Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Folha de S. Paulo

CRISE
Clóvis Rossi

Lula, ‘The Sun’ e os banqueiros

‘SÃO PAULO – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não está sozinho em sua ordem a Fabio Barbosa, presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) do seguinte teor: ‘Fabio, pede para os bancos liberarem o crédito’.

Foi rigorosamente a mesma coisa que pediu o jornal ‘The Sun’, no Reino Unido, depois do corte de juros que levou a taxa ao nível em que estava no dia em que James Dean morria, há 53 anos.

‘Agora, passem [a redução] adiante, vocês banqueiros’, gritava a manchete do tablóide.

Aliás, não é apenas um tablóide nem o presidente do Brasil que estranham o comportamento dos bancos. Um banqueiro também o faz. É verdade que se trata de um banqueiro central, no caso Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, o que o leva inexoravelmente a uma linguagem mais cautelosa.

Mesmo assim, Trichet dizia, ao anunciar a redução de meio ponto nos juros europeus: ‘Nós esperamos do setor bancário que ele faça sua contribuição para restaurar a confiança’. É a maneira diplomática de gritar, como o ‘Sun’: ‘Soltem a grana, banqueiros!’.

São mais algumas indicações a somar-se aos abundantes indícios anteriores de que os banqueiros, que já não eram precisamente campeões mundiais de popularidade, acabarão substituindo George Walker Bush no torneio de Geni da vez.

Não por acaso, o ‘Daily Mail’, também britânico, discutia ontem, em editorial, a ‘falta de vergonha’ dos bancos.

Eu não chego a tanto, mas acho que o presidente Lula, o ‘Sun’ e Trichet têm razão. Fabio Barbosa, em nome das instituições congregadas na Febraban, está na obrigação de vir a público para explicar o que está acontecendo com o dinheiro, que não é liberado apesar dos trilionários pacotes oficiais de suporte ao setor.’

 

OBAMA
Igor Gielow

O fim da era Bush?

‘DEPOIS DE completado o trabalho de eleição de Barack Hussein Obama a uma espécie de dom Sebastião global, os ‘spin doctors’ de plantão estão empenhados na hercúlea missão de contar ao mundo que o novo presidente dos EUA é humano.

Basta ver jornais, revistas, telejornais e sites do mundo todo. Está lá: Obama consumou uma vitória histórica e simbólica, mas não esperem a revolução planetária.

Felizmente. Como dizem os doidos milenaristas cristãos, que se você acreditar na balela dos analistas são quase metade do eleitorado americano, governo mundial é coisa do Anticristo. Houve coisas bacanas na eleição de Obama, mas o que interessa é o que vem agora.

Com efeito, a única resposta assertiva que o eleito deu em sua primeira entrevista, ontem, foi sobre a idéia de adotar um cachorro de abrigo. Ainda assim, vamos a ver, como diria seu antecessor.

O eleitor americano, o mesmo que deu uma vitória brutal a George W. Bush há apenas quatro anos e fez fila para ver a ‘Paixão de Cristo’ do Mel Gibson, agora rejeita sua obra construída a partir dos escombros do World Trade Center.

Muito bem, a economia foi o que pesou: a crise, mais que Sarah Palin, parece ter sido a causa mortis da candidatura McCain. Mas a herança multifacetada está aí.

Enquanto estiver ocupado com uma ameaça de recessão global, como o presidente Obama irá tratar o Paquistão? O país traz a mais urgente ameaça estratégica aos EUA hoje, e a guerra no Afeganistão cada vez mais se torna um espelho do que acontece no vizinho. A lassidão dos anos Clinton ajudou a criar o Taleban. A política de Bush alimentou as serpentes no ninho.

Obama, o mítico conciliador, o ongueiro em escala mundial, irá resolver tudo no papo? Ou vai ser na base dos ataques com Predators?

E quanto à Rússia, país cujo presidente avisou que ia posicionar foguetes contra aliados americanos antes de enviar os parabéns a Obama? O oba-oba pós-Guerra Fria e a irresponsabilidade expansionista da Otan sob Bush levaram a um episódio didático, a colocação da Geórgia de joelhos. A Europa agora volta às mesas de negociação. E os EUA? Levarão a cabo a orientalização das fronteiras da Otan, ameaçando com uma escalada apocalíptica? Ou acomodarão o urso do leste com conversa? Ou com a ameaça da desintegração dos mercados?

