ELEIÇÕES 2006
Janio de Freitas
Instantâneo eleitoral
“CADA VOTO registrado na urna eletrônica, para escolha do presidente da
República, estará decidindo entre as duas questões mais candentes a que os
políticos e os meios de comunicação conduziram a campanha que joga com o futuro
do país. Lula errou ou acertou ao recusar o debate, montado pela TV Globo, com
os adversários? As fotos contrabandeadas por uma ‘autoridade’ da Polícia
Federal, expondo o dinheiraço que pagaria o dossiê anti-Serra, influem ou não na
escolha do presidente?
Nas duas questões sobressai, à parte a importância de outros possíveis
componentes, o aspecto ético. O problema está em saber a quem se refere o
questionamento da ética. Se a Lula, que sonegou a uma parte do eleitorado
esclarecimentos ou dificuldades suas, com o motivo menor de não enfrentar os
esperados destrambelhos de Heloísa Helena; ou se a ética dos que, pela ausência
de Lula, lhe despejam pesada artilharia de acusações, mas são os mesmos
Jereissatis, Heráclitos Fortes, Albertos Goldmans, & cia., que defenderam e
justificaram as ausências de Fernando Henrique nos debates pré-eleitorais
idênticos. Ou menos que isso, porque não o ameaçavam os abalos sísmicos de
Heloísa.
Logo se saberá se fotografias de dinheiro são importantes, de algum modo,
para Lula e o PT. Mas no PSDB devem ser vistas como um mantra eleitoral. Na
eleição passada, foi a operação montada milimetricamente por ‘autoridades’ da
Polícia Federal, e na qual Jorge Murad, marido de Roseana Sarney, caiu em cheio.
Queimada a candidatura pefelista da governadora que se projetava, abria-se o
caminho para a candidatura peessedebista do então ministro José Serra. Ao embalo
de seu lucro fotográfico no passado, na reta final da campanha os hoje
oposicionistas cobraram a exibição das novas fotos como a chave do paraíso
eleitoral.
Os meios de comunicação, por sua vez, contribuíram com parte ponderável da
rasteirice temática na campanha para presidente. Cumpriram muito bem, em sua
tarefa informativa, a abordagem de ilegalidades e desmandos sortidos, mas não
foram capazes de cobrar, ou de forçar mesmo, a exposição meticulosa e
esclarecedora, pelos candidatos, da visão que têm (se têm) dos temas nacionais
de maior importância. Geraldo Alckmin não deu sinais claros de que tal cobrança
lhe fizesse bem, até ao contrário. Lula, porém, é certo que se beneficiou muito
da falta de cobrança. Muitos dos temas importantes o levariam a embaraços
desgastantes, dadas as prioridades anticrescimento econômico, com tantos e
graves efeitos, adotadas por seu governo em desmentido aos 20 anos de sua
pregação anterior. Não lhe bastaria falar para a frente, teria que explicar o
para trás inexplicado e, em maior quantidade, inexplicável.
Cristovam Buarque fez campanha digna, mas não se valeu do seu melhor preparo
para tratar, além da educação, de muitos temas de interesse do eleitorado. A
intenção fundamental de Heloísa Helena, muito batalhadora, foi utilizar a
candidatura para ampliar a base do PSOL. Só o tempo indicará o resultado. Os
dois demais foram isso mesmo: demais.”
Lilian Christofoletti
Delegado assume vazamento das fotos
“O delegado da Polícia Federal Edmilson Pereira Bruno, 43, assumiu ontem a
responsabilidade pelo vazamento das polêmicas fotos do R$ 1,7 milhão apreendido
há 15 dias com membros da campanha do PT ao governo paulista e à Presidência,
que buscavam comprar um dossiê que incriminasse candidatos do PSDB.
‘Tudo o que eu fiz foi legal, fiz porque senti que era a verdade’, disse
ontem o delegado Bruno, que, a contragosto da PF e do Ministério da Justiça,
repassou a jornalistas um CD com 23 fotos coloridas do dinheiro apreendido.
A Polícia Federal se recusou a exibir as fotos sob o argumento de que isso
poderia atrapalhar a disputa eleitoral, prejudicando a candidatura do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição.
A exibição das imagens, às vésperas da eleição, provocou uma onda de
protestos entre os petistas, que afirmaram ser uma tentativa orquestrada pelo
PSDB de levar a disputa presidencial para o segundo turno.
O coordenador-geral da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia, disse que
Bruno agiu para prejudicar o PT e criticou a imprensa, que não divulgou o nome
do informante.
