Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Folha de S. Paulo

ELEIÇÕES 2006
Silvana Arantes

Políticos queimam o filme na TV

“A propaganda eleitoral é um filme que não deu certo. Boa parte do público saiu da sala. Dos que ficaram, poucos se deixaram seduzir pela trama.

É o que revelam dados do Instituto Datafolha e do Ibope, publicados pela Folha. Apenas 6% dos eleitores mudaram de idéia em relação ao voto depois de assistir à propaganda eleitoral na TV, exibida diariamente desde o dia 15 de agosto, em dois horários (13h e 20h30).

A audiência da ‘sessão’ vespertina caiu 33% na Grande São Paulo, nas duas primeiras semanas de exibição, e o número de televisores ligados no horário despencou: 31% para 18%.

A Folha ouviu cineastas, roteiristas, distribuidores (estrategistas de lançamento de filmes) e um autor de trilha sonora, para saber o que há de errado com um produto audiovisual que a TV exibe de graça, em horário nobre, com fracasso de público e de crítica.

Na opinião de Fernando Meirelles (‘Cidade de Deus’) ‘não há linguagem cinematográfica ou direção que salve. Quem cai naquele caldeirão é inexoravelmente cozido’, avalia o mais bem-sucedido cineasta brasileiro.

Efeito Kuleshov

‘O maior problema para os candidatos é o ‘efeito Kuleshov’, diz Meirelles, citando o experimento de montagem conduzido pelo cineasta russo Lev Kuleshov (1899-1970).

‘Kuleshov pegou um fotograma de uma mulher com uma expressão neutra e montou-o entre duas imagens de um enterro. Ao projetar o resultado, a mulher parecia estar chorando. Depois, usou a mesma imagem da mulher entre duas imagens de um prato de sopa. O resultado é que ela parecia estar com muita fome. Conclusão: as imagens se alteram de acordo com o contexto em que estão inseridas, o ‘efeito Kuleshov’, conta Meirelles.

Aplicado à propaganda eleitoral brasileira, o ‘efeito Kuleshov’ faz um estrago na imagem dos candidatos bem-intencionados, na opinião do diretor.

‘Imagine um candidato honesto que, por azar, entra no ar depois do Fleury, dizendo que vai trabalhar pela nossa segurança, e antes do Peroba. Não há credibilidade que resista.’

Para o diretor Rudi Lagemann (‘Anjos do Sol’), existe outro problema insolúvel: o ritmo do programa. Pela divisão de tempo, há ‘o grupo que se reveza em ínfimos segundos e o que se esbalda no paraíso dos longos minutos’.

No Rio de Janeiro, onde mora, Lagemann contou o desfile de 150 candidatos em 20 minutos pela tela da TV. ‘Daria uma média de um candidato a cada oito segundos, ok? Não. Há candidatos que aparecem por dois segundos e outros que dispõem de 30 segundos’, diz.

Entre uns e outros, vem o grupo dos ‘nove segundos’, do qual Lagemann pinçou slogans como: ‘Seu amigo até debaixo d’água’ (Peixinho, PTB); ‘Bandidos e corruptos: estou chegando!’ (Marcos Lopes, PAN); ‘Não sou melhor que os outros, sou diferente. Sou igual a vocês!’ (Jader Ribeiro, PFL).

Conclusão do diretor: ‘Não há roteirista no mundo que consiga resolver o ritmo desta tragicomédia de quinta categoria’. Lagemann, assim como Meirelles, votará em Cristovam Buarque (PDT), por julgar que a educação deve ser a prioridade do Brasil.

Para o roteirista Di Moretti (‘Cabra Cega’), ‘a estrutura narrativa absolutamente conservadora, sem ousadia, monótona e monocórdica dos programas’ é o que afasta a atenção do espectador. Dispensando as opções à Presidência da República, Moretti decidiu pelo voto nulo no dia 1º/10.

