Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Folha de S. Paulo

IMPRENSA
Acesso a dados melhora mídia, diz especialista

‘Para melhorar a qualidade do jornalismo e das políticas públicas no país, o Brasil precisa aprovar o projeto de lei de acesso à informação (em tramitação no Senado), avaliaram especialistas anteontem em debate na PUC-SP.

Segundo Guilherme Canela, coordenador de comunicação e informação da Unesco no Brasil, ‘se há liberdade de informação, a imprensa melhora’.

Mas, para Canela, o direito à informação não pode ser visto só como um meio de aprimorar o combate à corrupção e fiscalizar os poderes públicos. ‘O acesso à informação tem que ser visto como um direito humano’, afirma.

Fabiano Angélico, da Transparência Brasil, enfatizou que ‘o direito à informação é anterior aos demais, pois é meio para garanti-los. É mais fácil cobrar acesso à saúde ou à educação se há livre informação sobre o que é feito’.

Para ele, ‘é uma vergonha’ que o Brasil não tenha uma lei específica que regulamente o acesso à informação. Na América Latina, 16 países estão à frente do Brasil nessa área.’

 

TECNOLOGIA
Janaina Lage

Pedro, 13, fatura ao turbinar aparelhos da Apple e já mira o iPad

‘‘As pessoas não sabem o que querem até você mostrar a elas.’ Parece citação de executivo, mas quem repete a famosa máxima de Steve Jobs, executivo-chefe da Apple, é um menino de 13 anos, Pedro Franceschi, especializado em desbloquear produtos da empresa, como iPhone e iTouch.

Ele foi o palestrante mais jovem do TEDx, evento que reuniu neste fim de semana no Rio pensadores com ideias para melhorar o mundo.

Apesar da pouca idade, Pedro foi capaz de desenvolver aplicativos e aumentar as funções dos aparelhos. Aos três anos, começou a brincar com o Mac do pai, que trabalhava com fotografia. Em 2008, teve acesso ao primeiro iTouch e, em pouco tempo, desenvolveu uma forma de desbloquear o aparelho.

‘Você pode fazer o que quiser com o aparelho, pode customizar a aparência, passa a ter acesso total, as opções são inimagináveis’, diz. A habilidade lhe rendeu fama na escola e na internet. Conhecido na rede como pH, ele pôs no ar tutoriais que mostram o passo a passo do desbloqueio.

‘As pessoas começaram a me procurar e virei uma referência na escola para quem precisava consertar um aparelho da Apple.’ Com os R$ 50 cobrados por conserto, juntou dinheiro para comprar seu próprio iPhone e agora faz planos para trabalhar com o iPad. Também está desenvolvendo projetos de gerenciamento de servidores.

O estudante do nono ano de um colégio na zona sul do Rio já tem proposta de emprego para quando completar 14 anos, em julho. Foi convidado para trabalhar em uma empresa de tecnologia do Rio.

Entre suas criações, destaca o Quick2gPwner, para desbloqueio do iTouch 2G, e o QuickOiB, usado para instalar o Linux no iPhone. ‘Na época, a instalação do Linux era um marco histórico porque colocava um sistema concorrente no aparelho da Apple.’ O desbloqueio, diz, está relacionado à liberdade do usuário no uso do aparelho.

Sua mãe, Luciana Cavallieri, 46, conta que só começou a entender o potencial do filho ao presenciar suas conversas com especialistas em tecnologia. ‘Quando ele não sabe fazer algo, diz: ‘Eu não tenho que saber tudo, sou criança’. Mas, quando coloca algo na cabeça, sempre resolve.’’

 

TELEVISÃO
Andréa Michael

Inconfidências de uma mãe

‘No ‘Alternativa Saúde’ (GNT), Cynthia Howlett, 33, dá dicas de vida saudável. É de berço. ‘Nasci com minha mãe [Beatriz] fazendo abdominal.’ ‘Ela sempre soube tudo da minha vida: quando eu transei pela primeira vez, quando fiz aborto.’ Mãe de Manuela, 3, agora tem sua experiência: ‘É um amor incondicional, uma preocupação constante, uma responsabilidade absurda’.