Cópias
As fotos do dinheiro foram repassadas em sigilo a jornalistas, às 10h30 de
anteontem, perto do prédio da PF paulista. Ao mesmo tempo, Hamilton Lacerda,
ex-coordenador de campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo paulista,
prestava depoimento.
A reportagem da Folha e outros três jornalistas receberam as fotos sob a
condição de não revelar o nome do delegado. Uma hora depois, outros três
repórteres também receberam o material perto da PF.
A Folha divulgou as imagens porque elas são de evidente interesse público. Ao
não revelar a identidade de Bruno, a reportagem se baseou no artigo 5º da
Constituição, que prevê o direito ao sigilo: ‘É assegurado a todos o acesso à
informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício
profissional’.
Sigilo
O delegado Bruno afirmou que não agiu por motivação política e argumentou que
as fotos repassadas por ele não estão em segredo de Justiça.
Tecnicamente, as imagens que constam no inquérito que está em sigilo são as
que foram feitas no dia da apreensão do dinheiro, no hotel Ibis, em São Paulo,
há 15 dias, quando Bruno prendeu o petista Valdebran Padilha e o ex-policial
Gedimar Passos negociando o dossiê.
Naquele dia, as notas foram esparramadas sobre uma cama e fotografadas por um
agente. O material está com o delegado Diógenes Curado, de Cuiabá, que preside a
investigação.
As imagens divulgadas pela imprensa foram feitas pelo próprio delegado Bruno,
na quarta-feira, quando os valores passaram por uma perícia. Munido de uma
câmera fotográfica, Bruno foi à unidade do Banco Central em São Paulo e à sede
da empresa Protege S/A para fazer as fotos dos dólares e dos reais
respectivamente.
Ouvidos ontem pela PF, que investiga o vazamento, os peritos disseram que o
delegado ‘mentiu’ ao dizer que havia voltado para o caso.
No dia 15, quando o escândalo do dossiê estourou, Bruno apreendeu o dinheiro
num final de semana. Três dias depois, foi afastado do caso. Segundo a PF, ele
atuou apenas como plantonista.”
***
PF investiga se delegado agiu por dinheiro
“O comando da Polícia Federal informou ontem que irá investigar se o delegado
Edmilson Pereira Bruno recebeu dinheiro ou se agiu por motivação política ao
divulgar as fotos do R$ 1,7 milhão que seria utilizado para a compra do
dossiê.
A polícia instaurou dois procedimentos para investigar o caso: um inquérito
criminal e uma sindicância para apurar a conduta de Bruno, que, como funcionário
público, tem o compromisso com o sigilo profissional.
O superintendente da Polícia Federal de São Paulo, Geraldo Araújo, evitou
fazer um prejulgamento, mas disse que houve uma quebra de confiança por parte do
delegado.
Para Araújo, é ‘muito grave’ o fato de Bruno ter afirmado a peritos que tinha
voltado ao caso, só para fazer fotografias.
‘Houve uma quebra de confiança muito grande, ele quebrou a impessoalidade do
trabalho da Polícia Federal’, afirmou.
Segundo o superintendente, se comprovada a afirmação dos peritos, o delegado
Bruno pode sofrer uma punição severa, como trinta dias ou mais de suspensão.
Para o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Marco
Aurélio de Mello, a imprensa agiu corretamente ao divulgar as fotos do dinheiro.
‘O sigilo diz respeito àqueles que devem respeitá-lo. Uma vez quebrado, chegando
os fatos ao conhecimento dos veículos de comunicação, incumbe a esses veículos
estampar esses fatos.’”
Renato Janine Ribeiro
Democracia é maior que qualquer um de nós
“Eleição não é luta do bem com o mal. É comparação. Voto em Lula porque, a
meu ver, seu governo melhorou o Brasil. Ele recebeu o país com uma agenda ditada
pela direita, que reduzia quase tudo à política econômica, ou pior, à monetária
e à fiscal; um país que, no fim de 2001, não cumpria mais o Orçamento, sem
dinheiro nem para pagar passagens de ministros, com o dólar a R$ 4 e um
risco-Brasil enorme. Ora, o governo de centro-esquerda foi capaz de acalmar a
economia, de baixar o risco, de aumentar as exportações, enfim, de cumprir uma
agenda econômica que não era sua prioridade, nem a dos movimentos populares, e
isso sem privatizar nada, sem desfazer o patrimônio público.
