Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Carlos Franco

‘As Casas Bahia continuam a figurar, imbatível, no ranking de maior anunciante do País que o grupo Meio&Mensagem – de publicações voltadas para o mercado de mídia e publicidade -, divulga hoje sobre o ano que passou. De acordo com esse ranking, fruto do cruzamento de dados do Ibope/Monitor com os do projeto Intermeios e auditado pela PriceWaterhouseCoopers, o investimento das Casas Bahia em publicidade somou R$ 713,1 milhões, 89% a mais que em 2003, ano em que assumiu a liderança do ranking.

A Unilever, por décadas líder, figura em segundo lugar com menos da metade do investimento das Casas Bahia, de R$ 305,8 milhões. Em terceiro está a AmBev (R$ 230,5 milhões), seguida de Vivo (R$ 153 milhões), operadora de telefonia que passou da 16.ª posição para a 4.ª. Com investimento de R$ 130 milhões, a GM foi a montadora que mais investiu em publicidade, o que justificou a liderança do mercado no ano passado. Em décimo lugar, está a Lojas Marabraz, mais uma evidência da força do varejo.

O ranking das agências é liderado pela Y&R, que tem a conta das Casas Bahia. Em segundo lugar, está a Lew, Lara, que tem a conta da TIM, a operadora que investiu R$ 131,2 milhões em 2004 para divulgar seus serviços. A Ogilvy aparece na terceira posição, seguida da J. Walter Thompson e da McCann-Erickson, Almap/BBDO, Publicis, DM9DDB, F/Nazca e Giovanni, FCB.

Entre as empresas públicas, os destaques foram Banco do Brasil, Petrobrás, Caixa Econômica Federal e Correios – alvo da crise que o governo enfrenta no momento.’



Ronaldo D’Ercole

‘Investimentos em publicidade cresceram 17% em 2004 e somaram R$ 15 bilhões’, copyright O Globo, 13/06/2005

‘O mercado publicitário brasileiro cresceu a uma taxa três vezes maior que a da economia em 2004. Os investimentos em propaganda no país alcançaram a cifra de R$ 15 bilhões no ano passado, um salto de 17% sobre os R$ 12,8 bilhões de 2003 – no mesmo período, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 4,9%. Os dados constam da publicação ‘Agências & Anunciantes’, elaborada pela Editora Meio & Mensagem em parceria com Ibope Monitor, que será divulgada hoje.

No ranking dos maiores anunciantes do país, o destaque do ano passado foram as Casas Bahia. A rede varejista elevou em 89% seus investimentos em campanhas publicitárias, de R$ 378,2 milhões em 2003, para R$ 713,1 milhões, e manteve-se, com folga, no primeiro lugar pelo segundo ano consecutivo. No segundo posto manteve-se a Unilever, que elevou em 32% suas verbas, para R$ 305,8 milhões, seguida da AmBev, com R$ 230,5 milhões, 56% mais do que no ano anterior.

O salto mais expressivo foi da operadora de telefonia móvel Vivo, que dobrou sua verba de publicidade, de R$ 73,8 milhões para R$ 153 milhões, e passou da 18 para a quarta posição do ranking. Nessa disputa pelo crescente mercado de celular no país, a Vivo passou a Tim, que investiu R$ 131,2 milhões, 2% a mais que em 2003, e passou da sétima para sexta posição.

A lista dos dez maiores anunciantes do país tem ainda duas montadoras: a General Motors, na sétima posição com R$ 130 milhões aplicados, e a Ford, em nono lugar, com R$ 107,3 milhões. E mais duas varejistas: o grupo Pão de Açúcar, no oitavo posto, com gastos de R$ 128,3 milhões, e as Lojas Marabraz, na décima posição e com R$ 104,8 milhões em investimentos.

No ranking das maiores agências, a Young & Rubican, dona da conta das Casas Bahia, manteve-se no primeiro lugar, com R$ 919,6 milhões em verbas investidas, seguida pela Lew,Lara, que foi do quarto para o segundo posto, com R$ 448,3 milhões, e pela Ogilvy Brasil, que caiu de segundo para terceiro lugar, com R$ 397,7 milhões.

