Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Novas tecnologias e os “torcedores telespectadores”

As novas tecnologias estão presentes em nosso dia-a-dia, pois de fato hoje toda sociedade convive com elas, queira ou não queira. Em um passado remoto, jamais imaginaríamos que poderia existir um pequeno aparelho que iria acompanhar-nos por todos os lugares e pelo qual pudéssemos falar com outra pessoa. Estou falando do telefone celular, hoje tão comum que qualquer criança convive com um aparelho desses. Mas nos últimos tempos, o celular não é apenas um meio para se comunicar com outra pessoa. Nele existem outros atrativos interativos, como músicas, jogos, internet, rádio e também agora a TV.

A chegada do smartphone e do iPod em nossas vidas fez com que a mídia se adaptasse a um novo processo para inserir um efeito midiático de acordo com os padrões das novas tecnologias. Olhar TV em qualquer lugar, além da poltrona da sala, agora é possível. É bem verdade que a TV inseriu o seu domínio com a diversidade de canais, dando uma vasta opção a quem disponha também de canais fechados. Mas agora, com o domínio do smartphone e do iPod, podemos ver TV em qualquer lugar, seja na escola, no parque, na praça, entre os amigos na rua, no campo ou na praia.

De tudo isso, a principal novidade será ir ao estádio de futebol com essas mini-TVs e acompanhar o jogo, contemplando cada lance, podendo ver o replay, ou repetição da jogada, no mesmo instante. Será possível saber se foi falta ou não, gol ou não, impedimento ou não. O torcedor no estádio em tempo real será também um telespectador. Prova disso aconteceu no último jogo da seleção brasileira antes da Copa América de futebol de 2011, quando o Brasil enfrentava a Romênia em um amistoso. A Rede Globo, por vários momentos focalizou nas arquibancadas torcedores com seus aparelhos, que estavam acompanhando o jogo. O torcedor era focalizado pelas câmeras ao vivo, tendo a oportunidade de contemplar-se com sua própria imagem, no instante em que fora televisionado. Dessa maneira o narrador da Rede Globo cumprimentava os torcedores, que respondiam ao olharem sua imagem em seu próprio aparelho de TV.

Novo conceito

Pode ser de fato a aposentadoria dos rádios de pilha, tão usados nas partidas de futebol. Afinal, o rádio já está inserido nesses novos aparelhos. Com tanta tecnologia, a mídia começa a se distanciar dos antigos recursos juntamente com seu público. Quem achava que a TV ficaria esquecida, devido à explosão de vídeos e programas na internet, pode estar literalmente enganada. Ela continua a ser vista como dominadora, quando sua missão seria instruir, distrair e informar. Para continuar esse domínio, ela se inseriu nas novas tecnologias através desses novos aparelhos, para ser mais uma opção que visa a dominar nossos instintos. Nesse contexto, existe um novo mundo pós-TV convencional para construirmos uma nova visão, através da tecnologia, e reinventarmos nossos conceitos para acompanhar uma nova era que tudo integra através das prováveis armadilhas midiáticas.

Com a chegada da tecnologia, se desenvolveu um choque midiático na sociedade que, em certo ponto, se torna positivo ou negativo para o receptor. A internet, TV a cabo e as demais multimídias já fazem parte da sociedade e seus efeitos começam também atingir não só o campo comunicacional, mas também o campo político. O reflexo da mídia na sociedade se dá a partir da construção de novas identidades que buscam interesse em comum, principalmente na TV.

O surgimento da sociedade em rede foi um elemento principal para o grande impacto midiático. Através da notícia, todos interagem, não importando o lugar onde você está e muito menos qual seria a verdadeira fonte da informação. A TV continua o seu campo de domínio e oferece uma nova escolha, um novo conceito para um novo telespectador, que anda na velocidade de um novo tempo, onde a informação é algo mais que instantâneo.

Sociedade midiatizada

Contudo, os meios representam as dimensões afetivas que fazem essa mediação entre tecnologia e a sociedade. Na verdade, somos todos tragados pelos efeitos midiáticos, pois estamos perdendo o nosso valor simbólico, não existindo uma identidade em si. Isso é o resultado do progressivo efeito tecnológico que as mídias constroem dentro de nosso ser e que permanecem como ponto de vista central para nossa crítica social. Não queremos apenas estar com as novas tecnologias, mas, se tivermos oportunidade, estaremos “aparecendo na TV” e evidenciando a nossa vaidade, que a mídia sabe muito bem explorar. Um exemplo disso, além dos programas de TV, agora são esses “torcedores telespectadores” que, no estádio de futebol, procuram demonstrar seu afeto através de um cartaz homenageando um jogador, mandando um abraço a um parente ou amigo que está em casa, ou dando um “alô” para o próprio canal que transmite aquele evento esportivo. Agora, com as novas tecnologias, os “torcedores telespectadores” também podem presenciar aquilo que apenas os que ficavam em casa podiam ver.

A principal temática é entendermos se são ou não benéficas na sociedade midiatizada todas essas formas de multimídias. Seria bom o torcedor de futebol saber, através desses aparelhos onde a TV está inserida, tudo naquele momento da partida? Não perderia o encanto do esporte ou a beleza do espetáculo? Seria a TV uma amiga ou inimiga, criando desavenças no exato momento que tudo acontece? Outra questão importante: seria interessante sermos informados de tragédias que a TV anuncia no exato momento em que estamos na rua ou trabalhando? Ou seria melhor o convencional, quando chegamos em casa, sentamos na poltrona e, no jornal da noite, assistimos, agora mais tranquilos, ao resumo do conturbado dia? Até que ponto essa união da TV com as novas tecnologias é benéfica? Essas perguntas, só o tempo e novos estudos comunicacionais poderão nos revelar.

O que vejo é que sempre uma sociedade irá evoluir e automaticamente os meios também. Devemos refletir até que ponto essa evolução é acompanhada pelos receptores. Existe um brutal efeito midiático e não sabemos se houve uma transformação benéfica, para uma sociedade alienada quanto ao conhecimento cultural em meio à rede, que pode contornar uma nova visão aos receptores desinformados politicamente e socialmente desconcertados. A sociedade dos meios está envolvida nesse contexto e ela própria busca absorver os efeitos de nossa sociedade midiatizada.

Nesse parâmetro, procuramos buscar os processos para cada vez mais estarmos preparados, para não sermos vítimas dos próprios meios tecnológicos, que a TV já considera sua fiel escudeira.

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[Diones Franchié jornalista, Bagé, RS]