Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Folha de S. Paulo

CENSURA
Flávio Ferreira

Marinho obtém liminar para tirar da internet notícia publicada na Folha

‘O ex-ministro e candidato a prefeito de São Bernardo do Campo (SP) Luiz Marinho (PT) obteve uma liminar na Justiça para que a Folha Online retire do seu acervo digital uma reportagem de 2005 que, segundo o candidato petista, está sendo divulgada por e-mail por adversários políticos para prejudicá-lo.

Os advogados do Grupo Folha apresentaram ontem uma defesa contra a concessão da liminar, sob o argumento de que a decisão configura censura à imprensa. ‘Não se pode confundir notícia jornalística com propaganda eleitoral irregular promovida por terceiros’, disse Maurício de Carvalho Araújo, advogado da empresa.

A reportagem de 20 de outubro de 2005, objeto da representação, relata que, em entrevista ao jornal alemão ‘Die Welt’, o ex-gerente de Recursos Humanos da Volkswagen Klaus Joachim Gebauer disse que Marinho visitou uma boate na Alemanha às custas da fabricante de carros. Marinho e a montadora negaram.

Segundo Marcos Moreira, advogado do candidato, adversários de Marinho estão enviando e-mails para eleitores com um link para a reportagem armazenada no arquivo digital da Folha Online, o que estaria afetando a imagem do ex-ministro petista.

No texto da decisão de concessão da liminar, o juiz de direito da 296ª Zona Eleitoral de São Bernardo do Campo Wagner Roby Gídaro afirma que ‘é proibida a propaganda eleitoral na qual se aproveitam de fatos que possam caluniar, injuriar ou difamar o candidato’, e, por este motivo, o magistrado ‘não se furta a determinar aos candidatos, coligações e partidos envolvidos nessa campanha eleitoral de 2008, e até mesmo mantenedoras de páginas de internet, obrigação de não fazer consistente em não divulgar matéria que possa difamar candidato’.

Segundo a defesa do Grupo Folha, ‘as matérias publicadas no site da Folha Online são apenas notícias, um registro histórico de fatos de interesse público, que não podem ser apagadas do papel, do site jornalístico ou da história’.

Araújo informou que a decisão judicial será cumprida e que foi apresentado um requerimento de revogação imediata da liminar.’

 

 

CRISE
Clóvis Rossi

Ainda sobrou um otimista

‘MADRI – Não está entendendo o que ocorre na ciranda financeira global? Quase ninguém está. Tanto que dois professores de universidades de um mesmo país, os Estados Unidos, escrevem textos diametralmente opostos sobre o que vai acontecer com o mundo.

Em seu ‘site’ e na entrevista que deu a Sérgio Dávila, desta Folha, Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, prevê o apocalipse, fiel à todas as suas previsões anteriores: ‘O mundo corre sério risco de um derretimento global sistêmico e de uma severa depressão global’.

Já Casey B. Mulligan (Universidade de Chicago) diz o oposto. ‘O setor não-financeiro de nossa economia não sofrerá muito, mesmo em uma prolongada crise bancária, porque a importância geral dos bancos tem sido muito exagerada’.

O pior é que ambos trabalham não apenas com suas opiniões -firmes, muito firmes, como se vê- mas também com números da vida real. Os de Roubini já são conhecidos, e 99,9% das pessoas que comandam o mundo parecem acreditar neles.

Por isso, repasso ao leitor -que merece um pouco de cor-de-rosa- os números de Mulligan: 1 – Balanços das empresas dos EUA mostram nos últimos 18 meses um retorno de 10 centavos de dólar para cada dólar de capital investido. A média histórica, antes da crise, é inferior (entre 7% e 8%).

2 – ‘A pesquisa econômica tem demonstrado repetidamente que as oscilações do setor financeiro como as atuais dificilmente estão conectadas com a performance do setor não-financeiro. Estudos mostram que o crescimento econômico não pode ser previsto a partir da expectativa de retorno de títulos do governo, ações ou depósitos em poupança’.

