Thursday, 16 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1288

Elis Monteiro

‘Em 1896, o inventor italiano Guglielmo Marconi realizou a primeira transmissão e recepção de sinais a pequena distância, colocando em prática as teorias de estudiosos como Maxwell, Thomas Edison, Hertz, Branly, Popov e Faraday, e recebendo, na Inglaterra, a patente pelo primeiro sistema de telegrafia sem fio, ou radiotelegrafia. Começava, assim, uma história que, até os dias de hoje, continua ganhando novos capítulos. O mais recente começou a ser escrito ano passado.

No que já está sendo chamado de ‘reinvenção do rádio’, em 2004 surgiram os primeiros movimentos de Podcasting.

O novo termo nada mais é que uma pequena corruptela da palavra Pod (proveniente do iPod, o MP3 Player mais vendido no mundo) com broadcasting (transmissão de rádio ou TV). Tomando emprestada uma expressão cunhada pelo colega Tom Leão, no Rio Fanzine, aqui do GLOBO, o Podcasting é um blog para viagem, uma rádio on demand totalmente gratuita.

Talvez esteja na simplicidade o grande trunfo da nova febre virtual. E, claro, pelo fato de misturar RSS – Really Simple Syndication, ou Rich Site Summar, como muitos preferem chamar – com MP3. A explosiva mistura fez tanto sucesso que, de acordo com uma pesquisa da Pew Internet and American Life Project, divulgada pela agência de notícias Reuters, 29% dos donos de MP3 players do mundo já baixaram pelo menos um podcast.

A pesquisa, que enfrentou certa resistência devido à baixa amostragem (foram consultados cerca de 210 donos de players de música digital) pode, no entanto, estar apenas adiantando uma febre que, pela quantidade de podcasts à disposição na web, vai acabar afetando a todos mais cedo ou mais tarde.

Se o movimento cresce exponencialmente lá fora, é claro que ele chegaria à terra da Bossa Nova rapidamente. Que o diga a música carioca Mariana Eva, que já entrou de sola no mundo dos posts pré-programados de áudio.

Eva decidiu gravar um podcast em casa, usando um programa chamado Cubase. Tendo um microfone em mãos, ‘mandou ver’, como diz. Gravou o programa de rádio no micro, passou para MP3 e ofereceu em seu site de graça para quem quiser ouvir. Para garantir audiência, Eva recorreu ao site oficial dos podcasters do mundo: o Ipodder para que veiculassem o programa/canal através do diretório geral do Ipodder, espécie de programa organizador/agregador de podcasts.

O retorno da candidata a programadora de rádio foi imediato e gratificante.

– O pessoal adora, diz que assim eles passam a conhecer várias bandas novas de uma vez e ficam sabendo detalhes sobre elas. Eu também adoraria ouvir um programa como o meu se fosse ouvinte – diz.

Tanto sucesso pode ser creditado a algumas características que fazem toda a diferença: Podcast é um rádio que não é ao vivo, qualquer um pode fazer e, melhor, todos podem ouvir, já que o alcance é o mesmo oferecido pela rede mundial de computadores.’

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‘Rádio sob demanda e com a cara do ouvinte’, copyright O Globo, 25/04/05

‘O sucesso dos Podcasts é tamanho que a revista ‘Wired’ catalogou-os como uma das potenciais ameaças à existência do rádio convencional.

– Acho que vai revolucionar o rádio, sim. As pessoas vão passar a baixar os podcasts e levar para o engarrafamento. É muito mais divertido e, o melhor, sem comerciais e sem a Hora do Brasil – diz Eva, que usa um sistema de download random que fica baixando os arquivos (relativamente grandes).

O pré-download é uma das armas mais sedutoras do Podcasting. Como usa RSS, para baixar os conteúdos o usuário tem apenas que procurar o que deseja e programar o download, através de softwares gerenciadores/agregadores de podcasts (leia mais no box abaixo).

Rádio com programação diária para todo o planeta

O Podcasting nasceu pelas mãos de Adam Curry, ex-VJ da MTV e guru dos podcasters, e Dave Winer, criador do RSS. Curry, que já anunciou que acredita na viabilidade comercial do Podcasting, é também dono do Daily Source Code, primeiro podcast com programação diária que tem cerca de 50 mil ouvintes fiéis mundo afora.