Na Band, Deus é negro, nasceu em morro no Rio e canta rap

No Rio ninguém o conhece pelo nome no registro civil, Sergio André Texeira. Só como Thogun, 40, rapper nascido no morro da Serrinha, zona norte do Rio. E é com esse nome, o de seu batismo no candomblé, que o ator, agora budista, será o deus da nova série da Band, ‘Anjos do Sexo’.

Com seus auxiliares, os anjos Valentina (Carolyna Aguiar) e Santoro (Orã Figueiredo), ele irá orientar os homens nas complicações de seus relacionamentos e (des)aventuras amorosos. ‘A missão dos anjos é salvar aqueles que amam verdadeiramente. Sexo é importante, mas o amor vale mais.’ Na obra de Domingos Oliveira, ainda sem data para estrear, o tema de abertura é o rap ‘Caminhada de Deus’, composto e interpretado pelo ator.

Na TV, esse é o papel mais relevante de Thogun. ‘É muito forte e também engraçado, porque todo mundo tem a imagem de Deus como um cara bonitão, loiro, de olhos azuis, com 1,95m’, diz ele, negro, 1,91 m de altura e 136 quilos.

Até chegar às nuvens e à bolsa de estudos na Academia Nacional de Cinema, foram aulas de português, de rap e bicos como venda de artigos esotéricos. Viveu diferentes papéis entre interpretar sua própria história em ‘Fala Tu’ (2004) e disputar prêmios internacionais com a série ‘Filhos do Carnaval’.

Agora, acabou sua primeiro filme, ‘Doizinho’, a história de dois adolescentes e um traficante que vende cachorro-quente recheado com maconha na porta de uma escola.

Mudou-se para a capital paulista há quatro anos. ‘Para quem busca, aqui é uma oportunidade nova todo dia. Para quem fica esperando, só chuva e cocô de pombo caem do céu.’

FOLHA ONLINE

Ouça Thogun cantando o tema de ‘Sexo dos Anjos’. www.folha.com.br/1012517

CARAVELA

Autor de best-sellers sobre a história do país, o jornalista Eduardo Bueno será o rosto do Brasil no History Channel. Ele vai aparecer nas principais atrações da programação do canal pago. Estreia no dia 4 de junho, apresentando, ao lado de João Barone, o documentário ‘Um Brasileiro no Dia D’, produzido e codirigido pelo baterista do Paralamas do Sucesso.

PÂNICO EM 3D

A Rede TV! trabalha a todo vapor para ser a primeira do país a transmitir ao vivo em 3D. O teste deve ser feito em 23/5, com o ‘Pânico na TV’, programa que tem as maiores audiências do canal (média de 600 mil domicílios ligados na atração na Grande SP por edição). É mais um passo na estratégia de firmar a empresa como vanguarda tecnológica.

TUBARÃO

Na caça aos cafonas, o ‘Esquadrão da Moda’ (SBT) parou um navio que ia para Buenos Aires. Adiou a saída da embarcação à procura de uma mulher que teve o mau gosto denunciado a Isabella Fiorentino e Arlindo Grund pelo próprio marido. A vítima -ou a resgatada?- achava que o cruzeiro era um presente. No ar na quarta.

RÁDIO DATENA

José Luiz Datena vai voltar ao rádio, veículo no qual começou sua carreira. No dia 17, estreia como âncora do ‘Manhã Bandeirantes’, na rádio homônima, com transmissão em AM e FM. O foco da programação será o cotidiano da cidade de São Paulo: obras, campanhas de saúde, trânsito, segurança etc. Mas sem tom policialesco.’

 

Thiago Ney e Vitor Moreno

Juventude transviada

‘Qual o segredo de ‘Glee’?