Não tenho a mais remota idéia de qual dos dois está certo (talvez nenhum esteja inteiramente certo), mas meu coração está com o professor de Chicago, quem diria.’

 

 

Fernando Rodrigues

O pânico derivado

‘NOVA YORK – A boataria dominou os mercados ontem. Ford e GM tiveram de negar que estivessem falindo ou pedindo concordata. A Casa Branca precisou declarar desinteresse pelo plano de decretar feriado nos mercados financeiros. O presidente norte-americano praticamente pediu clemência às Bolsas de Valores num depoimento infeliz e ineficaz na TV. Nada adiantou. Ontem a Bolsa de Valores de Nova York fechou sua pior semana nos seus 112 anos de vida. Os papéis despencam há oito pregões consecutivos. A semana acumulou uma desvalorização de 18%. Já se pode usar, sem medo de errar, a expressão ‘crash’ (quebra) dos mercados. É importante registrar esse momento, pois as quedas recentes eram ainda sempre menores em algum sentido do que as registradas em anos passados. A diferença agora parece ser o total descontrole dos agentes reguladores nos Estados Unidos, a incompetência e a tibieza política de George W. Bush e a globalização completa do mercado de ações. Em nenhum dos outros ‘crashes’ o mundo estava tão integrado. Mesmo no início da década, quando explodiu a bolha das empresas ‘pontocom’, tratava-se de um setor específico. Havia ramificações, mas nada comparável à explosão dos chamados derivativos. Há na praça US$ 531,2 trilhões de contratos de derivativos. Grosso modo, uns 500 ‘Brasis’. Em 2002, o total era de US$ 106 trilhões. Não se sabe exatamente o quanto, mas uma parcela gigantesca desses papéis não vale nada. Esse é o DNA do atual colapso financeiro. Se as reuniões do G7 e do G20 não chegarem a um consenso neste fim de semana sobre como tornar esse tipo de mercado mais regulado, nada adiantará injetar dinheiro nos bancos. Será como enxugar gelo. Não há US$ 531 trilhões disponíveis para que todos os derivativos sejam honrados no mundo.’

 

 

CAMPANHA
Ruy Castro

A tanga e a sunga

‘RIO DE JANEIRO – Em 1979, já presidente da República, o general João Figueiredo deixou-se fotografar de sunga e busto nu na Granja do Torto, exibindo um vigor físico invejável para um homem de 61 anos. E mais ainda por estar de tênis e meias, o que parecia realçar seus tendões, músculos e veias.

A foto era assustadora, não apenas por mostrar um presidente em trajes tão exíguos, mas por Figueiredo ser como era, brabo e meio grosso. Montava a cavalo pela manhã, varava de moto, sozinho, as ruas de Brasília durante a madrugada, e ameaçava prender e arrebentar quem se opusesse à abertura política que ele prometera.

Apesar disso, nunca ouvi nenhuma mulher suspirar ao vê-lo de sunga na tal foto. Ao contrário, havia algo de cafona e démodé naquela macheza explícita, pelo que diziam. Menos de um ano depois, em 1980, outra personalidade política brasileira -o ex-jornalista Fernando Gabeira, 39 anos, recém-chegado de quase dez anos de exílio- também se deixava fotografar, na praia de Ipanema, num traje sumário. Na verdade, mais sumário ainda: a tanga de sua prima Leda Nagle.

Em matéria de apuro físico, Gabeira não era páreo para o sarado Figueiredo. Magro por natureza, o exílio só enfatizara sua compleição frágil, quase esquelética, que aquele ridículo cache-sex expunha ao sol. Com tudo isso, as mulheres caíram em cima -Gabeira era um sucesso com elas, como sempre fora.

Na segunda-feira última, dia seguinte ao primeiro turno da eleição para a Prefeitura do Rio, Gabeira deixou-se fotografar de novo em trajes de banho, agora de sunga. Jornais e TVs despejaram ironias. Os adversários riram de orelha a orelha e analistas viram naquilo um golpe mortal em suas aspirações para o segundo turno. Dois dias depois, em nova pesquisa, Gabeira ultrapassou o favorito Eduardo Paes.’

