Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Dulce Critelli

‘Os índices de audiência revelam o que se vê, mas não são capazes de identificar como e por que se vê. A intenção da audiência e sua opinião são invisíveis

Foi bastante significativa a resposta dada à coluna ‘Fama sem Glória’, que escrevi neste caderno (ed. de 29/4), criticando o ‘reality show’ ‘Big Brother Brasil’. Não só pela quantidade de correspondência recebida, mas pela reiteração que os leitores fizeram das idéias ali expostas. Muitos, inclusive, agradeciam a presença na mídia de uma voz dissonante e crítica, outros a estendiam para programas de TV cuja filosofia lhes parecia ser equivalente.

Essas respostas reforçaram minhas suspeitas sobre como são trabalhados e considerados os índices de audiência. Em especial, sobre a crença corriqueira de que a televisão mostra o que o público quer ver.

Os índices de audiência medem a quantidade de aparelhos sintonizados nos programas de TV e daí inferem o número de espectadores. Será um número preciso? Mesmo que a resposta seja afirmativa, medir a quantidade de espectadores não é revelar sua qualidade. Os índices de audiência revelam o que se vê, mas não são capazes de identificar como e por que se vê. Os motivos, a intenção da audiência e a sua opinião são invisíveis.

Audiência grande atrai anunciantes, pois espectadores são consumidores. Essa crença move a máquina publicitária. Há algum tempo, em alguns países da Europa, os espectadores, compreendendo sua importância para o mercado, se cumpliciaram em atitudes e influíram decisivamente nas direções tomadas pelos anunciantes e pela mídia. Simplesmente pararam de comprar os produtos anunciados pelas empresas cujas ações eram condenáveis ou por depredarem o ambiente ou por ferirem interesses sociais ou humanos. Ao mesmo tempo, passaram a consumir os produtos de empresas que consideravam ‘politicamente corretas’, digamos assim. Os espectadores-consumidores se manifestaram e fizeram valer a sua opinião, exigiram e conseguiram o que queriam.

Na nossa baixa auto-estima, parece que já partimos da crença de que nossa opinião não vale nada, de que ninguém nos dará ouvidos, de que ‘os que fazem são os que sabem’. Assim agimos como espectadores -e também como eleitores e cidadãos. ‘Não está bem, mas deixa pra lá… As coisas são como são. Eles que se entendam…’

Se aqueles que discordam da programação das TVs fizessem chegar às Redações das emissoras sua opinião, ela poderia ser conhecida e respeitada. Se, a exemplo dos europeus, não comprássemos os produtos dos anunciantes que associam sua marca a programas inadequados, seríamos valorizados.

Sociólogos, educadores e historiadores, entre outros, têm falado repetidamente que somos uma cultura dominada, cuja história principia com o tipo de colonização que sofremos. Submetemo-nos a impérios, a coronéis, a economias mais desenvolvidas e tecnologicamente mais avançadas. Mas também nos submetemos a modismos, a preconceitos, ao status quo, à violência. Submetemo-nos e acreditamos que devemos nos submeter sempre. É assim que consolidamos nossa tradição de povo dominado, de subdesenvolvidos, de apolíticos. A submissão nos caracteriza.

Falando e manifestando nossa opinião, começamos a superar essa dominação histórica. Não precisamos de armas, só de instrumentos que registrem e veiculem nossa opinião. Por exemplo, a internet. Uma opinião só vale e tem força quando, além de expressa, também é levada ao conhecimento de todos e quando não é isolada. A força de uma opinião, de seu alcance, depende do seu grau de publicidade e da conquista de adeptos, de cúmplices ou sócios.

A impotência é coisa da solidão. Os homens têm poder quando agem e falam em conjunto. Diga à TV o que você não quer que ela diga a você.

DULCE CRITELLI, professora de filosofia da PUC-SP, é autora dos livros ‘Educação e Dominação Cultural’ e ‘Analítica de Sentido’ e coordenadora do Existentia – Centro de Orientação e Estudos da Condição Humana; e-mail dulcecritelli@existentia-br.com’



MÔNICA NA TV
Diego Assis

‘Astros ajudam Turma da Mônica na TV e no cinema’, copyright Folha de S. Paulo, 16/06/04

‘Satisfeito com seu novo contrato com o Cartoon Network, canal que lidera o ranking dos mais assistidos da TV paga no Brasil, o quadrinista e empresário Mauricio de Sousa, 68, anunciou oficialmente anteontem a concretização de três de seus ‘projetos de vida’: a entrada definitiva dos desenhos da Turma da Mônica na televisão brasileira, o lançamento dos programas de alfabetização com os personagens e a estréia de um novo longa nos cinemas.