Exibida regularmente desde setembro de 2009, tornou-se a principal estreia de uma série na TV norte-americana no ano graças ao sucesso de público (é assistida atualmente por 13,6 milhões de pessoas nos EUA; ‘American Idol’, o campeão, é visto por 20 milhões) e crítica (recebeu o prêmio de melhor seriado de musical ou comédia no Globo de Ouro passado).

No Brasil, a história dos integrantes do coral do colégio William McKinley é transmitida pelo canal pago Fox -a Globo comprou os direitos para a TV aberta. Chegou às lojas caixa de DVDs com os 13 primeiros episódios. A atual primeira temporada termina nos EUA em 8/6.

‘Glee’ reúne elementos de musical, drama e comédia e tem como público alvo adolescentes que já passaram da idade de assistir a ‘High School Musical’. Na trama, os atores reinterpretam canções que vão de clássicos da Broadway a faixas pop de Cyndi Lauper -Madonna se ofereceu para emprestar músicas à série; foi feito um episódio da rainha do pop.

Brad Falchuk, um dos criadores e roteiristas, falou à Folha sobre a popularidade do programa: ‘Ter permissão para usar as músicas mais famosas do mundo e cantá-las do nosso jeito fez toda a diferença’.

Para ele, o seriado funciona como porta de entrada para o universo dos musicais: ‘Vários de nossos fãs são jovens, não ouviram muitos dos rocks clássicos e das canções dos anos 70 e 80. Assim que escutam a nossa versão, pensam: ‘Como será o som do original?’.

‘Glee’ é o resultado de vários talentos, não só musicais’, diz o ator e diretor Miguel Falabella. ‘As histórias são acessíveis. É pueril, mas tão bem escrito que fica irresistível. ‘Glee’ é legal; ‘Malhação’ não é legal, porque não é bem escrita.’

Já o diretor João Fonseca elogia os atores e seus personagens: ‘O elenco é incrível, alguns dos melhores jovens talentos da Broadway. Interpretam pessoas identificáveis e carismáticas, como a gordinha…’.

Em ‘Glee’, o coral é formado basicamente por alunos impopulares na escola, que rivalizam com a turma mais popular, como as líderes de torcida e os atletas. Em vez de praticar esportes, eles preferem cantar.

‘Os musicais sempre estiveram em alta nos EUA e, agora, estão crescendo no Brasil. O público está se acostumando ao gênero, a ver atores cantando em meio a cenas. Isso ajuda no sucesso do seriado’, opina o ator Ricardo Vieira (ele foi a Fera em ‘A Bela e a Fera’).’

 

Charles Möeller

Série tem graça adulta e ótimo repertório

‘No ano retrasado, quando Hugh Jackman abriu a cerimônia de entrega do Oscar dizendo ‘os musicais estão de volta’, ele estava mais do que certo. Nada mais natural que surgisse uma série de televisão voltada para o gênero. Eu, que sou diretor de teatro musical e sempre me sentia meio órfão de um programa de qualidade, adoro ‘Glee’.

A sacada é dar voz a um time de ‘losers’. É o anti-’High School Musical’. Os heróis dessa trama são os famosos perdedores, os ditos feios, os fora do padrão, liderados por um professor de espanhol que tem a árdua tarefa de recuperar os já distantes anos de ouro do tal clube Glee.

Há a judia Rachel, criada por pais homossexuais; o cadeirante Artie; o gay fashionista Kurt; a ‘black diva’ bem acima do peso Mercedes; a oriental tímida e ‘underground’ Tina; e o atleta popular, mas totalmente ‘do bem’ e naïf, Finn. Em oposição às cruéis e atléticas líderes de torcida e à treinadora, surge uma vilã típica de musical, Sue Sylvester.

Em ‘Glee’, tudo é feito com uma graça mais adulta, ácida, até amarga. Desde os litros de refrigerante que eles levam na cara até as incontáveis vezes em que os machões jogam Kurt na lixeira, tudo é feito com um humor negro oposto ao tom meloso das comédias musicais convencionais.

A psicóloga que tem TOC é um achado, assim como o professor de educação física gordo e bobalhão. Ao mesmo tempo, a relação de Kurt com o pai machão é divertida e triste.

