquisas eMarketer Inc.

Nova experiência

O repositório de informações da Google continua inigualado. Ela afirmou ter indexado 30 trilhões de páginas de internet em 230 milhões de sites. No ano passado, a Google mudou seu motor de busca para facilitar que usuários obtenham rapidamente informações sobre pessoas, lugares e outras coisas ao exibir, no topo da página de resultados, fotos, fatos e mais “respostas diretas” às pesquisas de busca, em vez de somente links.

Tendo acompanhado a ascensão da Facebook e prevendo sua investida nas buscas, a Google montou em 2011 sua própria rede social, a Google+, para coletar dados individuais como nome, interesses pessoais e a identidade de amigos. Ela então integrou a Google+ a seu serviço de busca na internet, de modo que pessoas à procura de um site, restaurante ou produto em particular serão alertadas caso algum dos seus contatos na Google+ já tenha dado positivo ou negativo para o que se está procurando.

Um porta-voz da Google não quis comentar.

Mas a Facebook tem uma rede social muito maior e uma considerável vantagem. Ela passou anos incentivando seus membros a adicionar fotos e toda sorte de informações pessoais aos seus perfis, desde dados básicos como cidade onde mora, firma onde trabalha e interesses até detalhes mais particulares como idade, religião e status de relacionamento.

Boa parte desses dados pode agora ser pesquisada através da nova ferramenta “Graph Search” (busca gráfica), que passou mais de um ano sendo desenvolvida. A Facebook lançou o serviço, a princípio, como um teste para um número limitado de usuários. As buscas de internet que a Graph Search não puder executar serão feitas pelo Bing, o motor de busca da Microsoft Corp., parceria da Facebook.

A incursão da Facebook nas buscas poderia prejudicar várias outras empresas de internet, como a LinkedIn Corp., a Amazon.com Inc. e a Yelp Inc., que as pessoas usam respectivamente para encontrar produtos, contatos profissionais e recomendações de restaurantes e outros serviços locais.

A Amazon e a LinkedIn não quiseram comentar. Um porta-voz da Yelp, cuja ação caiu mais de 7% na esteira do anúncio da Facebook, não estava imediatamente disponível para comentar.

O desafio da Facebook, no entanto, é que seus usuários podem ter que criar muito mais conteúdo para a ferramenta de busca ser realmente útil. No momento, não é certeza que algumas centenas de amigos de um usuário do Facebook gerarão cliques de “curtir” ou farão “check-in” em lugares em número suficiente para criar um banco de recomendações significativo. Já a Yelp tem milhares de usuários contribuindo regularmente com conteúdo. E, enquanto a Facebook afirma que mais de 13 milhões de empresas no mundo todo criaram uma página no seu site, a Yelp garante ter cerca de 20 milhões de perfis de empresas só nos EUA.

“Não acredito que uma [ferramenta de] busca irá quebrar uma empresa de internet hoje, mas [muitas dessas] empresas devem se preocupar porque elas são sociais por natureza”, disse Brian Blau, analista da Gartner.

A Facebook não divulgou nenhuma iniciativa de negócios relacionada ao novo recurso, o qual inicialmente não estará disponível em aparelhos móveis. Mas o produto provavelmente criará oportunidades para a Facebook ganhar dinheiro no futuro na forma de publicidade ligada às buscas.

A Facebook hoje obtém a maior parte da sua receita vendendo anúncios publicitários pequenos em seu site.

Mark Zuckerberg, o diretor-presidente da Facebook, reconheceu que o Graph Search poderia ajudar a Facebook a faturar mais, mas foi vago sobre quando a empresa poderia capitalizar essas oportunidades.

“Isso tem potencial para virar um negócio com o tempo, mas agora estamos realmente concentrados em criar esta experiência para o usuário”, disse Zuckerberg durante o lançamento do produto, na sede da Facebook em Menlo Park, Califórnia, acrescentando que a empresa não tem metas específicas para ampliar a disponibilidade do serviço de busca.

Termos naturais

Os investidores não pareceram surpresos com a notícia, divulgada depois de dias de especulações na internet de que a Facebook anunciaria uma nova ferramenta. A ação da Facebook, que havia subido mais de 75% desde setembro, fechou ontem em US$ 29,85, com queda de 0,8%, depois te ter caído 2,7% na terça-feira.

A Facebook introduziu nos últimos meses vários produtos que mostram o seu esforço em aumentar suas fontes de receita. Entre os estreantes estavam aplicativos de mensagem de texto para celulares, o Facebook Exchange, um serviço que permite a anunciantes atingir grupos específicos de usuários, e a Gifts, uma loja on-line.

A Facebook há muito tem uma ferramenta básica de busca, mas ela é mais adequada a pesquisas elementares como o nome de uma pessoa ou a página de uma empresa no site. Com a Graph Search, a Facebook juntou os seus dados e indexou-os em numerosas categorias que facilitam a busca quando as pessoas usam termos naturais de linguagem.

Por exemplo, se um usuário quer achar fotos de seus amigos marcadas no Museu do Louvre, em Paris, ele ou ela pode digitar “fotos de amigos no Louvre”. Se quiser ampliar a busca, o usuário pode mudar para “fotos de amigos em museus”. Como no Google, os resultados começam a aparecer assim que o usuário começa a digitar a pesquisa. (Colaboraram Shira Ovide e Greg Bensinger.)

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[Evelyn M. Rusli e Amir Efrati, do Wall Street Journal]