Mais, ainda: Lula colocou na política brasileira, de modo definitivo, uma
agenda social importante. E com êxito. Segundo Maria Inês Nassif (‘Valor
Econômico’, 24/8), o maior rigor em programas como o Bolsa-Família e os do
Ministério das Cidades ‘desintermediou o voto da população pobre, que antes
passava pelo chefe local’. Se isso é certo, não há paternalismo na atual
política de promoção social. Não adianta ficar inventando que Lula se proclamou
‘pai dos pobres’. Alguns jornalistas dizem isso, mas nunca informam quando o
presidente teria usado uma linguagem tão contrária a suas crenças para se
referir a si próprio. Tudo indica que há menos paternalismo agora do que antes.
É engraçado: quando se banhava de dinheiro o grande capital (empréstimos do
BNDES a juros baixos para privatizar estatais), a opinião dominante chamava isso
de progresso, mas, quando se dá dinheiro aos mais pobres, para comerem e se
vestirem melhor, a mesma opinião dominante entende que dinheiro nas mãos de
pobres não presta.
Discordo disso.
Quero uma sociedade democrática. Isso significa, em primeiro lugar, o fim da
miséria, a redução da desigualdade social.
No horizonte político brasileiro, não vejo força melhor que a coligação de
esquerda para promover esse salto qualitativo. Ela tem sido capaz de melhorar as
condições sociais com uma temperatura baixa de conflitos, ao contrário do que
diziam seus detratores.
O país não pegou fogo. O saldo do governo é positivo: a questão social está
sendo bem orientada.
Agora vamos à questão ética.
No governo atual o procurador-geral não engaveta processos, a Polícia Federal
age, CPIs funcionam. Já seu principal adversário impediu 60 CPIs de funcionar na
Assembléia paulista, deixou uma política de segurança prepotente e ineficaz
(porque acabamos sob o domínio do PCC) e uma política de educação que não é das
melhores. Eleição é comparação. Não vejo no governo Alckmin superioridade ética
sobre o governo Lula.
Contudo, há satisfações que o PT deve à sociedade. Os escândalos mostram que
ele é um partido mais ‘normal’ do que imaginava ser. Humildade não faz mal. O PT
tem seus defeitos. Deve contas ao Brasil. Tem de fazer uma faxina interna e
punir quem errou. Mas, ainda assim, consegue governar melhor que os outros.
Aliás, seria bom o país todo fazer um exame de consciência. Com o financiamento
privado de eleições, a porta se escancara para a negociata. Deveríamos priorizar
em 2007 a reforma política, com fidelidade partidária, condições mais
equilibradas de financiamento às candidaturas e talvez até o voto distrital.
Uma eleição não é uma guerra. Amanhã e sempre, teremos de conviver, quem
votou em Lula ou nos outros candidatos.
Precisa cessar o terror discursivo, a ameaça ao voto universal. Este é o
segundo ponto em que desejo uma sociedade democrática. Democracia significa
respeitar o discurso do outro. Nas eleições, as pessoas se exaltam, mas é
desonesto deformar o que o outro disse.
Muito do que hoje se conta sobre o PT ou sobre quem o apóia, como eu, é uma
enorme caricatura. Isso amesquinha a política, que deve ser arena de
adversários, não de inimigos.
Esse clima envenenado não ajuda o de que mais precisamos, não nós da
esquerda, mas nós brasileiros: construir alianças, trabalho em conjunto,
convergências. A sociedade é maior que a política. O Brasil é maior que os
partidos. A pequena ambição não pode erodir nossas oportunidades.
Podemos enfrentar a miséria, melhorar a educação e a saúde, integrar os
excluídos. Penso que Lula é o mais adequado, hoje, para dirigir o governo neste
rumo mas penso também que este tem de ser um projeto de sociedade, e não apenas
de governo. Não estamos, hoje, terceirizando a solução de nossos problemas.
Estamos elegendo o mais apto a dirigir um esforço que deve ser maior do que ele
e do que qualquer um de nós.
RENATO JANINE RIBEIRO , professor de ética e filosofia política na USP, é
diretor de avaliação da Capes e autor de, entre outras obras, ‘A Sociedade
Contra o Social – O Alto Custo da Vida Pública no Brasil’ (Companhia das
Letras)”
Boris Fausto
Recuperar a lisura no trato da coisa pública
“Voto em Geraldo Alckmin porque ele é o candidato mais comprometido com dois
valores que considero fundamentais para a consolidação de uma sociedade
democrática: a lisura no trato dos assuntos públicos e a separação entre os
interesses de grupos e partidos, e os interesses do Estado e do governo.
Voto também em Geraldo porque é candidato de um conjunto de forças políticas
e sociais que tem uma visão mais clara dos caminhos para o desenvolvimento
sustentado do Brasil, em bases não predatórias, capaz de proporcionar melhor
distribuição de renda.