David França Mendes (‘No Caminho das Nuvens’), autor e professor de roteiros, avalia que ‘nenhum dos programas utiliza sequer os recursos mais banais da dramaturgia para provocar a curiosidade do espectador’ e todos se aproximam das características do ‘filme chato, aquele que começa a dizer coisas que você não perguntou’. França Mendes ainda não decidiu em quem votar.

Na categoria ‘trilha sonora’, ou melhor, jingles, a propaganda eleitoral tende a ser ‘simples e óbvia, conservadora e retrógrada’, na avaliação do músico Dado Villa-Lobos, recém-premiado com o Kikito no Festival de Gramado, pela trilha do documentário ‘Pro Dia Nascer Feliz’, de João Jardim.

Um exemplo do conservadorismo, segundo Villa-Lobos, é o fato de as campanhas utilizarem o ritmo do forró como se ele fosse a síntese do Brasil. ‘Isso é tratar o eleitor como débil mental’, diz o músico, que anulará o voto a presidente.

Lula faz trailer

Habituados a coordenar campanhas milionárias de estréias nos cinemas, os executivos Rodrigo Saturnino Braga (Columbia Pictures) e Jorge Peregrino (Universal Pictures) analisam a propaganda eleitoral na TV como peça de ‘lançamento dos candidatos’.

‘Lula é o melhor lançamento’, diz Peregrino, porque ‘ele fez um trailer’. E, num trailer, ‘você só mostra as coisas boas. O mau ator, a seqüência mais complicada, tudo que possa indicar um filme ruim pela frente o trailer não mostra’, diz o distribuidor, para quem ‘está difícil’ escolher um candidato.

Para Saturnino, a nova campanha de Lula é comparável ao lançamento de um blockbuster: ‘Todo mundo corre para ver. Não é preciso fazer muito esforço, porque a liderança está garantida’. Para passar à dianteira, Geraldo Alckmin (PSDB) precisaria de ‘uma campanha mais agressiva’, na opinião do executivo. Como está, Alckmin é ‘um filme classe A, para público adulto, com 30 anos ou mais. Um romance, estilo ‘classicão’, que vai bem no Itaim e no Leblon, mas que não pega na área popular’.

O vice-líder, no entanto, tem o voto de Saturnino. ‘Fui correndo ver o primeiro blockbuster e não me encantei. Agora estou com o pé atrás’, diz.”



Folha de S. Paulo

Cobertura da Folha sobre eleição tem a aprovação de 86%

“A cobertura da Folha sobre a eleição presidencial é aprovada por 86% de seus leitores, revela pesquisa Datafolha realizada entre 25 e 27 de agosto. Na opinião de 84%, o jornal dedica ao noticiário da campanha o espaço adequado; 9% avaliam que ele é maior que o necessário, e 7%, menor que o necessário.

A maioria (41%) afirma que o acompanhamento deste ano está igual ao de 2002; 20% avaliam que ele melhorou, e 7% têm a impressão contrária. Um quarto dos leitores (24%) não sabe opinar, e 7% declaram não ter visto a cobertura em 2002.

Dos ouvidos, 86% acompanham as pesquisas do Datafolha sobre intenção de voto. Desses, 61% consideram as pesquisas boas, e 20%, ótimas.

Na opinião de 70% dos leitores, a Folha não está favorecendo nenhum candidato a presidente; 11% acreditam que o jornal favorece o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), 11% afirmam que ele beneficia Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e 3% citam outros nomes.

Questionados se o jornal prejudica algum candidato, 79% respondem negativamente; 7% mencionam Lula; 5%, Alckmin; 1%, Heloísa Helena (PSOL); e 2%, outros candidatos.

A margem de erro da pesquisa, realizada junto a 339 leitores, é de cinco pontos percentuais para mais ou para menos, com um intervalo de confiança de 95%. O levantamento ouviu assinantes e leitores secundários (aqueles que lêem exemplar adquirido por outra pessoa) da Grande São Paulo.

Em relação à intenção de voto, a maioria dos leitores prefere os candidatos do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, e ao governo de São Paulo, José Serra. Para o Senado, Eduardo Suplicy (PT) é o mais votado.

