Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Gustavo Patu

‘Dados do Banco Central põem em xeque a afirmação de que os atuais juros reais -ou seja, descontada a inflação- são os menores dos últimos dez anos, veiculada anteontem pelo programa nacional do PT na TV, sob o mote ‘isso é fato, isso é verdade’.

Como é tradição na propaganda política, o programa omitiu os principais resultados negativos colhidos pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, como a queda do PIB (Produto Interno Bruto) e o aumento do desemprego.

Mas, mesmo no caso dos juros reais, apresentado como conquista da gestão Lula, os números dão, no mínimo, margem a dúvidas.

Há três critérios principais para calcular juros reais. Por dois deles, a afirmação de que as taxas são as menores desde 1994 é insustentável, segundo estatísticas oficiais.

No terceiro critério, justamente o adotado pelo programa petista, o problema é a inexistência de números comparáveis no período de dez anos mencionado pelo PT.

Aos fatos: os juros reais de hoje superam os de 2002, último ano do governo FHC, se o cálculo levar em conta o passado -ou seja, as taxas do Banco Central acumuladas nos últimos 12 meses, descontada a inflação do período.

Segundo relatório do BC de março último, a taxa de juros reais medida dessa forma ‘manteve trajetória ascendente’ e chegou a 14% em fevereiro deste ano. Em relatório de março do ano passado, o BC afirmou: ‘A taxa real acumulada em 2002 situou-se em 5,9%, a menor desde 1991’.

Outra forma de fazer a conta é usar a taxa presente do BC -hoje de 16% ao ano- e descontar a inflação projetada pelo mercado para os próximos 12 meses, a partir de pesquisa feita diariamente pelo banco. Por essa metodologia, os juros reais estão em 9,8% ao ano.

Calculada dessa forma, a taxa foi menor nos últimos dois meses do governo FHC, quando, após a eleição de Lula, as expectativas de inflação do mercado dispararam (ver quadro nesta página). Em novembro e dezembro de 2002, os juros reais foram de, respectivamente, 8,41% e 7,87%.

Terceiro critério

O terceiro critério para medir juros reais é o mais sofisticado deles: comparar os juros projetados para os próximos 12 meses -a partir das operações do mercado futuro- com a inflação esperada para o período.

Com base nessa medida, governo e PT sustentam que as taxas atuais, na casa dos 9% ao ano, são as menores dos últimos dez anos.

Problema: a pesquisa do BC que apura a inflação esperada pelo mercado para os 12 meses seguintes só foi iniciada no final de 2001. Não há dados, portanto, para a enorme maioria do período mencionado pela propaganda petista.

Segundo o BC, foram feitas hipóteses para a inflação esperada em períodos passados. Numa economia instável como a brasileira, tal exercício é muito arriscado. Em 1999, por exemplo, na desvalorização do real, houve grande dispersão das projeções de inflação -um banco, o Merrill Lynch, chegou a prever um IPCA de 33% naquele ano; acabou em 8,94%.

Exageros à parte, é fato que os resultados colhidos por Lula na política monetária -queda da inflação e dos juros reais- são melhores que os obtidos no estímulo ao crescimento, na geração de empregos e nos gastos sociais.

Não é por acaso: ao priorizar o controle da inflação, com juros altos e aperto nas contas, Lula obteve reveses omitidos na propaganda: o PIB caiu 0,2% em 2003, primeira queda anual desde 1992 e o desemprego manteve-se em alta.’



Folha de S. Paulo

‘Programa é sessão de psicanálise, diz Serra’, copyright Folha de S. Paulo, 8/05/04

‘O presidente nacional do PSDB, José Serra, disse ontem, durante encontro estadual do partido em Belo Horizonte, que o programa do PT levado ao ar anteontem é uma ‘verdadeira sessão de psicanálise’. Para Serra, o partido ‘tem problemas com seu passado’.

‘Se alguém tem alguma dúvida, basta ter visto o programa’, disse. A propaganda do PT buscou justificar medidas tomadas pelo partido e que destoam do ideário petista tradicional, como o aumento real de 1,21% do salário mínimo. A propaganda ainda compara dados do governo atual com o anterior, o que também foi criticado por Serra: ‘É como que uma inibição de assumir o governo e continuar fazendo campanha’.

