Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Disputa do governo com Grupo Clarín tem novo capítulo

Cerca de 50 policiais fizeram uma incursão aos escritórios da empresa de TV a cabo de propriedade do grupo argentino Clarín, a Cablevisión, em mais um episódio na disputa entre o governo e o maior conglomerado de mídia do país. A polícia cumpria uma ordem da corte de Mendoza, após uma queixa por conta de competição injusta feita por uma empresa rival, o Supercanal. “Esta empresa está citando questões de competição. Mas esta ação é parte de uma batalha política e o Supercanal cedeu ao governo”, afirmou o advogado do Clarín, Damian Cassino, informando que a Cablevisión irá recorrer do pedido de intervenção por co-administração.

O processo legal contra o Clarín fez com que as ações da empresa caíssem mais de 10%. “A busca na Cablevisión atingiu o grupo Clarín, um fundo que gradualmente está se tornando menos e menos líquido como resultado de tensões entre a empresa e o governo”, afirmou Herman Labrone, analista da corretora Fenix Compania Financiera.

O grupo está em conflito com o governo desde que a presidente de centro-esquerda Cristina Kirchner assumiu o poder, em 2008. O preço das ações do Clarín vem sendo danificado desde que o principal jornal e o canal de notícias do grupo criticaram o modo como Cristina lidou com os protestos de fazendeiros logo depois que ela sucedeu seu marido, Néstor Kirchner, como presidente. Pôsteres com os dizeres “Clarín mente” apareceram em toda a capital durante a disputa com os produtores rurais. Além disso, o grupo teve a licença de operação revogada e fiscais da receita federal invadiram os escritórios do jornal homônimo. Funcionários da empresa acusaram as ações de fazerem parte de uma campanha de assédio.

Defendendo medidas polêmicas como a lei de reforma das telecomunicações – que forçaria grupos de mídia, como o Clarín, a vender alguns de seus negócios –, Cristina disse que seu objetivo é quebrar monopólios para garantir a liberdade de expressão no país.

Controle do papel

Recentemente, o Senado – controlado pelo partido de situação – aprovou uma lei que aumenta o controle governamental sobre o Papel Prensa, único fornecedor de papel jornal desde o período da ditadura (1976 a 1983), e do qual o Clarín e o La Nación são os principais acionistas. Assim, o governo assumiu a fabricação, venda e distribuição de todo o papel de jornal do país – considerando-o de “interesse público”. Segundo o vice-presidente Amadou Boudou, a lei “irá melhorar a qualidade da informação e a pluralidade de opiniões na Argentina”.

O senador Anibal Fernandez, do partido no poder, disse que o Clarín e o La Nación usam 71% do papel para seus produtos e garantem vantagem competitiva ao distribuir os outros 29% a 168 organizações de mídia, que devem pagar um preço 15% superior ou importar seu papel. “Estamos defendendo a proposta de defender a liberdade de expressão de todos os argentinos”, disse Fernandez. Os bens do La Nación foram congelados, a pedido da receita federal.

Críticos da medida, incluindo grupos de mídia de toda a América Latina, acham, no entanto, que se trata de uma medida contra a liberdade de expressão. “Estamos convencidos de que a intervenção estatal nesta área irá causar mais problemas do que pretende corrigir”, declarou a Adepa, entidade representante dos jornais da Argentina. Informações de Helen Popper [Reuters, 20/12/11] e de Michael Warren [Associated Press, 22/12/11].