Quando afirmo que voto em Alckmin, sei que estou em consonância com a voz de
milhões de brasileiros que já fizeram essa escolha. Mas procuro contribuir para
uma decisão nesse sentido, pelos eleitores indecisos, que estão longe de se
identificar com os indiferentes.
Ao contrário de seu principal adversário, Alckmin não se apresenta como um
herói-salvador, desses que já fizeram muito mal ao país, mas como um político
sério, responsável, honesto -qualidades tão necessárias quanto desprezadas por
muitos, nos dias que correm. Ao mesmo tempo -crítico do governo Lula desde a
primeira hora-, não embarco em certas ironias preconceituosas lançadas à sua
pessoa. Não é aí que a porca torce o rabo, como se dizia em tempos passados.
Por que escolher Alckmin e não deixar tudo como está, por mais quatro anos?
Pela simples razão que é inviável aceitar a continuidade de um governo que, se
não foi um desastre no manejo da economia, provocou um grande abalo às já não
muito sólidas instituições da democracia e da República em nosso país.
É verdade que o governo Lula conseguiu superar um momento difícil da
transição, gerada em grande parte pela própria incerteza quanto à sinceridade da
adoção de uma política econômica responsável. É verdade também que, depois do
espalhafato do Fome Zero, o governo conseguiu montar um programa assistencial
voltado para a população mais carente. Se ele atende a necessidades prementes,
que não podemos ignorar, não contribui para resolver a questão básica da
pobreza.
Tanto mais porque o assistencialismo se ampliou sem a exigência de
contrapartida dos assistidos, e se converteu numa rede clientelista de grandes
proporções, de onde extraem-se milhões de votos ao candidato-presidente.
O ponto vergonhoso do atual governo e do PT é, no entanto, o descalabro moral
e a proliferação da ilegalidade. Impossível detalhar aqui o chorrilho de
escândalos que começou com o personagem Valdomiro Diniz, assessor do então
ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e chegou, até o momento, ao caso
escabroso da compra do dossiê, que supostamente atingiria os candidatos Alckmin
e Serra, com milhões de dólares saídos bem se pode imaginar de onde.
Dentre os muitos males que esses fatos espantosos provocaram, encontra-se o
bloqueio intelectual de algumas cabeças outrora pensantes, as quais, tentando
fugir às dolorosas evidências, embarcaram no irracionalismo das ‘teses’ da
conspiração das elites, do golpismo, da ‘ilusão midiática’.
Pior do que isso é o fato de que a desmoralização do PT dificultou em muito o
esforço de diferentes correntes políticas no sentido de se chegar a um consenso
básico sobre questões vitais para o futuro do país. Entre elas, a necessidade de
se desatar o nó do crescimento medíocre dos últimos quatro anos, apesar das
promessas do candidato-presidente de nos proporcionar o ‘espetáculo do
crescimento’, ou a necessidade de se enfrentar a criminalidade com iniciativas
de conjunto nacionais e estaduais, antes que seja tarde.
Política externa não é um tema rentável na propaganda eleitoral. Boa razão
para lembrá-lo aqui. Pelo seu perfil e pelas forças políticas que o apóiam,
estou seguro de que Alckmin retificará os descaminhos do atual governo,
retomando as melhores tradições do Itamaraty. O Brasil necessita de uma
liderança firme, que evite as bazófias do gênero ‘hegemonia do Brasil na América
do Sul’, propaladas pelo candidato-presidente nos primeiros tempos de seu
governo, e evite ao mesmo tempo as capitulações afrontosas, como se viu no caso
da Petrobras na Bolívia.
Afinal, penso que, na conjuntura atual, é muito importante levar a disputa
para um segundo turno, seja porque ele forçará o debate, rompendo o cômodo
monocórdio de Lula, seja porque aumentará consideravelmente as possibilidades de
vitória de Alckmin. Alckmin não fará ‘milagres’, mas será muito melhor para o
Brasil do que os atuais detentores do poder.
BORIS FAUSTO é historiador e preside o conselho acadêmico do Gacint (Grupo de
Conjuntura Internacional), da USP. É autor, entre outros, de ‘A Revolução de
1930’ (Companhia das Letras)”
INTERNET
Karen j.
Bannan
Crescem fraudes publicitárias em buscas na internet
“DO ‘NEW YORK TIMES’ – Há um ano, a DiamondHarmony.com, uma joalheria
on-line, decidiu que o eBay, sua única fonte de publicidade até então, já não
bastava. A empresa iniciou um elaborado esforço de marketing em serviços de
busca, que usava uma campanha de publicidade cujos pagamentos se baseavam no
número de visitantes atraídos por seus anúncios vinculados a resultados de
busca. A única conseqüência da ação foi envolver a DiamondHarmony em uma fraude
publicitária on-line.
