Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A internet como arma

Numa democracia consolidada, a discussão política não pára após as eleições. Ela é contínua, perpassa a vida do cidadão cotidianamente e interage com o espectro político, influenciando-o e pressionando-o. Hoje, nos EUA, muito por conta do uso da internet como meio de participação popular, medidas do governo Obama, emperradas no Congresso, são aprovadas devido à pressão exercida por eleitores do presidente. No Brasil, esse tipo de interferência popular é pouco utilizado e o debate político popular, que poderia ganhar um novo impulso com as novas tecnologias, fica paralisado.

Quando se deixa de aproveitar o potencial da internet para fazer valer a voz da população, as aspirações populares e os desejos de grupos de pessoas, o grande perdedor é o Brasil. Se o debate político fosse constante, ao invés de ser somente feito nas eleições – e nas eleições não se faz debate, faz-se propaganda –, o resultado é um país que não sabe o que se passa, principalmente no Congresso Nacional. É lá onde assuntos de interesse nacional são discutidos, onde leis são criadas ou substituídas, onde se decide o destino dos investimentos públicos, onde o Brasil pensa.

Se houvesse um cenário em que a população acompanhasse as ações dos deputados, por exemplo, essa vigilância virtual faria um efeito tão positivo que impediria o Brasil de retroceder. Os casos de impunidade, só para citar um desses efeitos, são exemplares. O Brasil acompanha a cada dia novas denúncias envolvendo deputados e senadores no que diz respeito ao uso de verbas públicas: pagamento de serviços de segurança feitos para a própria empresa do deputado, pagamento de serviços de empregada doméstica com a verba de gabinete e, o último deles, fretamento de jatinhos com dinheiro específico para compra de bilhetes aéreos. O que há de novo nisso? Por que isso continua a acontecer se a população não tolera mais isso?

O esquecimento da opinião pública

A resposta é a falta do debate político constante e de uma vigilância permanente. Os casos acima são graves e merecem punição, mas devem passar despercebidos pela opinião pública ausente do debate das idéias. O uso político da internet pela população mudaria esse quadro da impunidade. Em relação aos casos acima, a população baiana poderia ter papel decisivo na medida em que o presidente do Conselho de Ética (José Carlos Araújo) é baiano e o corregedor da Câmara também é (ACM Neto). Pouca gente sabe que, apesar desses e de outros casos de corrupção, o primeiro defende ‘penas mais brandas’ para deputados envolvidos em denúncias e o segundo, logo que tomou posse como corregedor, não quis se manifestar sobre o caso Edmar Moreira.

O uso bem feito da internet faria uma revolução política, pois, os olhos vigilantes da população enfraqueceriam o desejo daqueles que querem manter o cenário político como está e daqueles também que confiam no esquecimento da opinião pública para perpetuar ilicitudes.

******

Jornalista, Salvador, BA