 

 

INTERNET
Folha de S. Paulo

Lula critica restrição do TSE à propaganda eleitoral na internet

‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que é ‘negar o direito de expressão’ a restrição imposta pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de usar a internet como instrumento de propaganda eleitoral.

‘Eu acho que negar a informação ou proibir as pessoas de fazerem a propaganda que quiserem fazer de seus candidatos é negar o direito de expressão, que é tão legítimo quanto qualquer outra coisa que pode passar na internet’, disse ontem, em entrevista aos portais UOL, Terra, G1 (Globo), iG e Limão (Grupo Estado).

A limitação imposta pelo TSE está prevista na resolução nº 22.718, que serve de guia para as eleições deste ano. O ponto polêmico foi o fato de o TSE ter equiparado legalmente a internet ao rádio e à televisão, que são concessões públicas.

A legislação eleitoral proíbe a mídia eletrônica de difundir opinião favorável ou contrária a candidato e ainda de dar tratamento diferenciado aos postulantes. Já os jornais e revistas, que são empresas privadas, não sofrem restrições. Com a resolução, ferramentas da internet -como blog, e-mail, web TV, web rádio e páginas de notícias, de bate-papo, de vídeos ou comunidades virtuais- não podem ser usadas para divulgar imagens ou opiniões de apoio ou crítica a candidatos.

Lula afirmou, entretanto, que os sites podem acabar servindo de ferramenta para ataques e que é preciso responsabilidade. ‘Se você for candidato e estiver sendo vítima da internet, certamente concordaria [com a proibição do TSE]. Se você for um cidadão brasileiro ou o presidente da República, que ama a liberdade de expressão e de comunicação, nós achamos que precisamos cuidar da melhor maneira possível para que os meios de comunicação, inclusive a internet, funcionem da forma mais aberta e com a maior responsabilidade possível’, disse o petista.

No final, afirmou: ‘Nós precisamos tomar cuidado para, em nome de estabelecer uma regra de funcionamento que não coloque em risco a sociedade no caso da pedofilia -que eu vi cenas mostradas pelo Senado, realmente é abominável-, nós temos que ter um acordo, inclusive com os provedores, que têm responsabilidade de não permitir que aquilo aconteça. Mas fora isso, em se tratando de debate cultural, político, econômico, viva a internet’.

Ele disse que usa a web para baixar músicas e para presentear amigos.’

 

 

FUTEBOL
Painel do Leitor

Repúdio

‘‘Nos últimos anos, venho sendo constantemente agredido, profissional e moralmente, pelo colunista Juca Kfouri.

A perseguição se escancarou quando da minha transferência do Palmeiras para o Cruzeiro, em 2002. O jornalista tentou imputar-me a pecha de mercenário, afirmou levianamente que meu caráter era duvidoso e aconselhou o Cruzeiro e demais clubes de futebol a prestarem atenção aos meus atos. Disse que comigo não iriam ganhar títulos e acabariam se arrependendo pela minha contratação. Naquela ocasião, promovi-lhe um processo de indenização por dano moral e ganhei. O processo está no TJ.

Para decepção do jornalista, conquistamos tudo em 2003, mesmo lançando à época nove jogadores da divisão de base.

Mas Juca segue destilando veneno e maldade. Insinua irregularidades e oníricos atos obscuros em meu comportamento, atua de forma dissimulada, através de frases dúbias. Cria textos vazios de provas.

A sua obsessão em denegrir a minha pessoa não tem limites.

Agora procura também denegrir o Instituto Wanderlei Luxemburgo, cujo único objetivo é o de tentar melhorar o nível dos profissionais envolvidos com o futebol.

Minha conduta, como pai de família, como avô, como profissional de futebol e como cidadão brasileiro, tem sido marcada muito mais por acertos do que por erros, graças a Deus e à minha competência.

Sigo o meu caminho. Tenho uma família exemplar, muitos amigos.

Mas não posso deixar de repudiar a perseguição obsessiva da qual estou sendo alvo.

