Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A importância (ou não) de dar satisfação ao leitor

Quão neutro deve ser um jornalista diante de seu entrevistado? Ou melhor: quão transparente ele deve ser? Faria diferença se, dependendo do tema da matéria, os leitores fossem informados de que seu autor é negro, ou gay, ou casado ou judeu?

O New York Times acabou estimulando este debate ao fazer a experiência de ‘apresentar’ a repórter Diana Henriques aos leitores quando ela lançou uma série de reportagens sobre regulação governamental de programas religiosos. No sítio do diário foram colocadas as qualificações profissionais de Diana e uma descrição de sua vida religiosa. ‘Ela tem sido membro ativa de diversas congregações protestantes, servindo por diversos anos em uma igreja presbiteriana e atualmente servindo em uma igreja episcopal em Nova Jersey’, dizia o texto.

A repórter diz que o objetivo de liberar tantas informações não foi evitar ataque ou críticas de grupos religiosos. ‘Pareceu apropriado ser honesto quanto a isso. Eu não tenho razões para esconder minha fé religiosa, especialmente ao lidar com um assunto que as pessoas não acham que o Times vá ter alguma experiência’, completa.

Esta não foi a primeira vez que Diana achou importante revelar detalhes de sua vida para o público. Ela conta que, quando escreveu sobre problemas de militares com seguros, em 2004, ‘o tom’ dos entrevistados mudou quando ela, ao ser perguntada, revelou que seu pai, mãe e marido serviram no Exército.

Mas qual deve ser o limite? Glenn Kramon, um dos chefes de redação assistentes do Times, diz que talvez fosse interessante tentar ‘fazer isso mais vezes’. Segundo ele, talvez os leitores gostassem de saber que o repórter Adam Liptak é também advogado e que o correspondente C. J. Chivers, hoje no Iraque, já foi da Marinha. No caso de Diana, Kramon justifica a decisão de expor a vida religiosa da repórter: ‘Nós achamos que alguns leitores iriam questionar ‘o que ela entende de religião’’. Informações de Howard Kurtz [Washington Post, 18/12/06].