Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A Copa perdida da educação

Antes fosse apenas a Copa perdida no futebol. Mas há uma outra, mais perene, mais importante – a Copa da educação, que pode, esta sim, definir os rumos do País. Segundo O Globo (1º/7), alunos brasileiros das escolas públicas brasileiras na 4ª e 8ª séries têm rendimento considerado ‘crítico’ em português. Em matemática, o cenário melhora um pouco, mas ainda assim 16 estados foram considerados ‘reprovados’.

A matéria (‘Maioria dos alunos tem dificuldades de leitura’), organizada em dez burocráticos parágrafos, se resume a revelar, de forma estatística, o resultado do Prova Brasil, exame aplicado em 1,9 milhão de alunos da 4ª série e 1,3 milhão da 8ª série das escolas da rede pública e rural. O fato de aparecer sem qualquer destaque na editoria ‘O País’ já é sintomático de um perene estado de coisas sobre a educação no Brasil. E sobre a ótica da mídia.

Por sua gravidade, a informação merecia destaque na primeira página. Mas o diário carioca apostou todas as manchetes na malfadada Copa 2006, como sói ser. Devidamente jogado para debaixo do tapete da feiúra nacional, o retrato da infância brasileira é mostrado ao leitor com frieza cirúrgica.

Segundo a matéria, o ministro da Educação Fernando Haddad evitou analisar os resultados de acordo com os parâmetros do MEC. Preferiu compará-los a índices anteriores, que refletem um cenário de 2003. E visualizou avanço na pesquisa, pois esta permite identificar o problema por estabelecimento educacional, permitindo intervenção pontual.

Veias abertas

O jornalão fez ouvidos de mercador para a possível demanda de um leitor mais crítico. Algumas perguntas ficaram (e ficarão) sem qualquer resposta: como se chega a uma situação dessas? Por que nossos infantes não conseguem entender direito o que lêem? O que esperar desses futuros cidadãos? De que maneira os dirigentes das escolas públicas podem reverter tal situação, ante o estado calamitoso em que se encontram?

A invés disso, dá-se a conhecer o ranking da tragédia por região. Não é surpresa alguma que os piores rendimentos estão na região Nordeste – com destaque para os estados de Alagoas e Rio Grande do Norte. Não é nessa região que se situam os mais dramáticos desníveis sociais, com os tradicionais desmandos oligárquicos – inclusive midiáticos? E para agravar o quadro, é justamente essa região que dispõe de menos dinheiro para financiar a rede pública – segundo a matéria de O Globo.

Nada de novo no front. Esse é um debate que deveria ser escancarado, e não ser noticiado com parcimônia nas páginas internas do jornal sob o formato de release do MEC. Mas temas que tocam as eternas veias abertas do Brasil não rendem enquanto notícia. Enquanto isso, os meninos não aprendem a ler, nem a pensar, e perdem-se sucessivas gerações de potenciais leitores, inclusive para os produtos da própria imprensa. Dessa forma, essa é uma Copa que dificilmente será conquistada.

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Jornalista, editor do Balaio de Notícias