Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Quando vamos eleger a educação?

Uma instigante matéria na revista Época (nº 536, de 25/8/2008), com a assinatura de Isabel Clemente e Mariana Sanches, propõe discussão das mais importantes. As duas jornalistas mostram que o político sensível às questões educacionais não angaria a desejada popularidade.

O exemplo mais gritante seria o ex-ministro da Educação e ex-governador do Distrito Federal, o senador Cristovam Buarque. Apesar de sua paixão, de seus escritos, de sua luta e ações concretas a favor da educação, não se reelegeu em 1998 para o governo do DF e em 2006, concorrendo à Presidência com um discurso voltado prioritariamente para esta problemática, não conseguiu comover nem convencer os eleitores.

Uma das explicações para o fenômeno: a maioria dos brasileiros prefere votar em quem promete cuidar de assuntos urgentes como saúde, alimentação, transporte, moradia, emprego, segurança, meio ambiente. Como se educação não fosse tão ou mais urgente e não trouxesse benefícios diretos. Bendito imediatismo, o nosso! Bendita seja também a nossa ainda limitada percepção de que estudo é luxo!

Propostas genéricas

Pensando com as células cinzentas do político profissional, se educação não é prioridade, para que preocupar-se, para que projetos? E, prefeito eleito, governador eleito, que vantagens há em gastar muito com escolas, com professores, se o povo não reconhece o esforço no pleito seguinte?

Contudo, o mesmo pragmatismo recomenda não deixar o tema de lado. Os candidatos à prefeitura da cidade de São Paulo, por exemplo, tangenciam o assunto, cada um a seu modo.

Geraldo Alckmin oferece propostas genéricas ou que chovem no molhado, dentre as quais: aperfeiçoar o plano de carreira dos professores, melhorar seus salários, formação continuada para os docentes; criar vagas em creches, no ensino infantil e implantar o ensino fundamental de 9 anos; a figura do professor visitador; educação profissional para jovens; refeições e merenda escolar; uniformes completos para as crianças; transporte escolar; abrir as escolas nos fins de semana com programas esportivos, culturais e de lazer; aderir aos movimentos ‘Todos pela Educação’, ‘Movimento Nossa São Paulo’ e PDE do MEC…

Crianças e jovens pagam o preço

Marta Suplicy pretende criar a Rede CEU (os Centros Educacionais Unificados são a versão paulista do Ciep de Darcy Ribeiro e Brizola), eixo de seu programa para a educação, em que itens já conhecidos, funcionando como propaganda das realizações passadas, tornam-se propostas para o futuro: material didático, uniformes e transporte escolar gratuitos, merenda escolar, criação de vagas, efetivação de professores concursados, redução da evasão escolar, laboratórios de informática e salas de leitura, e o Programa Escola Aberta, oferecendo atividades culturais e de lazer nos finais de semana para a comunidade, como preconizava Gabriel Chalita, ex-secretário de Educação de Alckmin.

O atual prefeito, Gilberto Kassab, prefere enfatizar o que já realizou (ou o que Serra fez tendo Kassab como vice-prefeito): acabou com as escolas de lata (herança deixada por Celso Pitta e não solucionada por Marta Suplicy), definiu como prioridade a alfabetização até os 8 anos de idade, lançou o programa ‘Ler e Escrever’ com o segundo professor em sala de aula e construiu 25 novos CEUs.

Diante do que propalam, está tudo indo relativamente bem na educação, falta apenas aprofundar alguns aspectos, manter vivo o que está caminhando e implantar boas idéias, nem tão novas assim. Por não serem conhecedores do tema (como Cristovam Buarque), pensam na educação como uma tarefa a mais a ser administrada.

Se políticos e população eleitora concordam neste ponto, se a educação pública não precisa de um choque, de uma atitude revolucionária, torna-se bandeira menor, bandeirinha de campanha. Crianças e jovens pagarão o preço agora. E, mais tarde, todos nós.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br