Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Eduardo Ribeiro

‘O mercado de jornais do Interior de São Paulo segue agitado. Bom Dia Jundiaí vai circular ‘antes do peru de Natal’. Vaivém de profissionais em Rio Preto, Bauru, Sorocaba e Jundiaí. Especulações sobre Campinas, São Carlos, Sul de Minas, Ribeirão Preto e São José dos Campos.

A rede de jornais Bom Dia, de J. Hawilla, continua provocando uma movimentação sem precedentes no mercado de comunicação do Interior de São Paulo. Ela atinge tanto as redações como a área comercial de veículos das regiões em que os novos jornais serão lançados (Bauru, Jundiaí e Sorocaba) e até em São José do Rio Preto, onde a edição local já circula há algum tempo.

Jundiaí – Uma fonte da própria rede garante que o Bom Dia Jundiaí vai circular antes do Natal. Mário Evangelista, que editou o Bom Dia Rio Preto até o último fim-de-semana, assume o comando da redação de Jundiaí – situação geograficamente bem mais confortável para ele, que mora na vizinha cidade de Campinas. Dois profissionais já teriam acertado com o Bom Dia Jundiaí e outros dois repórteres do concorrente Jornal de Jundiaí teriam sido sondados. J&Cia apurou ainda que o salário de editor do novo jornal está por volta de R$ 3.500, bem acima do mercado local, e que a redação e a TV Tem local, que também pertence a Hawilla, vão dividir um novo prédio próprio, já em reforma (hoje a tevê ocupa um imóvel alugado).

Rio Preto – Edmilson Zanetti, que havia sido contratado há um mês como editor de Qualidade (ele assessorou o deputado Aloysio Nunes Ferreira, atual secretário de Governo do prefeito de São Paulo, José Serra, e passou 14 anos na Folha de S.Paulo), assumiu a vaga de Evangelista. Zanetti já anuncia três novas contratações: como editora do caderno Aqui, Ana Maio, que teve passagens pelo Diário de Marília e por edições regionais da Folha de S.Paulo e nos últimos anos se dedicou a lecionar Comunicação Social no Paraná e em Minas; sua sub será Andréia Lavagnini, que vem da produção da TV Tem local; e, para o caderno Viva, de cultura, Zanetti foi buscar Aila Farias na coordenadoria de Comunicação do Governo de Tocantins. O diretor-executivo (cargo que, na rede, faz interface direta com J. Hawilla) do Bom Dia Rio Preto também mudou no último final de semana: Luiz Ricardo Queiroz foi para a TV Tem e em seu lugar assumiu Mário Saurin, que gerenciava um shopping center na cidade.

Bauru – Flávio de Angelis, colunista da Rádio 94 FM, editor-executivo da Revista 94 FM e consultor de empresas, já está definido como o novo diretor-executivo do Bom Dia Bauru, que deverá circular a partir do próximo dia 20/11.

Sorocaba – O secretário de Comunicação da Prefeitura, Carlos Alberto Maria, confirma a perda de quatro profissionais da sua equipe para o Bom Dia Sorocaba, cuja circulação está prevista para 27/11: Renato Monteiro, Elói de Oliveira, Marcelo Marcaus e Marinaldo Cruz Filho. Mas ele diz que não pode perder tempo e já preencheu as vagas: contratou Maria Cláudia Miguel, que estava fazendo frilas em Campinas, Lincoln Salazar, que tirou da TV Tem de Itapetininga (‘Dei o troco’); e também contribuiu para desfalcar os dois principais jornais da cidade, levando Evenize Batista do Cruzeiro do Sul e Vinícius Gomes Castanho Vieira do Diário de Sorocaba. A Secretaria de Comunicação de Sorocaba tem 18 profissionais para cuidar do atendimento à imprensa, publicidade e de uma parte do cerimonial da Prefeitura. O próprio Carlos Alberto informou a J&Cia que o diretor-executivo do Bom Dia Sorocaba será Roberto Lorenzetti, que estava na TV Sorocaba (SBT).

Especulações – As últimas apostas de fontes de J&Cia para a rede são de que, além das cidades que estão na área de cobertura da TV Tem (relacionadas na edição 512), Hawilla fará acordos com a EPTV, de José Bonifácio Coutinho Nogueira, para lançar o Bom Dia nas regiões de Campinas, São Carlos, Ribeirão Preto e Sul de Minas, e com o outro Boni, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, da TV Vanguarda, de São José dos Campos. Assim, os jornais entrariam, com o mesmo esquema de mídias integradas (impressa, tevê e rádio), em diversas outras cidades, principalmente de eixos importantes como as rodovias Anhangüera/Bandeirantes e Presidente Dutra. Si non è vero, è bene trovato.