Aqui vale um parêntese sobre a tecnologia RSS: anunciada em 1999, cria da Netscape, ela é capaz de inserir tags especiais em homepages de modo que estas passam a ser facilmente catalogadas e acessíveis. Usar RSS é uma forma de divulgar imediatamente informações postadas na web e permitir acesso a elas. Tacada de mestre foi agregar a RSS ao MP3 e criar a idéia de áudio sob demanda.

– Acho que é um novo meio de comunicação surgindo que vai dar o que falar. É uma forma inovadora de a música alcançar a todos – diz Eva, lembrando um detalhe: apesar de o nome da tecnologia remeter ao iPod, qualquer MP3 Player pode ser usado para baixar podcasts. Também é possível ouvir os programas direto no micro.

Tem mais: espera-se a chegada dos podcasts também em telefones celulares. A princípio, a tecnologia não exclui nenhum hardware, desde que ele tenha capacidade de baixar MP3.

Como o Podcasting não completou nem um aninho de vida, a especulação a respeito do alcance dessa mistura entre blog e o áudio digital promete. É ver (ou ouvir) para crer.’

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‘Como fazer e como baixar podcasts’, copyright O Globo, 25/04/05

‘PARA BAIXAR: A boa notícia é que qualquer tocador de música digital pode baixar podcasts, desde que, claro, seja compatível com arquivos MP3. Na interface com a internet, será necessário assinar também um serviço de leitura de podcast, como o iPodder , que também é capaz de entender RSS e funciona tanto em Windows quanto em Mac ou Linux.

Quem quiser também pode instalar o iTunes , da Apple, que também ‘traduz’ podcasts e está disponível para Macintosh e Windows. Depois, basta adicionar a URL do conteúdo que deseja baixar no iPodder e marcar horário (através da opção Schedule). Para ter acesso a todo tipo de conteúdo, vale passar com freqüência pelo diretório de sua ferramenta que agrega podcasts, seja ela iPodder ou iTunes ou outra qualquer. É que elas listam conteúdos conforme seus administradores sejam avisados pelos autores. Outra opção para buscar podcasts é o Podfeeder – disponível em . É gratuito.

Quem quiser ouvir podcasts usando o Windows Media Player precisa baixar o plug-in Doppler, em . Também freeware.

Para baixar os programas para o Player, é só sincronizá-lo com o PC e transferir normalmente os arquivos em MP3.

PARA FAZER: Basta um micro legal, um microfone na mão, vocação para falar, um programa que converta arquivos para MP3 e, claro, um servidor onde pendurar os arquivos. Qualquer programa pode ser usado para mixar o som. Mas vale lembrar que se este não for de boa qualidade, ninguém vai querer baixar.

Depois de criar um arquivo de áudio, o podcaster adiciona um hiperlink de RSS. O último passo é inscrever em um agregador de podcasts.’



Ricardo Anderáos

‘A era de ouro do rádio digital’, copyright O Estado de S. Paulo, 25/04/05

‘Com mais de um século de idade, o rádio, vovô dos meios de comunicação eletrônica, foi destaque da NAB 2005 em Las Vegas. Promovida pela National Association of Broadcasters, a associação das emissoras norte-americanas, a NAB é o principal evento mundial na área de televisão e rádio. Nos últimos anos, o impacto da internet e da TV de alta definição vinha monopolizando as atenções por aqui. Mas esta edição foi diferente. A NAB 2005 será lembrada como um marco do renascimento do rádio.

Pouco antes da abertura do evento, o comitê técnico que regulamenta os serviços radiofônicos nos EUA anunciou a definição do padrão norte-americano de rádio digital. Graças a ele, as rádios do país poderão transmitir até três programas simultaneamente, na mesma freqüência em que operam hoje. E cada um deles levará, além do som de melhor qualidade, textos e imagens sobre as músicas ou notícias exibidas. Assim, o rádio se transforma num veículo de comunicação multimídia.

Paralelamente, a Motorola lançou em seu estande um serviço que combina rádio, celular, internet e rede sem fio Bluetooth. Batizado de iRadio, a novidade faz do celular um misto de walkman e media center. E pode sepultar de vez o namoro entre Motorola e Apple para a produção de telefones compatíveis com o tocador de música digital iPod. Tudo isso mostra que a invenção de Guglielmo Marconi tem boas chances de continuar sendo o meio de comunicação com maior penetração junto ao público, mesmo no século 21.