Serra disse que a política econômica atual é diferente da de FHC: ‘Desde logo tem um problema de dose, e a dose faz o veneno’.’



Painel do Leitor, Folha de S. Paulo

‘Cartas’, copyright Folha de S. Paulo, 10/05/04

‘Lula

‘Otavio Frias Filho, em seu artigo do dia 6/5 (pág. A2), esqueceu-se de dizer que, além de Lula (do que discordo frontalmente), outra pessoa muito importante trabalha dia e noite para FHC: o próprio Otavio Frias e o seu grande jornal, a Folha de S.Paulo. A esse senhor e ao seu jornal, sim, não apenas FHC, mas também o PFL deveria erguer uma estátua de gratidão, pela direção tendenciosa e parcial assumida desde o primeiro dia do governo Lula -aliás, é impressionante como o senhor Bornhausen, incapaz de qualquer raciocínio político lógico, tem espaço neste jornal.’ Mas gostos políticos são discussões à parte. Agora, quando o sr. Otavio Frias começa a comparar o ‘jeito de ser’ de Lula ao de FHC, mostra-se totalmente segregador, chegando mesmo às raias do racismo.’ Carlos Versiani dos Anjos (Belo Horizonte, MG)’



O Estado de S. Paulo

‘PT ataca herança de FHC e diz que fez mais’, copyright O Estado de S. Paulo, 7/05/04

‘O PT apresentou ontem uma espécie de ‘prestação de contas’ do governo Lula em seu programa nacional de televisão e exibiu uma série de indicadores para mostrar que a administração petista, em pouco tempo, já fez muito mais do que a de Fernando Henrique Cardoso em oito anos. Uma das estrelas do programa, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, admitiu que ‘os juros podem baixar ainda mais’. Ele disse entender a ansiedade da população, mas ressalvou que ‘as grandes mudanças não acontecem de uma hora para outra’.

Em várias ocasiões, o programa destacou que o governo Lula completava ontem apenas um ano, quatro meses e seis dias. No balanço apresentado, o PT mostrou que no fim do governo FHC a taxa de juros estava em 25%, enquanto hoje, na gestão Lula, é de 16%.

Na lista dos dados exibidos, o programa também mostrou que no último ano do governo tucano a inflação chegou a 12,53%. No primeiros 12 meses da administração Lula, caiu para 9,3%. Munidos de gráficos comparativos, os petistas vangloriaram-se ainda pelo baixo aumento do gás de cozinha: 2,2% no governo Lula contra 420% no de FHC. Palocci insistiu em que Lula quer arrumar a economia brasileira de forma definitiva. ‘Para isso, temos de ser persistentes e pacientes’, afirmou. ‘Não existe um só país em todo o mundo que cresceu no longo prazo de forma sustentada sem ter a inflação rigorosamente sob controle.’

O ministro explicou o pífio aumento do salário mínimo, fixado em R$ 260, com o argumento de que o País não pode dar passo além das pernas. ‘Para cada R$ 10 de aumento no salário mínimo são mais R$ 2 bilhões de gastos nas contas do governo. Ou seja: passar de R$ 260 para R$ 270 significaria estourar o orçamento da Previdência.’ O chefe da Casa Civil, José Dirceu, foi a outra estrela do programa. Disse que poucos governos no Brasil fizeram tanto quanto este, embora já seja cobrado pela oposição como se estivesse no fim. ‘Não se corrigem erros nem se resolvem problemas de 10, 20 anos em 1 ano, 4 meses e seis dias.’ Ele ressaltou que Lula foi citado pela revista Time como uma das cem pessoas mais influentes do mundo.

O presidente do PT, José Genoino, pediu aos eleitores que se informem sobre as ‘realizações’ do governo antes de dar ouvidos a boatos.

Reação – Logo depois do programa, a executiva nacional do PSDB reagiu com veemência. Para os tucanos, o governo do PT fica ‘se comparando ao passado’ por não ter o que mostrar ao País. ‘O governo Lula mantém-se preso ao passado, continua conduzindo o País olhando pelo espelho retrovisor, sem oferecer direção, agenda ou projetos para a população’, afirmou o PSDB, em nota divulgada no site do partido. Os tucanos também acusaram o governo Lula de usar informações falsas, como a que diz que o PSDB deixou o País com mais de 7,8 milhões de desempregados.’