Na eleição presidencial, Alckmin é citado espontaneamente por 41% dos entrevistados, contra 13% de Lula e 7% de Heloísa Helena. Não sabem dizer em quem vão votar 24%. Pretendem anular o voto ou votar em branco 10%.

A intenção de voto em Alckmin cresce conforme a idade, a escolaridade e a renda individual do leitor. Ela atinge 60% entre aqueles com renda superior a 20 salários mínimos.

Na disputa pelo governo paulista, José Serra é lembrado por 49%. Em seguida aparecem Aloizio Mercadante (PT), com 12%, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), com 2%, e Orestes Quércia (PMDB), com 1%. Questionados, 87% dos leitores dizem que o jornal não prejudica nenhum candidato a governador; 5% crêem que ele prejudica Mercadante, e 1%, Plínio.

Para o Senado, Suplicy lidera com 32%, seguido de Guilherme Afif Domingos (PFL), com 14%, Alda Marco Antônio (PMDB), com 1%, e Luiz Carlos Prates (PSTU), com 1%.”



Editorial

A cartada de FHC

“NÃO É a primeira vez que uma manifestação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso causa frenesi na campanha de Geraldo Alckmin. A ‘carta-manifesto’ da quinta-feira foi precedida, em 30 dias, de uma entrevista a uma publicação mensal em que FHC afirmava ser José Serra a pessoa mais preparada para governar o Brasil.

A campanha do ex-governador paulista apenas se iniciava, embora a perspectiva de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno já começasse a se expressar nas pesquisas. Na longa e tonitruante ‘Carta aos eleitores do PSDB’, Fernando Henrique volta à carga. No subtexto está a luta de gerações e grupos políticos, interna ao tucanato, que não foi resolvida com a indicação do nome de Alckmin para encabeçar a chapa presidencial.

É evidente o potencial desagregador da intervenção de FHC para a candidatura do ex-governador paulista. Pregar ao futuro do partido, permitir-se criticar com acidez a estratégia eleitoral tucana, denunciar, a esta altura, falhas no encaminhamento da questão Azeredo e na política de segurança pública da gestão Alckmin em São Paulo é como supor que a atual disputa pela Presidência esteja liquidada. É como lançar-se na luta política pela hegemonia no PSDB com vistas à sucessão de 2010.

É verdade que o texto é tão sinuoso, atira para tantos lados, que numa eventual recuperação das chances de Alckmin, se poderá ler nele o germe anímico da reação. Dificilmente, no entanto, essa mais recente cartada de FHC deixará de ser vista, seja qual for o desempenho final do candidato do PSDB em outubro, como mais um torpedo a dinamitar pontes entre pelo menos três grupos políticos na legenda.

Fernando Henrique fala por si, defende o legado de seus oito anos de governo -legado tido como impopular e, pelo jeito, difícil de ser defendido por Alckmin. Mas a carta não é apenas uma tentativa pessoal do ex-presidente de permanecer à tona a partir de 2007. FHC também busca manter a viabilidade da chamada velha guarda tucana nas disputas que se avizinham na sigla. Quem encarna o projeto do ex-presidente é José Serra.

Se as urnas reproduzirem o que hoje dizem as pesquisas, haverá no PSDB dois pólos em condições de disputar a sucessão presidencial daqui a quatro anos: Serra, no governo paulista, e Aécio Neves, no mineiro.

O governador de Minas representa mais que uma aventura pessoal ou um projeto partidário. Seu altíssimo índice de intenções de voto e seu arco de alianças de amplitude ímpar o credenciam como liderança ungida do segundo maior colégio eleitoral. Sua vocação para minimizar inimizades e manter diálogo estreito com Lula -ainda que não o leve a uma improvável aliança com o presidente- abre-lhe o horizonte para um acúmulo de forças de escala nacional.

