Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O povo brasileiro clama por justiça?

Na quinta-feira (16/2), depois de tanto alarde, foi finalmente decidido o destino daquele que causou um crime que não só chocou o país, mas que fez com que a sociedade se tornasse parte dessa história. Mas por que isso aconteceu? Sim, porque em uma sociedade tão branda em relação a corruptos que matam (mesmo que indiretamente) milhares de pessoas todos os anos, isso é no mínimo intrigante.

Não vejo a mesma revolta, o mesmo senso de justiça e onde está guardada toda essa indignação? Quando o crack, por exemplo, tira a vida de tanta gente? Quantas mães perdem seus filhos brutalmente assassinados? Ah mas esses são considerados bandidos. Os bandidos que jamais tiveram uma oportunidade de escolha – pelo menos sua grande maioria.

Uma sociedade revoltada com um caso em que um rapaz mantém sua namorada em cárcere privado e depois a mata, mas quantas jovens morrem todos os anos se prostituindo, sendo levadas para outros países onde muitas vezes também perdem suas vidadas? Eu também me choquei com o caso Lindemberg, mas me choco ainda mais quando vejo uma população pedindo justiça em um país dominado pela impunidade. É como se olhassem para esse caso em que foram decretados 98 anos de prisão e pensassem: “Eu sabia que existia justiça no Brasil.”

Retratar fatos sem manipular

A imprensa, que tem um papel fundamental em toda essa novela e, inclusive, foi apontada como uma das causadoras desse desfecho trágico, não descansa em tentar despertar na população todo esse sentimento. Foram inúmeros links ao vivo, intromissões, repórteres e apresentadores dando sua opinião. Sim, porque esse rapaz já estava condenado pela mesma mídia que disse que ele não deveria ser morto por se tratar de um “trabalhador”. A imprensa nunca deveria se metido tanto assim, pois seu papel é relatar os fatos, e não dar sua versão.

O mais intrigante é que a mídia não instiga o povo a lutar pelos seus direitos básicos. Quando vão às ruas para protestar, são tratados como bandidos baderneiros. Quando surge uma greve, então, ela mostra o quanto isso está impactando a população que depende de determinado serviço, mas as reivindicações da categoria são deixadas para segundo plano.

Eu gostaria de ver a mídia retratando os fatos sem tentar manipular, que ela realmente agisse como um canal entre tudo que acontece no Brasil e no mundo e a população. E que não só casos isolados causassem revolta e senso de justiça, mas que o povo realmente percebesse que muita gente morre exatamente pela falta dessa justiça tão aplaudida na noite de ontem.

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[Laís Cardoso é estudante de Jornalismo]