Broadway

Mas nada disso explica o sucesso do programa. A chave está na escalação do elenco: atores que de fato cantam e são nomes assíduos em musicais da Broadway, como Lea Michele, Matthew Morrisonn, Kristin Chenoweth e Debra Monk.

Some-se a isso o repertório musical, que mescla clássicos pop-rock (cantados por Madonna, Van Halen ou Rolling Stones) com sucessos recentes (leia-se Lily Allen, Duffy, Beyoncé e Amy Winehouse), sem abrir mão do cânone da Broadway (tais quais ‘Cabaret’, ‘West Side Story’, ‘Funny Girl’, ‘Hair’ e ‘Gypsy’) e de acenos a espetáculos marcantes da cena atual (‘Wicked’). Em alguns momentos, há fusões de todos eles em deliciosos ‘mash-ups’.

Com direção e diálogos inteligentes, ‘Glee’ emociona e tem números musicais bem dirigidos que podem ser apresentações do próprio grupo do coral ou números que adiantam ações ou se passam no pensamento dos personagens.

O único senão fica para problemas eventuais nas cenas em que os atores cantam ‘solo’ -ou seja, fora do coral que é a base da série. A dublagem por vezes resulta artificial.

CHARLES MÖELLER é diretor de musicais como ‘7’ e ‘A Noviça Rebelde’’

 

nos embalos de GLEE

‘Uma filha de pais gays que sonha em ficar popular no colégio; um gay sarcástico; uma gordinha atrevida; um cadeirante que toca guitarra; uma garota meio emo e gaga. São alguns dos personagens que formam o coral de ‘Glee’ (em inglês: coral, alegria).

O principal papel feminino, Rachel Berry (a filha do casal gay) é interpretado por Lea Michele, atriz saída da Broadway.

‘Comecei a assistir a ‘Glee’ por causa dela’, diz o ator Felipe de Carolis (que estava em cartaz com o musical ‘O Despertar da Primavera’).

‘Gosto da maneira como eles usam as músicas dentro da trama. Tem gente que acha musical cafona, e ‘Glee’ ajuda a acostumar o público com essa forma de dramaturgia.’

Para o diretor de teatro Ivam Cabral , ‘Glee’ se insere nas narrativas que habitam os melhores seriados norte-americanos: ‘A maneira como conduzem a trama é muito bem feita. O teatro não tem acompanhado a evolução dramatúrgica que ocorre nos seriados dos EUA’.’

 

Laura Mattos

‘Viver a Vida’ vai mal no ibope, mas lucra

‘‘Viver a Vida’ acaba na próxima sexta-feira com dois resultados paradoxais: a pior audiência da década e o recorde de lucro com merchandising.

A contradição é indício de que as novelas continuam a fazer sucesso, mas não exatamente no televisor de casa.

O público pode assistir ao capítulo da novela no dia e horário que quiser pela internet, no portal da Globo ou em outros, a exemplo do YouTube, além de aparelhos móveis de TV, como minitelevisores e celulares.

A mudança de comportamento não tem comprovação do Ibope. O único instituto a medir audiência de televisão no Brasil ainda não lançou no mercado uma maneira de contabilizar o desempenho de programas independentemente da mídia pelo qual é acessado.

Nos Estados Unidos, isso já vem sendo feito pela Nielsen. Aqui, ainda está em estudo.

Senhora da década

‘Viver a Vida’ registrou até terça-feira passada 35,6 pontos de média na Grande São Paulo (2,13 milhões de domicílios). Está longe dos 50,4 de ‘Senhora do Destino’ -exibida entre 2004 e 2005, é a líder de audiência dentre as novelas das oito da Globo nesta década.

O resultado não é tão negativo para ‘Viver a Vida’ se considerarmos a porcentagem de televisores sintonizados na novela dentre o total de ligados no horário. Foram 56,3%, contra 73,7% de ‘Senhora’.

O declínio de ibope nas novelas das oito é contínuo desde 2005 (confira gráfico acima).

