Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Destaque para ameaça de mordaça

Polêmico projeto de lei do governo Lula reformula a legislação sobre escutas telefônicas. A proposta, que deve ser enviada ao Congresso, inclui em seu texto punição para jornalistas que divulgarem o conteúdo de grampos – mesmo aqueles com autorização judicial. A história foi destaque na edição desta quarta-feira da Folha de S. Paulo, com direito a reportagens, artigos assinados e editorial intitulado ‘Censura, de novo’.


Leia abaixo os textos desta quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 18 de janeiro de 2006


GRAMPO E MORDAÇA
Josias de Souza


Governo estuda mudar regras para grampo


‘A pedido do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve enviar ao Congresso um projeto que reformula a legislação da escuta telefônica. Contém regras para ‘conter abusos e desvios’.


No trecho mais polêmico, a nova lei abre brecha para punir jornalistas que divulguem o conteúdo de grampos, mesmo os que tenham autorização judicial. O projeto pune a divulgação com prisão de um a três anos, mais multa.


A pena será agravada em um terço ‘se a divulgação se der por meio de jornais e outras publicações periódicas, serviços de radiodifusão e serviços noticiosos, bem como pela internet’. Uma novidade em relação à legislação em vigor. A lei atual (nº 9.296), sancionada por Fernando Henrique Cardoso, já tipifica a quebra de sigilo de escutas como crime. A pena é até maior: de um a quatro anos de prisão. Mas não há no texto nenhuma menção a meios de comunicação.


Escaldado com tentativas anteriores de propor mudanças na legislação vistas pela sociedade como cerceadoras da liberdade de imprensa e expressão, o Planalto já avalia a possibilidade de adiar o encaminhamento do projeto ao Congresso, antes programado para fevereiro.


Ontem à tarde, em conversa com auxiliar direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Folha ouviu que há a possibilidade de o governo estudar por tempo mais prolongado as mudanças que pretende propor.


A Folha teve acesso à última versão do projeto do governo. Encontra-se na Casa Civil. Pode sofrer ajustes pontuais antes de ser enviado ao Congresso. Mas já está definido quanto à sua essência. Abaixo, as principais inovações:


Lista de crimes – A lei em vigor permite o uso de escuta para elucidar qualquer tipo de crime, desde que punível com pena de prisão. A nova lei limita o grampo a 12 tipos de delitos: ‘terrorismo; tráfico de substâncias entorpecentes e drogas afins; tráfico de mulheres e subtração de incapazes; lavagem de dinheiro; contra o sistema financeiro nacional; contra a ordem econômica e tributária; contra a administração pública, desde que punidos com pena de reclusão; falsificação de moeda; roubo, extorsão simples, extorsão mediante seqüestro, seqüestro e cárcere privado; homicídio doloso; ameaça quando cometida por telefone; decorrente de organização criminosa’.


Autorização judicial – Hoje um juiz pode autorizar a escuta até ‘verbalmente’. O projeto elimina essa possibilidade. A autorização do juiz deve ser por escrito. O magistrado terá de listar indícios de prática de crime e demonstrar que as provas pretendidas não podem ser obtidas por outros meios que não a escuta.


Direitos do acusado – Os investigados passam a ter direitos não previstos anteriormente. Proíbe-se o grampeamento de diálogos dos acusados com os seus advogados. Obriga-se o juiz a dar ciência do conteúdo da escuta aos acusados. O grampo terá de ser escutado em juízo por todas as partes. Os trechos úteis ao processo serão selecionados coletivamente. Um pode impugnar a escolha do outro. A lei atual não prevê a audição dos acusados na fase investigatória. O investigado passa a ter o direito de requisitar ao juiz a realização de escutas.


Realização do grampo – Pela lei em vigor, a escuta fica a cargo da operadora de telefonia. A nova lei determina que o grampo passe a ser executado em ‘órgão próprio, exclusivo e centralizado’. O Ministério da Justiça fixará o modo de funcionamento do novo órgão em cada Estado. A Anatel vai elaborar as normas a serem seguidas pelas companhias telefônicas.


Conversas pessoais – A nova lei transforma em crime até mesmo a gravação de conversa própria, feita sem o conhecimento do interlocutor. A regra vale tanto para gravações de diálogos telefônicos como para as chamadas escutas ambientais. Diálogos do gênero não poderão ser divulgados, exceto quando os interessados invocarem ‘o exercício regular de um direito’. No mais, a divulgação de ‘conversas próprias’ sujeita o responsável à pena de prisão de um a três anos, mais multa.


Interceptações ambientais – Não estavam reguladas na legislação em vigor. Pelo projeto, ficam sujeitas às mesmas regras de execução e de sigilo estabelecidas para a escuta telefônica convencional.


Outras modalidades – Além das formas convencionais de interceptação telefônica, a lei autoriza as autoridades a recorrer a outras duas modalidades de intervenção. A primeira, chamada de ‘impedimento’, bloqueia chamadas telefônicas, impedindo que elas cheguem ao seu destino. A outra, ‘interrupção’, prevê a obstrução da comunicação.


Prazos – De acordo com a proposta, todos os tipos de intervenção autorizados judicialmente terão um prazo de duração de 15 dias, prorrogáveis por novos períodos quinzenais, que não poderão exceder a 60 dias. Permite-se o prolongamento da interceptação telefônica para além de dois meses apenas nos casos em que o crime esteja ocorrendo simultaneamente à investigação.


Colaborou KENNEDY ALENCAR, da Sucursal de Brasília’


Folha de S. Paulo


Frase de FHC em grampo fez PT pedir impeachment em 99


‘Se em 1999 fosse válida a lei que o PT pretende implementar para controlar a divulgação de grampos pela imprensa, o partido não poderia ter feito barulho contra o governo Fernando Henrique Cardoso, tentando inclusive abrir um processo de impeachment contra ele.


Um grampo telefônico instalado no BNDES, cujo conteúdo foi divulgado pela Folha, mostrava conversas sobre a privatização do sistema Telebrás que envolviam inclusive o então presidente da República. Numa delas, André Lara Rezende, então presidente do banco, pergunta a FHC se poderia ‘usá-lo’ para pressionar a Previ a entrar no consórcio do Banco Opportunity e da italiana Stet. ‘Não tenha dúvida’, responde FHC.


O grampo levou o então deputado federal José Genoino (PT-SP) a pedir abertura de processo por crime de responsabilidade contra FHC, o que poderia resultar no impeachment do presidente. ‘O Congresso não pode se omitir com o nível de detalhes da reportagem da Folha. As fitas falam por si’, disse à época Genoino.


O próprio Luiz Inácio Lula da Silva não se incomodou com a ilegalidade do grampo na hora de atacar FHC, dizendo que ‘o caso do grampo revelou que no governo há muita maracutaia’.’


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Intenção é criticada por analistas


‘Parlamentares, organizações de imprensa e advogados acreditam que a intenção do governo Lula de alterar a lei sobre escutas telefônicas, incluindo um artigo que possibilita a punição de jornalistas que as divulguem, atrapalha a liberdade de imprensa. Especialistas ponderam, porém, que ao divulgar grampos, a imprensa pode estar violando outro direito fundamental, o direito à privacidade, além do segredo de Justiça.


Sérgio Murillo de Andrade, presidente da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), classificou a proposta de ‘autoritária’. ‘Se o grampo foi autorizado judicialmente, se é uma informação pública, os cidadãos têm o direito de saber seu conteúdo.’ Procurada pela Folha, a ANJ (Associação Nacional dos Jornais) disse que só irá se manifestar quando o projeto for enviado ao Congresso.


Para o senador Efraim Morais (PFL-PB), ‘uma proposta dessa natureza nada mais é do que a tentativa de cercear o direito de liberdade de imprensa’.


