Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Vídeos de 6 segundos, a nova aposta

Seis segundos não são suficientes para o homem mais rápido do mundo percorrer 100 metros (o recorde mundial de Usain Bolt é de 9,58s). Mas o Twitter acredita que seja tempo bastante para se passar uma mensagem em vídeo. A empresa lançou em janeiro o Vine, um aplicativo que permite produzir vídeos com a duração máxima dos tais 6 segundos e compartilhar na rede. O funcionamento lembra muito o de uma imagem animada do tipo GIF: eles se repetem infinitamente. A grande diferença é que no Vine, os vídeos têm áudio. Apesar do aplicativo estar disponível apenas para iPhone e iPad – a empresa promete em breve uma versão para Android – os vídeos podem ser compartilhados com qualquer pessoa, através do Twitter ou Facebook.

A empresa responsável pelo Vine foi comprada pelo Twitter no ano passado por apostar na mesma filosofia do microblog: “restrição inspira a criatividade, seja através de um tweet de 140 caracteres ou seis segundos de vídeo”.

– Os vídeos do Vine têm tudo a ver com abreviação, a versão curta de algo maior. São pequenas janelas que nos permitem ver as pessoas, ideias e objetos que compõem sua vida – descreve Dom Hofmann, cofundador do Vine.

Outro motivo da aposta foi a facilidade para se produzir e publicar os vídeos. Assim como o Instagram permite fotos com sofisticados filtros com um simples toque na tela, para gravar um microvídeo basta pressionar o dedo sobre a tela do smartphone ou do tablet e deixar que o aparelho capte as imagens. Não existe o botão REC. Ao levantar o dedo, a gravação é pausada momentaneamente, o que permite criar uma narrativa com várias cenas, sem um programa de edição de vídeos.

– Assim como o Twitter, queremos tornar mais fácil para as pessoas se juntarem para compartilhar e descobrir o que acontece no mundo. – explica Dick Costolo, presidente do Twitter.

Essa facilidade de produzir os vídeos fez com que o Vine caísse no gosto dos americanos. Segundo o instituto Onavo Insights, que rastreia o uso de aplicativos nos EUA, no final de fevereiro, o novo produto do Twitter já era utilizado em 2,66% de todos os aparelhos da Apple nos EUA, ultrapassando outros aplicativos de compartilhamento de vídeos. O Cinemagram era usado em 1,07% dos aparelhos com iOS, enquanto o SocialCam aparecia com 0,50% e o Viddy, com 0,31%.

Falsa impressão

O Vine ficou ainda mais popular em março. No dia 25, dois dias antes do lançamento do trailer completo, um teaser do filme “Wolverine – imortal” foi apresentado na rede social. A estratégia deve virar uma tendência para o lançamento de filmes, programas de TV e videogames.

Grandes empresas estão descobrindo que seis segundos podem ser tempo suficiente para divulgar suas marcas. Gigantes como a General Electric, a rede de farmácias Walgreens e a loja de roupas online ASOS já produzem e divulgam seus microvídeos no aplicativo.

Como o Twitter, o Vine mostrou a sua importância para o jornalismo. Quando a Quinta Avenida, em Nova York, foi fechada após o estouro de um cano de água, segundos depois as primeiras imagens já tinham sido publicadas pelos usuários do aplicativo. Bem antes das autoridades de San Francisco explicarem porque os trens tinham parado de funcionar, o vídeo de um trem quebrado em um das estações já circulava no Vine. As imagens foram logo usadas por redes de TV locais. E no começo de fevereiro, quando um atentado suicida atingiu a embaixada americana na Turquia, o jornalista Tulin Daloglu, do site Al Monitor, imediatamente publicou as primeiras imagens do local atingido na ferramenta.

O Vine, porém, é afetado por um problema que assola a internet: a pornografia. Muitos usuários sobem vídeos em que aparecem nus ou com conteúdo explícito. Dois dias após o lançamento, um desses vídeos apareceu na página principal do aplicativo, o que levou o Twitter a bloquear a pesquisa por tags com termos pornográficos, como #porn e #sex. E implantar um sistema para os usuários denunciarem vídeos impróprios. As publicações marcadas ganham uma mensagem de aviso antes de serem reproduzidas. Dependendo do conteúdo, o usuário pode ser banido da rede.

Além disso, o aplicativo virou alvo na disputa entre o Twitter e o Facebook. A rede social de Mark Zuckberg bloqueou o acesso do Vine à funcionalidade que permite adicionar os amigos do Facebook. Em julho de 2012, o microblog tinha feito o mesmo bloqueio contra o Instagram, que pertence ao Facebook.

Muita gente pode torcer o nariz e achar que vídeos de seis segundos são bobagens. Mas foi exatamente o que se pensou sobre mensagens limitadas a 140 caracteres, quando o Twitter apareceu

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Sérgio Maggi, do Globo