Monday, 06 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

EUA acusam a China pela primeira vez de ciberespionagem

Os EUA acusaram a China pela primeira vez de empreender uma campanha de ciberespionagem. Segundo relatório do Pentágono, militares chineses invadiram computadores do governo americano em busca de informações secretas.

As invasões “parecem ser diretamente atribuíveis ao governo e às forças armadas chinesas”, disse o Pentágono em relatório destinado ao Congresso americano sobre questões de segurança envolvendo a China. As informações buscadas na ação poderiam ser usadas para fortalecer os setores chineses de produção de equipamentos bélicos e de tecnologia e para embasar o planejamento militar, segundo o Departamento de Defesa dos EUA.

“A China está empregando o potencial de exploração de sua rede de computadores para apoiar a coleta de informações de inteligência contra os setores diplomático, econômico e da indústria bélica americanos, que sustentam os programas de defesa nacional dos Estados Unidos”, diz o relatório.

Disputa por território

A atribuição de prática de hacking à China expõe uma questão que desponta como fonte de atrito nas relações entre os dois países. A acusação constou de um relatório anual mais amplo encaminhado ao Congresso sobre desafios de segurança ligados à China.

A China protocolou um protesto sobre o relatório junto aos EUA e rejeita “acusações e alarde publicitário infundados”, disse a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Hua Chunying, ontem em Pequim. As afirmações do relatório são irresponsáveis e prejudiciais à confiança entre os EUA e a China, disse Wang Xinjun, pesquisador da Academia de Ciências Militares do Exército de Libertação do Povo, à agência oficial Xinhua.

“Embora seja de conhecimento geral que não é possível determinar a origem de ciberataques apenas por meio de endereços de IP, algumas pessoas do Pentágono ainda preferem acreditar que eles provêm da China, pois carregam um sentimento de rivalidade”, disse Wang, segundo a agência oficial de notícias chinesa. “É uma acusação baseada em pressuposição.”

O Pentágono disse estar investigando invasões por ciberespiões chineses do sistema de computadores da fornecedora de material bélico QinetiQ North America.

Por três anos, hackers ligados aos militares chineses invadiram os computadores da QinetiQ e comprometeram a maior parte, se não toda, a pesquisa da empresa, que inclui trabalhos em satélites secretos, aviões não tripulados (conhecidos como drones) e software usados pelas forças especiais americanas no Afeganistão e no Oriente Médio, segundo informou a agência de notícias Bloomberg News na semana passada.

“Estamos em colaboração muito estreita com a QinetiQ para identificar exatamente o raio de ação e a amplitude desse incidente”, disse o coronel do Exército Steve Warren à imprensa no dia 3/5.

Em seu relatório anual, o Pentágono disse também que o olhar da China extrapola a sua disputa territorial de décadas com Taiwan ao modernizar suas forças armadas, segundo o estudo “Acontecimentos Recentes de Natureza Militar e de Segurança Envolvendo a República Popular da China 2013”.

Poderio reforçado

Embora a intenção de se preparar para um potencial conflito no Estreito de Taiwan pareça continuar sendo o principal foco da China, o país tenta expandir sua influência para realizar missões de assistência humanitária e antipirataria, bem como operações militares regionais, disse o Pentágono.

“Com a expansão dos interesses da China e com a maior influência conquistada pelo país no sistema internacional, a modernização de seu aparato militar também se concentra, cada vez mais, em investimentos no potencial militar necessário para realizar uma maior escala de missões que transcendem suas preocupações territoriais imediatas”, diz o relatório.

O envolvimento do Exército chinês com militares de outros países “continua a crescer significativamente”, disse o Pentágono. Essa interação ajuda a China a partilhar e aumentar seu conhecimento de doutrinas, estratégias, táticas e técnicas, segundo o documento.

O relatório foi divulgado num momento em que o governo do presidente Barack Obama reforçar o poderio naval e outros recursos americanos na região, numa mudança de foco estratégica para a região da Ásia-Pacífico.

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Gopal Ratnam, da Bloomberg News