Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Teria Blair protegido a al-Jazira de Bush?

O diário britânico Daily Mirror publicou matéria polêmica em que acusa o presidente americano George W. Bush de, em conversa com Tony Blair em abril de 2004, sugerir o bombardeio do escritório central da emissora de TV al-Jazira. O jornal baseia a informação em duas fontes anônimas, que teriam descrito um documento confidencial onde há a transcrição da conversa entre Bush e Blair. Uma das fontes afirma que os comentários do presidente teriam sido uma brincadeira; a outra diz que ‘Bush estava falando muito sério’.


Segundo a reportagem, Blair teria convencido Bush a não lançar um ataque aéreo contra a sede da al-Jazira em Doha, capital do Catar – país aliado dos EUA –, durante um encontro na Casa Branca. Citando o documento do governo britânico, o jornal afirma que Bush estaria irritado com a cobertura da emissora sobre a revolta popular na cidade iraquiana de Faluja.


Espanto e desdém


A matéria provocou polêmica entre as partes envolvidas. A al-Jazira pediu que o governo britânico se manifeste sobre as afirmações do Mirror, que afirmou serem ‘revoltantes e perturbadoras’ se forem verdadeiras. A emissora costuma ser duramente criticada pelo governo americano, e seus escritórios no Afeganistão e no Iraque foram atingidos por bombas durante a invasão dos EUA a estes países.


Um funcionário da Casa Branca classificou as acusações de ‘bizarras’, e um representante do Pentágono afirmou que elas são ‘completamente absurdas’. O porta-voz de Downing Street, Ian Gleeson, disse que o gabinete do primeiro-ministro não comentaria o caso porque o documento citado é objeto de uma ação legal.


De fato, dois funcionários do governo britânico são acusados sob a Seção 5 do Ato de Segredos Oficiais, dispositivo antiterror que limita o direito de divulgação de dados considerados sensíveis ao governo, por terem tido acesso e repassado o tal documento. Segundo a Seção 5, é ofensa possuir informação do governo, ou um documento de um funcionário da coroa, se esta pessoa o divulga sem base legal para fazê-lo. Os dois foram liberados sob fiança e deverão se apresentar ao tribunal no fim deste mês.


Jornalistas ameaçados por vazamento


O procurador-geral Lord Goldsmith ameaçou processar jornais e jornalistas britânicos que publicarem mais informações a respeito do documento. Richard Wallace, editor do Mirror, disse que o diário entrou em contato com o governo antes de publicar a matéria e recebeu um ‘sem comentários’. ‘De repente, 24 horas depois, nós somos ameaçados sob a Seção 5 [do Ato de Segredos Oficiais]’, afirmou. Com informações de Richard Norton-Taylor [The Guardian, 23/11/05], Kevin Sullivan e Walter Pincus [The Washington Post, 23/11/05] e CNN [23/11/05]