São apenas dois exemplos. A lista é longa, Iraque como aperitivo, sendo toda dominada pelo desafio econômico. Obama tem o chamado cacife político para apresentar suas respostas. Será do atrito entre sua vontade e as limitações do gesso da Presidência que elas sairão, e de sua natureza será possível dizer se a era Bush acabou mesmo -ou se apenas se adaptou aos tempos.

IGOR GIELOW é secretário de Redação da Sucursal de Brasília. Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Gustavo Franco.’

 

José Flávio Sombra Saraiva

O dia seguinte não é o bravo mundo novo

‘A VITÓRIA da mudança foi eficaz bordão eleitoral e eficiente jargão midiático, com impacto avassalador sobre a insegura sociedade norte-americana. A confirmação da vitória acachapante de Obama não pode ser entendida sem a psicologia social do desespero, mais do que do altruísmo político.

Para os cidadãos comuns daquele país, crédulos nos velhos valores dos que fizeram nascer a pátria de Jefferson, embora dependentes hoje da exuberância artificial criada no início do século 21 pela obsessão do ganho fácil, a eleição de Obama veio a calhar.

Emerge a esperança de um bravo mundo novo e de uma nova página da história. Chega o salvador messiânico para restaurar o desígnio americano.

Algo semelhante aconteceu com Roosevelt no século 20.

Tal vetor, que se repete na história norte-americana, foi determinante na eleição de Obama ao assento mais importante da gestão do planeta. As noções de destino e saga desbravadora, em momentos difíceis, presidem a construção da nação de Monroe desde os inícios do século 19.

Mas agora a história é outra. Poucas variáveis sugerem que poderão ocorrer, em curto e médio prazo, mudanças substantivas nos EUA no plano interno e em sua projeção internacional. As determinações estruturais internas e externas à economia, à sociedade e à cultura política norte-americana entravam a vitória da mudança.

Em primeiro lugar, a margem de manobra do presidente que emerge é baixa ante a gigantesca expectativa criada ao seu redor. Obama virou panacéia na mídia norte-americana -também no Brasil. Mas o homem não tem os meios nem a liberdade de ação política de Roosevelt.

Como distinguir o homem Obama e seu poder real dos que o fizeram tão familiar e poderoso? A lista de demandas é incompatível com os meios disponíveis no momento para satisfazer a todos que construíram o totem.

As pressões sindicais, dos usuários de um sistema de saúde caótico e caro, bem como de forças poderosas, como as do complexo militar-tecnológico, sem falar de setores sociais marginais, como os afro-americanos, entre outros, tornarão sua administração difícil. Obama ofereceu uma palavra generosa. Agora, terá que oferecer fatos e resultados.

Em segundo lugar, não há tábua de salvação para uma economia que se fez gastadora depois de uma história bissecular de poupança. A capacidade de gerar riqueza real nova é modesta.

A elevação do capitalismo industrial produtivo na Ásia, ante o fenecer das engenharias dinâmicas do velho capitalismo norte-americano, é um desafio para a retomada da produção, da produtividade e do emprego. Eles lá se fizeram preguiçosos, à espera da especulação proveitosa. Terá Obama a força convocatória e os meios para lançar as bases de um novo capitalismo industrial naquele país?

Em terceiro lugar, não há brechas adicionais no plano internacional disponíveis para Obama. Terá que lidar com o recrudescimento do protecionismo comercial dos seus concidadãos do Partido Democrata, ávidos por manter o status de potência econômica. Há pouca garantia de que se possa avançar a Rodada Doha na administração Obama a partir de janeiro de 2009. É esse um capítulo que exigirá atenção redobrada do governo Lula e dos países de competitividade agrícola superior à dos EUA.

A complexa tomada de decisão das políticas comerciais e externa dos Estados Unidos é outro capítulo de distúrbio iminente para o novo habitante do Salão Oval da Casa Branca. Não é lá que se decide a política comercial, que será entregue a uma Câmara protecionista e ávida pela reinserção soberana dos Estados Unidos. Nem o Senado, por mais democrata que possa ser, acomodará de forma automática as iniciativas do presidente eleito.