O senador Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO) também criticou o projeto. ‘Se a conversa telefônica envolve pessoas que têm responsabilidade pública, não há por que não divulgá-la’, afirmou.


Para Edson Vidigal, presidente do Superior Tribunal de Justiça, a solução é buscar quem repassou as informações sob sigilo para jornalistas, mas nunca criminalizar os meios de comunicação. Essa é a mesma visão do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Roberto Busato, que pondera: ‘Porém aí se cria o problema da inviolabilidade da fonte’.


Na opinião do presidente da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), Rodrigo Collaço, o direito à intimidade, garantido pela Constituição, é inviolável. ‘Grampos são parte da elaboração de provas em um processo, não são objeto de divulgação.’


Para o especialista em direito constitucional Celso Antonio Bandeira de Mello, ‘os prejuízos que a imprensa pode causar ao divulgar uma escuta telefônica de um processo em andamento são irreparáveis’.


Fábio Kujawski, outro especialista, diz que a possibilidade de punição deve ser ponderada caso a caso. Se o entendimento for de que, ao divulgar um grampo, o jornalista atende o interesse público, não é cabível a punição.’


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Thomaz Bastos foi o idealizador do projeto


‘O projeto que reformula a legislação da escuta telefônica foi elaborado por uma comissão nomeada pelo ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça). Foi integrada por cinco advogados: Ada Pellegrini Grinover, Antônio Carlos de Almeida Castro, Antônio Magalhães Gomes Filho, Antônio Scarance Fernandes e Luiz Guilherme Vieira.


A proposta foi encaminhada à Presidência da República quando a Casa Civil ainda era chefiada por José Dirceu. Engavetado desde então, só agora será enviado ao Congresso, graças a um pedido de Thomaz Bastos ao presidente Lula. O principal objetivo da iniciativa é o de conter supostos abusos cometidos pela polícia, pelo Ministério Público e pela imprensa.


Na fase de elaboração foram ouvidos representantes da Procuradoria da República e das Polícias Federal e dos Estados, juízes e executivos de telefônicas. A proposta incorpora também sugestões do IBCCrim (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais).’


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Censura, de novo


‘Depois da tentativa frustrada de criar o Conselho Federal de Jornalismo para cercear a atividade, o governo Luiz Inácio Lula da Silva busca mais uma vez atacar a liberdade de imprensa. Seu governo se prepara para enviar ao Congresso projeto de lei que prevê pena de prisão para o jornalista que divulgar conteúdo de escutas telefônicas ou conversas gravadas sem o conhecimento de um dos interlocutores, ainda que realizados com autorização judicial.


A criminalização da atividade jornalística tem repercussões mais amplas. A pretexto de combater abusos, ela termina por restringir o uso de um instrumento crucial para a divulgação e a elucidação de casos recentes de assalto aos cofres públicos.


Se aprovado o projeto, passará a ser ilícita a divulgação de conversa pessoal em que um dos interlocutores registra o diálogo sem o conhecimento do outro. O veto se aplica até mesmo às gravações ‘ambientais’, nas quais a conversa se dá na presença dos envolvidos, e não por telefone.


Essa foi exatamente a situação em que o empresário do ramo de jogos Carlinhos Cachoeira flagrou, em 2002, o pedido de propina de Waldomiro Diniz, que era assessor de José Dirceu na Casa Civil quando a gravação foi divulgada, em 2004. Se à época da divulgação vigorasse o dispositivo que o governo deseja agora aprovar, Cachoeira estaria sujeito à pena de prisão de 1 a 3 anos. A mesma punição seria aplicável ao jornalista que divulgou o seu conteúdo.


A realização de escutas telefônicas já é regulamentada desde 1996 pela Lei 9.296, que prevê punição para o servidor público que divulgar dados sigilosos. Pretender punir o jornalista que dá publicidade às informações que recebe é coerção grave à atividade de imprensa, que ameaça o direito do cidadão de ter acesso aos fatos.


É preciso cautela na utilização de dados obtidos em conversas grampeadas. Eventuais abusos tampouco devem restar impunes. Mas as responsabilidades devem ser sempre apuradas caso a caso e após a publicação das reportagens, sob pena de se instaurar a censura prévia.’


Vinicius Torres Freire


O sigilo dos indecentes


‘SÃO PAULO – O governo, qualquer governo, adora promover o silêncio dos inocentes, o segredo dos malevolentes e o sigilo dos indecentes. Os pacotes legais embrulhados sob o pretexto de proteger a intimidade, a imagem e a honra de pessoas investigadas por policiais, promotores e juízes sempre embalam um kit de mordaça e algemas.


O governo Lula quer mandar ao Congresso uma lei com o espírito de civilizar o de fato esculhambado instrumento da escuta telefônica, o dito grampo legal. No pacote, vem a ameaça de cadeia para quem tornar público o grampo e para quem divulgar alguns outros tipos de gravações de conversas. Autoridades já são obrigadas a proteger o sigilo de certas informações de processos. O pacote dirige-se mesmo a jornalistas.


Existe um mercado ilegal de informações sigilosas. São pagas com dinheiro, prestígio, poder ou favor. Depois de utilizadas para seus fins principais e já gastas, são distribuídas como dádivas do ‘insider’, parte do ritual de demonstração de status, mas sempre socializadas entre gente com poder e dinheiro.


Papeluchos autoritários como este de Lula, ou aqueloutro de FHC, têm como objetivo preservar tal privilégio de elite: a informação deve vazar apenas entre ‘gente como a gente’, a gente que de fato quebra os sigilos legais. Mas, se um jornalista, um blogueiro ou qualquer outro do povo socializar à vera os fatos, cadeia neles.


Lula tem estado muito preocupado em superar FHC. A estupidez é algo difícil de medir, mas o petismo-lulismo está no páreo com o tucanato em matéria de asneira autoritária. FHC tentou em várias ocasiões passar leis da mordaça, viu seu ministro da propaganda, Andrea Matarazzo, censurar o MST na TV estatal e coisas assim. Lula tem na conta a tentativa de criar o comitê central dos jornalistas e do audiovisual e, agora, sua lei da mordaça. Talvez se lamente de não poder dizer, sobre essas novas proezas, ‘nunca antes neste país’ etc.’


Igor Gielow


Paixão incorrigível


‘BRASÍLIA – Grande é a paixão do governo Lula por atos de moralismo retórico que, rapidamente, revelam traços de autoritarismo. O instinto até adormece de tempos em tempos, mas parece seguir o conselho certeiro do francês La Rochefoucauld (1613-80) sobre o amor: ‘A ausência diminui as pequenas paixões e aumenta as grandes, assim como o vento apaga velas, mas incrementa incêndios’.


Depois de um tempo quieto, o coração do governo voltou a disparar. Foi ressuscitada uma proposta para punir mais rigidamente o que é considerado desvios na utilização de grampos. A idéia dormia na Casa Civil e foi assinada por um grupo de advogados no qual se destacava um amigão de José Dirceu, Antônio Carlos de Almeida Castro.


Pela idéia, o grampo legal será uma peça destinada a um sigilo público eterno. Divulgação na imprensa dá cadeia. Num corporativismo típico, advogados ganham imunidade a grampos -há direitos óbvios a preservar na relação entre cliente e defensor, mas, se o doutor combinar com um quadrilheiro uma fuga de cinema, ninguém irá saber.


Tudo muito vago, como convém a uma idéia fadada a cair devido ao inoportunismo político. Como suas antecessoras, como o Conselho Federal de Jornalismo, a Ancinave.