As projeções iniciais do mercado publicitário para este ano apontavam para uma expansão da ordem de 10% sobre 2004. A julgar pelo desempenho dos três primeiros meses do ano, trata-se de um salto possível: de janeiro a março, os investimentos em publicidade cresceram 16% frente a igual período de 2004. Mas a combinação de desaceleração na economia com a crise política das últimas semanas já está levando o setor a olhar com mais cautela as projeções para o ano.

– Essa projeção inicial de 10% poderá ser revista para baixo se o cenário atual piorar – diz a editora do jornal Meio & Mensagem, Regina Augusto.’



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‘Governo do Rio gastou R$ 22 milhões’, copyright O Globo, 13/06/2005

‘No ranking dos maiores anunciantes do setor público da Meio & Mensagem, a surpresa no ano passado ficou por conta do governo do Rio. Com gastos de R$ 22,4 milhões em campanhas publicitárias, ficou na nona posição, à frente de São Paulo, que despendeu R$ 16,4 milhões.

Já na comparação entre as capitais dos dois estados, outra curiosidade: enquanto a de São Paulo desembolsou R$ 15 milhões, ficando na 11 posição no ranking, a prefeitura do Rio aparece na 28, com R$ 4,2 milhões.

O Banco do Brasil, com verbas publicitárias de R$ 151,8 milhões, foi a estatal que mais gastou em propaganda, seguido da Petrobras, com R$ 136,1 milhões.’



INTERNET

Ethevaldo Siqueira

‘Tudo que a internet fez por nossas vidas’, copyright O Estado de S. Paulo, 12/06/2005

‘A internet tem múltiplas efemérides. A última delas foi a dos dez anos de implantação de seu primeiro backbone, ou seja, a infra-estrutura básica da web comercial no Brasil, pela Embratel, ainda estatal, em junho de 1995. Datas especiais nos suscitam, acima de tudo, reflexão.

Assim, sem querer voltar aos pormenores de suas origens e evolução, começo por lembrar que o embrião dessa rede nasceu no fim dos anos 1960, no auge da Guerra Fria. Sua implantação era um dos pontos mais polêmicos da estratégia norte-americana, que visava à preservação dos maiores bancos de dados e do próprio conhecimento científico e tecnológico armazenado nas maiores universidades, laboratórios e centros de pesquisas dos Estados Unidos, ameaçados de destruição na hipótese de um conflito nuclear com a antiga União Soviética. A rede garantiria a multiplicação e redundância desse conteúdo precioso, que seria transferido para diversos pontos do território norte-americano.

Para felicidade de todos nós, a insanidade da guerra atômica nunca aconteceu, embora o mundo tenha vivido a iminência de um holocausto nuclear na crise dos mísseis russos instalados em Cuba, em 1962.

Deixando de lado as causas ligadas à Guerra Fria, creio ser mais significativo relembrar pelo menos dois avanços tecnológicos que viabilizaram a existência da internet tal como a conhecemos hoje. O primeiro foi a criação do protocolo conhecido como TCP-IP (Transmission Control Protocol-Internet Protocol), pelo físico norte-americano Vint Cerf, em 1973, em companhia de Robert Kahn, tornando possível a comunicação entre computadores de arquiteturas totalmente diferentes. A outra foi a invenção da teia mundial (worldwide web ou WWW) em 1991, por Tim Berners-Lee, físico inglês que trabalhava no Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN, na sigla francesa), em Genebra, com o objetivo imediato de criar novas ferramentas para o intercâmbio de textos e gráficos com seus colegas. Idealista, Berners-Lee nunca patenteou sua invenção, a WWW que milhões de pessoas utilizam todos os dias em todos os continentes. ‘Prefiro doar essa ferramenta à humanidade’ – respondeu aos amigos que lhe cobraram a patente.