A vida em sociedade é semelhante à vida na selva. Entre os animais selvagens, quem vive sem esforço são os abutres. A titânica luta dos outros animais para sobreviverem torna-se seu alvo. A ave de rapina fica à espreita, torcendo pelo fracasso. Alimenta-se dos fracassos… Jamais me alinharei no time dos ‘abutres’. Ficamos assim: que os abutres também sigam em frente, afinal são abutres! Eu continuarei feliz, me esforçando, realizando e conquistando.’

VANDERLEI LUXEMBURGO DA SILVA (São Paulo, SP)

 

 

JORNAL
Folha de S. Paulo

Folha lança amanhã editoria de saúde diária

‘A partir de amanhã, a Folha passa a publicar uma seção diária de notícias de saúde, no caderno Cotidiano.

O objetivo é aprofundar a cobertura em temas que interessam diretamente aos leitores, cada vez mais preocupados com qualidade de vida. Serão acompanhadas as pesquisas médicas e os novos tratamentos e diagnósticos.

As reportagens serão publicadas com infográficos que detalhem e aprofundem os assuntos abordados no texto. ‘A proposta é reunir informações de aplicação prática e interesse imediato em textos claros e infográficos atraentes’, diz a editora de Saúde e do Equilíbrio, Beatriz Peres.

O leitor também encontrará diariamente pequenas seções de leitura rápida. Haverá destaque para dicas para viver melhor, receitas caseiras com eficácia comprovada e uma programação selecionada de palestras, cursos e outros eventos gratuitos e abertos à população em geral. Na seção ‘Boa Pergunta’, especialistas convidados responderão semanalmente às dúvidas enviadas pelos leitores à Redação.

Para participar, escreva para folhasaude@uol.com.br, informando seu nome completo, idade, cidade e profissão.

A coluna semanal Plantão Médico, do cardiologista Julio Abramczyk, continua a ser publicada todos os domingos, agora nesse novo espaço.’

 

 

FOTOGRAFIA
Eder Chiodetto

Na Etiópia, Duran tenta fugir de imagens de celebridades

‘Uma incursão que busca o ponto de equilíbrio entre o olhar antropológico, a tradição do retrato e o olhar fustigado da moda pode ser uma tentativa de encontrar o eixo sobre o qual se assenta ‘Cadernos Etíopes’, novo livro do fotógrafo J. R. Duran, 56, lançado recentemente pela editora Cosac Naify. Conhecido pelo seu trabalho voltado ao mercado editorial, sobretudo de nus femininos e moda, Duran tem realizado um esforço para se livrar deste estigma que julga um tanto quanto redutor. Nos últimos anos, trouxe a público fotografias de ralis, escreveu dois romances, passou a integrar o time de artistas da galeria Leme, em São Paulo, lançou e editou entre 2000 e 2005 a revista ‘Freeze’, onde assinava fotos de suas viagens à África, que se tornaram comuns a partir de 1999, com o pseudônimo Rigel Dantas, denunciando ainda mais sua vontade de ser visto pelo público como um outro. ‘Cadernos Etíopes’, além de fazer parte deste projeto de tirar de foco o personagem fotógrafo-celebridade que o consagrou no mercado, narra em ritmo de diário sua aventura às margens do rio Omo, na Etiópia, por 28 dias. Um complexo planejamento estratégico foi traçado para que o fotógrafo pudesse ter liberdade de ação e condições de trabalho, o que incluiu um guia que organiza excursões na região. Trata-se de um ensaio fotográfico de difícil classificação. O próprio fotógrafo diz não se tratar de fotojornalismo e, de fato, não é. Para tanto seria necessária narrativa mais sólida, uma curiosidade que desvelasse de forma mais contundente o dia-a-dia dessas pessoas. Para aspirar a ser um estudo antropológico falta profundidade, convivência, proximidade para entender a fundo e então poder representar modos de vidas e culturas tão amplamente diferentes das de quem vive deste lado do mundo.