Aécio Neves parece ser o alvo estratégico de Fernando Henrique. Se a indicação de Serra para o Planalto escapou pelos vãos dos dedos do ex-presidente neste ano, uma derrota semelhante em 2010 estaria muito próxima de sepultar o seu grupo político. Mas tudo muda -e aí está o maior risco da cartada- se Alckmin surpreender e conseguir bater Lula em outubro. As exéquias poderiam ser antecipadas.”



Pedro Dias Leite e Eduardo Scolese

Lula retoca foto-símbolo da campanha

“O céu é mais azul na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição. A segurança desaparece, a mão estendida no vazio sumiu. Só o sorriso do menino e o cabelo desalinhado permanecem iguais na foto-símbolo de sua campanha, registrada em março por um fotógrafo oficial da Presidência, na Bahia.

A foto aparece em todos os palanques dos comícios de Lula, sempre em tamanho gigante, e é apresentada no site oficial do candidato como ‘a’ foto da campanha.

Mas naquele 21 de março, no município de Lauro de Freitas (BA), nem tudo era assim. O céu estava com muitas nuvens. O chefe da segurança de Lula, general Marco Edson Gonçalves Dias, se destacava ao fundo. Uma mão estendida no vazio estava em primeiro plano. Havia uma grande tenda branca mais atrás, que também desapareceu no novo retrato.

Na foto retocada, o céu é azul, com pouquíssimas nuvens brancas, colocadas ali. O general sumiu, assim como a mão. Mulheres foram inseridas no lugar do segurança. Lula continua suado por causa do calor baiano. Há ao menos três versões da foto. A primeira, original, com todos os elementos. Uma segunda, utilizada na convenção de Lula, em 24 de junho, com o toldo branco. E a última, ‘limpa’ para publicidade.

Não é a primeira vez que a propaganda de Lula altera a realidade. Na campanha de 2002, uma das peças publicitárias que mais causou impacto tinha uma grande ajuda da equipe de marketing de então, que era comandada pelo publicitário Duda Mendonça.

O anúncio que ficou conhecido como ‘as grávidas de Lula’ tinha falsas grávidas, com barrigas artificiais, feitas de enchimentos. Sob a trilha musical do ‘Bolero’, do francês Maurice Ravel (1875-1937), a modelo Cecília Martins Lima Barbosa era uma das falsas grávidas. ‘Colocaram uma barriga de espuma em mim. Ficou como seu eu tivesse oito meses de gravidez’, disse ela à Folha em 2003, então com 20 anos.

Em 2004, um outro caso chamou a atenção, numa campanha feita por Duda sob o slogan ‘O trabalho sério já começa a dar resultados’. A idéia era divulgar ações e investimentos destinados à agricultura familiar e a agricultores de baixa renda, mas o governo utilizou imagens captadas em uma grande propriedade rural da região de Cotia (Grande São Paulo), que não fazia parte do programa do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Os trabalhadores que apareciam na peça publicitária também não eram pequenos agricultores, mas sim funcionários de um empresário rural que tinha propriedades de área total de 1 milhão de metros quadrados, com produção diária de dez toneladas de verduras.

Segundo fotógrafos profissionais, é normal a alteração de fotos, principalmente com programas de edição, como o Photoshop. Nas imagens produzidas em estúdio, maquiagem e iluminação também são fundamentais para que o candidato apareça mais jovem, mais atraente e até mais confiável.

Mesmo a história mostra que alterações em fotos são comuns com fins publicitários e até ideológicos. A que talvez seja a mais famosa alteração da história é aquela em que Vladimir Lenin discursava para os bolcheviques na praça Vermelha, em Moscou. Leon Trótski estava ao lado do fundador da União Soviética, mas foi apagado anos depois pela propaganda de seu arqui-rival, o ditador Joseph Stalin.

Não é só na foto de campanha que o retrato está melhor que na vida real. Recentemente, Lula também se rendeu ao uso do botox, a substância que ameniza rugas e traços de expressão. A técnica ajuda o candidato a parecer mais jovem. Em aparições logo depois das aplicações, o rosto do petista mal se movia.”