Vint Cerf é um executivo de sucesso, tendo sido vice-presidente da MCI, a gigante norte-americana que comprou a Embratel, em 1998, e depois foi absorvida (e arruinada) pela WorldCom. O outro pioneiro, Berners-Lee, está no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o famoso MIT, onde cuida do banco de dados internacional dos endereços da internet. Há pouco mais de um ano, recebeu um prêmio que é o reconhecimento mundial por seu desprendimento e sua contribuição ao desenvolvimento da internet.

NOSSA INTERNET

Num dos primeiros seminários internacionais sobre a internet realizados no Brasil, em novembro de 1994, com a participação da Internet Society, então sob a presidência de Vint Cerf, tive a oportunidade de coordenar os debates e entrevistar especialistas. Poucos tinham idéia do que estava por acontecer num futuro próximo. A rigor, ninguém imaginava as proporções que o desenvolvimento da rede mundial poderia assumir. Uma das previsões que ouvi de gurus de então dizia que, em uma década, a rede mundial alcançaria mais de 100 milhões de pessoas. Hoje, ao conferir essa projeção, constato que o crescimento efetivamente ocorrido foi 18 vezes maior. O mundo fechou 2004 com 1,8 bilhão de internautas.

Com a posse de Sérgio Motta no Ministério das Comunicações, em janeiro de 1995, os setores envolvidos começaram a discutir o futuro da internet no Brasil. A primeira discussão – semelhante à do sexo dos anjos – levantava uma questão surrealista: ‘Internet é informática ou telecomunicação?’ Se fosse informática, não caberia nenhuma providência do Ministério das Comunicações. Depois de dois meses, chegaram à conclusão brilhante de que a rede poderia ser o primeiro grande exemplo de convergência de três grandes áreas: tecnologia da informação, telecomunicações e multimídia (ou conteúdo).

VIROU ‘INFERNET ‘

Em abril de 1995, a Embratel, ainda monopolista e estatal, decidiu assumir a frente do processo de implantação da infra-estrutura destinada ao funcionamento comercial da internet no Brasil. Só havia um pequeno equívoco: a empresa pleiteava o monopólio do transporte e do acesso da Web no País. Havia milhares de interessados em obter um endereço na Web, mas a Embratel ainda não estava preparada para atender à demanda e ainda proclamava sua intenção de monopolizar o acesso e o uso das redes públicas.

Em debates acalorados, levamos a Sérgio Motta não apenas o protesto, mas as sugestões para que o ministro impedisse a operadora de longa distância ou qualquer outra estatal, do Sistema Telebrás ou não, de exercer qualquer tipo de monopólio ou exclusivismo. O problema deu tanta dor de cabeça aos dirigentes da Embratel que o assunto passou a ser chamado de ‘infernet’ – especialmente quando uma portaria publicada em 1.º de junho de 1995, assinada por Sérgio Motta, abriu o uso das redes públicas ao acesso à internet, definindo também a rede mundial como sendo o ‘nome genérico que designa o conjunto de redes, meios de transmissão e comutação, roteadores, equipamentos e protocolos necessários à comunicação entre computadores, bem como o software e os dados contidos nestes computadores’.

Obter um endereço eletrônico e acesso na Embratel, nesses primeiros meses de 1995, era um exercício de paciência que poderia levar meses de espera. Estimulamos até uma das filhas de Sérgio Motta a pleitear os serviços, sem mencionar seu parentesco com o ministro, para mostrar com maior realismo e credibilidade a lentidão no atendimento à demanda pela Embratel estatal. O exemplo dentro de casa funcionou como gota d’água na persuasão de Serjão, que se convenceu definitivamente da inconveniência do monopólio na internet.

O que aconteceu nestes dez anos de expansão da internet no Brasil pode ser resumido em números significativos. De pouco mais de 50 mil usuários no final de maio de 1995, chegamos a 22 milhões no final de maio de 2005. Mesmo depois do fim da ‘bolha’ e de suas conseqüências catastróficas no mundo e no Brasil – eliminando centenas ou milhares de empresas pontocom que não tinham estrutura nem condições de sucesso – a internet brasileira consolidou sua posição e seu papel na sociedade.