O debate em si é justificável. Existe um mercado de grampos de todos os tipos, como qualquer repórter de política iniciante sabe. Há promotores, procuradores e policiais loucos por ribalta. Há irresponsabilidade de vários meios de comunicação e jornalistas que fazem acordos com o tinhoso por 15 minutos de fama.


Mas o que sobressai é a vontade do governo de limitar escândalos. Se a lei estivesse em vigor, a fita do caso Waldomiro Diniz teria virado pó. O famoso vídeo ilegal de Maurício Marinho embolsando R$ 3.000 talvez nunca tivesse sido divulgado. Há argumentos pró e contra esses instrumentos. Mas, sem o vídeo, talvez não houvesse Roberto Jefferson e o ‘mensalão’.


É aí que entra o interesse público, que foi ignorado até aqui. É a praxe.’


PROGRAMA CULTURAL
Gilberto Gil


Uma gestão para a cultura e o pensamento


‘Em 2005, o MinC (Ministério da Cultura) propôs um programa de alcance nacional para ativar a discussão pública em torno de temas da agenda intelectual contemporânea: ‘Cultura e Pensamento em Tempos de Incerteza’. Em 2006, o programa será ainda mais inovador na maneira como amalgama iniciativas e anseios do poder público, da sociedade e dos segmentos culturais do país, com o espírito aberto e democrático que tem guiado nossos atos.


Não há nele respostas circunstanciais a críticas que qualquer gestão recebe por causa de suas escolhas. O programa insiste em uma forma avançada de republicanismo ao conceber as políticas culturais e está em consonância com o modo de trabalhar com a sociedade que tem marcado a conduta do MinC desde o princípio desta gestão.


Para os debates deste ano, preliminarmente, em levantamento atencioso, foram eleitos os assuntos que têm marcado nossa produção universitária, o meio editorial, pautas críticas da imprensa, manifestações de grupos culturais e organizações sociais.


Contribuindo para dinamizar a reflexão pública, o Ministério da Cultura já trabalha em quatro projetos que devem cobrir alguns temas de pertinência reconhecidamente atual. Teremos ainda outros quatro seminários, completando a série, apoiados pela Petrobras por meio de editais, e para os quais estamos convocando a sociedade a propor abordagens dos seguintes temas:


1) Biopolítica e tecnologias: padrões contemporâneos de emancipação, propriedade, dominação e controle.


2) Populações e territórios: o global, o nacional e o local no agenciamento de identidades e na diversificação da cultura.


3) Os usos e abusos do público e do privado na cultura política dos tempos atuais.


4) Lógicas e alternativas para as dinâmicas culturais no centro da economia e da sociedade.


Esses eixos temáticos, propostos de início, serão ainda desenvolvidos em reuniões públicas com pensadores convidados a intervir na proposta original durante a preparação dos editais. Uma vez reelaboradas, as pautas serão abertas à apresentação de propostas, e uma comissão de reconhecido valor escolherá projetos.


Já que todo esse processo foi pensado como diálogo constante, a interlocução não acaba aí, pois, após a seleção, os proponentes escolhidos debaterão seus projetos em um fórum de discussões com outros pensadores do Brasil e do mundo: só então serão implementados, e a vocação democrática dessa iniciativa será coroada com a realização do ciclo de debates em diversas cidades do país.


Peço a todos que se informem mais no site do MinC (www.cultura.gov.br), que estará aberto à contribuição de todo cidadão brasileiro e acolherá opiniões sobre os assuntos.


A expectativa desta gestão, com essa e outras ações, sempre foi legar a nossa sociedade um aprimoramento dos mecanismos de fomento à atividade cultural. Mais ainda, aprimorar a própria circulação de valores entre as regiões e esferas tão várias que formam o Brasil.


Esse foi o desejo que nos autorizou a embarcar na aventura incerta e delicada de assumir um ministério. Nos recusamos a enxergar o financiamento público como mero recurso ao qual se pode recorrer para a realização de projetos particulares; tampouco cabe ao governo solicitar a profissionais da cultura a execução de tarefas definidas. O Brasil só avançou nos raros momentos em que essa distorção foi enfrentada. O espírito do Minc tem sido apenas esse, embora a desinformação freqüentemente embaralhe as cartas a respeito do que tem sido feito e nos apresente como semelhantes ao nosso avesso.


Em um país em que o Estado cavou para si a fama de agente que não só não ajuda como também estorva e onera os poucos que têm iniciativa, é natural que enfrentemos resistência e antipatia eventuais: somos uma sociedade com aversão ao poder e ao Estado muito antes de qualquer ideologia preconizar o seu desaparecimento completo. A repetição de arbítrios e ditaduras e os abusos a que tantas vezes assistimos confundem, por vezes, o nosso justíssimo horror ao totalitarismo com a vaga rejeição a qualquer política pública e à criação de normas republicanas.


Neste momento bastante especial, esperamos que esse processo também seja assunto para debate. Não pode haver maior ganho para a gestão que ampliou as noções de política cultural vigentes do que chegar a refletir inventivamente sobre a própria cultura política do país.’


MULHERES PODEROSAS
Carlos Heitor Cony


Expressão de machismo


‘RIO DE JANEIRO – Alguns leitores reclamam que o cronista sempre começa seus textos dizendo que não entende de nada e que, apesar disso, de nada entender de nada, dá sempre um palpite na ilusão de que, no fundo, pretenda entender de alguma coisa.


Que seja. Insisto mais uma vez: como entender o espanto, a perplexidade, o estupor da mídia pelo fato de o Chile ter agora uma mulher na Presidência? Evidente que a sucessão presidencial em qualquer país, sobretudo no mesmo continente, é assunto importante, que merece manchete e comentários. Recentemente, tivemos o caso da Bolívia, aí, sim, houve algum espanto pelo fato de um descendente de índio (ou mesmo de um índio) ter chegado ao poder.


Mas uma mulher! Ao longo da história, tivemos vários e interessantes períodos governados por mulheres, algumas delas até deram nome e função a eras. Houve a Era da Rainha Vitória, na Inglaterra, a de Catarina da Rússia, a de Cleópatra, a de Isabel, na Espanha (ela mandava mais do que o marido-rei). Nos tempos modernos, tivemos a Dama de Ferro (Margareth Thatcher) e Golda Meir, sem esquecer as indianas e filipinas que ocuparam o poder, além de Isabelita Perón, que chegou aonde Eva Perón não conseguiu chegar, mas deu para o gasto em matéria de poder.


No momento, temos uma mulher à frente da Alemanha e outra à frente do Departamento de Estado na América do Norte -em si mesma, uma mulher mais poderosa do que a maioria dos chefes de governo do resto do mundo.


A perplexidade da mídia com a eleição de uma mulher para presidente do Chile tem um ranço machista. Afinal, ela não foi eleita por ser mulher. Não estou por dentro da política daquele país, mas presumo que sua eleição se deva às alianças feitas em torno de seu nome, de seu passado e da atual conjuntura econômica e social do Chile.


Um homem ou uma mulher seriam a mesma coisa desde que representassem a vontade de um povo soberano e livre.’


IRAQUE
Folha de S. Paulo


Jornalista que condenou a Guerra do Vietnã quer EUA fora do Iraque


‘O veterano jornalista americano Walter Cronkite, 89, conhecido como ‘o homem mais confiável da América’, juntou no início da semana sua voz ao coro dos que querem que os EUA retirem suas tropas do Iraque imediatamente. Âncora do noticiário noturno da rede de TV CBS até 25 anos atrás, Cronkite notabilizou-se por, em 1968, pedir que os EUA deixassem o Vietnã.


Na época, o jornalista estava gravando um documentário sobre o conflito no país asiático quando recebeu um recado de seus chefes dizendo que deveria encerrar a gravação com um comentário pessoal. Foi então que ele disse que os EUA estavam em um beco sem saída no Vietnã e deveriam retirar suas tropas.