A Folha apurou que a Globo avalia que há uma mudança de hábito do público, mas mantém esperança de que uma nova novela possa estancar a queda e até revertê-la. A Central Globo de Comunicação diz que ‘Viver a Vida’ é um sucesso comercial, sem divulgar os números, e que o portal de vídeos da emissora é o maior do país.

Autor da novela, Manoel Carlos falou à Folha sobre seu desempenho: ‘Estamos satisfeitos com a audiência, mas claro que gostaríamos de ter números melhores. A novela foi um recorde de merchandising. Cheguei a recusar e continuam chegando propostas para os últimos capítulos’, afirmou.

Para ele, ‘isso obviamente significa sucesso, ainda que para determinada parte do público’. ‘Acredito que as novas mídias sejam responsáveis pelos números menores no Ibope.’

O autor também falou sobre o sucesso que a novela faz em Portugal, que pagou um merchandising da cidade de Lisboa, exibido na semana passada.

Ele defendeu ainda que há repercussão do merchandising social da trama, na qual Alinne Moraes interpreta uma tetraplégica. ‘Fui premiado pela Unesco. Calçadas estão sendo rebaixadas e leis sendo propostas para obrigar estabelecimentos comerciais a ter rampas para cadeirantes.’’

 

Teresa fica com Marcos, que é pai do filho de Dora

‘Manoel Carlos não é o autor de último capítulo com grandes revelações. Mas deixou algumas surpresas para o fim de ‘Viver a Vida’, nesta semana.

Os últimos dois capítulos seriam escritos por ele neste final de semana, em Búzios (RJ).

‘Minhas novelas nunca guardam grandes segredos, mas os principais desfechos eu resolvo quase na véspera’, disse.

É praticamente certo que ele deixe Marcos (José Mayer) com Teresa (Lilia Cabral).

O filho de Dora (Giovanna Antonelli) deverá ter o desfecho que a Folha antecipou.

Será de Marcos, mas assumido por Maradona (Mario José Paz). Ele mentiu para Dora quando disse que haviam transado na noite em que estavam bêbados e dormiram juntos. Como a ama, queria se casar com ela e assumir seus filhos.

Também como a Folha divulgou com exclusividade na sexta-feira, Luciana (Alinne Moraes) terá um casal de gêmeos com Miguel (Mateus Solano).’

 

Hugo Possolo

Sem ‘forçar a barra’, biografia expõe sentidos do humor feito pelo grupo

‘O problema de ler uma biografia é que você sabe que o personagem principal morre no fim. Não é bem o caso de ‘Bussunda: A Vida do Casseta’, escrita por Guilherme Fiuza.

Sem ceder ao pieguismo, expõe a vivacidade da revolução de humor promovida pelos Cassetas. Livre de cronologia careta, contaminado pelo humor, insere o leitor no planeta ‘cassetesco’. Não força a barra nem imita estilos.

E olha que seria fácil fraquejar ante a criatividade dos sete rapazes de Liverpool. Vemos, mais que uma reavaliação da trajetória do grupo, o diagnóstico de uma geração.

Com aguda sensibilidade, aborda desde as origens familiares até os casamentos, as mulheres e os filhos. Fala sério! Os Cassetas são família!

São os bastidores de uma banda que não era bem de rock e não comia ninguém. Sem escamotear dados, paixões, negociações e cagadas dos Cassetas.

Fica claro também que, sem a Globo, talvez a anarquia do grupo sucumbiria às necessidades de sobrevivência. E mais, que seria a Globo quem apostaria na ousadia, tanto pelas necessidades do momento que atravessava, quanto pelo papel relevante de feiticeiros como Boni e malucos como Daniel Filho.

O óbvio segredo do ‘Casseta & Planeta, Urgente!’ é que eles não são atores, são autores que apostam tudo em suas piadas.

Das mais sofisticadas à mais grosseiras, sempre mantendo a coerência.