Um especialista usou até uma dessas frases felizes que sintetizam tudo em poucas palavras: ‘Empresas que não estão na internet, estão fora do mundo’. Não apenas empresas, acrescento, mas profissionais de qualquer área, instituições de qualquer natureza, do Vaticano ao Partido Comunista. E tudo indica que esses conceitos estão sendo assimilados não apenas no Brasil, mas na maioria dos países.

Com a privatização das telecomunicações, a oferta de meios de transporte dos sinais, bem como de acesso e conteúdo, fez explodir o desenvolvimento da internet no País. Passando a competir num novo ambiente, a Embratel acabou mostrando sua competência e a qualidade de sua infra-estrutura, na implementação do maior backbone da América Latina. Valeu para ela um ditado muito usado por especialistas independentes nos anos 1990: ‘Se a Embratel for suficientemente competente, ela não precisa do monopólio. Se não for, não o merece’.

UM EXEMPLO AQUI

A Agência Estado foi a primeira agência de notícias brasileira a ingressar totalmente na era da internet. Já em 1994, seu projeto estava em condições de dar o salto da distribuição nacional de informações via Web, em broadcasting e via satélite. Nada ali aconteceu por acaso, pois a agência já vinha se preparando para essa evolução dos meios de difusão e da quebra de paradigmas que a chegada da internet iria representar.

Nós, jornalistas, quando olhamos para esse passado tão próximo de apenas uma década, ficamos assustados diante das profundas transformações por que passou nossa profissão. E nos perguntamos, um pouco desconcertados: ‘Como poderíamos trabalhar (ou mesmo viver hoje) sem a internet?’

Eu não saberia.’



Renato Cruz

Internet vem antes da luz em Almécegas‘, copyright O Estado de S. Paulo, 12/06/2005

‘Hugo Henrique Marcos da Silva, de 10 anos, cursa a 6.ª série. Ele usa a internet na escola e não tem computador em casa. Também não tem telefone, energia elétrica, água encanada ou esgoto. Ele mora no vilarejo de Almécegas, a 130 quilômetros de Fortaleza, onde cerca de 800 pessoas vivem sem acesso aos serviços públicos. Na localidade, todas as casas são como a do menino.

Os cinco computadores da Escola de Ensino Fundamental Santa Luzia funcionam à energia solar, instalada pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Energias Renováveis (Ider), de Fortaleza. ‘Temos que trabalhar uma hora e deixar os micros desligados por meia hora, para carregar as baterias’, explica o professor Raulindo Ramos Menezes, de 28 anos, responsável pelo laboratório. São seis baterias de caminhão que armazenam energia para a escola.

Instalado há dois anos, o centro de acesso tornou-se uma janela para o mundo para os habitantes de Almécegas, localidade que pertence ao município de Trairi. ‘A gente fala com pessoas de outros lugares’, aponta Hugo, um dos quatro alunos da escola que estão sendo preparados para se tornar monitores. Recentemente, ele participou, com seus colegas, de um bate-papo via internet com alunos de escolas da Bahia e de Rondônia. Em 19 de abril, Dia do Índio, fizeram uma videoconferência com a tribo Fulni-ô, de Águas Belas (PE), que dançou para as crianças de Almécegas.

Hugo mora ao lado da escola, com a mãe Cristina, o padrasto Pedro, e três irmãos menores: Pedro Ivo, Ivan e Yuri. A mãe trabalha como auxiliar na escola. O padrasto está desempregado. ‘Saber usar o computador é importante’, afirma Pedro, padrasto de Hugo, que participou do mutirão que construiu o centro de informática. ‘É o que vale hoje.’ Pedro, assim como a maioria da população local, vive da agricultura. O programa Bolsa Família, do governo federal, é fundamental para a sobrevivência da comunidade.