APJ – Uma entidade que deve estar monitorando com atenção toda essa movimentação é a Associação Paulista de Jornais, que congrega os 16 jornais regionais líderes do Interior paulista, em 15 regiões (400 mil exemplares). O presidente da organização, que acaba de ser reeleito, é Fernando Mauro Salerno, do Vale Paraibano, de São José dos Campos. A julgar por seu pronunciamento, no entanto, a vinda da Rede Bom Dia, de J.Hawilla, será bem-vinda. Para ele, um dos maiores desafios para os jornais no Brasil é ampliar a inserção na sociedade, hoje calculada em 52 exemplares por grupo de mil habitantes, melhorando o desempenho tanto na circulação quanto na publicidade.

Esperança em melhores dias – J&Cia recebeu mensagem de um leitor jornalista que mora e trabalha na região e que de certo modo reflete o sentimento dos profissionais que atuam no Interior de SP. E a reproduz pela importância e oportunidade do conteúdo, preservando a fonte, a pedido: ‘Alguém do ramo (mas não exclusivamente, o que dá mais segurança ao projeto), que já foi repórter, com bala na agulha, montando uma estrutura como essa, vai obrigar todas as empresas familiares de mídia do Interior a se profissionalizarem para não morrer. Com os investimentos, certamente chegarão junto independência, profissionalismo, qualidade na apuração da notícia. E o que é mais importante: como o negócio não depende de uma única região ou mercado, naturalmente vai detonar com o provincianismo e com a interferência dos interesses financeiros/políticos e paroquiais das famílias que dominam a mídia regional de SP desde o século passado!!!. Já era tempo! Para a gente que milita há quase 20 anos na área de comunicação por aqui e não entendia como o segundo mercado consumidor do Brasil podia ser tão pobre em qualidade e quantidade de empresas e profissionais de imprensa, essa notícia é um verdadeiro presente de Natal.’’



COMUNICAÇÃO CORPORATIVA
Thaís Gebrin

‘Quem é o profissional de Comunicação Empresarial?’, copyright O Estado de São Paulo, 3/11/05 – Informe ABRH

‘A cada ano aumenta o número de empresas em que a comunicação interna migra para a área corporativa, é o que revela a pesquisa realizada pela DATABERJE, instituto de pesquisas da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE): em 2002, o estudo registrou que em 49% das empresas a comunicação com os funcionários era vinculada à área corporativa. Este ano, o índice foi de 63,2%. Coordenado por Paulo Nassar, diretor-presidente da ABERJE e professor da ECA-USP, e Suzel Figueiredo, diretora da DATABERJE, o estudo abrangeu 117 companhias que estão no ranking de 2005 das 500 Maiores Empresas do Brasil da revista Exame. Aqui, Nassar avalia as mudanças observadas e conclui: quando o assunto é comunicação interna, RH é mais que um parceiro: ele é co-gestor do processo.

ABRH – A que se atribui o aumento da migração da comunicação interna para a área corporativa?

PAULO NASSAR – Está acontecendo um fenômeno que chamo de mestiçagem. No passado, a área de comunicação era restrita a jornalistas, relações-públicas e publicitários, que não tinham conhecimento das áreas estratégicas do negócio, assim como os gestores não se preocupavam com nada além de administrar produtos e serviços. Esses perfis mudaram porque, hoje, o gestor também tem que administrar tudo o que é o simbólico da organização. Os modelos tradicionais tiveram que romper com a visão mecanicista de mundo, que é colocar tudo em gavetinhas separadas e isoladas. Hoje, questões das áreas estratégicas, como produção, vendas e planejamento, se caracterizam por serem multidisciplinares na busca de soluções e, com isso, cada vez menos as empresas vão ter esses ‘guetos’. Até porque, a comunicação é uma habilidade humana presente em toda a organização, diferente de habilidades técnicas e conceituais.

ABRH – Como essa mudança se reflete em RH?