Em lugar de verdadeiros interessados em seus produtos, as visitas ao site
provinham de fontes fraudulentas. A fraude, que custou, em sete meses, US$ 17
mil à DiamondHarmony, foi descoberta por meio de um software analítico que a
empresa adquiriu da ClickTracks.
As fraudes na publicidade on-line em geral acontecem quando parceiros
trapaceiros, que recebem uma parcela dos honorários pagos ao serviço de busca
cada vez que alguém clica em um link pago, deliberadamente geram número de
visitas excessivo a um site, sem que haja chance de que as visitas resultem em
vendas para a empresa que está pagando por essa forma de publicidade.
As visitas espúrias podem ser geradas por programas automáticos ou pessoas
pagas para clicar repetidas vezes o mesmo link. No caso da DiamondHarmony, a
empresa estava inicialmente gastando entre US$ 40 e US$ 50 ao dia em cada um dos
oito serviços de busca em que colocou anúncios.
Na semana anterior ao Dia de Ação de Graças, Joe Tedd, gerente de estratégias
de busca da empresa, começou a perceber um grande aumento no número de visitas
originadas de um determinado serviço de busca, enquanto a taxa de conversão
relacionada a essas visitas -o volume de vendas gerado pelos visitantes vindos
de lá- continuava caindo.
‘Nós percebemos que o número de buscas estava crescendo em todos os serviços
de busca em que tínhamos anúncios’, disse Tedd. ‘Mas, enquanto todos os demais
serviços começavam a oferecer índices de conversão mais elevados, um apresentava
resultados tão baixos que decidimos retirar a campanha do site.’
Empresas também podem cair vítimas de fraudes desse tipo por ação de
concorrentes. Rivais disputando a mesma posição em uma lista de links pagos
podem visitar o anúncio de um concorrente um número de vezes suficiente para
obrigá-lo a exceder seu limite de gastos, o que implica excluir seus anúncios
temporariamente da lista de resultados de busca.
O escopo do problema varia de acordo com a fonte que o descreve.
Proprietários de empresas como Iain Burton, da Aspinal, que fabrica e vende
produtos finos de couro, afirmam que as fraudes na publicidade on-line são muito
mais freqüentes do que os serviços de busca reconhecem. Burton, que investe
cerca de US$ 50 mil ao mês em publicidade vinculada a resultados de buscas, diz
que as fraudes ocasionalmente espantam por sua ousadia.
‘Eu costumava ganhar dinheiro com publicidade vinculada a buscas; no passado,
as coisas eram realmente boas. Mas os anúncios se tornaram ridiculamente
dispendiosos. Perdi dezenas de milhares de libras devido a fraudes.’
As operadoras de serviços de buscas discordam e afirmam que a maioria
esmagadora das transações fraudulentas nem ao menos é vista pelos anunciantes,
porque elas mesmas as descobrem e removem. Mas Gaude Paez, do Yahoo!, diz que as
fraudes são um desafio sério, ainda que administrável.
A consultoria Click Forensics estima o número de visitas fraudulentas em 14%
das entradas totais nos sites, segundo pesquisa com mais de 1.300 empresas de
comércio on-line.
Para Danny Sullivan, editor do SearchEngineWatch.com, a verdade provavelmente
fica entre os dois extremos.
O Google, líder entre os serviços de busca na internet, fechou um acordo de
US$ 90 milhões para encerrar um processo coletivo por fraude em publicidade
on-line, com pelo menos US$ 30 milhões do total reservados a cobrir as custas
judiciais. Ainda assim, 556 anunciantes optaram por não acatar o acordo, o que
deixa as portas abertas a novos processos.
Em junho o Yahoo fechou acordo para cobrir as custas judiciais de queixosos,
estimadas em US$ 4,95 milhões, e fornecer créditos a qualquer empresa capaz de
provar que tenha sido alvo de fraude em publicidade on-line entre janeiro de
2004 e este ano.
O que torna o problema mais sério, dizem observadores do setor, é que muitos
exemplos de fraudes nesse segmento passam despercebidos. Além disso, ‘as
soluções tecnológicas que existem para combater o problema não são gratuitas ou
fáceis, especialmente para pequenas empresas que já enfrentam dificuldades para
lidar com o conceito de marketing via serviços de busca’, diz Dana Todd,
presidente da Search Engine Marketing Professional Organization, associação
setorial dos profissionais do setor.