O laboratório, que faz parte de um projeto do Instituto Telemar, não tem ventilador ou ar-condicionado. Este ano, três computadores tiveram que ser trocados. Eles começaram a travar e dar mensagens de erro e, quando o técnico os abriu para ver o que acontecia, descobriu que as placas estavam derretendo. Não teve jeito. A escola entra na rede por uma conexão via rádio, instalada pela operadora, com velocidade de 128 quilobits por segundo, o que equivale a pouco mais de duas vezes uma conexão discada. A outra alternativa de comunicação da comunidade é um orelhão, instalado próximo da antena do rádio.

Com dois anos de funcionamento, o centro de internet já deu alguns resultados. ‘As crianças desenvolveram mais visão crítica’, explica Raulindo. ‘Antes, ficavam acanhadas na sala de aula. O professor perguntava e elas não respondiam. Com os computadores, passaram a ter mais facilidade de se comunicar.’ Mas não foi só isso. A coleta do lixo chegou há um mês à escola. Para o professor, um dos motivos foi o trabalho desenvolvido pelas crianças pela internet.

A escola participa do Almanaque Digital, uma espécie de gincana pela internet que a Telemar promove para as escolas que apóia. Um dos trabalhos tratava de reciclagem de lixo e as atividades envolveram representantes da prefeitura. ‘Antes, tínhamos que enterrar o lixo, apesar de saber do impacto negativo no ambiente. Havíamos mandado vários ofícios da prefeitura, sem resposta’, lembra Raulindo. Foi a gincana eletrônica que acabou por sensibilizar a administração local.

À noite, o centro de informática da Escola Santa Luzia não funciona, para não descarregar as baterias e permitir que as crianças possam usar os computadores logo de manhã. A escola, porém, ministra cursos de ensino fundamental para adultos, os pais das crianças que lá estudam durante o dia. Nas casas, o mais comum é a luz do candeeiro. Nas ruas de terra, a escuridão contrasta com um céu estrelado como nunca é visto nas grandes cidades.

A casa de Maria Ivone da Silva, de 12 anos, tem televisão. Um aparelho pequeno, com imagem em preto e branco. Aliberto, pai de Ivone, liga a TV em uma bateria de carro, para assistir com a mulher e os cinco filhos. A cada período de 12 ou 15 dias, Aliberto tem que ir ao centro de Trairi para recarregar a bateria da televisão. O que eles assistem? As novelas, o jornal e o jogo de futebol.

Aliberto está animado com os progressos da filha no domínio do computador. ‘Rapaz, a Ivone diz que acessa a internet, faz desenho, conhece outras pessoas lá de fora’, conta o pai da menina. ‘É muito importante para ela e para gente. É um orgulho muito grande ver que, na idade em que ela está, a Ivone consegue conhecer, pelo computador, várias coisas que existem no mundo.’ Ele espera que os outros filhos possam seguir pelo mesmo caminho.

Ivone pertence à quarta geração da família a morar em Almécegas. Seu pai trabalha como agricultor, como fizeram antes seu avô e seu bisavô. ‘Quero ser professora’, afirma Ivone, que cursa a 6.ª série, pela manhã. Seu pai Aliberto e sua mãe Elita freqüentam a Escola Santa Luzia, à noite, onde também cursam a 6.ª série.

Para Aliberto, a internet é muito importante para a comunidade. ‘A gente já consegue cadastrar o CPF aqui mesmo, sem ter que ir para o centro de Trairi’, explica o pai de Ivone. ‘Já pode fazer um pedido de salário-maternidade ou aposentadoria, sem pegar fila.’ Ele teve contatos com o computador, onde viu fotos das praias da região, mas ainda não sabe como usá-lo. ‘É bom demais para a gente.’’



Nils Pratley

‘Avanço do Google desperta dúvidas sobre nova bolha’, copyright O Estado de S. Paulo / The Guardian, 13/06/2005

‘Quem no seu juízo perfeito compraria ações de uma empresa com um preço equivalente a 25 vezes o valor de suas vendas anuais? Durante um século de investimentos no mercado de ações, ações 25 vezes maiores que os lucros após impostos foram consideradas como caros. Aqui estamos falando em 25 vezes o valor das vendas. Pense nisso. Antes que uma empresa converta qualquer uma de suas receitas topo de linha em resultados finais, precisa fazer provisão de recursos para os custos com seu escritório e sua equipe, pagar impostos e garantir sua existência daqui a uma década investindo em novos produtos, alguns dos quais vão fracassar.

