Monday, 14 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

Sobre jornalismo de revista e mea-culpa

Como parte de esforços para criar novo conteúdo e novas publicações a fim de atrair anunciantes adicionais, o New York Times tem agora até um crítico de perfume, Chandler Burr, para a revista T: Style Magazine. Além da revista, seções semanais do jornal, como as de culinária e de viagem, foram remodeladas e têm seu design gráfico cada vez mais parecido com os de uma revista, escreve o ombudsman do NYTimes, Byron Calame, em sua coluna de domingo [22/10/06].

Recentemente, quando descobriu que os editores do NYTimes haviam decidido não distinguir opinião de notícias nas seções semanais, o ombudsman preocupou-se com a ubiqüidade das seções que se assemelham ao formato de revista. ‘Não publicamos um jornal diário, mas sim um jornal diário mais 15 revistas semanais’, disse o editor-executivo Bill Keller à equipe do jornal no ano passado. Na época, Keller teria alegado que o motivo da existência destas revistas e seções era gerar lucros que ajudariam a subsidiar anúncios.

Calame acredita que a maior questão relativa à proliferação do ‘jornalismo de revista’ seria o impacto dele na cobertura noticiosa do NYTimes. Em entrevista na semana passada, Keller teria afirmado que as notícias são a ‘prioridade’ do jornal. Segundo ele, parte do aumento dos lucros publicitários oriundo do ‘jornalismo de revista’ é investido na cobertura noticiosa – como, por exemplo, para contratar repórteres para substituir os que se ofereceram para ir trabalhar em Bagdá.

Mea-culpa

Calame aproveitou o espaço de domingo para abordar outro assunto. O ombudsman falou sobre a divulgação, há alguns meses, de um programa secreto contra o terrorismo. Em sua coluna do dia 2/7, ele havia apoiado a decisão do NYTimes de publicar um artigo revelando detalhes sobre um programa de espionagem de movimentação financeira internacional coordenado em parceria entre a CIA e o Departamento do Tesouro. Depois de ponderar por meses, Calame chegou à conclusão de que não tinha fundamento para dar tal apoio e hoje acredita que o artigo não deveria ter sido publicado.

Os dois fatores que o levaram a fazer o comentário corretivo foram a aparente legalidade do programa nos EUA e a falta de evidências de que as informações particulares foram realmente usadas de maneira errada. A fonte das informações bancárias era a Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication – conhecida como Swift –, consórcio com sede na Bélgica que lida com o tráfego de movimentação bancária de milhares de instituições financeiras em mais de 200 países. A Swift alegou ter recebido intimações legais do governo americano por ter subsidiárias nos EUA. Depois de meses, Calame não encontrou evidências de que o programa era ilegal sob as leis americanas.

Ele também não encontrou dados sobre o mau uso das informações bancárias associadas ao programa, que aparentemente continua em operação. ‘O que fez com que eu não visse estes fatores de forma mais clara mais cedo?’, questiona o ombudsman, dizendo temer que as críticas do governo Bush ao NYTimes tenham despertado nele uma afinidade instintiva pelas vítimas [do programa] e pelo jornal e uma defesa incondicional da liberdade de imprensa.