A transição do rádio analógico para o digital foi destaque desde a abertura do evento. Eddie Fritts, presidente da NAB, afirmou que essa mudança ‘vai trazer som com qualidade de CD para as estações FM. As estações AM terão qualidade equivalente às FMs de hoje. E ainda vai sobrar espaço para oferecer novos e excitantes serviços para nossos ouvintes’. Fritts jogou algumas farpas para jornalistas que vêm chamando o rádio tradicional de ultrapassado, diante do crescimento das emissoras via satélite. Hoje, nos EUA, já há 4,5 milhões de assinantes de rádio via satélite.

O sistema digital adotado nos EUA chama-se Iboc (sigla de in-band on-channel). Ele permite que os atuais aparelhos de rádio analógicos continuem recebendo os sinais normalmente, mesmo depois que as emissoras passarem a transmitir sinais digitais. Eles não vão se beneficiar da melhoria na qualidade do som ou dos serviços de texto e imagem. Mas poderão continuar ouvindo a programação normal.

Hoje há cerca de 14 mil estações de rádio nos EUA. Mais de 300 já vêm transmitindo os sinais digitais, mesmo antes de sua homologação. Outras 2 mil já fecharam acordos para a compra dos novos equipamentos.’

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‘SP pode ganhar emissora digital experimental’, copyright O Estado de S. Paulo, 24/04/05

‘Executivos das principais emissoras de rádio paulistas, presentes à NAB 2005, tiveram reuniões em Las Vegas com representantes do governo norte-americano, fabricantes de equipamentos e a empresa que detém os direitos do sistema de rádio digital adotado nos EUA. Sua intenção é conseguir apoio para a montagem de uma emissora digital experimental em São Paulo.

Essa estação experimental não serviria apenas para colocar técnicos e profissionais de rádio brasileiros em contato com a nova tecnologia, mas também para acelerar as discussões sobre a adoção do padrão brasileiro de rádio digital dentro da Anatel, a agência brasileira de telecomunicações.

A definição do padrão de TV digital no Brasil se arrasta há anos, e está enveredando pela criação de um sistema próprio, diferente dos existentes nos EUA, Europa e Japão. O mercado espera que, no caso do rádio, o processo tenha maior velocidade e menor ‘criatividade’, já que a criação de um padrão diferenciado atrasa a adoção da nova tecnologia e encarece os equipamentos que devem ser adquiridos pelas emissoras e pelos consumidores.

Os encontros contaram com a mediação de John Harris, conselheiro do Departamento do Comércio do governo dos EUA. Neles os executivos das emissoras paulistas buscaram apoio da iBiquity Digital Corporation, que detém os royalties do sistema. Fabricantes desses equipamentos, instalados no Brasil, já concordaram em cedê-los. Tudo agora depende da iBiquity.’

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‘Motorola desafia Apple com o serviço iRadio’, copyright O Estado de S. Paulo, 24/04/05

‘Você senta ao computador, abre um programa que se conecta pela internet à sua emissora de rádio preferida e seleciona vários canais de programação diferentes. Depois pode escolher programas de outras emissoras, repetindo o procedimento quantas vezes quiser. Deixa seu celular ao lado do PC e vai tomar um banho. Enquanto isso, o computador baixa da internet as músicas solicitadas. E, através da conexão sem fio Bluetooth, transfere tudo para o celular. Terminado o banho você pega o telefone e sai para dar uma volta.

Na rua, o celular se transforma em um walkman. E, graças ao sistema Bluetooth, os fones de ouvido funcionam sem fio. No carro, o telefone assume o controle do CD player e continua tocando suas músicas e programas favoritos. De volta a sua casa, o celular se transforma em um media center. Funciona como controle remoto do aparelho de som, troca músicas, aumenta o volume e pode até ser programado para despertar você no dia seguinte com a sua trilha sonora preferida.

Essa é a cena musical que a Motorola montou em Las Vegas, numa casa de demonstração erguida bem na entrada da NAB 2005. Ali foi apresentado, pela primeira vez, o iRadio, seu serviço de música online baseado em telefones celulares.

