Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Lei antiterror é perigosa, diz diretor do Clarín

Para o diretor de Redação do jornal Clarín, Ricardo Kirschbaum, 62, o discurso do governo Cristina Kirchner é “hipócrita”. Leia trechos da entrevista concedida à Folha.

Como o sr. vê os últimos movimentos do governo contra a imprensa, como a intervenção na Cablevisión e a possível aprovação da lei para controlar o papel-jornal?

Ricardo Kirschbaum – O jornalismo argentino viverá tempos complicados. A maioria conseguida pelo kirchnerismo não os fez mais sábios. Aumentou sua vontade de controle. Mas também há grupos econômicos e midiáticos que estão de acordo. O que aconteceu com a Cablevisión é prova disso. O juiz atuou a partir de um grupo midiático que denunciou a TV por motivos políticos e econômicos.

A lei antiterrorista aprovada pode limitar o jornalismo?

R.K. – Trata-se de um mecanismo muito perigoso, pois deixa sob arbítrio de um juiz decidir se a denúncia de um caso de corrupção é uma ameaça à governabilidade e pode ser considerado terrorismo.

É possível comparar a situação da Argentina com as de Venezuela e Equador?

R.K. – Há uma diferença de grau e intensidade. E de sinceridade. Esse governo é muito hipócrita. Adorna com frases e objetivos democráticos algo que os permite fazer o contrário do que se propõem. Chávez e Correa não são assim. Eles dizem e fazem tudo frontalmente. Aqui tudo é feito para que as coisas pareçam melhores, quando o resultado é sempre favorável a eles.

É o caso da Papel Prensa?

R.K. – Sim. Por que não expropriam logo a Papel Prensa? Por que usar esse discurso de “papel para todos”? Dizem que vão fazer um mecanismo de controle para melhorar a qualidade democrática. É mentira. A melhor lei de imprensa será sempre a não-lei.

Os críticos do Clarín lembram que, no passado, o jornal era amigo dos Kirchner, e só passou para a oposição por interesses econômicos.

R.K. – Se o Clarín tivesse feito prevalecer seus interesses comerciais, já teria pactuado com esse governo.

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[Sylvia Colombo é correspondente da Folha de S.Paulo em Buenos Aires]