Em outras palavras, os espetáculos patrocinados em várias partes do planeta, a envolver a própria África nesse jogo, de júbilo diante da vitória do salvador, cederão em breve a análises mais calibradas acerca das possibilidades. Sonhar é bom, liberta, reduz o medo. Mas também é arrojado pensar que o dia seguinte não é o bravo mundo novo, nem Obama é seu rei.

JOSÉ FLÁVIO SOMBRA SARAIVA, 48, doutor em história pela Universidade de Birmingham (Inglaterra), é professor do Instituto de Relações Internacionais da UnB (Universidade de Brasília). É autor, entre outras obras, de ‘Relações Internacionais – Dois Séculos de História’.’

 

Renato Janine Ribeiro

O mundo respirou história nesta semana

‘A MUDANÇA chegou aos Estados Unidos, disse Obama, na primeira frase de efeito de um discurso repleto de expressões bem escolhidas para entusiasmar o povo.

Quer dizer, a mudança veio de fora.

Quer dizer, os Estados Unidos estavam atrasados. Bush representava o atraso. A Europa, outros países, inclusive o nosso, escolheram a mudança antes deles. No século 19, a liberdade estendia seus braços para acolher no porto de Nova York os mal-amados do velho mundo. A ‘América’ era pioneira. Hoje, com a eleição de seu primeiro presidente negro, os Estados Unidos recebem uma mudança cujos ventos já sopravam em outras partes.

Mais para o fim do discurso, porém, Obama retoma a crença norte-americana de que seu país é líder do mundo, um ‘povo eleito’ moderno: ‘Esse é o verdadeiro talento da América -a América é capaz de mudar’. Sim, a mudança tardou, mas, quando chega lá, o mundo todo muda. A mudança começou em outros países, mas é quando vence na ‘América’ que ela ganha escala e se torna mundial.

Bush, após o 11 de Setembro, para vencer a guerra ‘contra o terror’, rogou a seu povo que consumisse mais, não menos. O usual nas guerras é pedir poupança e sacrifícios, canhões em vez de manteiga. Bush prometeu um Eldorado, só que feito de consumo, e não de valores. Como disse Michael Mandelbaum, seu governo foi um caso único de transferência de riqueza do futuro para o presente. Bush negou tudo o que é positivo nos próprios valores conservadores -austeridade, comedimento, poupança. Dilapidou dinheiro, sangue, fé e esperança. Gastou o futuro. Hipotecou até as vidas de quem ainda não nasceu.

Não sabemos como serão os próximos anos. Obama não prometeu maravilhas. Alertou que haverá atrasos e fracassos. Implicitamente, pregou a poupança, não a dilapidação. E foi depois dessa advertência que desenvolveu sua utopia, sua esperança num país de valores.

Há algo espantoso nisso. Com o avanço da campanha, a oposição entre valores da mudança e da esperança e valores da conservação e do medo foi se convertendo numa oposição entre o candidato dos valores e aquele que herdava a falta de valores.

McCain era o único candidato possível para o Partido Republicano justamente por ser o menos bushista dos republicanos. Mesmo assim, não conseguiu encarnar valores em que, seguramente, acredita. Não convenceu.

É curioso que o partido mais liberal, o dos nova-iorquinos afrescalhados que tomam ‘capuccino’ (que George W. Bush condenou quatro anos atrás, porque não seria o da ‘verdadeira América’), acabasse sendo o único que sustenta valores. Porque o termo ‘valores’ soa, com freqüência, conservador. Mas esse conservadorismo básico, que representa um compromisso com o país, com sua história, nenhum presidente dos Estados Unidos pode dispensar.

A diferença é que justamente o novo, o negro, o jovem, o candidato da internet (não a internet dos negócios, mas a da cidadania), tenha sido quem expressou os valores -e não o herói de guerra, o prisioneiro torturado no Vietnã, a derradeira reserva moral do Partido Republicano.

O simbolismo dessa vitória é duplo.

Está no fato de que os progressistas conquistaram o legado de uma preocupação ética que muitas vezes foi conservadora. As repercussões disso para a ética pública serão importantes. E também está na esperança despertada, na mobilização dos jovens, dos que votaram pela primeira vez, dos excluídos das urnas. Já em 2004 o governador Howard Dean mobilizara os jovens e usara a internet -mas não conseguiu a indicação democrata.