Olhar que sensualiza

As 84 fotografias em preto-e-branco das tribos Karo, Dhasanech, Nyangatom, Hamer e Mursi, na verdade, faz emergir em J. R. Duran mais de J. R. Duran. Parece não haver pseudônimo, distância geográfica, viés antropológico, ou seja lá o que for, capaz de modificar a estética por ele construída ao longo da vida para resolver o instante em que uma câmera se interpõe entre ele e outro sujeito. Estão ali, como estão em seus conhecidos editoriais para revistas masculinas e femininas, o olhar inequívoco que sensualiza sobremaneira os corpos e o efeito da luz sobre os mesmos, a frontalidade reveladora do olho no olho, a valorização de adornos, colares, maquiagem, marcas típicas, que escondem-revelam os corpos, num jogo lúdico que denota ao mesmo tempo o desejo de aproximação e decifração do universo simbólico do outro e a consciência da impossibilidade de tal empreitada, que inevitavelmente resvala para um olhar de superfície, para a constatação de uma fratura irreconciliável entre culturas divergentes. J. R. Duran segue em seu barco sobre águas intermitentes, por vezes turbulentas, buscando a terceira margem do rio para, enfim, ver o outro de forma íntegra, até que ele próprio se transforme no seu outro idealizado. Navegar é preciso.

CADERNOS ETÍOPES

Autor: J.R. Duran

Editora: Cosac Naify

Quanto: R$ 65 (192 págs.)

Avaliação: regular’

 

 

LITERATURA
Eduardo Simões e Sylvia Colombo

Nobel no banco dos réus

‘DA REPORTAGEM LOCAL As declarações infelizes do secretário e porta-voz da Academia Sueca, Horace Engdahl, nas últimas semanas, têm causado polêmica no meio cultural internacional e colaborado para desacreditar o Nobel, mais célebre prêmio literário do mundo -pelo menos até hoje.

Anteontem, quando foi anunciado que o galardão seria concedido ao francês J.M.G. Le Clézio [pronuncia-se lê clêziô], Engdahl justificou o prêmio pelo fato de o escritor ter como tema outras civilizações e modos de vida além do ocidental.

Até aí, aparentemente, tudo bem. Só que a declaração apenas veio reforçar a deliberada política do Nobel de não premiar autores norte-americanos nos últimos tempos.

Os argumentos do secretário são que a Europa está no centro do mundo literário, que é o único lugar que dá tranqüilidade a um escritor para trabalhar sem ser ‘massacrado’ e que os EUA são um país isolado do diálogo internacional, por não traduzirem a produção de outros países e não se distanciarem da cultura de massas.

Ou seja, à reincidência de erros históricos -como não ter premiado Jorge Luis Borges e privilegiado autores obscuros- a Academia Sueca acrescenta um preconceito ideológico a suas escolhas e põe em risco a legitimidade e o reconhecimento do prêmio Nobel.

O diretor da revista norte-americana ‘New Yorker’ foi o primeiro a soltar o verbo contra Engdahl, dizendo que a obra de autores como seus compatriotas Philip Roth e John Updike não são afetadas ‘pelos efeitos devastadores da Coca-Cola’.

Em entrevista à Folha, Remnick acrescentou que as colocações de Engdahl mostram ignorância com relação ao cenário de seu país. ‘Sua análise é banal e presunçosa.’

O jornalista afirma que sempre houve dúvidas quanto ao Nobel. ‘A lista de omissões é muitas vezes mais contundente do que a de premiados.’

E diz ainda que, entre os que já deveriam ter sido premiados, estão os acima mencionados Roth, Updike, e ainda os também norte-americanos Don DeLillo e Thomas Pynchon, o britânico Ian McEwan e o peruano Mario Vargas Llosa.

Antiamericanismo

Para o crítico da Folha Manuel da Costa Pinto, o Nobel nunca deixou de ter tom político, ‘a diferença é que agora está mais evidente o antiamericanismo vigente na Europa’.

O colunista do diário britânico ‘The Guardian’ Mark Lawson, em artigo publicado ontem, escreveu que a escolha de Le Clézio reforça a suspeita de que o comitê responsável pelo Nobel está resistindo a reconhecer a literatura norte-americana. Para ele, críticos dos dois lados do Atlântico considerariam os EUA como a atual ‘superpotência literária’.