TELEVISÃO
Bruno Segadilha

Bellotto inicia nova fase de ‘Afinando a Língua’

“Há sete anos no comando do programa ‘Afinando a Língua’, Tony Bellotto, 46, se sente em casa. Tanto que na nova temporada da atração, que estréia amanhã no canal Futura, chega cercado de fotos de família.

É entre imagens de parentes e de sua juventude que o guitarrista dos Titãs e escritor pretende mostrar que a língua está presente nos fragmentos da vida comum. Criado em 1999, ‘Afinando a Língua’ tem como objetivo conferir um ar mais jovem e despojado ao estudo de literatura e gramática.

‘Não sou nenhum professor Pasquale, mas tenho que ter um certo conhecimento da língua, sou bastante exigente comigo mesmo’, afirma o apresentador, que representa a imagem de ‘inteligência descolada’ que o canal procurava para o comando da atração. Bellotto diz ter uma preocupação com o português tanto em suas músicas quanto em seus romances (é autor das histórias do detetive Bellini). ‘Procuro fazer um bom uso das palavras, consulto sempre o dicionário.

Antes de entregar qualquer texto, me policio ao máximo e pergunto.’

Novas bandas

Na atual temporada, além das questões lingüísticas, o programa recebe a visita de algumas bandas novas no cenário da música carioca, iniciativa da diretora do programa, Rosane Svartman, e do produtor cultural Bruno Levinson, criador do do festival Humaitá pra Peixe, especializado em descobrir novos talentos. Entre as revelações, Bellotto destaca a participação do grupo Lasciva Lula.

‘O produto dessas bandas é muito mais elaborado e evoluído do que quando a gente começou há 20 e poucos anos. Cada uma apresenta um trabalho diferente do outro, acho interessante essa pluralidade.’

A diversidade, aliás, parece ser uma das linhas mestras da múltipla carreira de Bellotto, que, além do programa, também encontra tempo para se dedicar à produção de roteiros para a TV (participa da equipe de criação da série ‘Mandrake’, produzida pelo canal pago HBO), à elaboração de um novo livro (cujo tema não fala ‘para não dar azar’) e, claro, aos Titãs. A banda excursiona com a turnê do último CD, o ‘Titãs -MTV ao Vivo’, e já começa a pensar em um novo álbum.

Tantos tiros não comprometem o foco musical da carreira? ‘Não só não atrapalham como são fundamentais para a permanência do grupo. Em uma banda como a nossa, em que todos têm voz ativa, isso é uma válvula de escape. Apesar de abrir a possibilidade de alguns saírem, como aconteceu com o Arnaldo [Antunes] e o Nando [Reis], vale a pena o risco.’

AFINANDO A LÍNGUA

Quando: amanhã, às 22h20

Onde: Canal Futura”



Bia Abramo

‘Nossos’ atores vencerão nos EUA?

“BRUNO CAMPOS está na terceira temporada de ‘Nip/Tuck’! Rodrigo Santoro vai participar de ‘Lost’! Sonia Braga, depois de uma carreira tão profícua quanto irregular nos Estados Unidos, integra o elenco de ‘Páginas da Vida’!

Os pontos de exclamação servem de indicadores do valor ‘notícia’ que esses fatos acabaram assumindo. Os três acontecimentos tornaram-se assunto, foram destacados na mídia e mereceram textos com alguma extensão e visibilidade. Traço do nosso provincianismo crônico isso de ficar medindo e contabilizando qualquer movimento de mais ou menos sucesso que um dos ‘nossos’ faça ‘lá fora’. Sobretudo quando o ‘lá fora’ é a pujante indústria audiovisual norte-americana. Em época de Oscar, tem sido quase patética a torcida pela indicação e, quiçá, premiação deste ou daquele filme brasileiro.

Algumas cinematografias, como a italiana do pós-Segunda Guerra, a francesa nos anos 80, ou autores como Pedro Almodóvar conseguiram furar a barreira xenófoba do cinema hollywoodiano e emplacar atores e atrizes com tradições, belezas e sotaques francamente estrangeiros. Com o Brasil, a ‘entrada’ no imaginário se dá via produção televisiva.