Dessa vez, a estratégia das ‘grassroots’, da base mobilizada, deu certo.

Ora, quem se mexeu pela mudança não ficará parado em casa. Vai continuar participando. Vai exigir de Obama que ele aja. Não é casual a referência do novo presidente a Martin Luther King, e de seus eleitores à grande marcha dos negros em Washington, há 40 anos. É como se, finalmente, eles chegassem lá.

As pessoas respiraram a história.

Podem até se enganar, mas essa sensação se tem poucas vezes na vida -quando se tem. E ela estava presente nos Estados Unidos -e no mundo- nesta semana. Respiremos fundo. Ela pode não durar. Mas, também, pode.

RENATO JANINE RIBEIRO, 58, é professor de ética e filosofia política na USP e autor de ‘A Ética na Política’, entre outras obras.’

 

VAZAMENTO
Lilian Christofoletti

Sigilo de fonte é problema de jornalistas, diz delegado

‘O delegado da Polícia Federal Amaro Vieira Ferreira, responsável por investigar o vazamento da Satiagraha, afirmou ontem que o sigilo da fonte é uma questão restrita a jornalistas e que seu dever é descobrir a fonte policial que avisou a TV Globo que a operação ocorreria na madrugada de 8 de julho.

‘Se a investigação levar a A, B ou C, não me interessa. O sigilo da fonte não é meu, é do jornalista. Posso chamar o jornalista e perguntar quem o avisou. Ele pode se manter em silêncio. E eu, como policial, posso buscar outros caminhos para descobrir quem vazou’, afirmou.

A Folha informou ontem que a PF conseguiu, sem ordem judicial, a quebra do sigilo telefônico de dezenas de aparelhos Nextel usados na madrugada em que a operação foi deflagrada. Os pedidos foram focados em quatro locais onde havia equipes da TV Globo à espera da polícia na madrugada da operação.

‘Não houve pedido de quebra de sigilo à Nextel, muito menos de quebra de sigilo de jornalistas. Pedimos apenas que a empresa nos informasse quais antenas servem determinados lugares, e para isso não é necessária uma autorização judicial’, afirmou Amaro.

Nos autos, segundo a Folha apurou, a PF pediu a relação completa de ‘todos’ os celulares e antenas usadas nas imediações da sede paulista da PF e em três locais alvos de buscas durante a deflagração da Satiagraha. Há ainda o horário em que as antenas foram usadas.

Questionado sobre o objetivo de identificar as antenas que captaram ligações feitas e recebidas apenas onde havia jornalistas à espera, o delegado afirmou que o caso está sob sigilo. ‘Mas posso assegurar que nenhum jornalista mora nesses locais’, disse, em tom irônico.

Durante a madrugada do dia 8 de julho, foram presos o banqueiro Daniel Dantas, o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito Celso Pitta, entre outras 14 pessoas, todos investigados por supostos crimes financeiros. A prisão de Pitta, às 6h e de pijamas, foi filmada pela TV.

‘Sou um policial sério e não concordo em mostrar na TV alguém sendo preso. Quem vazou cometeu um crime, e é isso que investigo’, disse Amaro. Segundo a Folha apurou, a PF queria descobrir se o delegado Protógenes Queiroz, que comandou a Operação Satiagraha, ou algum dos seus subordinados avisou os repórteres.

A reportagem encontrou ontem com Amaro por acaso no prédio da Justiça Federal. Ele deixava o sétimo andar pela escada de incêndio, ao lado do superintendente da PF de São Paulo, Leandro Daiello Coimbra. No sétimo andar funciona a 7ª Vara Federal, do juiz Ali Mazloum, que autorizou os pedidos de Amaro para busca e apreensão contra agentes que atuaram na Satiagraha. Amaro, que falou com a Folha no subsolo do prédio, após descer nove lances de escada, não confirmou se esteve com Mazloum.’