Enquanto as empresas maiores já aguardam certa porcentagem de fraude em seus
esquemas de publicidade vinculada a buscas, as pequenas não têm escolha a não
ser localizar as imprecisões, disse Sullivan. O melhor caminho para começar, diz
ele, é medir o índice de conversão para determinar se os anúncios estão
funcionando.
Mas, para muitas empresas menores, diz Todd, a única maneira de monitorar o
problema é por auditagem manual de visitas ou uso de software ou serviços de
gestão de campanhas publicitárias. E esses recursos muitas vezes parecem não
valer a pena. ‘É preciso verificar todos os dados e ver que visitas vieram de
onde e porque não houve conversão, o que é um processo bastante demorado e
técnico’, disse.
‘Acreditamos que algumas das piores violações’, acrescentou ela, ‘aconteçam
em volume tão minúsculo que não chamam atenção -um centavo aqui, cinco ali-,
mas, somadas, terminam imensas’. Tradução de Paulo Migliacci”
NYT & GOL
O
Estado de S. Paulo
Dois jornalistas do ‘New York Times’ voavam no Legacy da Embraer
“Embora o ministro da Defesa, Waldir Pires, tenha falado em quatro
norte-americanos e um brasileiro entre os ocupantes do Legacy, as informações do
governo dos EUA dizem que eram sete os passageiros no avião -todos cidadãos
norte-americanos.
São eles o executivo da Excel Aire David Rimmer, comprador do jato, os
pilotos Joseph Lepour e Jan Palladino, dois jornalistas do ‘The New York Times’,
Henry Yandel e Joe Sharkey, e outros dois ocupantes, Ralf Nichielli e David
Bachman. Todos depuseram na base do Cachimbo, onde estavam até as 21h de ontem.
Depois, iriam para Cuiabá depor de novo.
Diane McNulty, porta-voz do ‘NYT’, disse que o repórter Sharkey estava no
Brasil para apurar reportagem sobre aviões corporativos.”
TELEVISÃO
Daniel
Castro
Santoro rejeita novela e deve sair da Globo
“Estão emperradas as negociações entre a TV Globo e Rodrigo Santoro pela
renovação do contrato do ator, que vence no final de dezembro deste ano.
O impasse surgiu depois que o empresário de Santoro pediu à Globo que seu
novo contrato tivesse cláusula que o desobrigasse de fazer novelas. A emissora
até permite que suas estrelas fiquem vários anos sem fazer novelas (como já
ocorre com Santoro, cuja última foi em 2003), mas não irá transformar o
privilégio em obrigação.
Santoro não quer mais fazer novelas porque são produções muito longas, que
comprometem seus intérpretes durante um ano inteiro. O ator quer fazer trabalhos
curtos, como minisséries e seriados, para ter espaço em sua agenda para se
dedicar à carreira internacional.
Por falar nisso, o ator já está no Havaí, onde fica até o final do ano
gravando o seriado mais badalado do momento, ‘Lost’. A terceira temporada da
série estréia na rede americana ABC nesta quarta. Santoro só deve aparecer no
terceiro episódio, no dia 18. Tudo o que a ABC revelou até agora é que seu
personagem se chamará Paulo.
Até Santoro diz saber pouco sobre seu papel. ‘O mistério sobre meu personagem
continua. Só descobrimos o que vai acontecer poucas horas antes de filmar’,
escreveu quarta-feira a um amigo no Brasil. ‘Estou muito feliz trabalhando aqui.
O ambiente é leve e prazeroso e o Havaí é parecido com o Brasil.’
MILAGRE NA GLOBO 1O autor de ‘Páginas da Vida’, Manoel Carlos, produziu como
nunca nos últimos dias. Já entregou à Globo capítulos que só irão ao ar na
semana que vem. O autor não gosta de escrever com tanta antecedência.
MILAGRE NA GLOBO 2Assim, Maneco, como é chamado, acabou com a chiadeira de
atores, que reclamavam que o texto de ‘Páginas da Vida’ só chegava na véspera da
gravação, o que os impedia de se prepararem adequadamente.
ANTISPAMA Globo tem uma política interna que restringe o acesso de seus
funcionários a uma série de sites (como Orkut e YouTube) e ferramentas (MSN, por
exemplo). Neste ano, ampliou a censura a todos os e-mails de candidatos em
campanha.
