Monday, 06 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Popularidade não basta

Não faltam indicadores para comprovar o quanto a popularidade das redes sociais aumentou em 2011, mas nenhum número consegue expressar essa influência com tanta veemência quanto um vídeo amador que se tornou um dos maiores sucessos do YouTube nos últimos meses. No vídeo, um jovem de Porto Velho (RO), depois de tomar umas e outras, reclama com o amigo, quase aos prantos, que ninguém o “tucuta” no Facebook. O que ele queria dizer é “cutuca”, o jargão para chamar a atenção de outra pessoa na internet. O significado é claro: para uma parte da população, ser ignorado na web equivale a uma espécie de morte social. Quem não é “cutucado”, não existe.

Os investidores também estão se cutucando para saber qual será o futuro das redes sociais, mas o que eles querem saber é como esses sites, que se tornaram tão populares, vão converter essa audiência global em vendas e lucro. Quatro empresas relacionadas às redes sociais estrearam na bolsa americana este ano – LinkedIn, Groupon, Zynga e Pandora. Metade das ações acumula perdas. A Zynga, que produz jogos para os sites de relacionamento, incluindo o popular FarmVille, ingressou na bolsa em 15 de dezembro, com os papéis a US$ 10. Logo nos dois primeiros pregões, a empresa desvalorizou-se em 10%. Até ontem (28/12), a queda acumulada era de 5,2%, com as ações a US$ 9,48, abaixo de seu valor inicial. O desempenho da Pandora Media é ainda pior. A rádio online fixou um preço inicial de US$ 16, em 14 de junho. As ações subiram inicialmente, mas depois perderam força. Até ontem, a Pandora acumulava baixa de 37,6%, com os papéis negociados a US$ 9,99.

Atrair e manter os anunciantes

A principal preocupação dos investidores é quanto ao modelo de negócio das redes sociais. Isso talvez explique os resultados positivos do LinkedIn, que fez o lançamento mais bem-sucedido. Com o preço inicial fixado em US$ 45 por ação, a companhia surpreendeu o mercado, no primeiro pregão, em 19 de maio, quando os papéis tiveram um aumento de 109%. Ontem, as ações valiam pouco mais de US$ 61, com alta acumulada de 36,8%. O LinkedIn é uma rede social destinada a pessoas em busca de contatos profissionais. A companhia oferece vantagens para quem aceita pagar por um pacote mais completo, mas a principal fonte de receita vem de outro lugar – os serviços vendidos aos departamentos de RH das empresas, que usam o site para recompor seus quadros.

Ao propor um modelo pago mais bem definido, o LinkedIn se afasta da dependência exclusiva da publicidade online, que marca boa parte dos negócios de internet e é vista com certa reserva pelos investidores. É isso que traz uma certa preocupação quanto à oferta pública mais esperada entre as redes sociais – a do Facebook, prevista para ocorrer no segundo trimestre de 2012. A expectativa é que o site levante até US$ 10 bilhões, o que daria à companhia um valor de mercado de US$ 100 bilhões, mais do que valem, juntos, a Hewlett-Packard (HP), a Dell e o Yahoo.

Ninguém despreza a importância do Facebook. Com mais de 800 milhões de usuários, o site passou a ser monitorado pelas grandes companhias para saber o que os consumidores pensam de suas marcas e virou tema de um filme que concorreu ao Oscar deste ano. Os investidores querem se certificar, no entanto, de que a empresa será capaz de usar esse prestígio não só para atrair os grandes anunciantes, mas mantê-los a seu lado. Em Wall Street, ao contrário do que ocorre nos sites de relacionamento, ser popular não basta.

***

Redes sociais tentam acessar o lucro

As redes sociais tornaram-se o principal destino de visitação dos internautas em todo o mundo. Um levantamento recente feito pela consultoria ComScore em 43 países revelou que 1,2 bilhão de pessoas – 85% dos internautas no mundo – acessam mídias sociais como Facebook, YouTube, LinkedIn e Twitter. Essa enorme audiência global ainda não se converteu em lucros. Quatro empresas relacionadas às redes sociais estrearam na bolsa americana este ano – LinkedIn, Groupon, Zynga e Pandora. Metade das ações acumula perdas.

O LinkedIn fez o lançamento mais bem-sucedido. Com o preço inicial de US$ 45 por ação, a companhia surpreendeu o mercado, no primeiro pregão, em 19 de maio, quando os papéis subiram 109%. Até ontem à tarde, as ações acumulavam alta de 36,8%. A principal fonte de receita do LinkedIn vem dos serviços vendidos aos departamentos de recursos humanos das empresas, que usam o site para recompor seus quadros. Com isso, o LinkedIn se afasta da dependência exclusiva da publicidade online, que é vista com certa reserva pelos investidores.

Com mais de 800 milhões de usuários, o Facebook deve testar sua sorte na bolsa no segundo trimestre de 2012. A dúvida dos investidores é se a companhia será capaz de atrair os grandes anunciantes e mantê-los a seu lado.

***

[João Luiz Rosa, do Valor Econômico]