 

***

Em nota, PF diz que pediu só relação de antenas e não quebrou sigilo telefônico

‘A Polícia Federal informou ontem que, em nenhuma hipótese, quebrou o sigilo telefônico de jornalistas que acompanharam a deflagração da Operação Satiagraha, na madrugada de 8 de julho. O órgão não explicou, porém, por que pediu, segundo consta nos autos, a relação completa de ‘todos’ os celulares e antenas usadas exclusivamente em locais onde havia equipes da TV Globo.

Há no inquérito uma manifestação do Ministério Público Federal criticando duramente a abertura de dados confidenciais sem ordem judicial, alertando sobre o risco de quebra o sigilo da fonte jornalística e pedindo a nulidade das provas.

No foi o que a polícia informou ontem. Em nota, a PF garantiu que ‘não investiga jornalistas no referido inquérito policial, pois respeita a norma constitucional que garante o sigilo de fonte desses profissionais. A investigação visa à apuração de vazamentos de dados sigilosos da Satiagraha’.

A polícia não explicou o motivo que a levou a pedir dados de antenas telefônicas (o que permite a localização física do usuário do aparelho) apenas em áreas onde havia jornalistas -na sede paulista da PF e nas casas do ex-prefeito Celso Pitta, do investidor Naji Nahas e de um doleiro.

A PF também não esclareceu o pedido feito ao Detran e ao Departamento de Operações do Sistema Viário (DSV) de ‘todas’ as multas efetuadas em São Paulo durante a deflagração da Satiagraha -segundo a Folha apurou, o objetivo era rastrear o trajeto das equipes.

‘Os referidos órgãos, quando necessário, devem prestar informações aos órgãos policiais no interesse de investigações e para a garantia da segurança pública’, informou a PF, que garante não ter solicitado nem recebido a lista de chamadas identificadas pelas antenas.

O órgão sustentou que informações da Nextel não embasaram a decisão do juiz de busca e apreensão contra agentes da PF -todos os dados, porém, estão nos autos enviados ao juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Criminal Federal de São Paulo.

Sobre o fato de constar nos autos uma relação com os Cell ID (números de identificação) de 10 a 12 aparelhos Nextel, informou que esses aparelhos pertencem à própria polícia. ‘E sequer destes telefones houve a identificação de chamadas efetuadas e recebidas.’

Procurada pela Folha, a Nextel se limitou a informar que ‘segue todos os procedimentos jurídicos e legais para interceptações de chamadas’.

A TV Globo afirmou que não vai se manifestar sobre o caso.’

 

O que a PF não explica

‘1. Qual a informação que a PF buscava com a localização das antenas? 2. Se os aparelhos monitorados eram da PF, por que não pedir diretamente a lista de ligações feitas e recebidas, já que para isso não há sigilo nem é necessária a localização das antenas?

3. Porque, dos 17 endereços onde foram efetuadas prisões durante a Satiagraha, apenas foi pedida a localização de antenas onde havia equipes de jornalistas?

4. Se houve apenas a localização das antenas, por que nos autos constam horários de uso da antena?

5. Por que policiais consultaram autoridades do caso sobre a possilibidade de quebrar o sigilo de jornalistas?

6. Qual o objetivo de pedir ao Detran e ao Departamento de Operações do Sistema Viário (DSV) a relação com todas as multas aplicadas na cidade no horário da operação?

Para entender

Todas as ligações feitas e recebidas de um celular ou rádio são captadas pela torre de retransmissão mais próxima do usuário do aparelho. Todos os aparelhos que usaram essa antena ficam registrados na companhia telefônica, com os respectivos horários. Se a pessoa estiver em trânsito, essa movimentação também é captada pelas antenas, que estão espalhadas pela cidade’

 

íntegra

‘Não houve quebra sem autorização’

‘‘Em relação à matéria ‘Sem ordem judicial, PF quebra sigilo telefônico’, publicada no jornal Folha de S.Paulo (07/ 11/ 2008), a Polícia Federal esclarece que não houve, em nenhuma hipótese, quebra de sigilo telefônico sem autorização judicial.

Na realidade, a PF solicitou à Nextel que informasse a mera localização das torres de retransmissão dessa empresa -ERBs (Estação Rádio-Base)- situadas próximas à Superintendência da Polícia Federal em SP e de alguns dos principais endereços objeto de busca. Em nenhum momento foi requisitado, a qualquer empresa telefônica, dado que exija autorização judicial para tanto. Inicialmente, a Nextel respondeu negativamente, entendendo que se tratava de pedido de números telefônicos. Mas, esclarecido à empresa que se tratava de mera informação de localização de antena, não protegida por sigilo telefônico, os dados foram fornecidos à autoridade policial no exercício da presidência do inquérito.