RODÍZIOAcabou a disputa entre Benedito Ruy Barbosa e Aguinaldo Silva pela
novela das oito que substituirá ‘Paraíso Tropical’, que entrará no lugar de
‘Páginas da Vida’. Está acertado que Silva entrará no ar primeiro, no final de
2007. Barbosa virá em seguida, já em 2008.
A VIDA CONTINUA 1Walter Negrão, autor que estava escalado para escrever a
novela que substituiria ‘Sinhá Moça’, mas que teve sua história abortada, só
voltará ao ar no final de 2007. Antes, haverá duas novelas das seis (‘O Profeta’
e ‘Doce Magia’).
A VIDA CONTINUA 2Negrão trabalha na sinopse de ‘Milagre de Amor’. ‘É uma
história que se passa em 1930, no Triângulo Mineiro, meio rural, meio
interiorana’, adianta.”
Sérgio Dávila
Ela+ele+ela+ele
“Na última quarta, a cidade de Hurricane, no Estado de Utah, saiu da rotina
modorrenta para se acotovelar na frente da TV e no tribunal e conseguir ver quem
é, afinal o sujeito que se denomina ‘profeta’, dirige uma seita e estava na
lista dos dez mais procurados do FBI até sua prisão, no começo do mês. Apesar da
pele pálida e do olhar morto, Warren Jeffs é aparentemente normal.
Warren Jeffs é polígamo.
Há diversos grupos dissidentes do mormonismo nos EUA que defendem o direito
de um homem casar com várias mulheres, embora a seita religiosa fundada em 1827
e conhecida no Brasil como Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias,
rejeite a prática desde pelo menos 1887.
A própria polícia federal dos EUA calcula entre 40 mil o número de
praticantes, só em dois Estados. E todo editor de programa de notícias locais
sabe: poligamia traz audiência. Demoraria pouco até que os responsáveis por
programas de ficção tivessem o mesmo raciocínio. Para a HBO norte-americana,
demorou até o ano passado, quando Tom Hanks apresentou a idéia de uma série.
Uma de cada vez
Em fevereiro, chegaria às TVs daqui ‘Big Love’, que estréia no Brasil hoje.
Foi um sucesso inesperado. A série mostra a vida de Bill (Bill Paxton), um
comerciante bem-sucedido de Utah, que leva uma vida aparentemente normal -não
fosse o fato de ter três mulheres e sete filhos, e de estas morarem em três
casas contíguas, com o mesmo quintal. Ele cumpre as obrigações maritais de
acordo com um esquema eficaz: cada dia com uma.
Primeiro, a chefe da ‘tropa’, a sensual Barb (Jeanne Tripplehorn); depois, a
ciumenta e ultrarreligiosa Nicolette (Chloë Sévigny), que ele roubou do
‘profeta’ (Harry Dean Stanton); por fim, a sexy Margene (Ginnifer Goddwin). E
começa tudo outra vez. Bill é um Warren Jeffs a quem assistimos sem culpa. ‘Se
eu vivesse mil anos atrás, provavelmente eu teria várias mulheres’, disse Bill
Paxton, para quem a idéia é tornar o personagem mais ‘gente como a gente’.
À maneira de ‘Sopranos’, porém, quando a audiência começa a achar ‘normal’ o
estilo de vida da família, algo vindo do submundo volta para lembrar que há algo
de errado aqui.”
Cassio Starling Carlos
Série ‘Big Love’ retoma fórmula com ousadia
“Um veículo de entretenimento para toda a família nas suas origens, a TV
americana se tornou nas últimas décadas um nicho peculiar da representação sem
pudores das transformações desse tipo de agrupamento humano, demasiado humano.
Ao mesmo tempo, os criadores de séries, diante da necessidade constante de
inovar para manter a legião crescente de aficionados, retomaram o esquema do
grupo (que já existia desde as origens do gênero, com ‘I Love Lucy’) como
fórmula ficcional aparentemente inesgotável. Pois é a base coletiva, que vai
desde o ambiente de trabalho (como em ‘The Office’) até os sobreviventes de um
desastre aéreo (como em ‘Lost’), que permite aos roteiristas explorar ao longo
de várias temporadas as conexões e desdobramentos que unem um bom número de
personagens.
Nesta fórmula, o grupo familiar disfuncional tornou-se uma marca registrada
das produções da HBO. Aquilo que já havia dado certo com ‘Família Soprano’ e ‘A
Sete Palmos’ retorna agora com um grau a mais de ousadia em ‘Big Love’.
Num primeiro olhar, esta série chama a atenção por explorar um tema
aparentemente transgressivo como a poligamia. Por trás do recurso anedótico, o
que ela trata é a dinâmica dos relacionamentos, as estruturas de poder e de
influência, o lugar do homem, da mulher e dos filhos em diversas fases etárias
com a mesma franqueza com que ‘Família Soprano’ aborda a crise do macho.