‘Cine Gibi – O Filme’, com direção de José Márcio Nicolosi, estréia em 9 de julho no país e terá as crias do quadrinista contracenando com personagens reais, como Luciano Huck, Wanessa Camargo e Fernanda Lima.

‘Parece que os astros se juntaram e estão indicando os caminhos. A gente estava sonhando faz tempo. Estou muito feliz, mas um pouco desconfiado’, brincou Sousa, que, nesta semana, recebe a visita de Barry Koch, vice-presidente sênior do Cartoon.

Para Koch, 43, a estréia dos desenhos no canal, no próximo dia 27, marca o início de uma colaboração entre Brasil e EUA que pode render outros frutos no futuro. ‘Turma da Mônica’ é a primeira série original brasileira que exibimos no canal, mas certamente queremos colocar mais produções locais na programação.’

Com regularidade semanal, aos domingos sempre às 9h da manhã, os primeiros programas devem ter 30 minutos de duração. Diante do grande e pouco explorado acervo produzido desde a década de 80 pelos estúdios Mauricio de Sousa, a programação será composta por material antigo, pequenas vinhetas e algumas tomadas por trás das câmeras feitas com o criador da Turma.

‘Estamos no primeiro passo e aprendendo a trabalhar juntos, mas com uma vontade danada. É um trabalho dinâmico, mas sem margem de erro’, afirma Sousa.

Gente (‘Estou admirado com o pessoal que estou descobrindo que sabe fazer desenho animado no Brasil’), disposição e até uma proposta de lei de incentivo para desenhos nacionais na TV brasileira não faltam.

‘O deputado Vicentinho (PT) tem um grupo de trabalho que está mantendo contato com produtores e desenhistas para que essa lei nasça de forma que possa ser implementada.’ Caso vingue, Sousa não descarta a possibilidade de retomar negociações com a Rede Globo, que, em 1999, havia assinado um contrato com ele. O contrato foi rompido sem que nenhum programa fosse produzido.

‘Não é impossível que a gente possa vir a ter novos projetos com a Globo, que é uma grande estação e nos interessa em alguns casos também’, concluiu.’



TELEJORNALISMO / EUA
Antonio Brasil

‘Mais segredos do telejornalismo americano’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 18/06/04

‘Outra semana na redação da WPBF, a pequena emissora de TV em West Palm Beach, na Flórida. Tento desvendar alguns ‘segredos’ dos telejornais locais americanos. Mas deve ser meio inútil ou redundante. É impressionante como tantos jornalistas brasileiros são ‘experts’ em jornalismo americano. Poucos conhecem ou procuram conhecer a diversidade do jornalismo de um país com 260 milhões de habitantes e milhares, repito, milhares de jornais, revistas, rádios, sites na internet e… televisões.

O jornalismo ideológico, as teorias conspiratórias e o antiamericanismo privilegiam o ‘achismo’. Preferem o conforto das explicações fáceis e os preconceitos aos princípios mais básicos do jornalismo: investigação e pesquisa dos fatos. Esses mesmos jornalistas que sabem tudo sobre o jornalismo americano, me lembram alguns repórteres de TV que conheci no passado. Eles costumavam sair da redação com as matérias prontas.

As entrevistas ou informações eram meros acessórios das próprias certezas. Até mesmo o texto final da matéria era escrito com antecedência. Os ‘fatos’ eram selecionados para confirmar os ‘objetivos’ da matéria. A reportagem se tornava secundaria. Em caso de duvida, apela-se para a arma definitiva do telejornalismo para confirmar o impossível: o famigerado ‘povo-fala’.

Prefiro respeitar os fatos e cultivar a minha curiosidade. Apesar das crises e mudanças recentes, no jornalismo, nada substitui a pesquisa ou a reportagem. Como disse um de meus colegas, aqui na WPBF, ‘a única coisa que não se consegue ensinar a um futuro jornalista é a… curiosidade’. Sábias palavras.