PN – RH é um grande cliente da área de comunicação e precisa dela para ter excelência nos processos, assim como o comunicador tradicional não sobrevive nessa área se não entender que não pode ser apenas operador de mídia e transmissor de informações. Ele tem que ser, também, um educador, porque o tipo de comunicação que faz na empresa tem interação com todas as áreas e está ligada aos planejamentos estratégicos e às políticas organizacionais. Essa interligação é que cria a mestiçagem.

ABRH – Você pode dar alguns exemplos práticos?

PN – Se RH quer, por exemplo, criar o sentimento de pertencimento à organização, tem de mestiçar comunicação com história, buscando os mitos fundadores, os heróis organizacionais, os ritos e rituais. Outros exemplos: toda empresa um dia passa por uma crise e é importante que a comunicação entre as áreas se mesticem com a área jurídica. Também, as empresas não davam grande importância para o aspecto intrapessoal do gestor, mas hoje envolvem profissionais de psicologia e fonoaudiologia para trabalhar as barreiras e medos comunicacionais que o levam a travar o processo de comunicação.

ABRH – Os problemas são mais complexos. Como a comunicação ajuda RH a resolvê-los?

PN – O que está ficando mais rica é justamente a idéia de que, com essa complexidade, não há mais questões que se resolvem com um tipo só de conhecimento. Além dos conflitos tradicionais, as empresas lidam, por exemplo, com a questão da diversidade em seu público interno. Se pensarmos em reestruturações patrimoniais e processos de fusões e aquisições, não há como trabalhar isso só em RH ou só em comunicação. Ao contrário, é preciso envolver mais áreas da empresa. Outra questão: como RH pode inovar em temas como o da educação para o trabalho e da terceirização em sua própria área sem trabalhar fortemente as questões comunicacionais? Tudo isso me leva à conclusão de que RH é co-gestor da área de comunicação. Com isso, a empresa consegue dar respostas quantitativas e qualitativas a questões complexas, que não se resolvem com as ferramentas da gestão mecanicista, como o uso do poder.

ABRH – O que acontece sem a mestiçagem?

PN – Os processos excelentes de comunicação são dialógicos e de convencimento, são extremamente políticos, até porque o público interno hoje está o tempo todo tendo contato e fazendo comparações entre aquilo que a empresa lhe comunica e a comunicação existente fora do ambiente de trabalho. Ninguém hoje vai alcançar uma comunicação interna excelente se não romper com a visão de gueto. Sem a mestiçagem, o que se tem é uma organização desenhada com foco em áreas que se traduzem em paredes, em desenhos que impedem os trabalhadores de ter uma visão global da empresa, de seus produtos, processos e comportamentos.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

‘Cultura africana’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 3/11/05

‘‘O futuro da televisão está no rádio’

(Luís Edgard de Andrade)

Cultura africana

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no DF, de onde se pode escutar o zumbido que emana do Palácio do Planalto, onde todo mundo grampeia todo mundo, pois Roldão lia o Correio Braziliense quando deparou com a seguinte menção feita pela professora Selma Pantoja, coordenadora de especialização em história da África para educadores:

No ano de 1100, a cidade de Tumbuctu já tinha universidade. Nos anos de 1200 e 1300 o livro já era o produto mais comercializado nas rotas transarianas – que atravessavam o deserto do Saara.

Realmente é espantoja, ou melhor, espantosa a revelação do progresso da África em tempos tão distantes, e por tal absurdo protestou Roldão:

O livro impresso, tal como o entendemos, só foi criado em 1450, na Europa, com a invenção de Gutemberg. Antes disso, os volumes manuscritos eram uma raridade e não seriam ‘o produto mais comercializado’ em qualquer lugar do mundo, muito menos na África. Houve evidente exagero da professora.

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Grande Maluf!

Legenda de foto na primeira página da Folha de S. Paulo:

DE VOLTA — O ex-prefeito Paulo Maluf toma cerveja e come pastel com amigos em Campos do Jordão (SP).

Janistraquis, que não persegue mas está longe de dar refresco, comentou:

‘É, considerado… aqueles quarenta dias de cadeia fizeram mais bem ao Maluf do que qualquer temporada num SPA de luxo.’

