Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

A pior solução para a Varig

O futuro da Varig, que está em processo de recuperação, é uma incógnita. No dia 14/12, a Fundação Ruben Berta Participações (FRB-Par), controladora da Varig, tentou vender as ações, mas teve a transferência anulada pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. A direção da Fundação chegou a ser afastada. Mas foi reconduzida no dia seguinte, beneficiada por um recurso TJ/RJ. Em assembléia hoje [segunda, 19/12] a proposta de Nelson Tanure foi rejeitada pelos credores, mas a decisão pode não ter validade. A Fenaj emitiu nota, juntamente com seis Sindicatos e a Arfoc-Brasil, sobre o caso.


A Docas Investimentos, do empresário Nelson Tanure, busca assumir o controle da Varig, mas ainda não levou. A FRB-Par, detentora de 87% do capital votante da Varig, tentou vender as ações para a Docas por US$ 112 milhões e desistir do processo de recuperação judicial, mas teve seu movimento impedido pela justiça. O afastamento da direção da Fundação Ruben Berta foi suspenso, mas as decisões terão que passar pelos credores da empresa. Em assembléia dos credores realizada nesta segunda-feira (19/12), a proposta de Tanure não teve nenhum voto favorável. Mas pode não ser validada porque o Supremo Tribunal de Justiça manteve a decisão de suspensão e transferência da reunião para que os credores analisem tanto o pedido de desistência da recuperação judicial quanto à venda das ações.


A Fenaj considera que a pior solução para a Varig é passar para o controle acionário de Nelson Tanure. A entidade já fez esse alerta para o Sindicato Nacional dos Aeronautas e à assessoria do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar. Segundo o presidente da entidade, Sérgio Murillo de Andrade, no comunicado publicado em jornais no dia 13/12, assinado pela Fundação Ruben Berta e pela Docas Investimentos informando a venda do controle da empresa por US$ 112 milhões, ‘as principais diretivas revelam as reais intenções’. Segundo o comunicado, é objetivo do novo controlador ‘otimizar o nível de empregos’. Para Sérgio Murillo, ‘em linguagem ‘tanuriana’ isso significa demissão em massa, terceirização e pejotização, os mesmos procedimentos ilegais adotados no Jornal do Brasil e na Gazeta Mercantil, que ele também controla’.


Leia, a seguir, a íntegra da nota emitida pela Fenaj, Sindicatos dos Jornalistas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia e Arfoc-Brasil.




Alerta à Nação


É com indignação e preocupação cívica que jornalistas profissionais de todo o Brasil acompanham as manobras do empresário Nelson Tanure para comprar a Varig. Diante das notícias sobre a transferência do controle acionário deste patrimônio da Nação brasileira para a Docas Investimentos, do sr. Nelson Tanure, os profissionais de imprensa representados por seus sindicatos se sentem na obrigação patriótica de alertar as autoridades e a sociedade para os riscos da transação. O desrespeito sistemático do referido empresário às leis trabalhistas e aos direitos de seus empregados, assim como seus recordes em processos judiciais, que montam mais de R$ 100 milhões em passivos trabalhistas, podem dar uma idéia do futuro incerto em que estarão mergulhados os aeronautas e aeroviários da Varig caso a operação seja consumada.


Em pouco mais de uma década, o sr. Nelson Tanure acumulou negócios em diferentes setores da economia e passou a engrossar a lista dos maiores devedores da Previdência. Só ao BNDES deve cerca de R$ 200 milhões em créditos contraídos no passado por empresas do setor naval. Arrendatário dos tradicionais Jornal do Brasil e Gazeta Mercantil, Tanure se tornou um dos maiores inimigos dos jornalistas preocupados com a dignidade da profissão e com a qualidade da informação recebida pela sociedade brasileira.


Ao anunciar a compra da Varig, a direção das Docas fez referência à ‘otimização do nível dos empregos’. Quem conhece os métodos administrativos do sr. Nelson Tanure traduz facilmente a expressão: demissões em massa, pressão para que os funcionários assinem contratos draconianos de terceirização, não pagamento de FGTS e outras dívidas trabalhistas e desprezo pela qualidade de seus produtos.


O Jornal do Brasil, a primeira investida do sr. Tanure no projeto de ingressar no time dos barões da mídia, teve sua redação enfraquecida por salários aviltantes, pelo corte de mais da metade dos empregos, pela precarização das condições de trabalho e pela exploração de estagiários em proporções jamais vistas nas empresas de comunicação. Há mais de 600 processos na Justiça trabalhista contra o Jornal do Brasil. Na Gazeta Mercantil, o passivo chega a R$ 90 milhões. A sucursal carioca deste jornal, que já teve 30 profissionais, hoje está reduzida a dois repórteres.


Por isso, causam surpresa entre os jornalistas as manifestações em favor deste empresário, com a justificativa de que representa o capital nacional. Para nós, jornalistas de todo o Brasil, Nelson Tanure representa desemprego e menosprezo à dignidade dos trabalhadores. Sendo assim, alertamos os credores das empresas ligadas à Varig sobre os riscos que estarão correndo com a efetivação do negócio e rogamos às autoridades judiciárias que não permitam o desmanche de mais uma tradicional empresa brasileira.


Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj


Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo


Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro


Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais


Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal


Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Rio Grande do Sul


Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia


Associação Brasileira dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos (Arfoc-Brasil)