Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Roubou a cena

O galã da Globo José Mayer assumiu o papel de vilão ao protagonizar uma história real de assédio à figurinista Susllen Tonani. A denúncia da colega de trabalho, que rompeu a barreira do silêncio e do descrédito, ganhou apoio de expoentes da emissora e da audiência

O ator José Mayer, de 67 anos, acostumado à tietagem das fãs, desta vez roubou a cena por outro motivo. Em 31 de março, a figurinista Susllen Tonani, com quem trabalhou na equipe da novela A Lei do Amor, denunciou-o por assédio moral e sexual no blog da Folha de S.Paulo #AgoraÉQueSãoElas. A princípio, a Globo não se pronunciou sobre o ocorrido, mas, dias depois, quando figurinistas, diretoras, atrizes e outras funcionárias da emissora endossaram a campanha #MexeuComUmaMexeuComTodas, a direção divulgou um comunicado afirmando que Mayer estava suspenso de produções futuras por “tempo indeterminado”. O ator foi até cortado de cenas na reprise da novela Senhora do Destino, no Vale a Pena Ver de Novo.

Caio Blat saiu em defesa do colega de profissão. “Acho que foi uma brincadeira fora do tom, na presença de outras pessoas”, afirmou. José de Abreu, que já cuspiu na cara de mulher e comparou com animais a primeira-dama paulistana Bia Doria no Twitter, bandeou para o outro lado e usou a rede social para provocar: “Caio, falando ‘m…’ de novo? Daqui a pouco se arrepende e pede desculpas”.

Denúncias desse tipo não são exclusividade das terras tupiniquins. Em abril, o jornal The New York Times trouxe à tona um escândalo envolvendo Bill O’Reilly, que comandava o programa The O’Reilly Factor, carro-chefe da Fox. O âncora foi demitido após cinco casos de assédio sexual terem ido a público – isso menos de um ano depois de ter mandado para casa o próprio presidente da emissora, Roger Ailes, pelo mesmo motivo. Por aqui, o caso de Mayer não foi à Justiça. Susllen decidiu não processar o ator. Ele pode até ser condenado ao esquecimento, mas ela parece ter perdido o direito de voltar ao anonimato.

Em uma guinada digna de folhetim, a figurinista virou alvo de tablóides sensacionalistas, e suas razões para não seguir com o processo judicial foram questionadas — chegaram a dizer que ela teria sido amante de Mayer no passado, o que, na cabeça de alguns, justificaria o abuso. Na tentativa de retomar a vida, ela publicou novamente no blog da Folha: “O Brasil não está acostumado a lidar com este tipo de história. Eu sei. Mas não barateiem a minha história. Até porque ela é [a] de muitas de nós”.

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Ana Helena Rodrigues é jornalista.