Lentamente, nomes brasileiros chegam com proeminência nos créditos de seriados. O curioso é que, em geral, o elemento Brasil entra no cenário norte-americano pela via de uma latinidade genérica que é veementemente negada pela cultura brazuca. Por mais que nos consideremos especiais, à parte da cafonice da América hispânica, para os EUA somos tão latinos quanto mexicanos, peruanos e argentinos.

Em que pesem todas essas considerações, é mesmo um fator de atração observar como os atores brasileiros se adaptam ao naturalismo da interpretação norte-americana ou, ao contrário, que curtos-circuitos a escola de lá provoca nas produções de cá. Não é o caso de Bruno Campos em ‘Nip/Tuck’, uma vez que, apesar de ter nascido e estreado aqui (em ‘O Quatrilho’), passou a maior parte da vida nos EUA e é quase gringo. Mas tem sido divertido ver Sonia Braga, a atriz que encarnou uma beleza ‘ideal’ brasileira com Gabriela, voltar, 30 anos mais tarde, em uma roupagem cosmopolita, sofisticada e ‘nova-iorquinizada’ para o Leblon protocivilizado de Manoel Carlos.

Assim como será um enigma ver como Santoro vai se sair na sua missão espinhosa de competir com os atores do ultrahypado ‘Lost’. Será que o bonitão terá alguma chance de se destacar em uma das mais intrigantes séries dos últimos tempos?

biabramo.tv@uol.com.br



Laura Mattos

Repórter ‘viajandão’ sobe ibope da Record com as suas aventuras

“Quantas vezes você esteve na Índia nos últimos 12 anos? Quinze é a resposta de Arthur Veríssimo, 42, jornalista que faz sucesso do descolado mundo da revista ‘Trip’ ao popular ‘Programa do Ratinho’. Desta vez, ele leva suas viagens para o ‘Domingo Espetacular’, o ‘Fantástico’ da Record.

‘Planeta Estranho’, série de produção independente com 16 episódios, estreou no último domingo e registrou 13 pontos de média, com pico de 15 no Ibope da Grande São Paulo. Foi um ótimo resultado, visto que o programa teve média de nove (cada ponto equivale a 55 mil domicílios na Grande SP).

São 13 pequenos documentários (de dez a 15 minutos) com costumes curiosos e surpreendentes da Índia, dois de Papua-Nova Guiné e um das Filipinas.

A foto à direita deste texto é um exemplo típico do ‘modus operandi’ de Veríssimo, que não só mostra curiosidades como ‘se joga’ nas mais malucas experiências. Em Papua, ele veste uma koteka, adorno peniano utilizado por tribos que, conta o repórter, ‘vivem como seus antepassados há 8.000 anos’. O adereço foi presenteado a ele por aborígenes.

Nas Filipinas, Veríssimo registra a popularidade das brigas de galo, proibidas no Brasil.

A série, no entanto, começa pela Índia, a grande especialidade do repórter, que pratica ioga e já foi devoto do budismo tibetano. Dois dos episódios retratam o popular festival de camelos, no coração do deserto do Rajastão. Realizado há milhares de anos, esse ‘feirão’ serve para compra, venda e troca dos animais, que têm seus dentes, cascos, olhos, orelhas e corcovas supervisionados com cuidado pelos interessados. ‘Parece uma história das mil e uma noites’, afirma Veríssimo.

Há também imagens do concurso do mais longo bigode, com exemplares medindo até três metros de comprimento.

O repórter ainda se arrisca a subir em uma perigosa roda-gigante. ‘Como um suicida, mostro o estado das correntes, como esses brinquedos são mal conservados por lá’, narra.

A série é co-produzida pela Cinema Centro, com produção-executiva de Marcelo Braga. O cinegrafista que se aventura com Veríssimo em ‘Planeta Estranho’ é Tony Nogueira.”

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Carta Maior

BBC

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