Da série criada por David Chase a esta ficção assinada por Mark V. Olsen e
Will Scheffer abre-se um novo passo no conceito de família. Enquanto nos
Sopranos laços sangüíneos e criminais se indistinguiam, a família de Bill
Henrickson constitui-se de três casas, mantidas paradoxalmente unidas por
valores de um cristianismo fundamentalista.
Valores coletivos
Neste universo, o que mais salta à vista é como aspirações pessoais e valores
coletivos convivem aos trancos e barrancos. E o que é mais importante, tanto
nesta quanto nas produções anteriores da HBO, é o tratamento singular dado a
cada personagem, num efeito especular das transformações individuais dentro da
sociedade americana, em primeiro plano, mas que se aplica a outras, como a
nossa. Como outras séries que retiram daí boa parte de seu interesse, ‘Big Love’
aposta de maneira quase obsessiva nas fissuras crescentes da subjetividade
contemporânea.
O retrato aberto da sexualidade (como a entrada em cena do Viagra já no
episódio piloto, que culmina com uma situação bastante cômica de ereção) é a
ponta mais visível desse iceberg, mas há outros, não menos fortes, sendo
trabalhados.
É o caso dos transtornos psíquicos, como as compulsões, retratadas nas
personagens Nicki (Chloë Sevigny, memorável) e Margene (Ginnifer Goodwin). A
primeira, consumida pela fome do consumo até o limite de comprometer suas
finanças; a segunda, gordinha, aparece como uma vigilante obsessiva do peso.
Com esse tipo de ênfase, ‘Big Love’ chega para integrar o primeiro time das
séries de TV que se consolidaram, como aponta o especialista Martin Winckler em
‘Les Miroirs de la Vie’ (os espelhos da vida), ‘como um palácio de espelhos que
reflete com acuidade os deslocamentos da sociedade, submetendo-a a deformações,
transformações e releituras que se destinam a revelar de modo mais claro seus
fantasmas, suas ideologias e suas faces escondidas’.
BIG LOVE Quando: hoje (23h), no HBO; reprises às terças (21h)”
Bia Abramo
Leveza às sete, densidade demais às oito
“‘PÁGINAS DA VIDA’ está com índices de audiência em curva descendente;
‘Cobras e Lagartos’, ascendente. O horário eleitoral é apontado como explicação
mais provável, mas, talvez, comparando tramas e desempenho, existam outras
razões.
Há, no horário das sete, uma movimentação maior, menos cenas edificantes,
mais humor. Embora os vilões sejam um tantinho caricatos e o roteiro escorregue
com uma certa freqüência, a leveza e o nonsense têm produzido melhores
resultados.
Já no Leblon imaginário de Manoel Carlos, a hipercorreção política de alguns
personagens, a intensidade excessiva de outros, a generosidade hipócrita do
milionário e seu centro cultural de belas-artes empurram a novela para uma
densidade monótona. Além disso, enquanto em uma se observa a emergência de bons
atores novos, na outra se testemunha o ocaso melancólico de atores maduros. Para
começo de conversa, em ‘Páginas da Vida’ o imperativo do botox, digital ou
químico, pasteuriza, quando não deforma, as expressões.
A fogosidade explícita, declaratória das personagens femininas mais maduras é
quase sempre constrangedora de tão postiça e parece ‘sair’ à revelia da natureza
da maioria das intérpretes à exceção, talvez, de Natália do Vale, como se fossem
arrancadas a tapas.
E há o fator Regina Duarte… Levante a mão quem não tem medo de Regina
Duarte, com seu sorriso hierático, sua expressão sempre compreensiva, seu
pescoço inclinado de pessoa boa, sua naturalidade milimetricamente calculada…
Junte-se isso à inominável chatice de sua Helena, cujas falas sempre têm um
mesmo subtexto, que diz ‘eu sou uma mulher bem resolvida’, e a canastrice de
seus ‘amores’, José Mayer e Marcos Paulo, e o núcleo central da novela fica
incapaz de mobilizar quaisquer emoções.
Lília Cabral ia muito bem, como a mulher fria e pragmática, mas sua
humanização pelas decepções sexuais e o medo da filha fantasma estão acabando
com a graça de sua interpretação.
Enquanto isso, a novela das sete oferece beleza mais genuína e surpresas cá e
lá. Daniel de Oliveira, claro, que já tinha mostrado sua potência em ‘Cazuza’,
mas também Cléo Pires e Carolina Dieckman vêm se destacando como jovens bons
atores. E há Lázaro Ramos, que confere uma vivacidade muito divertida ao seu
personagem Foguinho.”
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