O iRadio integra emissoras de rádio, operadoras de telefonia celular e ouvintes numa cadeia que usa a internet e redes sem fio Bluetooth para não deixar a música parar um instante sequer. Através dele, as emissoras podem fornecer diversos canais de música, informação e serviços. Pela internet, os assinantes do iRadio baixam os conteúdos que quiserem em seus computadores e podem levar dezenas de horas de programação no bolso, em celulares que se transformam em walkmans digitais.

Por meio da tecnologia Bluetooth, essa programação pode ser ouvida no rádio do carro ou em qualquer aparelho de som. O celular sai de fábrica com um adaptador para aparelhos que não são compatíveis com Bluetooth.

O novo serviço da Motorola pretende ser uma resposta ao crescimento do tocador de música digital iPod, da Apple, e seu sistema de venda de músicas iTunes, que já conta com 22 milhões de usuários. Também quer atrair parte dos 6 milhões de pessoas que, nos últimos dois meses, baixaram podcasts pela internet – um sistema livre de distribuição de arquivos de áudio, que está para o rádio assim como os blogs estão para os jornais. E oferece às emissoras de rádio um novo front para enfrentar o rádio via satélite, que, com 4,5 milhões de assinantes, ameaça seus negócios nos EUA.

‘Olhe ao seu redor: todas as pessoas estão carregando telefones celulares no bolso. Há um enorme mercado potencial para esse produto’, afirma David Ulmer, diretor de Marketing da divisão de Soluções de Mídia da Motorola. Outro alvo da empresa é a Nokia, maior fabricante mundial de aparelhos celulares, que está desenvolvendo projetos semelhantes com a Virgin Radio, da Inglaterra, e a rádio sueca SBS.

Os assinantes do iRadio vão pagar uma assinatura mensal de US$ 4 a US$ 6 para baixar uma quantidade ilimitada de conteúdo. As emissoras ficam com uma parte da receita e se obrigam a produzir uma programação especial, sem anúncios. Para efeito de comparação, uma assinatura nas rádios norte-americanas via satélite Sirius ou XM custa hoje US$ 13 por mês. E a loja iTunes, da Apple, cobra cerca de US$ 1 por cada música baixada. O iRadio começa a ser oferecido nos EUA em algumas semanas.

A Motorola não tem previsão sobre o início de sua disponibilidade no Brasil. Mas revela que, até o ano que vem, todos os seus celulares vão sair de fábrica prontos para sintonizar o iRadio. O anúncio pode enterrar de vez a possibilidade de a Motorola produzir celulares compatíveis com o tocador de música digital iPod, da Apple. Há meses as empresas vêm discutindo essa possibilidade. A cada novo evento do setor, a expectativa do lançamento é frustrada. Agora, provavelmente, a parceria gorou de vez.’



Diego Assis

‘Tecnologia digital indica saídas para a crise criativa e comercial das emissoras de rádio’, copyright Folha de S. Paulo, 25/04/05

‘Há 50 anos, a TV iria matar o rádio. Não matou. Há 20, alguém disse que os videoclipes é que iriam jogar a pá de cal nas FMs. Não foi dessa vez. Com a popularização dos tocadores de MP3 como o iPod, da Apple, que permitem que se carregue no bolso mais de 24 horas de música, o assunto voltou à baila: o rádio vai morrer?

Não necessariamente.

Com a ajuda da mesma tecnologia digital que vem sendo acusada de ameaçá-lo, o rádio -ou a idéia de transmissão de áudio para qualquer tipo de receptores móveis- começou o ano de 2005 como um dos principais tópicos de discussão do universo da música e adjacências, a saber, empresas de tecnologia, fabricantes de celulares e demais interessados no mercado em expansão da distribuição de música digital.

Nos EUA, onde o assunto foi capa da revista ‘Wired’, em março, e também debatido no festival de música e tecnologia M3, em Miami, a renovação do rádio parte de frentes diversas. Uma das mais vigorosas, entretanto, é ascensão das chamadas rádios por satélite, que, semelhante às TVs a cabo, cobram uma assinatura dos usuários em troca de mais de uma centena de canais segmentados, ‘sem censura e sem comerciais’.