A relação de telefones constante no inquérito policial trata de identificação dos aparelhos alugados para a execução da Operação Satiagraha, feita pela diretoria responsável pelo aluguel e repassada ao presidente do referido inquérito. E sequer destes telefones houve a identificação de chamadas efetuadas e recebidas.

Também não procede a afirmativa da matéria de que tais números de telefones serviram de base para solicitar as ordens de busca e apreensão nos endereços dos investigados no inquérito que apura o vazamento de informações sigilosas da Operação Satiagraha. Isto porque, na representação pelas buscas, não houve qualquer menção ou citação desses dados.

Está também equivocada a informação de que o delegado federal Amaro Vieira Ferreira trabalha na Delegacia Fazendária em São Paulo, já que sua lotação é na Corregedoria Geral de Polícia em Brasília. A Polícia Federal não investiga jornalistas no referido inquérito policial, pois respeita a norma constitucional que garante o sigilo de fonte desses profissionais. A investigação visa à apuração de vazamentos de dados sigilosos da Operação Satiagraha. Também não existe ilegalidade nos pedidos formulados ao Detran e ao Departamento de Operações do Sistema Viário (DSV), quanto à solicitação de multas, pois referidos órgãos, quando necessário, devem prestar informações aos órgãos policiais no interesse de investigações e para a garantia da segurança pública.’’

 

Flávio Ferreira

Mendes critica uso de métodos ilegais pela PF

‘Indagado sobre a quebra de sigilo telefônico sem autorização judicial realizada pela Polícia Federal, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes disse que não tinha conhecimento sobre os detalhes do caso, mas afirmou que ‘não se combate ilegalidade cometendo ilegalidade’.

Mendes não fez comentários diretos sobre a conduta da Polícia Federal: ‘Não tenho elementos específicos sobre o assunto, então não posso emitir opinião’. Porém afirmou que, ‘se houve (quebra de sigilo sem permissão judicial), certamente isso será censurado pelo próprio Judiciário’.

O magistrado também afirmou que é preciso combater a criminalidade e a ilegalidade dentro dos marcos da Constituição. ‘Não há transação entre ilegalidade maior e ilegalidade menor. Aqui não há transação possível’, disse Mendes.

O presidente do STF voltou a criticar as megaoperações realizadas pela Polícia Federal nos últimos sete anos. ‘Foram feitas tantas operações, que foram objeto até de propaganda política. O que resultou disso? Quantos foram condenados? Quantos bens foram apreendidos ou recolhidos aos cofres públicos? Depois de sete anos de tantas operações, era uma pergunta para se fazer. No fundo, acabava ficando, na verdade, a propaganda pela propaganda’, afirmou o magistrado.

Mendes disse que a impunidade não pode ser enfrentada apenas com operações policiais. Segundo o magistrado, ‘o combate à impunidade só se faz caso ao fim se tenha uma decisão com trânsito em julgado [sem possibilidade de recurso]. Se fica apenas nas operações, os senhores vão ter pessoas amedrontadas, atemorizadas, um superpoder para a polícia, mas os senhores podem ter nenhum combate efetivo à impunidade’.

O presidente do STF voltou a criticar o juiz federal Fausto De Sanctis, que determinou por duas vezes a prisão do banqueiro Daniel Dantas. A segunda decisão do juiz federal contra Dantas foi tomada horas após o STF conceder um habeas corpus em favor do banqueiro.

Para Mendes, o segundo mandado de prisão assinado por Sanctis representou um descumprimento à decisão do STF. ‘Se os juízes começarem a engendrar dessa forma, de descumprir decisão, eles vão ter dificuldade de fazer cumprir suas próprias decisões junto ao delegado, ao policial. Na verdade, estamos criando o germe de um estado anárquico’.

