Wednesday, 01 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O ex-jornalista responde

Na manhã do dia 8/3, os editores Greg Mitchell e Joe Strupp [Editor & Publisher, 9/3/04] sentaram-se com Jayson Blair para conversar sobre o escândalo que lhe rendeu um livro. As perguntas foram formuladas tanto pelos editores quanto por leitores que as enviaram à E&P.

No decorrer da entrevista, entende-se o que Lemann, da New Yorker, quis dizer quando afirmou que Blair não conseguiu sustentar sua tese. Blair revela que quando começou a escrever o livro, ‘racismo seria o elemento central da história’, mas depois mudou de idéia (‘percebi que estava me tornando introspectivo e que havia dois pontos essenciais: a mudança do mercado de notícias e minha história pessoal de auto-imolação’). E enquanto garante a veracidade de cada fato no livro, também diz que faria pelo menos uma mudança. Não há como refutar, ambigüidade é a realidade de Jayson Blair.

Ao falar dos críticos literários, Blair afirma que, como jornalista, entende a dificuldade de separar as emoções da situação, como em seu caso, em que causou grandes desgastes ao jornalismo. ‘Mas acho que algumas pessoas poderiam se distanciar da história um pouco e dar uma perspectiva mais equilibrada’. Muitos críticos têm dito que Blair tenta o tempo todo fundamentar suas fraudes e não pede desculpas de forma apropriada. O ex-repórter retruca que a proposta do livro era pura e simplesmente dar um ‘retrato convincente de como tudo aconteceu’. Saindo da esfera do livro, alguns leitores perguntaram se Blair pediu desculpas a algum dos repórteres de quem roubou reportagens ou às fontes ou familiares de fontes cujas citações foram inventadas nas matérias. A resposta foi não – para Blair, as desculpas estão em seus planos para o futuro, o que pode ser em dois meses ou em 20 anos, segundo ele.

O ex-repórter afirma que possuía algumas diferenças de opinião em relação a sua publisher. ‘Mas cada sugestão era apenas uma sugestão’, disse. O livro, segundo o autor, foi quase vetado. ‘Houve checagens extra de fatos. Minha publisher disse ter dobrado esse cuidado’. Blair afirmou estar recebendo US$ 150 mil adiantados pelo livro, além de US$ 25 mil em direitos de publicação no Reino Unido e US$ 2.000 para a versão em hebraico. ‘Sou grato ao dinheiro, é com ele que estou sobrevivendo e pagando minhas contas’, afirma. ‘Não me fará rico. O verdadeiro lucro é a auto-análise que foi fazer o livro e o bem que ele pode render – como ser usado didaticamente para entender o transtorno bipolar’.

Blair afirma no livro que muitos na redação do Times usam drogas. ‘Não gosto de apontar o dedo às pessoas quando este também aponta para mim, mas há muita gente ali que só consegue levar o trabalho abusando de álcool e drogas’.

Ao final da entrevista, os editores da E&P lançam a pergunta enviada por um leitor: ‘O que você diria aos jovens jornalistas de hoje para evitar o que você fez?’ Jayson Blair respondeu: ‘Diria para serem sinceros consigo, algo que eu não fui. Não terem medo de pedir ajuda. Não pôr carreira e ambições à frente da integridade. O que os fará dormir à noite é ser alguém bom e íntegro, e não os sucessos superficiais.’