‘Zen-bussundismo’

O truque mais habilidoso dos Cassetas é que eles não imitam, satirizam. Deglutem falsas celebridades, ironizam a programação global, travestem-se de políticos e jogadores de futebol para além da caricatura de voz ou da gestual. Aliás, podem ser imitações toscas, pois o que criticam é o significado das atitudes de suas vítimas. Os Cassetas não desistiram nem diante da perda de sua figura mais popular. E, se desistirem, a televisão brasileira ficará um pouco mais burra.

Claro que Bussunda, por mais incrível que possa parecer, é a parte central de sua própria biografia. Aparece coerente, por vezes falso ausente, sem se definir o líder que era, em seu estilo ‘zen-bussundista’, finalizando tudo com sacadas certeiras.

Seu deboche não era raivoso até porque isso daria trabalho. Bussunda prezava o ócio. Contraditoriamente, trabalhou muito. Ensinaram-lhe a ser o melhor e ele se deixara ser o pior. Por fim, tornou-se amado até por quem parodiava.

Ao ler sobre Bussunda, você pode até se perguntar que exemplo vai tirar daí. E Fiuza, sem afirmar, leva você a acreditar em todos os sentidos que o humor tem a oferecer.

Notícia velha urgente: Bussunda não morreu. Como gostava mesmo era de vagabundear, foi apenas descansar cedo demais.

HUGO POSSOLO, 47, é palhaço, dramaturgo, diretor dos Parlapatões e do Circo Roda’

 

Roberto de Oliveira

‘A Liga’ erra ao vitimizar personagens

‘Pense num ‘Profissão Repórter’ (Globo) no qual os profissionais fazem as vezes de protagonistas da reportagem. Se o tema do programa for a vida dos moradores de rua, lá vão eles perambular dia e noite sem destino certo. Incorpore ao elenco um Gugu travestido de mendigo, personagem que o apresentador da Record encarnou na época do SBT.

Estilo de narrativa no qual reportagem e repórter se misturam, o jornalismo gonzo se encontrou com o jornalismo de ‘denúncia social’ e, juntos, deram o tom à estreia de ‘A Liga’ (terça, às 22h15, classificação não informada), na Band. O programa teve média de seis pontos no Ibope, índice considerado bom para o horário.

Ele segue formato criado pela produtora argentina Eyeworks – Cuatro Cabezas, a mesma que desenvolveu o ‘CQC’, também da Band.

‘A Liga’ pretende explorar, em cada programa, um tema atual e polêmico. A ideia é que os apresentadores ‘vivenciem’ as reportagens, que sejam ‘mutantes’, com o direito de assumir o lugar dos entrevistados.

O principal deles é o ‘CQC’ Rafinha Bastos. Em ‘A Liga’, apareceu repaginado. No lugar do terno preto, uniforme dos integrantes do humorístico, do cabelinho e da barba milimetricamente acertados, surgiu aos trapos, barbudo e cabeludo. Durante 24 horas, mendigou pelas ruas de SP. Tentou dormir ao relento. Não conseguiu.

O MC Thaíde ‘colou’ num casal (um rapaz e uma travesti) que tomava banho de torneira no cemitério do Araçá.

Modelo, lutadora de jiu-jítsu e publicitária, Débora Villalba acompanhou um grupo de meninos de rua no Rio.

Na avenida Paulista, coube à atriz Tainá Muller seguir os passos de um casal com dois filhos sem endereço fixo.

Comer, dormir, sentir na própria carne as dificuldades de quem vive sem teto. Até aí, OK, mas o programa peca quando exagera na ‘vitimização’ dos personagens.

Rafinha, o barbudão com cara de mocinho bem-criado, dirige-se à câmera para contar sobre as agruras do repórter-mendigo. Chora ao lembrar, no momento de despedida, que os mendigos de verdade enfrentariam tudo outra vez.

Logo após a estreia da Band, o ‘Profissão Repórter’ exibiu um programa sobre dependentes de crack. A maratona do vício trouxe entrevistas e impressões de repórteres, relatos emotivos e até lágrimas -dos entrevistados. Ali, sim, deu liga.’

 

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