Portanto, um preço de 25 vezes o valor das vendas deve ser uma insanidade, certo? No caso do Google, aparentemente não. O mecanismo de busca flutuou na faixa de US$ 85 por ação em agosto último, mas tem se comportado como um trem em alta velocidade desde então. Somente do final de abril até agora, o preço subiu 50%. Na semana passada, chegou a ultrapassar os US$ 290, preço que fez o valor de mercado da empresa ultrapassar US$ 80 bilhões.

Mas sua receita em 2004 foi de apenas US$ 3,2 bilhões. Este ano deve chegar a US$ 5,5 bilhões, porém, analistas da CSFB consideram US$ 350 como um alvo razoável para as ações e a Smith Barney acha que seria US$ 360. A essa altura, o Google valeria mais que a quantia redonda de US$ 100 bilhões.

Com apenas sete anos de existência, na semana passada o Google chegou a ultrapassar a Time Warner como a empresa de mídia mais valiosa do mundo. Ou, em outra comparação, o Google vale mais que o valor conjunto de quatro dos mais bem-sucedidos negócios de mídia dos EUA – a News Corporation, Clear Channel, Tribune e o grupo Washington Post. Este quarteto junto seria uma força ridiculamente dominante na televisão, rádio e jornais americanos e, por isso, nunca lhes será permitido se unirem.

O amor de Wall Street pelo Google parece ter dois motivos: primeiro, as receitas e os lucros estão se elevando exorbitantemente, mais depressa do que o esperado; e, segundo, o negócio é nitidamente a criação de um gênio – um processador de informações que está no âmago das mudanças mais rápidas na forma como as economias modernas operam.

Seu trunfo foi se posicionar como uma forma para as empresas anunciantes atingirem os consumidores em potencial de uma maneira mais precisa do que no passado – cada ligeira clicada nesses anúncios altamente direcionados rende dinheiro para a empresa. E tudo é feito sem empregar vendedores dispendiosos. Em vez disso, o Google mantém um leilão eletrônico para uma firma interessada obter o espaço ao lado, por exemplo, da expressão ‘seguro para automóveis’. Os custos fixos baixos significam que as margens operacionais estão em torno de 40%.

Impressionante, sem dúvida, mas o jogo está apenas começando. O Google ainda precisa provar que é capaz de sustentar essas margens, sem falar em manter as receitas crescendo a um índice de mais de 40% ao ano, como Wall Street espera.

Em qualquer indústria, a combinação de altas margens de lucro e vendas crescentes atrai concorrência. Eventualmente, as taxas de retorno sobre o capital se acomodam. No caso do Google, sua participação no mercado de busca já está caindo (embora ainda esteja em mais de 50%) e as margens de lucro parecem estar se contraindo (embora, mais uma vez, a partir de níveis altos) – e isso tudo antes que a concorrência reaja adequadamente.

Steve Ballmer, diretor-presidente da Microsoft, prometeu que a empresa alcançará e ultrapassará o Google – uma ameaça séria quando vinda da maior e mais bem-sucedida empresa de tecnologia do mundo. Depois, tem a Yahoo!, que está empenhada numa amarga batalha olho por olho com o Google para criar produtos e recursos mais diferentes e inovadores.

A maior aposta do Google é o Gmail, que já está sendo testado por alguns milhares de usuários em todo o mundo. A intenção é ser um serviço de e-mail que também serve como uma instalação de armazenamento de todos os aspectos da vida online do usuário – o espaço de memória livre é tão grande que nada precisa ser apagado.