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Coisa fina

Janistraquis adorou a matéria de Laura Capriglione na Folha de S. Paulo, intitulada Catedral da Sé é ‘blindada’ para boda vip:

(…) Diante dos miseráveis freqüentadores do lugar, meninos dependentes de cola de sapateiro, moradores de rua enlouquecidos de álcool e pregadores de pelo menos cinco denominações evangélicas, materializou-se o casamento de conto de fadas da filha do empresário José Ermírio de Moraes, Lianinha Moraes, com o administrador de empresas Guilherme Bueno de Almeida Prado, assistido por 1.200 convidados.

(Leia no Blogstraquis a íntegra da excelente reportagem)

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Sérgio Augusto

Embora os ‘comentários’ postados no Blogstraquis saibam a cíbalos da pior procedência, o colunista garante que vale a pena uma visita àquele espaço para ler o excelente artigo do mestre Sérgio Augusto, originalmente publicado no Estadão e intitulado Umas dizem sim, outras dizem não.

(…) E viva o não. Foi o advérbio do ano. Para o bem e para o mal. Os franceses disseram não à Constituição da União Européia. Os brasileiros disseram não ao desarmamento da população. Os envolvidos no valerioduto negaram (e continuam negando) tudo. Harriet Miers afinal disse não ao convite do presidente Bush para assumir uma vaga na Suprema Corte.

(…) Será demasiado injusto dividir as mulheres em duas categorias: as que dizem sim e as que dizem não?

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Cheirinho bom

Indignadas, doze leitoras, que nem são feministas de carteirinha, enviaram à coluna matéria do Diário de S. Paulo cujo polêmico teor é o seguinte:

Poluição aumenta número de nascimentos de meninas em SP

SÃO PAULO – Um estudo divulgado na última semana na revista ‘Nature’, uma das mais importantes publicações do mundo científico, revelou que a poluição interfere também no sexo do bebê.

A pesquisa, coordenada pelo urologista Jorge Hallak, diretor-executivo do Centro de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas, foi realizada na cidade de São Paulo.

(…) O estudo brasileiro é o primeiro no mundo a confirmar a relação entre poluição e aumento do número de nascimento de meninas.

O colunista, que tem duas netinhas lindas e paulistanas, só agora entende por que Janistraquis costuma dizer, quando elas pintam aqui no sítio:

‘Considerado, é esquisito, mas se você atentar bem, há um cheirinho de asfalto, talvez gasolina, na cabeça das bichinhas…’

A mãe, que sempre lavou aqueles cabelos louros com necessária dedicação, odeia a, digamos, olfativa observação do meu secretário, cuja veracidade é agora comprovada. Então, enquanto aumenta-se a quantidade de xampu no banho diário das meninas, proclamemos: Viva a poluição!!!

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Aos domingos

Do considerado Carlos Nascimento no Jornal da Band:

‘A grade de programação terá uma novidade…o Programa Raul Gil aos domingos…’

Janistraquis, que naquele instante botava ordem num velho arquivo de recortes, gritou lá de dentro:

‘Considerado! Ô, considerado! O Nascimento falou isso com a cara séria ou sorrindo?!’

Eu estava meio distraído, não tinha prestado a devida atenção à notícia, mas, convenhamos, Raul Gil era novidade ‘em mil e novecentos e Morais Sarmento’, como dizia este inesquecível apresentador do rádio brasileiro.

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Milagre

O considerado Sérgio de Cristo navegava pelo site www.globo.com, clicou no item ‘entretenimento’, foi conferir a agenda da diarista e ficou impressionado com a chamada do programa:

Hable com Elza – ‘Nete (Marinete-diarista) resolve assar a galinha clonada de um cientista’.

Sérgio, que é de Cristo mas não crê em todos os milagres, ficou na dúvida:

‘É possível clonar um cientista e desta clonagem resultar uma galinha?!?!?!’

Olhe, Sérgio, Janistraquis garante: depois que Raul Gil virou novidade, tudo é possível…

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Bom de bola

Texto furtado à coluna do sempre competente Augusto Nunes no Jornal do Brasil:

O país pôde rever o juiz ladrão João Carlos da Rocha Mattos, preso em novembro de 2003 por vender sentenças. Foi bom ver de novo a cabeleira de zagueiro argentino aposentado. Melhor ainda foi saber que o ‘Bom Cabelo’ continua na gaiola.

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Assentando

A considerada Regina Pitta leu no site da Federação Nacional dos Jornalistas:

João Roberto Piza Fortes, o advogado que representa a FENAJ e o SJSP, fez a defesa do diploma (…). citou outras profissões regulamentadas e disse que seria inconcebível deixar de fora o Jornalismo, principalmente na era da informação (…).