O episódio é considerado um marco no início da saída do Vietnã, e o então presidente dos EUA, Lyndon Johnson, teria dito a um de seus assistentes: ‘Perdi Cronkite, perdi a América mediana’.


Quando, no domingo, lhe perguntaram se, se tivesse a oportunidade, diria sobre a Guerra do Iraque o mesmo que disse em 1968, ele respondeu: ‘Sim. Acho que deveríamos sair agora’.


Seqüestro


A rede de TV Al Jazira exibiu imagens de um vídeo em que a jornalista americana Jill Carroll, seqüestrada no Iraque no dia 7 de janeiro, aparece sentada diante de um fundo branco, dizendo algo que não se pode ouvir.


De acordo com a Al Jazira, acompanhava o vídeo uma mensagem pedindo que os EUA libertassem prisioneiras que são mantidas no Iraque em até 72 horas ou Carroll seria morta.


A família da jornalista de 28 anos que trabalha para o ‘Christian Science Monitor’, sediado em Boston, pediu aos seqüestradores que tenham piedade.


A Al Jazira informou que recebeu o vídeo sem nenhuma referência de quem são os responsáveis pelo seqüestro de Carroll.


Vala comum


Em Kifil, cidade ao sul de Najaf, foi encontrada uma vala comum com os restos de 22 corpos. De acordo com a polícia iraquiana, a vala pode datar de 1991, quando houve um levante xiita contra o governo de Saddam Hussein (1979-2003).’


TV DIGITAL
Pedro Dias Leite e Luciana Constantino


Padrão dos EUA na TV digital é descartado


‘O governo brasileiro praticamente descartou a adoção do padrão norte-americano para a TV digital no país e agora vai ver quem, entre o Japão e a Europa, oferece mais benefícios comerciais. A partir de agora, a negociação é muito mais política do que técnica, segundo admitiu um integrante do governo envolvido no processo.


A decisão de descartar os EUA foi tomada em reunião no Palácio do Planalto entre os ministros Helio Costa (Comunicações), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Antonio Palocci Filho (Fazenda), Dilma Rousseff (Casa Civil), Paulo Bernardo (Planejamento) e Sérgio Resende (Ciência e Tecnologia), além de técnicos.


Hoje, haverá nova reunião, com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que pode ser batido o martelo. A tendência, em razão da facilidade de negociação, é que os japoneses tenham mais chances, embora o vencedor não esteja decidido.


O único integrante que participou do encontro a falar oficialmente com a imprensa foi o ministro Helio Costa. Segundo ele, o sistema deve estar todo digital em cinco anos, mas a transição completa vai levar até 15 anos.


Além da reunião com Lula, Costa encontra-se hoje com os representantes das redes de TV, que terão participação decisiva na escolha. O próprio governo assume que, sem o aval dessas empresas de comunicação, não há como implantar o sistema.


O ministro não quis dizer qual o sistema, entre os três, está mais próximo da vitória. Mas afirmou que as negociações comerciais vão pesar. O Brasil desenvolveu tecnologia de TV digital e quer participação na produção de certos equipamentos, tanto para serem usados aqui quanto lá fora.


A área em que o Brasil mais avançou é a da interatividade -que permite ao usuário, por exemplo, decidir de que câmera quer assistir a um jogo de futebol ou em que língua assistir a um determinado filme.


Negociações


Descartado o padrão norte-americano (ATSC), o governo deverá negociar com os japoneses, que detêm o padrão ISDB. O padrão europeu (DVB), tecnicamente viável para o Brasil, estaria em desvantagem porque o sistema de interatividade ainda estaria em fase de desenvolvimento.


A decisão de descartar o padrão ATSC, segundo integrante do governo, foi tomada após avaliação feita pelo CPqD (Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento). Entre as desvantagens do padrão americano, de acordo com estudo do CPqD, estaria o fato de que esse sistema ainda não está dotado de condições para a portabilidade e a mobilidade, o que foi definido como uma dos pré-requisitos para o modelo brasileiro.


Colaborou Patrícia Zimmermann, da Folha Online’


Luís Nassif


TV digital e independentes


‘Entre os agentes envolvidos na discussão sobre a TV digital, o mais afetado é o da TV aberta. Em geral desunidas, a ponto de existirem três associações para o setor, as emissoras abertas se juntaram para unificar sua posição perante o tema. Na sexta, mostrei a opinião do diretor técnico da Globo.


Mas, entre as abertas, existem a Globo e as demais -que vivem uma situação distinta, devido ao tremendo poder da rival. Porta-voz das demais redes, Johnny Saad, presidente da Bandeirantes, julga que há um erro conceitual em jogar TVs por assinatura, telefonia e TVs abertas no mesmo balaio. As duas primeiras utilizam serviços de rede, alguns utilizam satélites, são serviços pagos e direcionados -ou seja, cada qual sabe quem é o seu usuário. Já no caso da TV aberta, o sinal é para todos, e vive-se de publicidade.


A radiodifusão brasileira, desde seus primórdios, foi baseada no modelo americano, de empresas privadas disputando o bolo publicitário no mercado, para poder financiar o conteúdo entregue de graça ao usuário. Já o modelo europeu é basicamente de TVs estatais, assim como de telefonias estatais -o que minimiza o conflito entre ambas e não exige concentração publicitária, como no caso americano. Por isso mesmo, critica a tentativa de transposição do modelo europeu para o Brasil.


Historicamente, nos EUA, convivem poucas redes nacionais. Durante décadas, foram só três, ultimamente entrou a Fox. Diferentemente do cabo -que vende o conteúdo-, a dispersão de canais, na TV aberta, tornaria inviável a equação audiência-publicidade-produção.


As novas mídias já trouxeram razoável dispersão de conteúdo e do bolo publicitário. A única maneira de a TV aberta competir é dispor de qualidade de imagem -o que exige a ocupação de todo o espectro de freqüência- e de serviços adicionais, como o de jogar conteúdo no celular sem precisar passar pela intermediação da operadora.


Johnny contesta a versão de que a falta de espaço da produção independente se deva à verticalização na TV aberta -que produz e distribui seu próprio conteúdo. Diz que, nos EUA, o grande espaço conquistado pela produção independente foi no cabo e em outros canais de distribuição, como a internet, o DVD.


No caso do Brasil, diz ele, essa diversidade foi impedida por uma situação de monopólio virtual tanto na TV por cabo como por satélite por parte da Globo. Essa situação tende a se agravar com a entrada no mercado do mexicano Carlos Slim, participando da TV Globo, da Net, da Embratel e da Claro.


Segundo ele, há uma barreira nos canais pagos para a entrada de produções independentes. Apenas o Canal 21, da Band, e a MTV foram criados no período, devido ao único aspecto seguido da lei, que obriga a empresa a cabo a dar um canal para as emissoras com transmissão local. O Canal 21 conseguiu por ser, também, uma emissora aberta. A MTV, pelo fato de a Abril, na época, possuir uma rede de UHF.


Até hoje essa situação de concentração de poder não foi tratada nem na Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) nem do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).


Após dar a palavra a todos os personagens da discussão, nas próximas colunas vamos para a confrontação de argumentos.’


TV CULTURA
Daniel Castro


Pelo poder, Cultura abre filial em Brasília


‘Emissora mantida pelo Estado de São Paulo, a Cultura terá uma filial em Brasília a partir de abril. A TV fechou um acordo com a Fundação Educativa Apoio, concessionária de um canal no Distrito Federal, o 43, que passará a repetir seu sinal na íntegra.