Nada do que foi dito pretende negar a inovação e a excelência técnica do Google mas, em última análise, trata-se de uma empresa que vende uma forma de espaço publicitário. As empresas estão gastando mais do seu orçamento para propaganda na web, mas há um nível natural de saturação e de retorno de capital. Se os retornos forem excessivos durante muito tempo, a concorrência chegará aos montes. É assim que o mundo funciona, e o Google, sendo líder de mercado, mas não um monopólio, não está a salvo.’



Bruno Parodi

‘Digitar ou escrever?’, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 8/06/2005

‘Não foi preciso assistir a nenhum programa do Discovery Channel para constatar que se eu estivesse fora do mundo por alguns anos e caísse de pára-quedas, agora, no meio da internet, estaria frito para entender o que os outros querem dizer. Não me preocupo com os programas usados, e sim com esta bendita língua nova. O que houve por aqui enquanto estive fora? Estica, puxa, troca, omite, inverte e eis que temos o ‘internetês’, um dialeto novo, dinâmico e em constante mutação. Abreviações, corruptelas, neologismos e erros crassos estão disponíveis em diversos pontos de congestão ao longo do percurso.

Mas parece que aqui, na pomposa grande rede, é como aí fora, onde tudo é uma questão de ‘quem’, ‘quando’ e ‘como’. De acordo com essas variáveis, uma pessoa vai estabelecer um tipo de linguagem para se expressar.

Até que tínhamos um padrão na internet. Na comunicação assíncrona (informações trocadas não acontecem ao mesmo tempo) havia formalidade, capricho com o escrever. Parava-se, refletia-se sobre o que seria enviado. Quando o papo era síncrono (em tempo real) sempre houve pressa, e acabava-se escrevendo como se fala, usando abreviações e outros atalhos. Em suma, a linguagem assíncrona sempre foi mais completa, correta, e na síncrona nunca foi novidade encontrar descuido. Mas esse padrão tem ido para o espaço ultimamente, e a pressa homogeneizou abreviações e errinhos pelas bandas do assíncrono.

As ferramentas de comunicação estão aí para quem quiser usá-las, e cada um aproveita da forma que bem entender. É como um aparelho telefônico, cidadãos de todos os gêneros podem usá-lo, tanto gente fina quanto gente tosca, gente de todos os quilates. Tem de tudo. E, como o telefone, a internet não pode ser responsabilizada como meio; ela ainda não fala pelo usuário.

Nesse bumba-meu-boi o jovem aparece com freqüência na fila de reconhecimento de suspeitos por alguns crimes contra a língua. No afã de diferenciar-se dos mais velhos, ele não só usa gírias próprias como também apela para a utilização de formas peculiares da escrita, substituindo letras, como o ‘s’ pelo ‘x’ ou ‘o’ pelo ‘u’, entre outros, além de alternar letras em caixa alta e baixa na mesma palavra. Assim, o que para uns seria ‘escrever’ passa a ser ‘iXcReVeR’ para alguns deles. Faz lembrar o memorável ‘Xou da Xuxa’, da TV.

O Dossiê MTV 3, pesquisa com indivíduos de 15 a 30 anos, endossa parte do comportamento desse jovem. Os resultados apontam um público com uma capacidade crescente de usar o canal de conversação adequado para cada situação. A internet permite que o jovem fale sem querer conversar e converse sem precisar falar. Opções de vias não faltam. ‘A tecnologia abriu espaços e comunicar-se ficou mais fácil, mais seguro, mais rápido. E, com isso, a comunicação ganhou flexibilidade e freqüência’, revela. Por outro lado, os próprios entrevistados definem o comodismo como a terceira principal característica da geração, atrás apenas da vaidade e do consumismo.

E como tudo é uma questão de ótica, o Telecine, canal a cabo da Globosat, não perdeu a chance e há alguns meses transmite a Cyber Movie, uma sessão de filmes voltada para o público online. A novidade fica por conta do canto inferior da tela. Ao invés das legendas ipsis literis, o telespectador as lê como se tivessem passado por uma sala de bate-papo. Até o visual do fundo delas é diferenciado, ambientando uma janela de um software qualquer. Resultado: uma transcrição com palavras abreviadas e, muitas vezes, descaracterizadas. Para facilitar a vida dos menos familiarizados, sua página oferece um dicionário no melhor estilo ‘antes e depois’. Exemplo: ‘novidades’ vira ‘9dades’.