Lawson também comenta o que chama de ‘excêntrica leitura’ da produção contemporânea dos EUA, por parte da Academia Sueca: o fato de que apenas Saul Bellow e Toni Morrison foram premiados nos últimos 32 anos. ‘É impossível negar que as decisões têm direcionamento político.’

O diretor da fundação que concede o National Book Award, um dos mais importantes prêmios literários dos EUA, Harold Augenbraum, considera que a opção da Academia de ‘fazer uma avaliação estética baseada no que parece ser um julgamento político é errado’.

Augenbraum considera uma ironia o fato de que Le Clézio seja conhecido por seu trabalho que aborda diversas perspectivas da cultura, sendo que esse tipo de literatura tornou-se um marco da produção norte-americana. ‘Veja a obra de Junot Díaz [de origem dominicana], Jhumpa Lahiri [indiana] e Aleksandar Hemon [bósnio], todos imigrantes nos EUA que escrevem em inglês, mas não tiraram seus países de origem de seu consciente.’

Raphaëlle Rérolle, editora-adjunta do ‘Monde des Livres’, suplemento literário do jornal francês ‘Le Monde’, crê que uma parte interessante da literatura americana não fala somente dos EUA, mas de toda a humanidade, caso das obras de Roth e Norman Rush. ‘Há também escritores que falaram unicamente de seu cantinho nos EUA, como Faulkner, mas que são maravilhosos.’

Tradução

Com relação à insuficiência de traduções, uma das razões apontadas por Engdhal para o distanciamento dos EUA do debate literário, Esther Allen, diretora do fundo de tradução do Pen Club (associação mundial de escritores), em Nova York, diz que, de certo modo, ele está certo, mas que há uma grande preocupação com o tema. Segundo ela, editores e festivais têm se dedicado a promover literatura traduzida. ‘Ele pode ter feito um enorme favor a todos que trabalhamos com isso, ao chamar a atenção do mundo para o assunto.’

Rérolle concorda com Allen. ‘As críticas ao sistema editorial americano até são válidas.’ Mas acrescenta: ‘É injusto que recaiam sobre os autores. Não é um ponto de vista eurocêntrico, mas antiamericanista’.’

 

 

TELEVISÃO
Ivan Finotti

Caixa reúne primeira temporada de ‘He-Man’

‘Uma caixa de lata com 12 DVDs traz a primeira temporada completa do desenho que se tornou um fenômeno pop no Brasil na década de 80: ‘He-Man’. Além de personagens marcantes como Maligna, Aquático, Gato Guerreiro e Pacato, uma frase não saía da boca da criançada: ‘Pelos poderes de Grayskull… Eu tenho a força’. E havia a lição, ao final: ‘Como vimos, o Esqueleto voltou ao passado para tentar prejudicar as pessoas. Na realidade, ninguém pode voltar ao pas- sado. Mas podemos aprender com o que aconteceu para melhorarmos como seres humanos. Até a próxima, amiguinho’. Os DVDs já haviam sido lançados em dois volumes no ano passado, mas, agora, os 65 primeiros desenhos chegam embalados em uma edição de colecionador. A caixa traz documentários, storyboards, galerias etc. O melhor dos documentários é ‘As Origens Secretas de He-Man’. Nada secreta, é uma origem curiosa: a Mattel criou uma série de bonecos e, para vendê-los mais, encomendou à produtora Filmation histórias com aqueles personagens -a série de desenhos estreou nos Estados Unidos em 30 de setembro de 1983. Aqui, o desenho fechava o ‘Xou da Xuxa’, na Globo. A dublagem dos DVDs é a mesma.

HE-MAN – 1ª TEMPORADA (12 DVDs)

Distribuidora: Focus Filmes

Quanto: R$ 150, em média

Classificação indicativa: livre’

 

 

Lúcia Valentim Rodrigues

Canais celebram o Dia das Crianças

‘Se o frio e a chuva não derem trégua, é bem possível que este final de semana dedicado às crianças seja passado dentro de casa. Ligar a televisão vai ser quase inevitável.