A Cultura alugará os estúdios da TV Apoio para produzir programas em Brasília _principalmente o ‘Roda Viva’ com autoridades de outros países em passagem pela cidade e duas ou três edições por semana do ‘Opinião Nacional’. Também promete reforçar sua estrutura jornalística na capital (está tentando contratar o jornalista Ricardo Noblat).


O investimento da Cultura em Brasília evidencia racha na rede de TVs públicas por divergências entre o PT e o PSDB. Até o final do governo FHC, a Cultura era quase toda retransmitida em Brasília pela TV Nacional, canal aberto da Radiobrás, estatal federal. A TV de São Paulo (Estado governado pelo PSDB) também está tendo atritos com a TVE do Rio (sustentada pelo governo federal).


‘Hoje, a TV Nacional virou canal de divulgação do governo federal com um pouco de programação da TVE e da Cultura. Assim, ficamos fora do centro do poder político’, diz Marcos Mendonça, presidente da Cultura.


Para a Cultura, mais importante do que o sinal aberto da TV Apoio é a emissora estar na TV paga do DF. ‘O poder decisório de Brasília está no cabo’, afirma Mendonça.


OUTRO CANAL


Bandeira 1 Operadora de TV paga do Grupo Silvio Santos (que tem como diretor-geral Guilherme Stoliar, sobrinho de Silvio Santos e consultor do SBT), a TV Alphaville (Grande SP) está deixando a associação NeoTV e se filiando à Net Brasil, da Globo. Assim, passará a ter os mesmos canais das operadoras Net, como SporTV, Globonews, Telecine e GNT, além de ‘pay-per-view’ de ‘BBB’.


Bandeira 2 A NeoTV é a entidade que representa operadoras que tinham como principal trunfo os canais HBO, como a TVA. A associação trava batalha no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) contra a Net Brasil pelo direito de transmitir o canal SporTV. Diferentemente da Net Serviços (que são operadoras da Globo/Telmex), a Net Brasil é uma licenciadora de canais e marcas (inclusive a própria Net).


Semente O episódio exibido domingo pelo GNT de ‘Weeds’ foi o último da primeira temporada da série cult, que acaba de ganhar um Globo de Ouro (de melhor atriz de comédia para Mary-Louise Parker). A segunda temporada, segundo o GNT, só deve estrear no segundo semestre. Até lá, a primeira será reprisada.


Articulação O apresentador Gugu Liberato está tentando emplacar Vildomar Batista, ex-diretor do ‘Show do Tom’ (Record), como novo diretor do ‘Domingo Legal’ (SBT).’


GLOBO DE OURO
Sérgio Dávila


Globo de Ouro chuta a porta e sai do armário


‘A madrugada de ontem entrará para a história como o dia em que o Globo de Ouro saiu do armário. A 63ª edição do prêmio, um termômetro mais liberal do Oscar, foi assumidamente gay.


Se não, vejamos: dos cinco prêmios principais, todos foram para filmes com temática homossexual. ‘O Segredo de Brokeback Mountain’, a história de dois caubóis americanos que se apaixonam, levou filme/drama, diretor (Ang Lee) e roteiro (Larry McMurtry e Diana Ossana).


Já ‘Capote’, que reconstitui a vida do jornalista abertamente homossexual Truman Capote durante o período em que escreveu a reportagem de sua vida, ‘A Sangue Frio’, rendeu o merecido prêmio de melhor ator/drama a Philip Seymour Hoffman.


E ‘Transamerica’, sobre um transsexual masculino em vias de fazer operação de mudança de sexo, deu o também merecido prêmio de melhor atriz/drama a Felicity Huffman, mais conhecida pela série ‘Desperate Housewives’.


Até a premiação televisiva teve um toque GLS: o elenco principal de ‘Will & Grace’, série que tem sua última temporada exibida neste ano, subiu ao palco para dar o principal prêmio da área, melhor série/drama, para ‘Lost’.


Mesmo assim, se a apresentação foi liberal no conteúdo, continua conservadora na forma. Exibido pela TV aberta NBC, o prêmio não mostrou nem uma cena mais polêmica do grande vencedor da noite: para os telespectadores (cerca de meio bilhão em mais de 170 países, segundo os organizadores), o segredo de ‘Brokeback Mountain’ continua um segredo.


O resto foi o resto. Dos três prêmios a que concorria ‘O Jardineiro Fiel’, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, saiu apenas o de melhor atriz coadjuvante, para Rachel Weisz, como era esperado.


O que não quer dizer que o filme não seja lembrado nas indicações ao Oscar, que saem no dia 31. Ao contrário: com a exposição do Globo, os prêmios de menor importância já ganhos e a presença freqüente em diversas listas dos dez melhores de 2005, o brasileiro pode ampliar as indicações, incluindo roteiro adaptado e ator.


Mas ‘Brokeback’ pode se prejudicar por motivos diferentes. Quem vota no Globo de Ouro é jornalista estrangeiro que vive em Los Angeles e só cobre cinema (84 pessoas). Os eleitores do Oscar passam de 6.000, são mais diversificados, mas tendem a ser mais conservadores.’


Silvana Arantes


Perder foi ‘alívio’, diz Meirelles


‘O cineasta brasileiro Fernando Meirelles perdeu anteontem o Globo de Ouro. Pela segunda vez.


Meirelles afirma que a sensação da derrota é de ‘alívio’, porque ela o poupa da obrigação de fazer discursos, experiência que caracteriza como ‘dolorosa’.


A derrota de Meirelles não é exatamente um fracasso. Ele competiu com os pesos-pesados de Hollywood Steven Spielberg (‘Munique’), Peter Jackson (‘King Kong’), Woody Allen (‘Ponto Final’) e George Clooney (‘Boa Noite e Boa Sorte’).


Na primeira vez em que o brasileiro sentou-se na platéia do Globo de Ouro, competia ao título de melhor filme estrangeiro, com ‘Cidade de Deus’. Era 2003.


Meirelles dividiu a mesa com o espanhol Pedro Almodóvar, que venceu e não cumprimentou o brasileiro. Desta vez, o conviva ao lado do cineasta era o ator norte-americano Tim Robbins, que fez a apresentação do filme na disputa.


Robbins, que com a atriz Susan Sarandon forma um casal notório em Hollywood pela adesão a idéias e causas identificados com a esquerda norte-americana, chamou ‘O Jardineiro Fiel’ de ‘um filme impecável’.


Na entrevista a seguir, Meirelles comenta o resultado do Globo de Ouro, fala de suas chances no Oscar e dispensa, delicadamente, a top Gisele Bündchen de seu próximo elenco. A modelo declarou que adoraria filmar com o diretor.


Folha – Quando o sr. ouviu Clint Eastwood dizer o nome de Ang Lee teve a mesma sensação de 2003, em que também competiu e não venceu? Que sensação é, aliás?


Fernando Meirelles – A primeira sensação é de alívio por não ter que subir lá e fazer um discurso. Ganhar um prêmio é ótimo, mas ir recebê-lo é doloroso para mim.


Todo mundo estava esperando que Ang Lee vencesse. Ele estava em primeiro em todas as bolsas de apostas que a imprensa norte-americana adora fazer. Vi um site em que as chances dele eram de 2 em 3; as do George Clooney, 1 em 2; a minha, 1 em 15 e a dos outros três diretores, 1 em 40.


Não havia muita dúvida de quem ganharia, por isso não houve sofrimento. Quando fui com ‘Cidade de Deus’, em 2003, sofri bem mais, enquanto Zhang Yimou [‘Herói’] dormia ao meu lado. [O espanhol Pedro] Almodóvar levou [com ‘Fale com Ela’].


Folha – A quem o Globo de Ouro fez justiça e com quem foi injusto?