Seguem mais algumas informações e reflexões sobre o telejornalismo americano. Espero que sejam úteis. Foram escritas para quem ainda é curioso e já não sabe tudo sobre jornalismo americano.

Os sindicatos e os jornalistas americanos

Mais uma surpresa. Procurei saber se os profissionais da WPBF eram sindicalizados. Fui informado que a Florida era um ‘right to work state’, ou seja, um estado ‘com direito ao trabalho’. Ao contrário de outros estados americanos, os jornalistas não precisam ser sindicalizados para trabalhar nas TVs locais. Para quem não sabe, a luta pelo sindicalismo nos EUA é antiga e em alguns momentos, foi muito intensa e violenta.

Em um país que sempre privilegiou o individualismo e tem dificuldades de aceitar a promessas do ‘socialismo’, o sindicalismo sempre foi considerada uma questão sensível e delicada. Mas em alguns estados do norte do país, como Nova Iorque, os sindicatos ainda são poderosos. Um jornalista não pode sequer tocar em uma ilha de edição sem a autorização. Os sindicatos americanos não são diferentes dos brasileiros. Defendem a divisão do trabalho, a luta pelos direitos trabalhistas e a preservação dos empregos. É uma tarefa difícil. Ações coletivas em lugar das ambições pessoais. O grupo sempre fala mais alto e mais forte. Mas não na Florida da família Bush.

Gillette Press e as fontes de notícias

Os mais jovens provavelmente não conhecem essa expressão. Explico. No passado, não havia uma central de apuração de noticias nas redações de telejornalismo. A chefia de reportagem acumulava diversas funções e produzia as pautas para todos os telejornais. A solução era o ‘gilette press’. Os chefes de reportagem liam os jornais da manha e recortavam as noticias que poderiam se tornar matérias. Essas notícias de jornais se tornavam pautas. Eram entregues as equipes de reportagem sem qualquer apuração. Essas pautas não morriam jamais. Cheguei a sair em externas com 82 dessas pautas. Foi o meu recorde. Mas tinha as suas vantagens. Escolhia as melhores e as mais convenientes para os meus próprios interesses – pagamento de uma conta no banco aqui, rever um amigo ali – e nos bons dias, produzia umas 5 ou 6 matérias. Outro recorde. E tem gente que critica tanto o presente.

Para o meu espanto, a imprensa escrita, principalmente os jornais locais, ainda pautam os telejornais locais americanos. Ainda são as principais fontes de noticias. O telejornalismo sempre teve uma relação difícil com a imprensa escrita. Mesmo nas grandes redes de TV americanas, muitos produtores costumam vazar suas próprias matérias para os ‘competidores’ nos jornais como o NYT. Eles acreditam que essa é a única maneira de convencer os editores e ultrapassar os próprios preconceitos. Esse ainda é um dos maiores problemas do telejornalismo. A WPBF não é diferente. Trata-se de uma mistura de insegurança profissional com um certo complexo de inferioridade. Cultura popular em meio de comunicação de massa.

‘Releasititi’: ferramenta útil ou doença?

Outra fonte importante de notícias para os telejornais locais americanos são os releases. A máquina de fax não pára de lançar ofertas das mais diversas e bizarras. Tenho minhas dúvidas sobre os benefícios dessa dependência. Pode ser justificativa para um jornalismo preguiçoso, sempre a espera das sugestões dos assessores. Mas no Brasil, esse tema é motivo de debates apaixonados e já foi discutido o suficiente.

A verdade é que, em tempos de vacas magras, desemprego e crises financeiras, os jornalistas dependem dos assessores de imprensa para preencher os telejornais. A recíproca é verdadeira. Os assessores precisam dos jornalistas para manter seus empregos.

Aqui na WPBF, não haveria jornal sem as informações fornecidas regularmente pelas assessorias. Mas não existe uma cultura de competição e rivalidade. Busca-se o consenso e a aproximação de objetivos. Os encontros regulares entre assessores e jornalistas fazem parte da solução para evitar os problemas.

Telejornalismo e a comunidade

Jornalismo local é, antes de tudo, prestação de serviços. Um dos maiores desafios para os telejornais locais é manter o contato e a sintonia com a comunidade. Não é uma tarefa fácil, nem pode ser respondida somente pelos índices de audiência. O jornalismo local precisa manter contato com os representantes da comunidade. Por outro lado, as assessorias dependem da mídia para divulgar seus eventos e objetivos. Existe um interesse comum e inevitável.