‘As emissoras tradicionais não são mais controladas por gente da música, mas por contadores’, acusa Liquid Todd, DJ e locutor da Sirius Satellite Radio, que tem entre seus programas -não só musicais mas de informação, humor etc.- as grifes do polêmico radialista Howard Stern, Eminem, Fred Schneider (do B52’s), Jerry Seinfeld, Bill Cosby e o skatista-celebridade Tony Hawk.

Com 1,5 milhão de assinantes, a Sirius divide o novo mercado com a XM Satellite Radio, que tem uma carteira de clientes ainda mais gorda: 3,8 milhões, com crescimento de 540 mil usuários só no primeiro trimestre de 2005, segundo a ‘Business Week’.

Ainda assim, as velhas FMs não foram deixadas para trás. Fabricantes de telefones celulares e de tocadores de MP3 -neste caso, à exceção da Apple- também já vêm embutindo receptores de ondas de rádio em seus produtos.

‘75% das pessoas ainda descobrem suas músicas preferidas ouvindo rádio’, afirma Alberto Moriondo, diretor de soluções de entretenimento da Motorola. De olho no filão, a empresa desenvolveu um sistema que permite que o usuário grave um trecho de uma música que esteja tocando numa estação de rádio, envie por celular para uma central e receba os dados sobre a faixa e as possíveis formas de comprá-la por telefone.

Outra ferramenta desenvolvida pela fabricante, batizada de iRadio, possibilita a transmissão de faixas em MP3 do celular diretamente para o rádio do carro.

Principal concorrente, a Nokia também aposta no futuro do rádio. Por meio de uma ferramenta batizada de Visual Radio, o ouvinte recebe no celular, juntamente com o áudio, informações em texto sobre a faixa e outras opções de interatividade.

‘O Visual Radio é uma tecnologia que redefine a experiência com o rádio FM não somente para os ouvintes mas também para as estações de rádio, anunciantes e operadoras. Nunca mais as pessoas terão que imaginar quem está tocando o que no rádio’, sugere Fiore Mangone, gerente de produtos da empresa.

Outra face do novo ‘rádio’ é a tendência dos ‘podcasts’, que recentemente também chegou ao Brasil. As aspas em rádio são porque, apesar de emular parte da linguagem radiofônica (locução, informação, seleção de músicas etc.), o ‘podcast’ é um arquivo de áudio digital que pode ser gravado por qualquer pessoa e disponibilizado na internet, por meio de blogs e sistemas desenvolvidos especialmente para transmiti-lo a um grupo de assinantes. (Imagine um blog que avisasse ao leitor sobre cada atualização feita pelo autor; é essa a idéia, só que com as informações gravadas em áudio).

‘A principal diferença [em relação ao rádio] é que o ‘podcast’ oferece ao ouvinte a escolha de quando ouvir os programas, já que ele baixa para o computador e passa para um tocador portátil, podendo escutar quando tiver tempo livre’, explica Guilherme Leite, 28, autor de um dos primeiros ‘podcasts’ do Brasil. ‘Ele passa para o ouvinte o controle do que ouvir e de quando ouvir.’

O também ‘podcaster’ René de Paula Jr. acrescenta: ‘Podcasts’ são um sintoma, mas não o remédio. O fato de as pessoas estarem buscando alternativas mais humanas, mais espontâneas e autênticas é um sinal de que as rádios de massa estão deixando muito a desejar’. Autor do ‘podcast’ ‘Roda & Avisa’, grava reflexões diárias no trânsito, no trabalho e onde quer que tenha um gravador à mão. A imaginação -e uma conexão com a internet- é o limite para a sua rádio particular.’

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‘No Brasil, modelos estão em discussão’, copyright Folha de S. Paulo, 25/04/05

‘Em meio às velhas discussões sobre jabaculê (dinheiro pago por gravadoras para ter suas músicas veiculadas), rádios piratas e perda de anunciantes, algumas faíscas de (radio)atividade já começam a aparecer entre os principais interessados na realidade brasileira.

O papel da tecnologia no rádio foi debatido na penúltima sexta-feira entre os principais nomes do universo radiofônico, que participavam da mesa ‘Nas Ondas do Rádio’, promovida pelo Brazil Music Conference, evento paralelo ao festival Skol Beats.

