Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ana Santa Cruz

‘O evento de lançamento da biografia do empresário venezuelano Gustavo Cisneros, ocorrido na noite de quinta-feira no auditório da Federação das Indústrias de São Paulo, teve o mérito de reunir em um mesmo espaço nomes importantes de empresários e intelectuais brasileiros. Estavam todos lá para saudar um dos grandes símbolos do empreendedorismo que rompeu as barreiras da América Latina e se tornou um dos maiores investidores mundiais. A obra de Pablo Bachelet, Gustavo Cisneros – Um empresário global, foi saudada pelos presentes como modelo a ser seguido por todos os empreendedores. Detalhe: a edição brasileira é a primeira em língua não espanhola a ser publicada no mundo – fato que, por si, já demonstra o apreço do empresário venezuelano pelo país.

Durante cerca de três horas era possível presenciar animadas conversas entre os convidados do evento, como as protagonizadas pelo presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva, os ex-ministros do governo Fernando Henrique Cardoso Paulo Renato (Educação) e Celso Lafer (Relações Exteriores), o publisher da maior editora de revistas do país, Grupo Abril, Roberto Civita e o presidente da CSN, Benjamin Steinbruch. Mais ao lado estavam o presidente do Unibanco, Pedro Moreira Salles, a presidente do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Milu Vilela, o presidente da Editora Três, Domingo Alzugaray e o presidente da Rede Bandeirantes, Johnny Saad.

‘A mídia brasileira é um setor bastante dinâmico, com grandes empresários’, disse Cisneros, na sede da Fiesp. Para ele, as dificuldades encontradas nos últimos anos não configuraram crise no setor porque, apesar das dificuldades, o país conta com excelente capital humano. ‘Há uma magnífica gerência no Brasil, de qualidade mundial. O que essa gerência precisa é de refinanciar sua dívida. Penso que todos começam a refinanciá-la muito bem, com a confiança dos bancos’.

Lafer Piva, da Fiesp, que recepcionou Cisneros, não poupou elogios ao empresário venezuelano. ‘O Brasil tem tudo a ganhar com os investimentos que o Grupo Cisneros já fez e que ainda fará’, afirmou o presidente da Fiesp. No que foi apoiado pelo presidente do grupo Abril, Roberto Civita. ‘A história de Cisneros confirma que os empresários latino-americanos podem ter sucesso também nos Estados Unidos e no mundo’.

A biografia Gustavo Cisneros – Um empresário global narra a trajetória de sucesso do homem que transformou um grande grupo venezuelano de produtos de consumo em um dos maiores conglomerados globais, focado principalmente no mercado de mídia, com presença em 80 países, entre os quais se incluem os Estados Unidos, a Espanha e toda a América Latina.

Ao lado de seu irmão Ricardo, vice-presidente do grupo, Gustavo construiu um conglomerado internacional de empresas. Combinou arrojo, cálculo e incrível capacidade de detectar potencialidades em áreas novas, principalmente nas de tecnologia da informação.

Gustavo Cisneros lançou operações como a DirectTV Latinoamérica, que oferece 325 canais de TV paga via satélite para a América Latina e o Caribe; a AOL Latinoamérica, associação com o provedor americano de internet para o Brasil, México, Porto Rico e Argentina; a Univisíon, principal grupo de mídia em espanhol dos Estados Unidos, com duas grandes redes de televisão, uma de rádio, uma grande companhia de disco, uma de cabo e outra de internet.

‘Telefonia, televisão e internet serão uma coisa só’

O empresário venezuelano Gustavo Cisneros, que começou a investir em Internet em 1996, fez previsões para o meio durante uma visita ao Brasil para o lançamento de sua biografia. Segundo ele, a tendência é que as publicações impressas sejam absorvidas e os temas jovens, como música e esporte, ganhem destaque

O venezuelano Gustavo Cisneros é o protótipo do cidadão do mundo. Aos 59 anos, usou de seu especial talento para vislumbrar oportunidades de investimentos em áreas até poucos anos inexploradas – como a internet – e ergueu uma fortuna avaliada em 4 bilhões de dólares, segundo cálculos da revista americana Forbes que o inclui entre os mais ricos do planeta. Gustavo Cisneros é um self-made man que ultrapassou as fronteiras da Venezuela. A Organização Cisneros reúne 72 empresas em operação em 80 países. As áreas de atuação são as de mídia, entretenimento, internet e telecomunicações. Entre as empresas nas quais tem participação está a AOL Latin America.