Meirelles – Adorei ver Hani Abu-Assad ganhar melhor filme estrangeiro com [o título palestino] ‘Paradise Now’. Ele me contou essa história que estava escrevendo em 2002. De cara achei que seria um filme vencedor. Injustiça foi ficar tanto tempo na cadeira, vendo gente de TV sendo premiada. É meio tedioso quando não se conhece ninguém.


Folha – Quem estava na sua mesa? Ouviu algo interessante? Combinou novos projetos?


Meirelles – Na mesa estava minha mulher, o produtor do filme, Simon C. Willians, e sua mulher, um executivo da Fox, a Rachel Weisz com seu marido, Daren Aronofsky, e o Tim Robbins.


Rolou pouca comida e os papos de sempre. A bebida era boa, mas peguei leve. Durante os comerciais, todo mundo levanta e vai para as mesas vizinhas.


Folha – O Globo de Ouro é considerado prévia do Oscar. Acha que esse resultado antecipa o do Oscar? Aumentam as chances de Rachel Weisz? Que indicações você espera obter para ‘O Jardineiro Fiel’?


Meirelles – No Oscar, as maiores chances são para Rachel Weisz, a montadora Claire Simpson e o roteirista Jeffrey Caine. Torço pelo Ralph Fiennes, mas sabemos que é um ano dificílimo para atores.


Cesar Charlone merecia uma nomeação pela fotografia, mas não o nomearam no sindicato de sua categoria, o que não é bom sinal. Não estou contando com nomeação para mim pela mesma razão. Não fui incluído na lista do Directors Guild.


Folha – O crescimento de ‘O Segredo de Brokeback Mountain’ nas bilheterias dos EUA, sendo um filme da Focus, assim como ‘O Jardineiro Fiel’, pode enfraquecer a campanha de seu filme ao Oscar?


Meirelles – Acho que não. Para a Focus, quanto mais frentes e mais nomeações, melhor. Cada negócio é um negócio.


Folha – Na próxima vez que o sr. disputar um prêmio em Los Angeles, o diretor de ‘2 Filhos de Francisco’, Breno Silveira, também estará na platéia?


Meirelles – Seria lindo.


Folha – A top Gisele Bündchen disse à Folha que adoraria filmar com o sr. Já a dirigiu em comerciais? Há lugar para ela num filme seu?


Meirelles – Fizemos dois comerciais juntos. Ela é uma pessoa adorável, mas no filme que estou escrevendo não há nenhum personagem com seu perfil, de semideusa.


Folha – Qual é o próximo filme?


Meirelles – Teoricamente meu próximo projeto seria [a produção brasileira] ‘Intolerância’, mas quero dar uma desacelerada na minha vida. Então vou empurrá-lo com a barriga até cansar de fazer nada.


Folha – Na cerimônia do Oscar 2004, em que o sr. concorreu como melhor diretor, por ‘Cidade de Deus’, o sr. disse que fez sinais para a câmera a pedido de seu filho. Desta vez, o que era?


Meirelles – Acho que era total falta de ter o que fazer com aquele cara apontando a lente a meio metro do meu nariz. Achei que aquela imagem só estivesse nos telões internos…’


TV NO MONITOR
Juliano Barreto


Portais levam TV brasileira para a internet


‘Enquanto a TV digital brasileira não sai do papel, o usuário de banda larga pode se divertir com uma programação bastante farta e variada. Os principais portais de conteúdo do país têm versões destinadas a quem tem acesso rápido à internet.


O acervo mais atraente é oferecido pelo Globo Media Center (gmc.globo.com), que tem planos básicos de acesso a partir de R$ 9,90 e reproduz os destaques da programação da emissora aberta e de seus canais pagos, como o Sportv. Programas antigos, como ‘TV Pirata’ e ‘Os Trapalhões’, são outro diferencial exclusivo.


Já os portais UOL (bandalarga.uol.com.br) e Terra (www.terra.com.br/bandalarga) mesclam bate-papo com convidados, shows ao vivo e noticiário. Boa parte do conteúdo é produzido especialmente para a internet.


Os portais para banda larga do Virgula (www.virgula.com.br/bandalarga) e do iG (igbandalarga.ig.com.br) trazem ensaios com modelos e videoclipes. O Virgula transmite o ‘Pânico na TV’. Todos os portais têm áreas abertas para quem não é assinante.’


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O Globo


Quarta-feira, 18 de janeiro de 2006


BRASIL NA REDE
Adauri Antunes Barbosa


Acesso à internet cresceu 12,4% em dezembro


‘SÃO PAULO. O número de usuários residenciais que acessaram a internet no Brasil registrou em dezembro crescimento de 12,4% em relação ao mesmo mês de 2004. Os cerca de 12,2 milhões de internautas que acessaram de casa a internet no mês passado navegaram em média 17 horas e 59 minutos, um aumento de 34% sobre as 13 horas e 34 minutos de navegação média mensal registrada um ano antes. Os dados foram divulgados ontem pelo Ibope Inteligência, empresa do grupo Ibope que monitora os setores de mídia e consumo.


De acordo com levantamento, que analisa o comportamento dos internautas em outros dez países, o Brasil continua liderando o ranking de tempo nos acessos a partir da residência. Ou seja, ao serem comparados aos internautas de Estados Unidos, Japão, Austrália, França, Alemanha, Itália, Espanha, Suécia, Suíça e Reino Unido, os brasileiros ficam, em média, mais tempo navegando na rede mundial de computadores.


— Quem usa conexões rápidas costuma navegar mais tempo e realizar mais tarefas do que o usuário que usa linha discada. E, hoje, cerca de 62% dos internautas ativos residenciais no país têm banda larga — afirmou o coordenador de análise do Ibope Inteligência, Alexandre Sanches Magalhães.


O número total de pessoas com conexão residencial à internet, segundo ele, é de 19,9 milhões. O instituto não divulga dados gerais sobre os acessos do ano passado, para compará-los com os de 2004.


— Temos muita sazonalidade, e dados mais gerais poderiam provocar distorções. Em novembro, por exemplo, registram-se muitos acessos a empresas aéreas, a sites de viagens, hotéis, endereços ligados a férias. Em dezembro, isso muda. O maior número de acessos fica na categoria ocasiões especiais, na qual se enquadram os cartões de fim de ano — explicou José Calazans, analista de internet do Ibope Inteligência.


Essa sazonalidade fica evidente quando se compara, por exemplo, o crescimento das categorias de sites mais procuradas entre dezembro de 2004 e dezembro de 2005. Houve crescimento em apenas três categorias: ocasiões especiais, automóveis e comércio eletrônico.


— A queda na maioria das categorias também foi observada nos anos anteriores, e é atribuída ao começo das férias escolares, quando uma parte dos internautas residenciais viaja e deixa de usar a internet em seus domicílios — observou Magalhães.


Homens usam mais o computador em casa


No Brasil, os acessos residenciais são feitos predominantemente pelo público masculino. Em dezembro, de acordo com o instituto, 54,8% dos internautas eram homens e 45,2%, mulheres.


Os homens usaram o computador de casa no último mês de 2005, sem necessariamente acessar a internet, durante 35 horas e 42 minutos. Já as mulheres utilizaram a máquina por 22 horas e 16 minutos.


— No geral, o que temos observado é que o tempo de navegação cresceu, e isso se deve principalmente ao comércio eletrônico — observa Calazans.’


TV DIGITAL
O Globo


Governo discute hoje padrão de TV digital no país


‘BRASÍLIA. O governo poderá anunciar hoje o início das negociações com os representantes do sistema japonês (ISDB) para a implantação da TV digital no Brasil. Hoje haverá uma nova reunião ministerial sobre a implementação de TV digital. Os representantes das emissoras de TV também vão se reunir com o governo, que pretende concluir as negociações até 10 de fevereiro, embora admita que o prazo poderá ser um pouco dilatado.