João Mesquita, diretor geral da Rede Telecine, garante que, apesar de polêmica, a idéia vem gerando retorno, aumentando em 50% a audiência do horário em relação aos 6 meses anteriores ao projeto. E sobre a má influência que as legendas trariam aos telespectadores, João compara: ‘O Cyber Movie atinge cerca de 20 a 40 mil pessoas. No Brasil há cerca de 7 milhões de pessoas que usam regularmente este tipo de linguagem nos seus e-mails ou em chats. Não será o Telecine que vai influir na qualidade geral do português escrito no país. Quando uma personagem da novela da Globo fala errado, e é vista por mais de 30 milhões de pessoas, terá impacto?’ O bóia-fria Sassá Mutema, interpretado por Lima Duarte em ‘O salvador da pátria’ (1989), que o diga.

Do outro lado dessa pororoca, é possível encontrar iniciativas como a de Paulo Couto, diretor geral do Fórum PCs, criador da campanha ‘Eu sei escrever’, cujo conteúdo definitivo será lançado em poucos dias. ‘O projeto é um alerta na forma de um modelo de colaboração, para que sejam introduzidos pelos responsáveis pelas áreas de discussão na internet brasileira e pela mídia em geral ferramentas de correção e ‘tradução’ para algo legível’, conta Paulo. Os filtros de palavras proibidas, normalmente configurados apenas para impedir o uso de termos impróprios, passarão a substituir automaticamente as abreviaturas mais comuns por verbetes correspondentes. Além da ferramenta, o projeto prevê a distribuição de uma relação de palavras traduzíveis.

Teorias indicam até a disposição dos caracteres pelo teclado, baseadas nas letras mais utilizadas da língua inglesa, como um fator prejudicial à digitação da língua portuguesa. Assim, determinadas configurações de teclado não favorecem a rápida utilização de acentos e do til. Neste caso ‘eh’ acaba sendo visto no lugar de ‘é’, bem como ‘naum’ ao invés de ‘não’. Não justifica, mas talvez explique em parte.

Como alento, ou não, foi constatada que essa balbúrdia comunicativa atinge o mundo todo, não sendo uma realidade exclusivamente nacional. Mas o brasileiro, claro, diferenciou-se, e apresenta particularidades mórbidas, como comenta Paulo: ‘Participo regularmente de sites internacionais e, mesmo que existam algumas gírias mais localizadas, é perfeitamente possível compreender o inglês escrito neles. É simplesmente ridículo que eu mesmo não consiga ler algo escrito em sites brasileiros, na minha própria língua’.

Não seria justo atribuir a origem de tanto caos, mudança e pancadaria a uma única razão. O jeito do jovem, a infelicidade do mal-educado, a melancolia do ignorante, a esculhambação da pressa, a palidez dos maus exemplos, a escassez de controle, entre tantos outros aspectos, podem ser considerados como desculpas. Por outro lado, ruim na internet, pior fora dela. Gírias enfadonhas e erros sofríveis são encontrados na escrita e na fala, seja na rua, no rádio ou na TV, e não poupam ninguém.

Fala-se tanto na tal ‘língua viva’ e dela ninguém duvida ou discorda. Como dito no artigo anterior, existe uma coerência de tudo isso com o mundo desconectado. Tudo que começa lá acaba batendo aqui; é reflexo – talvez com mais permissividade e falta de supervisão. Se o produto de anos de uso do papel e do lápis estivesse digitalizado, catalogado com histórico e com mecanismo de busca, se fosse publicado na rede ou se pudesse ser facilmente anexado a mensagens de e-mails, talvez agora não estivéssemos tão impressionados. A novidade não é de hoje. Mas, já que isso não é possível, voltemos à realidade, e vamos digitando ao invés de escrever.’