A sessão está superlotada. Ocupados todos os acentos, muitas outras pessoas acompanham o julgamento em pé. Em frente ao prédio, manifestantes gritam palavras de ordem e expõem diplomas enrolados em fitas vermelhas.

Regina, que se lá estivesse teria ficado em pé, estranhou:

Afinal, o local em que nos sentamos é grafado de que forma? Acento ou assento?!?!

Janistraquis ponderou por algumas horas, consultou dicionários, navegou pela internet e chegou à seguinte conclusão, Regina:

‘Bom, se a palavra foi encontrada num site de jornalistas, é bem possível que apareça sempre como acento, embora o certo seja assento…’

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Nota dez

O considerado Ali Kamel, diretor da Rede Globo e colunista de O Globo, votou no ‘sim’, mas demonstra inteligência e equilíbrio diante do resultado do referendo das armas, ao contrário de muitos que meteram os pés pelas mãos e destilaram pela mídia um rancor de mulher traída. É de Kamel a nota dez da semana.

O significado do Não

(…) Acreditar que o povo votou iludido ou que se enganou é desacreditar do povo e, por conseguinte, da democracia. Como costumo dizer, é um pensamento que infantiliza o eleitorado. Ser pobre e inculto, repito, não torna ninguém incapaz de tomar decisões de acordo com o que acredita ser o certo e o errado.

Dignidade, bom senso, capacidade de avaliar o que é bom e o que é mau não depende de conta bancária nem de grau escolar. Isso não quer dizer que as decisões do povo são sempre as certas, as boas, as melhores. Quer dizer apenas que o povo escolhe, e é responsável por suas escolhas.

(Leia no Blogstraquis a íntegra do artigo)

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Errei, sim!

‘EXISTO, LOGO HESITO – Nosso leitor E. Nogueira, de São Paulo, enviou editorial do Estadão, no qual o redator cometeu este massacre: ‘(…) Tudo leva a crer, porém, que os cuidados tomados pela BMF e pelos participantes do pool são suficientes para garantir o hesito da obra e abrir uma nova forma de financiamento privado de obras públicas’.

Janistraquis concorda com Nogueira. Na verdade, pela leitura do texto é possível descobrir a razão pela qual esse hesitante pessoal – executores e críticos – que produz nosso exasperante mundo econômico não consegue levar o Brasil a bom êxito. Ou será hezito, ou ezito, ou ainda hexito?…’ (fevereiro de 1994)’



TRUMAN CAPOTE NO CINEMA
Tomas Eloy Martinez

‘Truman Capote, a sangue frio ‘, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times, 6/11/05

‘Philip Seymour Hoffman subiu ao palco do cinema Walter Reade, em Nova York, momentos depois que desapareceram da tela as últimas imagens de Capote, filme que pode muito bem lhe valer o Oscar de melhor ator de 2005. Seu cabelo loiro parecia o ninho de um passarinho ensopado por uma tempestade. Seus olhos azuis brilhavam de inteligência. Ele havia acabado de chegar ao Festival de Cinema de Nova York depois de fugir de Los Angeles, onde está rodando Missão Impossível 3. Foi um breve interlúdio, no entanto, porque ele devia pegar o vôo de volta ainda naquela noite.

Mas eram apenas 16 horas em Manhattan e Hoffman estava em grande forma. Ao seu lado, o diretor Bennett Miller parecia uma vela apagada. Alguém perguntou a Hoffman se era difícil encarnar o personagem e o estilo de Truman Capote, com seus maneirismos extravagantes e a voz em falsete quase inimitável. ‘Eu pretendia dedicar duas horas de cada dia para entender como ele era e o que estava acontecendo dentro dele’, Hoffman respondeu. ‘No entanto, nunca consegui mais do que uma hora e meia disso.’ É mesmo como deve ter sido porque Capote nos mostra a rápida corrupção de um autor que tinha tudo – talento, glamour social, fama, dinheiro – e, ainda assim, não estava satisfeito. Ele queria mais: ser o melhor de todos, queria que as pessoas o reconhecessem como tal e jamais contestassem isso. Capote já havia escrito Outras Vozes, Outras Salas, Bonequinha de Luxo e roteiros para John Huston e Vittorio De Sica e havia se tornado a estrela da revista The New Yorker. Então, numa manhã de novembro de 1959, na página 39 do New York Times, ele leu uma reportagem sobre um assassinato.