Uma das vantagens apresentada pelo padrão japonês é que ele tem mais de um fornecedor. O padrão europeu (DVB), segundo uma fonte, ainda não está totalmente fora do jogo, ao contrário do americano, já descartado pelo governo.


— A partir de amanhã (hoje), teremos condições de dizer com mais clareza que sistema pode ser adotado — disse o ministro das Comunicações, Hélio Costa.’


BBB BRITÂNICO
Fernando Duarte


Deputado no ‘Big Brother’, sem medo do paredão


‘LONDRES. Se foi questão de ego ou de interesse por desmistificar a classe política, já virou detalhe. A participação do polêmico parlamentar George Galloway na versão para celebridades do programa ‘Big Brother’ britânico, no ar há duas semanas, está cada vez mais com jeito de feitiço virando contra o feiticeiro. Galloway, de 51 anos, não somente tem sido criticado por colegas e eleitores por estar trancafiado com outros famosos enquanto o Parlamento britânico funciona, como será investigado por ter apresentado moções durante o período de ausência.


Galloway, que ficou famoso ao ser expulso do Partido Trabalhista em 2003 por sua barulhenta oposição à invasão do Iraque, tornou-se uma espécie de rebelde querido ao fundar seu próprio partido, o Respect, e manter seu lugar no Parlamento com vitória sobre Oona King, a candidata trabalhista e fiel aliada do primeiro-ministro Tony Blair, nas eleições do ano passado. Ganhou mais notoriedade em 2005 ao enfrentar com dedo em riste uma Comissão do Senado dos EUA que o interrogava sobre seu envolvimento com o regime de Saddam Hussein.


Mas ficou a impressão de que o passo mais recente foi dado em falso. E não apenas porque o restante do elenco do ‘Celebrity Big Brother’ inclui um travesti, uma ex-amante do treinador da seleção de futebol da Inglaterra e o ex-astro do basquete americano Dennis Rodman. Em nenhum momento ele foi visto tentando chamar a atenção para a tal desmistificação dos políticos. A imagem mais marcante até agora é da bizarra gincana em que imitou um gato, inclusive fingindo lamber leite das mãos de uma colega de cena.


— Foi bizarro ver um parlamentar passando por tamanho vexame diante de milhões de telespectadores, mas o pior de tudo é ver a falta de respeito de Galloway com seus eleitores ao aceitar participar do programa e perder sessões parlamentares — vociferou a parlamentar Hilary Armstrong, do Partido Trabalhista.


Em 2001 houve mais gente na faixa entre 18 e 30 anos votando na turma da casa do que deixando sua marca nas eleições gerais. Galloway, por sinal, já foi para o paredão. Mas escapou.’


GLOBO DE OURO
Jaime Biaggio


Os caubóis dourados


‘Longe vão os dias em que ator que fizesse papel de homossexual ‘nunca trabalharia nesta cidade de novo’. A cidade, Los Angeles, capital da indústria cinematográfica americana, amanheceu com o céu cor-de-rosa ontem, após os resultados da cerimônia de premiação do Globo de Ouro, na segunda-feira à noite. ‘O segredo de Brokeback Mountain’, o novo trabalho de Ang Lee (‘O Tigre e o Dragão’, ‘Hulk’), cuja descrição mais imediata e automática vem sendo ‘o filme dos caubóis gays’, levou os prêmios de melhor filme (drama), direção, roteiro e canção. Philip Seymour Hoffman, protagonista de ‘Capote’, filme sobre o período em que o escritor Truman Capote (homossexual notório) fez a pesquisa para seu livro ‘A sangue-frio’, levou o Globo de Ouro de melhor ator (drama). Felicity Huffman, da série de TV ‘Desperate housewives’, levou o Globo de melhor atriz (drama), por interpretar um transexual no filme independente ‘Transamerica’.


Com isso, aumentam exponencialmente as chances de todos eles levarem o Oscar, cujas indicações saem no próximo dia 31. ‘O segredo de Brokeback Mountain’, que entra em cartaz dia 10 de fevereiro no Rio, já estava cotado para o prêmio. Agora, virou franco favorito, numa proporção rara para os anos mais recentes, que têm sido marcados pela indefinição do nome do vencedor até bem perto da premiação (exceção para o caso de ‘O Senhor dos Anéis — O retorno do rei’).


Philip Seymour Hoffman também desponta como forte candidato a melhor ator no Oscar. Felicity Huffman, menos. Terá contra si o habitual preconceito contra atrizes de TV. E, o que é mais importante, tem uma concorrente com mais nome e um papel de maior vulto: a estrelinha Reese Witherspoon, ganhadora do Globo de Ouro de melhor atriz (musical/comédia) pelo papel de June Carter Cash, a devotada esposa do feroz cantor country Johnny Cash, em ‘Johnny & June’ (mais sobre ela no quadro ao lado). Pelo papel de Cash, Joaquin Phoenix levou o Globo de melhor ator (musical/comédia). E o filme, que estréia aqui junto com ‘O segredo de Brokeback Mountain’, foi o vencedor do Globo da subdivisão musical/comédia, na qual, aliás, só foi parar por ser a biografia de um astro da música: trata-se, evidentemente para quem conhece a trajetória de Johnny Cash, de um drama.


Por que a premiação influencia a Academia


George Clooney, melhor ator coadjuvante pelo thriller político ‘Syriana’; Rachel Weisz, melhor atriz coadjuvante por ‘O jardineiro fiel’, de Fernando Meirelles; John Williams, autor da trilha sonora de ‘Memórias de uma gueixa’; e o filme palestino ‘Paradise now’, premiado como melhor produção estrangeira, completam os prêmios referentes a cinema do Globo de Ouro (que premia ainda os melhores da televisão). A cerimônia promovida pela Hollywood Foreign Press Association (associação de jornalistas não americanos baseados em Los Angeles, que cobrem a indústria do entretenimento) é a mais vistosa do período pré-Oscar e, em função disso, é considerada um indicador importante de quem a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas virá a premiar. E só em função da visibilidade: o quadro de votantes difere em 100%. O Oscar é outorgado por membros da indústria (cerca de seis mil pessoas); o Globo de Ouro, por gente que orbita em torno dela (os votantes não chegam a cem).


Contudo, a influência é real e bastante forte. Tudo em função do gigantismo da Academia e dos critérios de votação do Oscar. Como é muita gente, não há possibilidade — e, claro, nem intenção — de monitorar o quanto os membros estão em dia com a produção cinematográfica de cada ano. Muitos não estão. E como o voto nas categorias principais pode ser exercido independentemente disso, a realidade é que vários membros mais preguiçosos da Academia votam no único filme que viram ou ‘de orelhada’ mesmo, naquilo que ouviram falar que é bom.


Entra aí a influência decisiva estabelecida ao longo dos anos pelo Globo de Ouro: semanas antes de os votantes do Oscar terem de enviar suas indicações, ouve-se falar em larga escala que certos filmes são bons. Recentemente, mudanças nos prazos da Academia, em função da transferência da festa para fevereiro, neutralizaram a influência. A escolha dos indicados ao Oscar passou a ser fechada antes de sair o resultado do Globo de Ouro. Mas, por circunstâncias extraordinárias, não este ano. Este ano o Globo de Ouro conta, e muito. Sorte dos caubóis de Ang Lee.’