O relato da trajetória do venezuelano encontra-se no livro ‘Gustavo Cisneros – Um empresário global’ (Editora Planeta). A publicação será lançada em São Paulo, na Fiesp, na tarde desta quinta-feira, 17, a exemplo do que aconteceu no México, nos Estados Unidos e na Espanha. Numa das suítes do Hotel Renaissance, Cisneros cumpriu, nesta quarta-feira, uma fatigante jornada de entrevistas para jornais e revistas. À reportagem da AOL, ele falou das lições aprendidas ao longo da vida de empresário.

Entrevista com Gustavo Cisneros

AOL – Por que o sr. decidiu contar sua história no livro?

Gustavo Cisneros – O escritor Pablo Bachelet – carioca cujo pai era pai chileno e a mãe americana – tinha feito algumas entrevistas comigo para publicações diferentes. Numa terceira entrevista, ele me propôs fazer uma biografia. Eu disse então que não tinha muito interesse porque eu achava que precisaria viver muitos anos ainda para pensar em alguma biografia. Ele, no entanto, apresentou a idéia de lançarmos o livro pela Editora Planeta, que é a maior em língua espanhola e que chegou há pouco tempo ao Brasil. Também apresentou o argumento forte. Disse que valia a pena fazer um livro sobre negócios porque quase inexistiam livros do gênero biografia mesclada com negócios, tanto em espanhol como em português. E foi assim que ele me convenceu a fazer um relato sobre as boas e as más experiências de modo que o livro fosse proveitoso para o pequeno e o médio empresário, para o estudante, para o profissional.

AOL – O sr. credita o seu sucesso ao fato de ser abençoado, sortudo ou de ser um homem trabalhador?

Gustavo Cisneros – Trabalho muito duro, mas sou bastante feliz porque o faço com prazer. A felicidade tem de ser trabalhada. Como muita gente, acordo cedo, freqüentemente trabalho até bem tarde. Sou disciplinado porque tenho uma agenda apertada. Tomo decisões importantes, de impacto em todo o continente. Junto com a responsabilidade, vêm também muitas alegrias.

AOL – Olhando para trás, há algo que o sr. pensa que deveria ter feito de maneira diferente? O sr. se lamenta por ter cometido algum erro?

Gustavo Cisneros – Num determinado ponto de minha vida eu quis investir em um negócio petroquímico na Venezuela que, todos sabem, é um país rico em petróleo. Eu planejava investir em exportação. Não contava com a oposição política que foi feroz. No entanto, insisti, por um tempo. E a lição que tive diante das dificuldades encontradas naquele episódio foi a de nunca fazer negócios com políticos. Nunca fiz negócio algum com Estados. Nós [do Grupo Cisneros] somos absolutamente independentes de qualquer influência política e não fazemos negócios com Estados. Então, posso dizer que de uma má experiência extraí uma preciosa lição.

AOL – No prólogo de sua biografia, o escritor Carlos Fuentes argumenta que a América Latina não consegue transferir para a vida política o vigor que exibe nas artes e nos negócios e que, por esta incapacidade, os países da região tendem a se encaminhar para governos do tipo ditatorial. O sr. concorda com o escritor?

Gustavo Cisneros – O que ele diz é verdade. A criatividade que exibimos na literatura, na arte e nos negócios não temos no âmbito político. Se tivéssemos, estaríamos, de maneira geral, mais parecidos com os Estados Unidos. Para mudar este quadro, só mesmo investindo na educação das futuras gerações de políticos. Só assim, eles teriam como ser mais pragmáticos, de modo que eles também queiram de fato erradicar a pobreza e investir, por sua vez, na melhoria da educação do povo.

AOL – Como o sr. vê o Brasil hoje?

Gustavo Cisneros – O Brasil está em bom caminho. Tem um presidente moderno, é um presidente que entende de capitalismo, que aprendeu que é necessário atrair investimentos para o País. Ele investe na erradicação da pobreza e na educação.

AOL – O sr. começou a pensar em investir em internet em 1996. Como surgiu este interesse? Qual é o futuro da internet?

