Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Regente divina dos conteúdos do planeta

É preciso reconhecer que a Google mostra inclinações particulares na hora de lidar com os documentos que lhe fornecem o sustentáculo de sua atividade [ver remissão abaixo]. Não que propriamente se aposse deles: ela faz aparecerem como produtos seus quaisquer documentos que classifique.

Ela trata os documentos como se fossem, digamos, uma mera matéria-prima que, depois de extraída, é exportada no formato ‘GoogleLândia’ antes de ressurgir na web misteriosamente classificada, lembrando por exemplo os frutos de nossa terra, encaminhados em direção às metrópoles para depois voltarem, manufaturados, estampilhados com algum ‘made in mundo desenvolvido’.

O produtor de conteúdo, para a Google, é algum tipo de matéria primitiva, um operário a secretar texto e sentido, de uma forma horrivelmente inconsciente, subjetiva e conflituosa.

Pseudo-coletivismo

Para a Google, é somente graças a ela que a produção desse novo tipo de primitivo/tribal do mundo virtual pode receber a consagração do estatuto de conteúdo – após ter sido indexado pela Google que, mascarada sob os traços de um anônimo e não-autoral deus ex machina, pela intervenção divina de sua batuta mecânica e objetiva, seleciona, classifica e ordena de forma harmoniosa a sinfonia dos conteúdos do planeta.

A Google se considera implicitamente compositora e regente de uma nova ordem, e é somente depois de ter sido tocado pela graça dela que cada produção eletrônica na web merece ser classificada e encontrada, em suma, existir na web.

A Google é esperta ao praticar um pseudo-coletivismo, que conhecemos de outros carnavais: ela se apodera dos documentos que manipula fazendo-os passar praticamente por obras que eram impessoais, anônimas ou até coletivas antes da intervenção dela, dizendo: agora isso não pertence mais a vocês, ora, pertence à máquina (e a Google é a máquina)…

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Webmaster, Rio de Janeiro