Querendo agradar a esse pequeno espectador, os canais voltados ao público infantil programaram algumas maratonas na manhã de domingo.

A TV Cultura tem a melhor opção, com o ‘Cambalhota’ sendo transmitido ao vivo a partir das 9h. Dentro dele, além de desenhos, vai ser exibido ‘Pedro e o Lobo’, com narração de Giulia Gam e participação da Orquestra Sinfônica da USP, em reprodução da peça encenada no Auditório Ibirapuera em junho último. A manipulação dos bonecos gigantes é um espetáculo à parte, que vale tanto quanto o musical.

Depois, segue a premiada animação japonesa ‘A Viagem de Chihiro’, de Hayao Miyazaki, um colírio no meio dos desenhos violentos de hoje.

Hoje, às 12h30, o canal estréia episódios inéditos do ‘Baú de Histórias’, contando a invenção de instrumentos musicais e seus países de origem.

O Discovery Kids investe em piratas, com seus personagens todos em busca de algum tesouro, desde os Backyardigans até o Barney e o LazyTown.

Já no Cartoon, a programação das 10h às 18h é secreta, com episódios duplos dos programas habituais.’

 

 

BIOGRAFIA
Eduardo Simões

Editora LGE contesta proibição de biografia de Guimarães Rosa

‘A editora LGE, de Brasília, recorreu da decisão do juiz Marcelo Almeida de Moraes Marinho, da 24º Vara Cível do Rio de Janeiro, que ordenou no mês passado o recolhimento das livrarias do país de todos os exemplares do título ‘Sinfonia Minas Gerais: A Vida e a Literatura de João Guimarães Rosa’, biografia do escritor Guimarães Rosa (1908-1967), de autoria do advogado Alaor Barbosa.

Segundo Antonio Carlos Navarro, diretor da editora, o prejuízo com o recolhimento chega a R$ 10 mil. Para Navarro, a decisão do juiz, anterior à conclusão do processo, que ainda está na fase de apresentação de provas, é uma ‘censura prévia’.

‘Estão usurpando o direito à liberdade de expressão’, disse Navarro à Folha.

O juiz aceitou a argumentação de plágio e lesão de direitos autorais, contida no processo movido no primeiro semestre, por parte de Vilma Guimarães Rosa, que detém os direitos da obra de seu pai, e da editora Nova Fronteira, que publica parte dos títulos do escritor.

Segundo o processo, além de ser uma biografia não-autorizada pela família, o livro de Barbosa contém erros históricos e traz 102 citações de ‘Relembramentos’, livro publicado originalmente em 1983 por Vilma e reeditado este ano pela Nova Fronteira.

Alaor Barbosa afirma que todas as citações foram devidamente creditadas, de acordo com as leis de direitos autorais e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

‘A lei não estabelece um limite para o número de citações’, afirmou Barbosa à Folha. ‘Outro aspecto importante é que biografias não precisam de autorização. Trata-se de algo garantido pela Constituição e pelo artigo 20 do Código Civil.’

Contestações

Desde o início do processo, Barbosa argumenta que procurou Vilma Guimarães Rosa para avisar que estava escrevendo o livro e esclarecer alguns pontos da biografia do escritor. Ela, no entanto, teria não só se recusado a responder, como colocara em dúvida que Barbosa havia tido qualquer proximidade com seu pai, tal qual ele teria afirmado na biografia.

‘É mentira dele, ele nunca me procurou. Eu soube que ele estava me plagiando, ele fugiu de mim e mandou o livro já pronto com uma dedicatória cínica’, afirmou Vilma à Folha.

‘E ele nunca foi amigo do meu pai. É o tipo de pessoa que quer se dizer amigo de gente importante. Foi um vigarista mesmo e fez isso para ganhar dinheiro.’

O caso lembra o da proibição judicial, em abril de 2007, da produção e circulação de ‘Roberto Carlos em Detalhes’, biografia não-autorizada do cantor, de autoria do historiador Paulo Cesar de Araújo, publicada pela editora Planeta, em que a principal argumentação era ‘invasão de privacidade’.’

 

 

 

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O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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