REVIVAL JK
Zuenir Ventura


Saudade do futuro


‘Muito desse revival de JK e de seu tempo talvez se explique pelo nosso desencanto generalizado com o presente, além, evidentemente, da qualidade da minissérie de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira. A decepção com o governo do PT e com um Congresso em que deputados e senadores ganham para não trabalhar criou um estado de espírito que está levando cada vez mais gente a pregar o voto nulo como forma de protesto e a buscar nas lembranças do passado um país melhor. Olha-se para trás com saudade porque parece não valer a pena o que se vê hoje. Até os jovens estão com nostalgia — do que não viveram.


É possível também que, misturado com as recordações desse passado idealizado, de um pretérito mais que perfeito, haja muito de uma paradoxal ‘saudade do futuro’, espécie de revival de um Brasil que, como no verso de Manuel Bandeira, poderia ter sido e que não foi. Na verdade, de tudo o que JK deixou como legado, incluindo o saldo negativo que não foi pequeno, o que alimenta o imaginário moderno foi sua capacidade de pensar grande, de olhar para a frente e de sonhar. No país do visionário JK, que crescia, desenvolvia-se e sentia orgulho de seus feitos, havia projeto de nação, metas a alcançar. Em suma, acreditava-se no futuro. Hoje desacredita-se dele tanto quanto do presente.


Se não bastasse a onda JK para oferecer uma comparação desvantajosa, acaba de surgir a eleição chilena para nos atiçar a inveja. O Chile e o Brasil têm uma história contemporânea com pontos em comum, como a ditadura militar. Até o golpe que derrubou Salvador Allende em 1973, foi a terra que acolheu e deu asilo a muitos políticos perseguidos aqui: FHC, Betinho, José Serra, César Maia, Maria da Conceição Tavares, Artur da Távola, Carlos Lessa, entre outros. Por isso, mas sobretudo pelas altas taxas de crescimento econômico e redução da pobreza (apesar da péssima distribuição de renda), o ‘milagre’chileno se constituiu sempre em paralelo ou referência.


A subida de Michelle Bachelet ao poder, vencendo a oposição de um país machista e de uma sociedade preconceituosa e careta, significou por si só uma revolução de costumes. Mas tão impressionante quanto sua chegada à presidência é a saída de seu antecessor. Depois de seis anos, Ricardo Lagos deixa o poder aclamado pelo povo nas ruas e com 75% de aprovação nas pesquisas.


Enquanto isso, Lula começa o último ano de seu mandato não construindo, como fez Juscelino, mas tapando buraco de estradas. É melancólico. O Brasil não conseguiu ser nem o Chile e nem mesmo o Brasil com o qual se sonhou nos tempos de JK.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 18 de janeiro de 2006


DUDA vs VEJA
O Estado de S. Paulo


Publicitário vai processar revista


‘O publicitário Duda Mendonça informou ontem, em sites de propaganda, que vai processar a revista Veja pelas acusações que esta lhe fez, na edição desta semana, de manter contas milionárias no exterior. ‘Não permitiremos que nossa reputação profissional, construída ao longo de 30 anos de competente e idôneo trabalho publicitário, seja destruída por afirmações mentirosas’, escreveu Duda. Segundo ele, o faturamento das três empresas de seu grupo foi de R$ 590 milhões nos últimos cinco anos e não R$ 700 milhões – um valor ‘normal’, do qual 85% foram repassados aos veículos de comunicação. A direção da revista não foi localizada para comentar a nota.’


PÓS-DERRAME
O Estado de S. Paulo


Sharon sai de cena na mídia


‘Depois de duas semanas em coma, o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, está deixando de ser tema principal da imprensa israelense. O estado de saúde de Sharon continua ‘estável, mas grave’ e os médicos do Hospital Hadassah não estão dando entrevistas à imprensa. Nos meios políticos já não se fala num retorno de Sharon à política. Jornais dedicam mais espaço ao conflito em Hebron, às eleições parlamentares de março e ao primeiro-ministro interino Ehud Olmert, nomeado líder do Kadima, o partido criado por Sharon em dezembro.’


EXPANSÃO
O Estado de S. Paulo


Google avança em publicidade


‘NOVA YORK – A gigante americana de internet Google Inc. continua ampliando suas fronteiras no mercado publicitário além do mundo online. Desta vez, a companhia adquiriu a dMarc Broadcasting Inc., de Newport Beach, Califórnia, um provedor de soluções digitais para estações de rádio. O preço do negócio pode superar US$ 1,2 bilhão.


A empresa cria uma plataforma que conecta automaticante anunciantes a emissoras de rádio. Com esta tecnologia, fornece aos anunciantes cronogramas de seus anúncios, facilitando um acompanhamento a partir da sua difusão. Do lado do difusor, a tecnologia da dMarc programa e encontra automaticamente horários e locais dos anúncios, ajudando a reduzir os custos nas emissoras.


Segundo o acordo, anunciado ontem, a Google pagará à dMarc pelo menos US$ 102 milhões à vista. Se os objetivos forem alcançados, a Google fará pagamentos adicionais de até US$ 1,14 bilhão durante os próximos três anos.


O pagamento do valor à vista não vai afetar muito as reservas da Google, empresa com sede em Mountain View, Califórnia. Até setembro, a companhia tinha US$ 7,6 bilhões em dinheiro e títulos negociáveis. Em seguida, adquiriu 5% de participação da America Online, uma divisão da Time Warner Inc., investindo US$ 1 bilhão no negócio. ‘A Google está comprometida em explorar novas maneiras de ampliar anúncios a outros setores de comunicação’, disse Tim Armstrong, vice-presidente para Vendas de Anúncios.


O ano de 2005 foi movimentado para a empresa, que atingiu a marca das 60 bilhões de páginas indexadas e lançou uma nova gama de serviços, com o Google Talk e o Google Maps. As vendas da empresa atingiram perto de US$ 6 bilhões, e foi o ano em que foram realizadas diversas aquisições, como a brasileira Akwan Information Technologies.’


JUSCELINO NA TV
Keila Jimenez


JK deixa de ser tão bonzinho


‘JK não será tão bonzinho na segunda fase da minissérie homônima da Globo. Não, o mocinho não vai virar vilão da noite para o dia, mas o bom moço ao extremo vivido por Wagner Moura dará espaço a um político, digamos assim, com alguns defeitinhos.


‘Se for defeito ser um homem sedutor, manter relações extraconjugais, sim, ele terá falhas de caráter. Mas para mim isso é apenas um pecadilho’, defende seu herói a autora Maria Adelaide Amaral. ‘A ambição política o fez colocar algumas vezes a política acima da amizade, a fazer alianças com quem não devia e a apoiar quem menos devia ainda (por exemplo, Castelo Branco e o golpe de 64). Isso será mostrado na segunda fase.’


Já na próxima semana se inicia a segunda fase da minissérie, que apesar de algumas críticas foi muito bem até aqui em audiência. Em suas duas semanas no ar alcançou média de 34 pontos de ibope, com share (total de TVs ligadas no horário) de 53%. Uma das melhores médias de minisséries da Globo nos últimos anos.


Sai o bom filho, bom marido e bom médico Wagner Moura, e entra José Wilker no papel de Juscelino. ‘O Wilker tem grande carisma e talento para continuar no caminho de sedução aberto por Wagner’, fala a autora, que adianta que o mais que malvado coronel Licurgo (Luís Mello) também se despedirá da trama.


‘O antagonista da segunda fase será Carlos Lacerda (José de Abreu), que não será um vilão como Licurgo foi. Será um adversário político de JK, o que é muito diferente’, fala Maria Adelaide.


Na segunda fase também entram Marília Pêra, no papel de Sarah (Débora Falabella), Letícia Sabatella, Antônio Calloni, Débora Bloch, Mariana Ximenez, Alessandra Negrini e Marília Gabriela, entre outros.’


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