Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Vídeo de usuário atrai, mas dá dinheiro?

“A Starbucks tem cadeiras confortáveis, mas não é preciso pagar para sentar nelas”, afirma Tom McInerney, chefe e co-fundador do Guba, empresa de compartilhamento de vídeos na internet. Ao contrário, ele explica, a Starbucks oferece um ambiente aconchegante, a custo considerável, fazendo com que as pessoas consumam um café a preço elevado. Este é, basicamente, o modelo de negócios adotado por websites que hospedam “conteúdo gerado pelo usuário”, como blogs pessoais, fotografias e manias atuais, vídeos amadores – que podem ser enviados e assistidos em sites como YouTube, Google Vídeo, MySpace, Guba, Veoh e Metacafe. Ao oferecer um ambiente para a livre interação, tais sites oferecem o equivalente online às cadeiras confortáveis. O problema é que, até agora, não há um equivalente do “café a preço elevado” que faça entrar dinheiro e pague as contas.

Esta é a razão por que pessoas como Chad Hurley e Steven Chen, co-fundadores do YouTube – a líder evidente do pacote pelo número de usuários –, estejam procurando em todo lugar um modelo de negócios. Cientes de que inserir anúncios no começo do videoclipe, como alguns sites, é chato e arrisca afastar os usuários do YouTube, Hurlen e Chen anunciaram duas experiências com anúncios, com a promessa de mais no futuro. Uma das idéias são os “brand channels” – canais de marca, em português –, em que os clientes corporativos criam páginas para seus próprios clipes promocionais. A gravadora Warner Brothers Records abriu o caminho, fundando uma página para promover o novo álbum de Paris Hilton. A segunda experiência é com os chamados “anúncios de vídeos participativos”, que poderão ser enviados e depois classificados, compartilhados e identificados exatamente como os clipes amadores. Isto “promove o engajamento e a participação”, declara a companhia.

Mesmo se os anunciantes aprovarem essas novas idéias, todavia, o YouTube e demais sites para compartilhamento de vídeos enfrentarão outras dificuldades.

Por um lado, no que concerne às leis de direito autoral, os anunciantes estarão na terra de ninguém: eles prometem retirar o conteúdo pirateado de seus websites quando assim for exigido, mas é apenas uma questão de tempo antes de um deles se achar em meio a um grande processo. Depois, há os custos de administrar um site de vídeos como este – o que requer uma grande largura de banda e armazenamento. Uma concorrente avalia que o YouTube está perdendo mais de 500 mil dólares por mês.

Outro modelo

Colocar anúncios pagos ao lado de videoclipes amadores, talvez baseados em palavras-chave ou tags (marcas), apresenta outro problema. “Como saber se uma pessoa no vídeo não faz uma declaração racista?”, pergunta McInerney. Muitas empresas serão cautelosas ao deixar que um sistema automático como o Google AdSense coloque seus anúncios junto com clipes feitos por usuários de procedência desconhecida e com conteúdos potencialmente desagradáveis. (Mesmo assim, o Guba está testando o AdSense para Vídeo, ainda não lançado oficialmente).

De sua parte, o Guba está apostando numa combinação de anúncio mais venda e aluguel de material comercial em vídeo. Seu site oferece tanto os vídeos amadores quanto conteúdo pago, incluindo filmes da Sony e da Warner Brothers. Quando o Guba reduziu seus preços na semana passada, permitindo que novos filmes fossem baixados por 9,99 dólares e os mais antigos por 4,99, suas vendas aumentaram em 10 vezes. O Google Video também permite aos proprietários de conteúdo cobrar pelos vídeos. Isto sugere que os sites de vídeo na internet estão em rota de colisão com os serviços de aluguel de DVD, como a Netflix, que migram para a entrega de filmes pela internet, em vez de discos enviados pelo correio.

Isto, por sua vez, aponta outro modelo de negócios para os sites de vídeos bizarros da rede. Durante a última bolha da internet, eles teriam corrido para listar suas ações o mais rápido possível; desta vez, pelo contrário, muitos tentarão ser comprados por conglomerados de mídia. Na semana passada, a Sony, que tem um grande estúdio de filmagens e vários vídeos para promover, comprou a Grouper, pequeno site de compartilhamento de vídeos, por U$ 65 milhões. E a News Corporation, o conglomerado de mídia de Rupert Murdoch, está transformando o MySpace, seu site popular de rede social, num rival do YouTube. Não é de se admirar, então, que os fundadores do YouTube, do Guba e outros sites de vídeos independentes percorram grandes distâncias para serem lembrados dizendo coisas boas sobre outros gigantes da mídia.