O magistrado passou a criticar os juízes que não cumprem as determinações do STF com ironia. Ao simular o discurso supostamente de um magistrado, Mendes disse: ‘Estava imbuído das melhores intenções porque estava convencido de que vi Deus. Minha missão é prender as pessoas. A decisão do Supremo é errada e vou descumpri-la’. Em seguida, ele voltou ao tom de voz normal e disparou contra os juízes ‘rebeldes’: ‘Abrigue-se numa igreja. Porque o Estado de Direito é para os homens. Há mecanismos para corrigir a decisão do Supremo. Recorre-se da decisão do Supremo’.’

 

TELEVISÃO
Ricardo Bonalume Neto

Documentário narra a história do atol de Bikini

‘O atol de Bikini, no Pacífico, entrou para a história por ter servido de alvo para bombas nucleares americanas. Os criadores do traje de banho lhe deram esse nome por acharem que ele causaria um ‘estouro’ como o da bomba atômica…

O documentarista brasileiro Lawrence Wahba foi o primeiro a mergulhar nas águas do atol em 1996, quando o local foi liberado. Ele voltou em 2006 e descreve agora como o otimismo dos antigos habitantes deu lugar a uma resignação pessimista sobre a terra natal, em ‘De Volta a Bikini’, no canal National Geographic.

Ele é conhecido no Brasil por ter feito centenas de mergulhos com tubarões. Por não ser mais alvo de pesca, Bikini tem uma enorme quantidade desses bichos, tanto que em 1996 nem Wahba ousou mergulhar ali. Mas ele o fez em 2006 e capturou imagens belíssimas. As filmagens em terra foram obra do diretor de fotografia alemão Klaus Scheurich, que trabalha com o cineasta Werner Herzog.

Wahba brinca que sua mãe sempre o aconselha a levar protetor solar. ‘Eu sei que ele não vai levar uma jaula de proteção contra tubarões, nem tem como caber na mala dele’, diz ela, segundo o filho. Bikini, hoje parte da República das ilhas Marshall, é composto por 23 pequenas ilhas; três das ilhotas originais foram destruídas em testes nucleares.

Os 167 habitantes do atol foram removidos em 1946. Há cerca de 4.000 descendentes dos bikinianos espalhados em outras ilhas das Marshall.

A terra continua imprestável nas ilhas por conta da radiatividade. Nenhuma fruta ali produzida pode ser comida. A única atividade que poderia incentivar os bikinianos a voltar para a terra natal é a exploração do mergulho turístico, no momento paralisado. Ironicamente, um dos atrativos de mergulhar na ilha foi obra dos testes de 1946. Os EUA reuniram ali velhos navios para servirem de alvo. Wahba ajudou a localizar alguns deles em 1996 e voltou a eles em 2006.

DE VOLTA A BIKINI

Quando: amanhã, às 21h

Onde: National Geographic

Classificação: livre’

 

Fernanda Ezabella

Especial traz experimentos de Agrippino

‘Os experimentalismos visuais do escritor José Agrippino de Paula (1937-2007), precursor do tropicalismo e autor de ‘PanAmerica’ (1967), podem ser conferidos em quatro vídeos que o SescTV exibe hoje e amanhã, à 0h.

O curta ‘Céu sobre Água’ (78) é um poema visual em Super 8 na praia de Arembepe (BA), com a dançarina e parceira de Agrippino, Maria Esther Stockler. Já ‘Candomblé no Togo’, também em Super 8, registra um ritual religioso feito na época em que o artista morava na África, onde se refugiou da ditadura nos anos 1970.

Os dois vídeos estão na programação de hoje. Nos intervalos, há comentários de amigos de Agrippino, como o cineasta Hermano Penna e o artista José Roberto Aguilar.

Amanhã, o canal exibe ‘2º Movimento de Abertura da Sinfonia Panamérica’ (88), vídeo de Lucila Meirelles em homenagem a Agrippino, com comentários nada convencionais do próprio. O mesmo programa traz outro curta do artista, com imagens de Maria Esther dançando ritmos africanos.

Ontem, o canal exibiu outra raridade do autor, ‘Hitler 3º Mundo’ (1969), uma das mais radicais experiências do cinema da época.

CÉU SOBRE ÁGUA E CANDOMBLÉ NO TOGO

Quando: hoje, à 0h

Onde: no SescTV

Classificação: não recomendado a menores de 18 anos’

 

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