Essa semana fui convocado para uma reunião de ‘assessores de imprensa’ aqui mesmo na WPBF. Essas reuniões acontecem uma vez por mês em cada uma das empresas de mídia da região. Os relações públicas e assessores de imprensa de diversos órgãos publico como a polícia, bombeiros, hospitais e escolas têm a oportunidade de conversarem com os jornalistas. Essas reuniões são muito importantes para uma inter-relação entre a mídia e a comunidade. Elas fazem parte de um esforço ‘conjunto’ para diminuir as tensões naturais entre os assessores e os jornalistas. Coloca-se uma face nas faxes. Sorry! E isso é importante para um jornalismo que depende tanto da boa vontade dos novos donos das notícias. As reuniões também incluem grupos comunitários como a associações de moradores ou órgãos de proteção aos consumidores e meio-ambiente. Todos falam, perguntam, criticam e cobram dos dois lados. Fiquei impressionado com ambiente descontraído e os resultados positivos dessas reuniões. Trata-se de uma boa idéia para evitar desconfianças e hostilidades. Afinal, temos alguns objetivos comuns. Servir ao público, por exemplo.

Questões legais

Esse é um dos temas mais sensíveis nas reuniões de pauta. Todas as matérias consideradas ‘sensíveis’ precisam de autorização especial do diretor de jornalismo e do departamento legal. A ameaça de processos contra a emissora é uma das maiores preocupações dos jornalistas americanos. Ha uma indústria muito lucrativa de ações judiciais em todo o país. Médicos e jornalistas são considerados vítimas fáceis.

No passado, a WPBF, assim como quase todas as emissoras americanas, tiveram que responder a custosos processos por danos morais, infâmia e tantas outras acusações das mais variadas. O texto dos repórteres em algumas matérias é analisado nos mínimos detalhes para impedir essas ações judiciais. Essa ameaça legal estabelece uma cultura perigosa de autocensura entre os jornalistas. Deveríamos dar mais atenção a essas questões legais nos cursos de jornalismo.

Esportes desaparecem dos telejornais

Mais uma novidade. Para minha surpresa, fui informado que a WPBF não tem mais um departamento de esporte. Segundo o diretor de jornalismo, Joe Coscia, o departamento de esportes custava muito caro e não garantia audiência. Foi simplesmente desativado. Tornou-se vítima da última crise financeira no jornalismo americano. Conforme matéria publicada na imprensa especializada, trata-se de uma tendência nas emissoras locais americanas (ver aqui). Tem havido uma concentração das matérias de esportes em canais especializados como a ESPN. A rede de esportes americana hoje tem vários canais. Eles cobrem quase tudo, inclusive alguns esportes locais.

Infelizmente, não há mais espaço nos telejornais para os eventos esportivos locais nas TVs abertas. É a segmentação do meio. Essa tendência representa uma perda ou relocação de empregos para as TVs pagas ou para a Internet. Trata-se de mais mudança ou concessão do jornalismo de TV as novas estratégias empresariais. O lucro financeiro passou a ser uma das principais prioridades das televisões locais americanas. É o preço da concentração de mídias e da desregulamentação do setor nos EUA.

A morte do telejornal do meio-dia

Mais uma vítima da crise no telejornalismo local americano. A WPBF foi obrigada a cancelar a edição do telejornal do meio-dia. Isso é um problema sério para uma emissora que acredita e investe tanto no jornalismo. A justificativa é sempre a mesma: grana. Segundo a administração, o público que assiste TV nesse horário não justifica o investimento.

O jornalismo em todo o mundo deixa de ser prestação de serviços e se torna ‘commodity’. O lucro está acima de tudo. O problema é que as outras emissoras mantiveram seus telejornais nesse horário. Não é a toa que a WPBF, afiliada da conturbada ABC, não consegue ameaçar a liderança da afiliada da NBC local. Esse é um problema sério que afeta o ‘moral’ da redação. Jornalista americano é muito competitivo e, apesar de produzir um bom jornalismo, a WPBF não consegue sair do terceiro lugar no Ibope.

