Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Questões que deveriam ser debatidas

Comemoramos na segunda-feira (8/3) o Dia Internacional da Mulher. Mas, infelizmente, não vejo motivos reais para celebrar a data ao ler a triste notícia sobre a subvalorização do sexo feminino nos veículos de comunicação de massa.

Pesquisa produzida pelo Projeto de Monitoramente Global da Mídia 2010 constatou que ‘em comparação aos homens, mulheres continuam sub-representadas na cobertura de notícias. Dos atores sociais entrevistados pela mídia, que aparecem na TV, que se manifestam no rádio ou nos jornais, 24% são mulheres e apenas 6% das notícias estão focadas especificamente em mulheres’.

Este resultado, apresentado durante o Painel de Debate na 54ª Sessão da Comissão das Nações Unidas sobre o Estatuto da Mulher, em Nova York, revela a perversidade de uma parcela considerável dos veículos de comunicação que ainda insiste em jogar para escanteio o sexo que representa a maior parte da população brasileira. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para cada 100 mulheres existe 96,93 homens. Ainda segundo o IBGE, o excedente feminino, que era de 2,5 milhões em 2000, chegará a seis milhões em 2050. A instituição brasileira especialista em mensurar estatísticas aponta mais de sete anos como diferença na esperança de vida entre os sexos. Enquanto se estima que o homem viva 66,71 anos, a mulher pode prolongar suas experiências até 74,29 anos.

Para alterar uma triste realidade

Frente a estes números, eis a questão: por que ainda somos relegadas a segundo plano pela mídia?

A pesquisa ainda mensura que apenas 6% das notícias estão focadas especificamente em mulheres. Mas imagine se verificarmos a qualidade destas informações? Embora não tenha em mãos minuciosos estudos acadêmicos, basta realizar uma breve análise sobre o conteúdo amplamente divulgado pela maioria dos veículos de comunicação. São diversas as notícias descontextualizadas sobre a violência contra a mulher permeadas por tendências e desfiles de moda, além dos infindáveis lançamentos de produtos e serviços que comercializam o inalcançável ideal de beleza feminino.

Onde está a mulher? Onde estão as histórias, os relatos, as opiniões e os problemas que realmente afligem o universo feminino? Por que estes importantes questionamentos não direcionam as reuniões de pauta que irão produzir o noticiário nosso de cada dia? Por que somente às vésperas do Dia Internacional da Mulher, grande parte dos media lança cadernos especiais com reportagens que abordam temas já anteriormente discutidos à exaustão nesta data?

Será que falta sensibilidade aos pauteiros? Ou muitos homens ainda ocupam cargos de chefia nos veículos de comunicação mantendo uma visão masculina sobre o mundo? Faltam efetivas reivindicações por temas femininos de interesse público pelas repórteres? Eis as questões que deveriam ser debatidas nas redações e também no meio acadêmico para que esta triste realidade fosse alterada. Depois de buscar respostas a estas indagações, poderemos comemorar não só o Dia Internacional da Mulher, mas sim, as ricas informações que irão garantir o interesse público do sexo feminino.

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Jornalista, Pedro Leopoldo, MG