Gustavo Cisneros – Comecei a pensar no assunto muito antes disso. Já me sentia atraído por tecnologia da informação quando eu era bem jovem, estudando um sistema muito primitivo, a linguagem Cobol. Eu aprendi a programar em linguagem Cobol algo que é muito difícil. Isso me deu uma vantagem tremenda quando a internet começou a se popularizar. Sempre tive atração por temas ligados à tecnologia. Fomos representantes de marcas como NCR, Digital, Fuji. E eu não encarava estas representações comerciais apenas como negócios, mas como oportunidades de aprendizado. Assim, quando novas tecnologias apareciam, tinha conhecimento prévio para entendê-las. Posso dizer também que sempre tive o cuidado de me cercar de gente jovem e interessada em novidades. Então, quando se apresentou a oportunidade de eu fazer um grande negócio na área da internet – e eu sempre quis fazer algo realmente grande de modo a abarcar a comunidade de língua espanhola e a de língua portuguesa – quando surgiu a possibilidade de associação com a AOL, sentamo-nos, conversamos e assim surgiu a AOLA [AOL Latin América].

AOL – A comunidade brasileira é muito diferente das demais comunidades de internautas?

Gustavo Cisneros – Algumas partes do Brasil têm comunidades de internautas de gostos muito parecidos com a comunidade dos Estados Unidos, como é o caso dos internautas de São Paulo. O usuário de São Paulo fica conectado mais horas, demanda programas mais sofisticados. Há outras partes do Brasil que se parecem mais com as comunidades hispânicas. O Brasil é um país que tem vários países dentro de si.

AOL – Tem gente que diz que a televisão vai ser engolida pela internet. O que o sr. diz a respeito disso?

Gustavo Cisneros – Telefonia, televisão e internet serão uma só coisa em um futuro próximo. A internet também vai absorver revistas e jornais impressos. Creio que o futuro na internet está na produção voltada para o consumo, de programações feitas especialmente para ela. Neste contexto, temas como música e esportes, que são do interesse dos mais jovens, são dignos de investimentos mais pesados. O futuro pertence aos jovens, temos de dar a eles o que eles querem.’



AL-JAZIRA
Cosme Rímoli e Sílvio Barsetti

‘Seleção é o destaque da TV Al-Jazira’, copyright O Estado de S. Paulo, 9/7/04

‘A presença de uma conhecida equipe de TV do Catar no hotel da delegação brasileira chamou a atenção do chefe da segurança da seleção, coronel Castelo Branco. Em tom amistoso, ele quis saber qual o interesse da TV Al-Jazira em cobrir um evento de futebol no Peru. Sua curiosidade era extensiva a outros integrantes da comitiva do Brasil. ‘Estamos registrando o evento. Somos apenas da Editoria de Esportes’, disse Abdel Kader Cheniouni, que entrevistou o coordenador-técnico Zagallo.

O enviado da Al-Jazira perguntou ao auxiliar de Carlos Alberto Parreira detalhes sobre a seleção brasileira e o porquê da ausência de Ronaldo, Roberto Carlos e outros craques na Copa América. Cheniouni queria também outras informações sobre o futebol brasileiro. Com a ajuda de um intérprete, que, em castelhano, elaborava as questões, o jornalista estava curioso para saber como o Brasil produz tantos jogadores de ponta no futebol.

Depois, sorridente, disse que já estava acostumado com a reação das pessoas quando o identificavam como da Al-Jazira. ‘Mas sou apenas da Editoria de Esportes’, voltou a dizer. Como os atletas ficam mais em torno de seus quartos, em dia de jogo, os três jornalistas credenciados pela TV árabe roubaram a cena no hotel.

A emissora de TV do Catar ficou famosa no mundo inteiro a partir dos atentados de 11 de setembro de 2001. Ela passou a veicular depoimentos atribuídos ao terrorista da Al-Qaeda, Bin Laden. A Al-Jazira é apontada pelos EUA como porta-voz do grupo. Em junho deste ano, a emissora anunciou ter recebido comunicado de rebeldes iraquianos sobre o assassinato do soldado americano Keith Maupin. Ela também levou ao ar fotos até então inéditas de militares dos EUA mortos em conflitos no Iraque.’