Um fazendeiro de Holcomb, no Kansas, um homem bem amado por sua comunidade, havia sido morto com sua mulher e os dois filhos. Capote não se impressionara tanto com o massacre quanto pelo efeito de horror e suspeita causado em uma comunidade isolada onde normalmente nada acontecia. Ele telefonou para o editor da New Yorker, William Shawn, e propôs escrever um artigo de 15 mil palavras sobre o tema. Shawn aprovou a idéia e Capote partiu de trem para as pradarias do Kansas, acompanhado por sua amiga Harper Lee, ela própria autora de O Sol É Para Todos, livro que havia completado mas que só publicaria um ano mais tarde.

VERDADEIRO E EMOCIONANTE

Esta é a sinopse de Capote: o filme narra o caminho da investigação preliminar do assassinato e tudo o que se seguiu, os cinco anos que Capote levou para construir sua tragédia grega e tecer os fios de sua própria destruição e, estranhamente, de sua glória incomum. O resultado está longe de ser uma obra-prima, mas a magistral performance de Hoffman é um exercício artístico inesquecível, uma preciosidade comparável a Marlom Brando em O Poderoso Chefão; a Robert De Niro em O Touro Indomável e a Laurence Olivier em Hamlet.

O diretor Miller levou pouco menos de cinco semanas para completar a produção e gastou US$ 7 milhões, um orçamento ínfimo na Hollywood contemporânea. Assim, ele preenche a maior parte do filme, distraindo o espectador, com cenas de Kansas no inverno – que na verdade foram rodadas em Winnipeg, no sul do Canadá – e das viagens de trem e avião de Capote, todas sem o menor peso dramático. O resto é impressionante, verdadeiro e emocionante.

Se Capote não tivesse trabalhado com Lee, seu romance A Sangue Frio jamais teria acontecido. É de se imaginar como esse homem diminuto apareceu, com seu ar resplandecente e as maneiras afetadas, em uma pequena cidade onde ninguém tinha ido mais longe do que cem quilômetros. Para piorar, Capote esperava que todos se jogassem aos seus pés e se comportava com uma arrogância imperdoável. Portanto, compreensivelmente, seus pedidos de entrevistas com os habitantes foram recebidos por ouvidos moucos. Pacientemente, Harper consertou o problema, e perto do Natal, ela conseguiu fazer com que uma simpática família do Kansas os convidasse para jantar. O charme de Capote se encarregou do resto. Correu o boato que sua conversa era divertida, atraente e sedutora e de repente ele ficou popular.

O filme sutilmente acentua as semelhanças entre Capote e um dos assassinos, Perry Smith – de estatura bem parecida com a do escritor – e por meio de olhares, meias palavras e promessas vagas, traça uma paixão não consumada da qual ambos tiraram vantagem. Esse amor é o dilema que está no centro de A Sangue Frio. Por causa de seu fácil acesso aos pensamentos mais íntimos de Smith, Capote atrasou seu chamado romance de não-ficção enquanto esperava o que aconteceria com os personagens centrais.

Ambos os assassinos, por acaso, foram sentenciados à morte por enforcamento e, de junho de 1963 para frente, Capote entrava e saia da prisão onde eles estavam à vontade. Os intermináveis recursos e adiamentos da execução o encheram de angústia. Mais da metade de A Sangue Frio estava completo, mas a última parte – a morte – levou muito tempo para chegar.

Algumas horas antes, seu amigo assassino implorou a ele por telefone para fazer um último pedido de clemência. Capote não respondeu e, em vez disso, mandou-lhe um telegrama no qual ele mente e diz que havia sido proibido de vê-lo. Há um ano eu escrevi que quando Brando protestou contra as revelações desleais e imperdoáveis que Capote havia feito de sua vida privada, o escritor respondeu: ‘É verdade que eu me alimento de carne humana. Mas foi ele que a colocou na minha boca’. O filme de Hoffman retrata mais um ato da mesma tragédia: um escritor que quer atingir grandeza literária a qualquer custo, e consegue chegar a ela, para descobrir que o fez por meio de maldades, assédio e desrespeito pela condição humana.

Tomas Eloy Martinez é autor de Santa Evita e O Cantor de Tango, entre outros romances, e diretor de Estudos Latino-Americanos na Rutgers University’