A ditadura da audiência: os ‘sweeps’

Nada é mais importante para uma estação de TV americana. Durante algumas semanas durante o ano, o Ibope americano, o Nielsen, conduz as principais pesquisas de conteúdo e audiência da programação. É a temporada anual de ‘sweeps’. Todos se preparam da melhor maneira possível para fazer bonito durante essa avaliação da audiência. Nesses dias, ninguém tira férias, colocam-se no ar matérias especiais e luta-se para alcançar os objetivos estabelecidos pelos ‘poderosos chefões’. Bons resultados significam maiores verbas publicitárias. Existe uma pesquisa de audiência regular todos os dias. Mas os anunciantes confiam nos resultados dos ‘sweeps’ para dividir as verbas publicitárias.

Estagiários são legais

Não existe lei que proíba ou restrinja o trabalho dos ‘internos’ nas redações americanas. Muito pelo contrário. As empresas anunciam vagas na imprensa e dependem de dicas das universidades. Os estagiários são selecionados em processos informais que dependem muito dos objetivos das emissoras de TV e dos entrevistadores. Costuma ser trabalho para o assistente do diretor de jornalismo. Segundo Steven Boyer, não existe um exame de seleção, mas a entrevista pessoal é informal. ‘Pela maneira de falar no telefone, eu já sei se o estudante vai ser um bom estagiário ou jornalista’. Jornalismo certamente não é ciência. É uma cultura complexa baseada em experiência, faro e muitas superstições.

Jornalismo visual

Uma das maiores dificuldades da televisão é acreditar na sua própria linguagem. O meio é audiovisual, mas a cultura jornalística é refém da mídia impressa. A palavra ainda tem precedência sobre a imagem. Até mesmo na televisão. A WPBF e o telejornalismo americano não são diferentes. Tenho discutido muito com os produtores americanos sobre as deficiências das imagens e das edições de quase todas matérias. Não há qualquer tentativa de nos aproximarmos das nossas verdadeiras origens: o cinema. No telejornalismo, continuamos fazendo ‘rádio com imagens’. Todas as matérias são altamente previsíveis. Poucas imagens. Gente falando o tempo todo sobre quase tudo.

A explicação também é sempre a mesma: ‘não temos tempo, dinheiro e pessoal. Não podemos arriscar mudanças. Telejornalismo é assim mesmo. Igual em todos os lugares do mundo’. E depois reclamam de crise!

Algumas dicas dos produtores americanos para os futuros jornalistas de TV:

1. Você tem que estar sempre bem informado. Não existe nada pior para um jornalista do que ‘não saber’ pelo menos alguma coisa sobre… quase tudo!

2. Leia vários jornais, revistas e livros. Leia tudo. Até mesmo bula de remédio. Nunca se sabe!

3. Escrever bem ainda é essencial. Essa foi a principal recomendação de todos os jornalistas da WPBF. Nada, absolutamente nada, supera essa ferramenta milagrosa. Nem mesmo uma boa presença na frente das câmeras ou uma cara bonita! Parece óbvio, mas é boa dica.

O melhor manual de telejornalismo

No Brasil, sempre me pedem dicas de livros ou manuais de telejornalismo. Não é fácil. Ainda aguardamos o manual de redação da Rede Globo. Não consigo entender essa deficiência ou ‘irresponsabilidade’ com o presente e o futuro da nossa profissão. Afinal, todas as outras TVs brasileiras copiam o que há de melhor e pior da emissora líder. A Globo, por outro lado, copia o modelo americano de jornalismo de TV. Mas para quem quiser arriscar e consultar um manual de telejornalismo americano, queria sugerir o Power Producer – A practical guide to TV News Producing de um veterano jornalista de TV americano, Dow Smith. Faz parte do projeto educacional da Radio-TV News Directors Association de Washington. O manual é muito bom e atualizado. Tem uma linguagem didática e jornalística: simples e objetiva. E o melhor, são os depoimentos e recomendações de diversos produtores.

Aqui entre nós, nunca consegui entender como o jornalismo da Globo, a todo-poderosa e milionária líder de audiência, não se preocupa com a formação dos nossos jornalistas de TV. Mas é sempre muito mais fácil reclamar, culpar as escolas e os professores de jornalismo pelas deficiências dos nossos estudantes.

Um dia, vamos perceber que o maior ‘segredo’ do jornalismo está na educação e no treinamento dos nossos futuros profissionais.’