‘A tecnologia vai permitir que a gente consiga fazer a rádio específica para cada um’, afirmou Petrônio Correa Filho, diretor da Antena 1. ‘Quando chegou a internet, falaram que as rádios iriam acabar. Não só não acabaram como quase todas hoje já transmitem também pela internet.’

‘Rádio é rádio. Internet é internet. Se você não puder ouvir no chuveiro, então não é rádio’, exagerou o diretor da Band FM Acácio Luiz Costa. Questão de tempo.

Apesar de divergirem sobre esse e outros assuntos, como o potencial do rádio por satélite, especialmente no Brasil, os debatedores concordaram numa coisa: precisam aumentar o número de ouvintes. ‘A rádio aqui não pode segmentar, tem que ser um grande guarda-chuva para atingir mais ouvintes’, defendeu Carlos Townsend, ex-Cidade e mediador do encontro, que teve também Alexandre Medeiros, ex-Jovem Pan, Ruy Bala, da Transamérica, Alexandre Hovorusky, das rádios Cidade e 89, entre outros.

Ainda que estejam na internet e que muitas já trabalhem com transmissores digitais, para que a migração completa para o sistema digital aconteça, as FMs ainda dependem da aprovação do governo. E, se depender dele, as primeiras a desfrutar do novo modelo serão as rádios AM.

‘Para nós, não interessa deixar de fora um radiodifusor de 50 anos de experiência. Temos de fazer com que ele possa se adequar ao novo modelo de negócios’, afirmou à Folha André Barbosa, doutor em rádio e assessor de políticas públicas da Casa Civil.

Segundo Barbosa, os testes com o novo sistema começarão a ser feitos em maio, sob o modelo da Digital Radio Mondiale, consórcio internacional que reúne as principais emissoras públicas, como a alemã DW e a BBC inglesa. E deverão ser finalizados até setembro, quando será discutida uma legislação específica para o setor.

‘Não existe ainda, em nenhuma parte do mundo, uma legislação madura que englobe todos os envolvidos dentro desse novo modelo, as operadoras de telefonia, de satélite, empresas de tecnologia da informação e outras.’

Teremos satélite? ‘Acho pouco provável que qualquer sistema por assinatura tenha sucesso imediato no Brasil. Empresas de TV a cabo investiram muito dinheiro e hoje têm dois terços de ociosidade. Falta poupança interna nesse país’, diz Barbosa.’



Lúcio Ribeiro

‘Um admirável mundo já não tão novo’, copyright Folha de S. Paulo, 25/04/05

‘A má notícia é que hoje está muito mais difícil ligar para sua rádio predileta e pedir uma música. É que a rádio pode ser na Suécia, o seu sueco pode não ser tão bom e o preço do interurbano…

A boa é que, com um mouse calibrado, uma conexão decente e um google certeiro, você pode conferir em tempo real, por caminhos virtuais, se essa onda de electroraggafunkcarioca está bombando mesmo nas rádios do Sri Lanka com a tal de M.I.A. Ou se o Marcelinho da Lua é mesmo o novo oxigênio da MPB, como intui a rádio Oi FM, de Vitória, ES.

O admirável mundo já não tão novo das rádios on-line ou das rádios convencionais na internet é vasto demais para um só texto. Mas, fechando no pop rock eletrônico, fica o toque das seguintes estações para balançar as caixas de som do seu computador.

Radio One – Da inglesa BBC. É a rádio mais importante do mundo para escoar a nova música. Dá para ouvir ao vivo, mas o luxo são os programas noturnos, de DJs badalados. No www.bbc.co.uk/radio1. Altamente recomendados são os programas do DJ Zane Lowe (segunda a quinta) ou o Essential Mix (domingo).

KCRW – Transmite de Los Angeles pelo www.kcrw.com a mais profunda análise política americana e a mais moderna programação de música dos EUA. O forte também são os programas, que podem ser captados por streaming ou podcasting. Em especial o Morning Becomes Eclectic, dedicado à nova música, transmitido durante a semana.

OUI FM – A rádio que domina as ondas sonoras da França sai pelo www.ouifm.fr. Em sua programação de rap local, a famosa música de sofá da eletrônica francesa. Mas dá saída para a Oui rock.com, uma das mais bacanas listas de música do rock planetário. Para quem arranha no francês, excelentes programas de cinema e de cultura pop em geral.’